Chico Buarque no papel de Noel Rosa em cena de "O Mandarim" (1995), filme de Júlio Bressane, com Fernando Eiras,
Giulia Gam e Drica Moraes. Foto: Luciana Whitaker/Folhapress |
São Paulo,
segunda-feira, 6 de novembro de 1995
'O Mandarim' traz a história de Mário Reis
JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL
Filme: O Mandarim
Produção: Brasil, 1995
Direção: Julio Bressane
Elenco: Fernando Eiras, Giulia Gam, Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano
Veloso, Gal Costa
Quando: pré-estréia hoje, às 21h30, em cartaz a partir de sexta-feira
Onde: Espaço Banco Nacional de Cinema
A história do cantor Mário Reis, com grandes nomes
da música popular no elenco. Eis uma sinopse exata e ao mesmo tempo enganosa de
"O Mandarim", 19º longa-metragem de Julio Bressane, que tem
pré-estréia hoje em São Paulo.
O espectador que for ver o filme com espírito de
tiete ou de frequentador de coluna social corre o risco de sair desnorteado.
O cinema de Bressane é tão generoso em idéias quanto avaro em concessões ao espetáculo e ao entretenimento fácil.
"O Mandarim" não é uma reconstituição realista da vida de Mário Reis, nem um documentário sobre sua carreira. É uma leitura muito pessoal e complexa da história música popular brasileira deste século, mas não só.
É o retrato de um personagem que concentra em si inúmeros significados, mas sobretudo o de representar uma ponte entre a tradição ancestral do morro e a cultura urbana contemporânea.
Para extrair o máximo dessa fecunda trajetória pessoal e artística, Bressane
lança mão de seu procedimento habitual de sobrepor informações e semear
alusões.
Ao fazer o papel do sambista Sinhô, por exemplo,
Gilberto Gil é um ator que representa Sinhô, mas é ainda o próprio Gil, com
todo o significado que essa identidade carrega -e tudo o que ele diz e faz
durante o filme está impregnado dessa terceira figura, já uma idéia, formada
pela justaposição de Sinhô e Gil.
Sentido da música.
Nessa utilização de figuras célebres da canção popular no papel de mestres do passado há toda uma construção de sentido da música brasileira, e do lugar desta na cultura do país e do mundo.
Pode-se censurar, nessa orgia semiótica, uma certa perversão pelo excesso. No limite, só pode compreender plenamente o filme quem souber ler todos os seus sinais, incluindo os ideogramas chineses (se é que são chineses) que aparecem aqui e ali.
É isso que torna o cinema de Bressane estimulante para uns e irritante para
outros -e às vezes as duas coisas para o mesma pessoa.
Não sabia da existência desse filme,estou vendo hoje.
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