O GLOBO
MÚSICA
MÚSICA
CULTURA
CAETANO,
PAI DA
CANÇÃO
Ao lado dos filhos Moreno, Zeca e Tom, Caetano
estreia show que celebra paternidade
Espetáculo inclui inéditas dos quatro e clássicos como 'Leãozinho' e
'Reconvexo'
POR LEONARDO LICHOTE
03/10/2017
Família. A partir da esquerda, Tom, Zeca, Moreno e Caetano Veloso Divulgação / Jorge Bispo |
RIO - Caetano Veloso costuma
afirmar que a paternidade foi o grande acontecimento de sua vida adulta:
— É porque foi uma coisa
inesperada em mim. Eu tinha certeza de que nunca teria filhos — conta o
compositor, por e-mail. — Querer ter um me surpreendeu. E quando ele nasceu,
tudo mudou, a perspectiva das coisas mudou. Quando os outros dois chegaram, eu
já tinha aprendido isso. O sentimento relativo a filhos não tem nada com que se
possa comparar.
De alguma forma, o show
“Caetano Moreno Zeca Tom Veloso”, que o baiano estreia hoje ao lado de seus
três filhos no Theatro Net Rio, é o testemunho dos efeitos diretos e indiretos
da paternidade sobre ele. Formado por canções suas escolhidas pelos filhos,
além de composições dos quatro (algumas inéditas), o espetáculo é definido por
Caetano — em texto distribuído à imprensa — como “um show familiar, nascido da
minha vontade de ser feliz”.
Há no espetáculo memórias
que remetem à infância dos “meninos” Moreno (44 anos), Zeca (25) e Tom (20),
como “Leãozinho” (“que os filhos de tanta gente pedem, os meus não deixaram de
pedir”). Ou “Um canto de afoxé para o bloco do Ilê”, música de Caetano para a
qual Moreno fez a letra quando era criança. Mas sobretudo o show trata do
diálogo de três homens com seu pai, três compositores com um mestre da canção
brasileira. Caetano descreve com emoção esse processo:
— As reações de meus filhos
a minhas canções têm muito impacto sobre mim. Moreno acompanhou o surgimento de
muitas delas, tem intimidade natural com a maior parte de minha criação. Viu os
discos nascerem. Inclusive produziu os mais recentes. Zeca e Tom às vezes
descobrem músicas minhas que nunca tinham ouvido e se surpreendem. Uma vez
Xande de Pilares cantou “Ela e eu” na casa de Paulinha (Lavigne, mulher e
empresária do artista), ao cavaquinho, e Zeca ficou muito emocionado. Ao
perguntar a Xande sobre a música, ficou sabendo que era minha. Ultimamente ele
e Tom vêm falando de “Você não gosta de mim” (gravada por Gal Costa em 1998).
Sempre me emociona. Tom é taxativo em suas escolhas: já me disse que achava
“Coração vagabundo” musicalmente chata. Mas desde pequeno escolhe com clareza
as preferidas. Zeca passou um bom tempo ouvindo “Velô” (álbum de 1984),
entusiasmado.
Caetano lança um olhar
delicado (e único para cada um) sobre Moreno, Zeca e Tom — como pai e como
mestre da canção brasileira, sem uma definição exata de onde termina um e
começa o outro:
— Moreno é um compositor
publicamente conhecido. Para mim, ele tem a sabedoria de quem deixa a luz
entrar no espírito. Desde “Enquanto isso”, do “Máquina de escrever música”
(álbum do Moreno+2, de 2000), ou sua versão de “Deusa do amor”, até “De tentar
voltar”, ele vem apresentando canções especiais. Na nossa parceria em “Sertão”,
sua música me levou a usar quase que só monossílabos e o resultado ficou
divino. Ele já tinha sido incrível aos 9 anos, ao escrever a letra pra a música
que eu fiz sobre o Ilê Aiyê. Ele nunca perde a delicadeza da criança e nunca
teme a atitude de um homem livre. Zeca é um compositor surpreendente. Ele
gostava de música eletrônica, mas quando compõe é sempre algo nascido de algum
sentimento profundo. Tom é músico que prefere tocar a cantar. Suas composições
falam mais da música em si do que de conteúdos.
SHOW PASSA POR
SÃO PAULO E BELO HORIZONTE
Do outro lado, Tom —
integrante da banda Dônica — explica que o pai foi determinante para abrir sua
sensibilidade para a música. Algo que se percebe também em seus irmãos, de
maneiras diferentes, mas semelhantes na essência.
