COGITO
Torquato Pereira de Araújo Neto
* 9/11/1944 – Teresina (PI) / +
10/11/1972 - Rio de Janeiro (RJ)
eu
sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim
Torquato
Neto - Todas as horas do fim
Eduardo Ades / Marcus Fernando
Brasil - 2017
2017 - 19ª edição
|
O documentário utiliza mais de 200 fotos (a maior
parte do arquivo Torquato Neto) e trechos de 40 filmes, sendo a maioria do
cinema novo e do cinema marginal.
Jesuíta Barbosa entre os diretores Marcus Fernando e Eduardo Ades |
Documentário
Cor DCP 88'
Brasil - 2017
Direção e roteiro:EDUARDO ADES, MARCUS FERNANDO
Empresa Produtora: IMAGEM-TEMPO
Empresa Produtora: IMAGEM-TEMPO
Produção: DANIELA SANTOS,
EDUARDO ADES, JOÃO FELIPE FREITAS
Fotografia: JOSÉ EDUARDO
LIMONGI, PEDRO FAERSTEIN
Montagem: JOÃO FELIPE FREITAS
Documentário com: JESUÍTA BARBOSA [voz Torquato Neto]
Montagem: JOÃO FELIPE FREITAS
Documentário com: JESUÍTA BARBOSA [voz Torquato Neto]
Contato: IMAGEM-TEMPO
2017 - Teresina |
Foto: João Rodolfo do Prado |
1968 - Torquato Neto vestindo Parangolé em Apocaliopótese, no Rio de Janeiro["Arte no Aterro: um mês de arte pública"] |
1970 |
1967 |
José Carlos Capinam, Torquato Neto e Caetano Veloso |
Jards Macalé e Torquato Neto Foto: acervo Torquato Neto ( Curadoria: George Mendes) |
2018 |
8/3/2018
Brasil em Cena
Torquato Neto - Todas as horas do fim
Alessandra Alves - Colunista
Passados 45 anos da morte de Torquato Neto, os diretores Marcus Fernando e Eduardo Ades lançam "Torquato Neto - Todas as horas do fim". Mesclando entrevistas com as poucas imagens disponíveis do poeta, os dois viram-se diante de um impasse, ao perceber que o protagonista Torquato estava se tornando assunto na boca dos entrevistados. A solução para amarrar o filme e continuar reverberando as ideias do poeta veio de um dos seus grandes temas de interesse - o cinema.
Marcus e Eduardo falaram com exclusividade ao Cinema em Cena, na semana de estreia do documentário.
Cinema em Cena: Neste ano, completam-se cinquenta anos do lançamento do disco “Tropicália – ou Panis et Circensis”, que marcou o início do movimento tropicalista. Por que vocês resolveram retratar justamente o poeta Torquato Neto, que fez parte do movimento?
Marcus Fernando: Porque ele é justamente um dos personagens mais importantes do pensamento tropicalista, e talvez um dos menos conhecidos. Nesses cinquenta anos, as pessoas veem o nome dele lá, a foto na capa do disco da Tropicália, mas quem é essa cara? Uma figura enigmática, quase. Virou um mito: a morte muito jovem, a forma da morte, tudo contribuiu para esse mito, acho que no fundo tem muita qualidade artística ali, desconhecida. Muita coisa já publicada, mas que ainda não chegou a um público maior. E a gente tem essa possibilidade de fazer um filme, o filme chega a mais gente, passa no cinema, passa na TV, a partir disso a pessoa procura alguma coisa no YouTube. O filme é uma forma de fazer com que tivesse mesmo uma luz sobre isso.
Cinema
em Cena: Como foi a viabilização desse projeto?
Eduardo
Ades: Acho que existia essa sensação de que o Torquato
precisava ser resgatado, porque o filme foi muito feliz na captação. Logo no
primeiro edital de que a gente participou, em 2013, com a Rio Filme e o Canal
Brasil, o projeto foi selecionado. Posteriormente, em Teresina, no Piauí,
conseguimos um financiamento com o governo do estado, na secretaria de cultura.
Por ser uma figura local, o Torquato é um dos maiores ícones do Piauí.
Cinema
em Cena: O filme deve surpreender muita gente ao revelar
que Torquato Neto e o ministro Moreira Franco foram amigos de infância...
Marcus
Fernando: A gente descobriu na primeira pesquisa lá no
acervo que o Moreira Franco foi o primeiro amigo dele. No acervo do Torquato,
em Teresina, tem um álbum de bebê, típico livrinho que toda mãe faz dos filhos,
com aquele desenho de uma cegonha etc., com vários registros, como peso ao
nascer, essas coisas todas de álbum de bebê. Na parte “primeiros amiguinhos”,
só tem um nome: Welington Moreira Franco. Pode parecer que eram amigos porque
pertenciam a famílias amigas e tinham a mesma idade, mas o Moreira Franco foi
de fato o primeiro amigo do Torquato: estudavam juntos, iam à escola, à aula
particular, sempre juntos.
Eduardo
Ades: Tem um poema em que o Torquato cita: ”Welington
Moreira Franco, amigo, o primeiro deles”.
Cinema
em Cena: Já que se trata de um personagem tão misterioso,
com tão poucos registros audiovisuais, como foi o garimpo para chegar a esse
filme de quase uma hora e meia?
