lunes, 16 de abril de 2018

1972 - A VOLTA DE CAETANO E GIL





 





















 











 








 




O JORNAL




O JORNAL



Foto: Manoel Soares - Agência O Globo

























14/1/1972


Caetano Veloso ensaiou ontem de maneira  informal como ele gosta para show de hoje no Teatro João Caetano



















15/1/1972  



Fotos: Equipe Revista Fatos e Fotos




14, 15 e 16 de janeiro de 1972

Teatro João Caetano (RJ)







 













O GLOBO
17/1/1972








 




12/1/1972


18 e 19 de janeiro de 1972 - São Paulo - Teatro TUCA




 











 
 




 




27, 28 e 29/1/1972 - Rio de Janeiro - Teatro João Caetano



























 
 


Gilberto Gil, Sandra Gadelha e Pedrinho Gil














 




 

























































Salvador, Julho de 1969







1972
O PASQUIM
n° 135 - Rio de Janeiro
2 a 9/2/1972

Pág. 11

A Volta de Caetano Veloso e Gilberto Gil


Caetano voltou modificado da Inglaterra, qual a exata modificação? E qual a modificação em Gilberto Gil?

Ou por outra: qual a metamorfose em Gil e Caetano depois da partida? Que influência teve a Inglaterra e todo o pop inglês e underground americano no norte nos dois? Quem são exatamente estes enigmas, estes dois mais que superstars brasileiros?

Ninguém ainda reparou bem, mas eles são os artistas pop mais típicos e profundos do chamado terceiro mundo, na cor, na profundidade, na densidade de cultura, na ousadia e força de raça nova entrando na História, os produtos mais puros e sofisticados da jovem nação brasileira ponta de lança da grande nova cultura americana a se abater sobre o planeta através da música, da música das Américas, do rock e do futuro samba Mundial, do futuro supersamba Mundial.

É que é muito raro na História coincidir o líder filosófico, ético, estético e artístico como agora com Bob Dylan, John Lennon, os Rolling Stones, Joe Cooker, Caetano Veloso, Gilberto Gil, porque estamos num tempo parecido com o tempo dos pré-socráticos, quando a filosofia e a poesia andaram unidas num mesmo transe de paixão e lógica.

Mas quem são estes dois enigmas? A esfinge e o labirinto antes de mais nada. Ambos vieram de uma civilização negra americana que de arrancada e como impulso inicial lhes ensinou mil truques, mil maneirismos, mil sofisticações, toneladas de fantasia selvagem e baiana, antropofágica e pagã, com uma mitologia de referências profundas: o Candomblé, toda a atmosfera que paira por cima da Bahia, atmosfera mágica, segura em sua significação, a fantasia oriental desta primeira capital do país. Tudo isso, todo esse jogo de fantasia e segurança mitológica lhes foi fornecida desde a infância pela Bahia.

Absorveram e modificaram o espírito do homem brasileiro atingindo o Universal num mundo tecnológico do século XX e XXI. Juntaram assim a magia mítica e totalizante com a eletrônica e o caos contemporâneos.

São eles dois as sínteses culturais mais poderosas de nossa terra, sempre em movimento, em sofreguidão, com a ânsia da vertigem e da velocidade. Quatro fases distintas: antes do Tropicalismo, o Tropicalismo, a partida e a ausência e agora a volta artística.

Qual foi a modificação?

Caetano Veloso enxerga-se cada vez mais como músico e sua linha musical encaminha-se para uma estranha transa afro-blues-pop-joãogilbertiana e com um toque de praieiras canções à la Caymmi, com baiões reconsiderados e muito Trio Elétrico, e muita Rumba. Tudo isso com um espírito de cantiga de cego, repentismo (ou jazz) e lamento irônico.

Um som que não tem nada que ver com o LP inglês em que Caetano canta Asa Branca. O som de agora com Macalé no outro violão como um feiticeiro, Áureo na bateria, Tuti na percussão e Moacir no baixo, é quase que o oposto do som do LP inglês de 1971.

Quanto à dança e os paços e imitações de Bethânia, Carmem Miranda, e gingados de coreografia própria, Samba de Roda, e toques mickjaggarianos, Caetano está simplesmente novo, ousado, terrivelmente maravilhoso.