— Meu pai conta que eu não
gostava quando ele cantava à noite pra eu dormir. Não lembro disso e hoje eu
tento entender o motivo, mas não consigo — conta o caçula. — Quando eu tinha
uns oito anos, viajei com meu pai pra uma turnê na Europa. Daí em diante
comecei a me interessar por música. A música nasceu em mim por causa dele. Meu
sonho é fazer canções lindas como as dele. Pensando nas minhas composições, não
vejo um diálogo tão direto com a obra dele. Mas quem ouve diz que há
referências nítidas.
O roteiro do show — que,
além da temporada no Rio até o fim do mês, tem datas confirmadas em Belo
Horizonte e São Paulo — reflete esses olhares cruzados. As conversas entre os
quatro se mostram na escolha do repertório de clássicos (“coisas como
‘Reconvexo’ têm de estar ali confirmando a linhagem”, escreve Caetano),
garimpos e inéditas — que, o baiano adianta, são poucas:
— Esse não vai ser um show
principalmente de canções inéditas. Tem duas de Zeca sozinho (uma delas é “Todo
homem”, já apresentada no programa “Conversa com Bial”). E uma parceria dele
comigo. Uma de Tom. Havia duas, a outra com letra minha, mas tiramos do
roteiro: vamos deixar para mais tarde. Uma de Moreno, que ainda disputa lugar
no roteiro com “De deixar voltar”. Minha sozinho, só tem uma. Mas nem sei se é
propriamente uma canção.
Em meio a vislumbres do
passado e acenos ao futuro, “Caetano Moreno Zeca Tom Veloso” mira em ser um
show, enfim, sobre o filho, essa entidade que, como as palavras dos “Livros”
cantados por Caetano, “é o que pode lançar mundos no mundo”.
“Caetano Moreno Zeca Tom Veloso”
Onde: Theatro Net Rio — Rua Siqueira Campos, 143
(2147-8060).
Quando: Ter e qua, às 21h (até dia 25/10).
Quanto: R$ 100 e R$ 140.
Classificação: 12 anos.
Caetano Veloso inicia turnê
com filhos no Rio de Janeiro
"É um show nascido da minha vontade de ser feliz”, Caetano escreveu
sobre seu “nepotismo do bem”
Roberta Pennafort, O Estado de S.Paulo
03 Outubro
2017
RIO - “O sol manhã de flor e sal/
e areia no batom/ Farol, saudades no varal/ vermelho, azul, marrom/ Eu sou
cordão umbilical/ Pra mim nunca tá bom/ E o sol queimando meu jornal/ Minha
voz, minha luz, meu som/ Todo mundo precisa de uma mãe”. Em falsete, Zeca
Veloso, o filho de 25 anos de Caetano, louva em Todo homem sua filiação.
Tom, Zeca, Moreno e Caetano Veloso - Foto: Jorge Bispo / Divulgação |
Ele é o último menino do
compositor baiano a se lançar na música, depois de experiências como DJ. Nesta
terça, 3, no Theatro Net Rio, junta-se ao pai e aos irmãos Moreno e Tom numa
turnê que já começa com 14 datas esgotadas, no Rio e em São Paulo.
Quem acompanha Caetano chega com
a curiosidade de vê-lo no palco em família, o que nunca aconteceu. Ele já fez
show com Moreno, mas nunca com os dois mais jovens.
Escolhido em conjunto, o
repertório terá músicas dos quatro. De Caetano, entre outras, O leãozinho, uma
das preferidas dos garotos, a autorreferente Reconvexo e Um canto de afoxé para
o bloco do Ilê – letra sua com participação de Moreno, que a gravou, aos nove
anos, no LP Cores, nomes, de 1982.
Moreno deve cantar a sua Deusa do
amor. De Tom, compositor da banda Dônica, que formou com amigos de colégio
ainda adolescente, em 2011, é possível que entre O sol, eu e tu, dele com
Caetano e Cezar Mendes, lançada por Carminho há três anos.
São bem poucas as informações divulgadas sobre o espetáculo, que não
terá banda de apoio. “O som será mais para o acústico e muito singelo. É um
show nascido da minha vontade de ser feliz”, Caetano escreveu sobre seu “nepotismo
do bem”. “Creio que não somos uma família de músicos, mas seguramente somos
músicos de família.”
Caetano Veloso se derrete
pelos filhos: 'Fico orgulhoso'
Cantor
também falou sobre ser pai de uma menina
04/10/17 por
Folhapress
Fama Paternidade
Caetano
Veloso é pai de três meninos: Moreno, de seu relacionamento com Dedé Gadelha, e
de Tom e Zeca, com a atual mulher, Paula Lavigne.
"Os três têm
boa índole e são carinhosos. Fico orgulhoso quando encontro algo meu em suas
qualidades. Conversar com eles é fácil. Entendem logo o que mal esboço
dizer",
disse o músico sobre o trio em entrevista à revista "Claudia".
A
publicação, Caetano também falou sobre ser pai de uma menina.