Marcus
Fernando: Para a pesquisa sobre o personagem em si, nós
optamos por seguir pessoas que conheceram o Torquato. São todos depoimentos em
primeira pessoa, de personagens que realmente podiam falar como era conviver
com ele, como ele pensava, agia, como se comportava, como se movia. Todo mundo
fala, por exemplo, que ele era muito afetuoso, e eu acho que isso também está
no filme, a maneira afetuosa até como as pessoas se referem a ele. Existe uma
memória carinhosa dele. E a pesquisa de materiais partiu do arquivo Torquato
Neto, em Teresina, que tem muito material, o acervo pessoal dele, que a viúva
do Torquato mandou para Teresina em determinado momento, para um primo que tem
uma agência de publicidade lá, com uma sala dedicada a esse material, com tudo
muito organizado. Mas o que a gente não tinha era o registro sonoro, o vídeo, a
entrevista dele.
Cinema
em Cena: A presença da morte era uma constante no convívio
com ele?
Eduardo
Ades: A morte atravessou a vida inteira dele e por
isso, atravessa também o filme. Para ser coerente com ele, ela precisava
atravessar o filme.
Cinema
em Cena: Por que vocês optaram por dar um tratamento de
Super 8 nas entrevistas realizadas para o filme?
Eduardo
Ades: Porque foi filmado em Super 8 mesmo!
Marcus
Fernando: Originalmente, a gente imaginava que o filme ia
ter entrevistas em on, mostrando os personagens contemporâneos em
imagens atuais, mas percebemos um choque entre a estética daquela época e essas
imagens atuais, com tudo muito limpo. Então, começamos a pensar entremear as
entrevistas com esses pedaços em Super 8. No final, o que era para ser só
um charme virou toda a estética do filme, com essa textura meio suja, que é
coerente com a estética do Torquato.
Cinema
em Cena: E por que a opção de usar filmes do cinema
nacional como ilustração daqueles momentos?
Marcus
Fernando: Inicialmente, imaginamos as pessoas dando
entrevista para a câmera, de forma tradicional, com alguns momentos cobertos
por outras imagens. Chegamos inclusive a montar o filme dessa forma. Mas aí a
gente viu que estava tendo dois problemas. Começou a incomodar, por duas
questões principais. Uma é que estava em um formato convencional demais. E a
outra coisa é que o Torquato que a gente queria que fosse protagonista estava
virando assunto. Porque quando aparece, por exemplo um cara como o Tom Zé, que
é uma pessoa mais expressiva, você fica vidrado, tem um magnetismo. Você fica
olhando para o que ele está falando, e se esquece que está falando do Torquato.
Eduardo
Ades: Então, se o Torquato não fala para a câmera, não
existe esse material do Torquato falando para a câmera, e ele é o protagonista,
resolvemos repensar o filme inteiro.
Marcus
Fernando: A ideia foi dele (Eduardo). Eu fiquei em choque,
no primeiro momento. Cobrir o filme inteiro? Com o quê? E aí veio a ideia de
usar os filmes, e começou a fazer sentido para mim. Desde o primeiro momento,
queríamos que o filme não tivesse nada parecido com careta, porque não é o
personagem, não é o Torquato. Eu pensava: se esse filme for careta, ele vai
puxar o pé da gente!
Cinema
em Cena: Vocês não tiveram nenhuma preocupação com
didatismo. Por quê?
Marcus
Fernando: Porque a ideia era dar uma referência.
Eduardo
Ades: Às vezes, durante a montagem, pensando sobre
algum fato da vida dele, a gente falava assim: “será que isso não deveria ser
explicado?” E na sequência, concluíamos: isso a pessoa acha na Wikipédia. Não
precisaria estar no filme, seria a opção pelo convencional, pelo careta.
Marcus
Fernando: Fazendo um filme, você tem que optar por alguma
coisa. Alguém pode fazer outro filme e dar uma abordagem mais profunda em algum
aspecto, fazer um recorte mais pela poesia, talvez. Mas, como um primeiro filme
que apresenta esse personagem, a gente optou por uma coisa mais enxuta,
partindo do que era básico para entender o personagem.
Cinema
em Cena: Por que vocês optaram pelo Jesuíta Barbosa para
ser “a voz” de Torquato Neto?
Marcus
Fernando: Não poderia ser uma voz típica de locutor, como
um Othon Bastos ou um Paulo César Pereio. Não podíamos colocar um cara de 50,
60 anos para ser a voz do Torquato, se ele morreu com 28 anos. Tinha que ser
uma pessoa que tenha mais ou menos a idade que ele tinha quando morreu. E que
fosse nordestino, por causa do sotaque. O Jesuíta foi a primeira pessoa mais
parecida com o que nós procurávamos. Versátil, ele abraçou realmente o
personagem, de uma forma incrível.
Cinema
em Cena: Por que alguém que não conhece Torquato Neto deve
assistir a esse filme?
Marcus
Fernando: Pela força da poesia, porque Torquato acreditava nas possibilidades de
transgressões, achava brechas. Teve uma vida muito intensa, então eu acho que é
uma pessoa para nós prestarmos atenção.
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