Espiritualmente parece sereno, tranqüilo, seguro, cheio de novos planos e com um otimismo temperado na amargura, uma lâmina fortíssima, como a alma dos estóicos, aquele espírito preparado para um longo futuro, sabendo manejar muito bem a negação e a afirmação, sem esmagar uma nem outra, um jogo que exige maestria.

Influência do pop inglês claro que está evidente na influência exercida pela música e espírito dos Rolling Stones de Mick Jagger. Além disso filosoficamente mais tolerante e ao mesmo tempo mais radical, Caetano exibe uma liberdade mais pessoal e uma síntese mais aguda de todas as influências.

Gilberto Gil sofreu a potencialização do seu Ser Cósmico, sua abundância selvagem e ao mesmo tempo sofisticadíssima. Gil sempre cantou fábulas através de suas músicas, como os primeiros mitólogos de arcaicos tempos, agora as fábulas explodiram para superfábulas fragmentadas, mais muito mais forte que os primeiros vislumbres. Gil debruçou-se além da fronteira permitida, onde o pânico invade as mentes, e arrancou de lá, um Universo que fortaleceu e aprofundou, desencadeou a revolução cósmica integral, e eis que surgiu um novo sistema nervoso. Uma nova arte, um novo ser.

Em Gilberto Gil me parece que a influência é a de Jimi Handrix e a reconsideração do Baião e da música nordestina, com Jackson do Pandeiro e Luís Gonzaga.

Um som que vai do eletrônico ao selvagem inicial. Gil desenvolveu sua própria antropofagia eletrônica. Espiritualmente está como um mandarim chinês, curtindo a sério a macrobiótica e assim num pensamento Tao, ele exibe a serenidade dos que se reencontraram com a natureza e o Cosmos através do misticismo. Mas um misticismo radical e em constante movimento.

Gilberto Gil e Caetano sofreram também a meu ver a influência de John Lennon, a fase da sinceridade existencial e do novo realismo, o realismo que diz “o sonho acabou”.

Ao mesmo tempo que os dois avançaram como cometas de vanguarda para internacionalizações e planos cósmicos, ambos também reencontraram raízes afro, baiões, solidariedades latino-americanas,sambas de morro e batidas africanas.

A pesquisa de Gil (como o que eu ouvi em Londres) está bem diferenciada daquilo que Caetano está fazendo, e ambos estão fazendo algo novo navegando por um mar desconhecido cheio de novidades e sínteses brilhantes como estrelas. Um encontro cada vez mais forte da música e cultura do Brasil com o resto da Latino América & os USA.

Caetano e Gil (cada um de um modo distinto) tratam o homem e seus problemas com a consciência de que estamos mergulhados nos Caos mundial, mas o tratamento a ser dado, o comportamento e a arte devem ser o elo de harmonia do homem e seu caos, através de um permanente conflito musical onde a nova harmonia explode em fragmentos súbitos, e tudo isso deitado num tapete oriental sensual, baiano, malemolente.

Claro que isso é sempre uma idéia pessoal a respeito deles. Acho também que o grande fascínio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, fascínio musical e fascínio de imagem é que ambos, embora trilhando caminhos cada vez mais diversificados são símbolos de uma qualidade demasiadamente humana, porque contém toda nossa fragilidade e força, os opostos, a luta entre nosso niilismo e a potência, e a cima de tudo, a luz Ada liberdade, que às vezes é também uma antiluz, e que ilumina, fragmenta as mil possibilidades de nossa alma em direção à vida!



JORGE MAUTNER






 







 
 
 


 











FOLHA DE S.PAULO

Segunda-feira, 20/3/1972







 


 


 









1972
O PASQUIM
N° 143
Rio, de 28/3 a 3/4/1972







 
 




 

 






10 de fevereiro 1972 - Revista inTerValo 2000 - n° 472






1972
Revista inTerValo 2000
Ano X – n° 481
3 de abril de 1972

Editora Abril

Capa: Cena do Filme São Francisco







 
 













1972
Revista Sétimo Céu
Maio - n° 194












Reportagem: Gracinha Caldas






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