"Criar uma
menina teria sido uma experiência diferente. Depois que Moreno nasceu, quis uma
filha. Dedé e eu tivemos uma menina, que se chamou Júlia, mas morreu depois de
nascer prematura. Moreno já tinha 5 ou 6 anos. Ele, a mãe dele e eu choramos
muitos dias por causa disso", disse.
"Quando
Paulinha ficou grávida de Zeca, quisemos que fosse uma menina porque eu já
tinha Moreno. Depois que eles foram crescendo, passei a achar maravilhoso que
sejam todos homens. Isso porque eu os amo tanto que não quero nada diferente do
que são",
completou.
Caetano Veloso posa com os filhos para a revista "Claudia" - Jorge Bispo |
Revista CLAUDIA
Famosos
Caetano Veloso fala sobre
os filhos em entrevista exclusiva
Além de
ser um compositor raro e genial, um cantor sensível e apaixonado, Caetano
Veloso é o pai amoroso que junta os filhos em turnê que começa este mês
Por Patrícia Haergraves
20 out 2017, 16h35
Minha
primeira vez foi com Caetano Veloso. Intensa, cheia de sons e sabores. O
artista me introduziu na Bahia, terra onde eu nunca havia pisado até o inverno
de 1996. Durante uma semana mágica, ele e sua mulher, a carioca Paula
Lavigne, grávida do caçula, Tom, me apresentaram o que os baianos têm. O
que parecia sem espaço para melhorar melhorou.
No
último dia, fomos até Santo Amaro da Purificação, berço dos Veloso, para um
almoço dos deuses, preparado pela matriarca da família, dona Canô. A
esta altura, você já deve estar se perguntando por que lembrar disso agora.
Pelas voltas que a vida dá. Mais de 21 anos depois, Caetano, 75 anos, tem uma
primeira vez: a turnê na qual divide o palco com seus três meninos,
Moreno, 44, Zeca, 25, e Tom, 20.
O
show estreia no Rio de Janeiro, seguindo para Belo Horizonte e depois São
Paulo. Há outros acasos que relembram aquele período. Então, senta que lá vem
história.
O caminho até a capital baiana foi longo. A negociação para a entrevista a Caras, que buscava mostrar a família na intimidade, levou meses. Quando autorizada, embarcamos para Salvador e nos hospedamos em um hotel, que só usávamos para dormir e tomar banho.
Os
dias eram passados na residência de Caetano, no bairro do Rio Vermelho.
Chegávamos cedo, brincávamos com Zeca e conversávamos com Paula. Notívago, o
artista só despertava depois do meio-dia. Aparecia de sunga, pronto para o sol
na piscina. Uma foto aqui, outra ali. Pausa para o almoço, regado a litros de
Coca-Cola normal, muito assunto e pouca pressa.
Conversador,
pousava os talheres para gesticular enquanto falava (jamais de boca cheia).
Comia, inevitavelmente, frio. Só fez diferente quando visitou a mãe, em sua
cidade natal. Ali, sentado à mesa, degustou tranquilamente um de seus pratos
favoritos, a frigideira de maturi, uma fritada de castanha verde, típica da
Bahia, preparada por dona Canô, acompanhada de farofa de mel. Pense em algo
bom…
Naquela
temporada, Caetano se refugiava no escritório da casa, compondo a trilha do
filme Tieta do Agreste e escrevendo Verdade Tropical, livro que
só chegaria às livrarias no ano seguinte. Aí vem outra sincronia que justifica
meu relato. Sairá dia 18 a reedição desse título, mezzo autobiográfico, mezzo
formação musical, com um capítulo introdutório novinho em folha, no qual
ele reavalia situações e dá sequência a alguns temas.
Por
exemplo, em 1997 se autodeclarava homossexual. “Não sou bi, homo ou hetero”,
reformula agora. E conclui o raciocínio: “Somos sexuais”. As páginas atuais
revelam a forte depressão que o abateu no lançamento do livro. O episódio, que
incluiu pensamentos suicidas, levou o artista ao Rivotril, remédio que embala
suas noites ainda hoje. O que nos dá um certo conforto. Como diz a música dele,
de perto, ninguém é normal.
CLAUDIA:
Que características suas você enxerga em Moreno, Zeca e Tom?
Caetano
Veloso: Eles são
muito diferentes entre si, mas me reconheço em cada um deles. Fisicamente,
Moreno é muito Gadelha (família de Dedé, primeira
mulher de Caetano) e Zeca muito Lavigne (sobrenome de Paula, com quem
está casado novamente). Nesse aspecto, Tom é o mais Veloso. Mas me
lembro de, ao ver o filme Uma Noite em 67 (de Renato Terra e Ricardo Calil sobre o festival de MPB daquele
ano), olhar minha imagem e ver Zeca ali. Os três têm boa índole e
são carinhosos. Fico orgulhoso quando encontro algo meu em suas qualidades.
Conversar com eles é fácil. Entendem logo o que mal esboço dizer.
CLAUDIA:
Em 1996, você disse que o nascimento do Moreno foi a maior mudança de sua vida.
Maior que a prisão e o exílio. E o Caetano avô?
Caetano: Sim, a chegada de Moreno foi o grande
acontecimento de minha vida adulta. Uns dois anos antes, eu ainda pensava que
nunca ia ter filhos. Sou muito mais feliz, sou maior e melhor por causa dele.
Quando Zeca e Tom vieram, eu já sabia a maravilha que isso era. Tenho dois
netos lindos e especiais, Rosa (11 anos) e José (9 anos), ambos muito
inteligentes. Aprendi a gostar de criança com Moreno. Tenho orgulho dos meus
netos e sinto profunda ternura e amor por eles. Mas eu era muito grudado a meus
filhos quando eles eram meninos. Rosa e José são filhos de Moreno e Clara (Flaksman),
é deles que os dois estão sempre perto.
CLAUDIA: Quais os maiores orgulhos e arrependimentos na criação desses homens? Faria algo de diferente?
Caetano: Não tenho nenhum arrependimento. Se eu
tivesse mais alma pra dar eu daria. Tenho muito orgulho de eles serem tão atenciosos
e educados com todos com quem têm contato.
CLAUDIA:
Seria diferente se tivesse exercido a paternidade de uma mulher?
Caetano: Sem dúvida criar uma menina
teria sido uma experiência diferente. Depois que Moreno nasceu, quis uma filha.
Dedé e eu tivemos uma menina, que se chamou Júlia, mas morreu depois de nascer
prematura. Moreno já tinha 5 ou 6 anos. Ele, a mãe dele e eu choramos muitos
dias por causa disso. Quando Paulinha ficou grávida de Zeca, quisemos que fosse
uma menina porque eu já tinha Moreno. Depois que eles foram crescendo, passei a
achar maravilhoso que sejam todos homens. Isso porque eu os amo
tanto que não quero nada diferente do que são.
CLAUDIA:
O que você cantava para ninar seus meninos?
Caetano: Muitas coisas. Casinha na Marambaia pra Moreno, que foi a
primeira música que ele aprendeu a cantar; Três Apitos pra
Zeca. Quando ele ouviu a gravação de Aracy, no ano passado, chorou -– por causa
do estilo de Aracy. Ele não lembrava da canção, que ouviu entre tantas outras
ao adormecer. Há uma cantiga chamada Feiticeira, que
nossas tias e primas entoavam para nos ninar em Santo Amaro, que eu cantei
muito para os dois. Zeca, já pré-adolescente, me pedia na hora de fazê-lo
dormir. Bethânia chegou a gravar essa canção.
Eu também
inventava melodias só para niná-los. Tudo, Tudo, Tudo, que
criei para Moreno, cheguei a gravar. Ninei muito Tom, mas ele parecia não
gostar de que eu cantasse. Quando começou a falar, pedia para eu calar a boca.
Dormia muitas vezes nos meus braços, mas eu o balançava calado. No entanto,
hoje é o mais apaixonado por música. Toca violão o dia todo, faz parte da banda
Dônica, de jovens músicos virtuosísticos, e tem gosto musical exigente e
definido.
CLAUDIA:
Como é sua relação com Rosa e José?
Caetano: Já disse que não sou grudado a eles
como fui – e ainda sou, na medida do possível – com meus filhos. Amo muito os
dois. Por serem filhos de Moreno e por terem as personalidades apaixonantes que
têm. Uma das grandes felicidades que senti ultimamente foi numa noite em que fui
buscar Rosa para ir a um encontro com Freixo (o deputado estadual Marcelo
Freixo, do PSOL) na casa de Paulinha. Moreno e Clara não estavam e ela veio
sozinha comigo no carro.
Antes,
quis me mostrar o quarto dela. No carro, conversamos sobre uma pergunta que ela
me fez a respeito da expressão “o um” na letra de Gente (“Gente olha
pro céu/ Gente quer saber o um./ Gente é o lugar/ De se perguntar o um”).
Ela me fez rir com sua inteligência. Uma noite, em Salvador, Moreno ia botar os
dois na cama e me chamou. Eles gostam de O Leãozinho, e o pai sempre
canta essa canção pra eles dormirem. Cantamos juntos. Fiquei emocionado.
26/10/2016 - Caetano, Rosa, Marcelo Freixo - Foto: Facebook |
CLAUDIA: Estar com a Paula colaborou na decisão dessa turnê em família?
Caetano: Paulinha traz muita energia. Ela
faz as coisas andarem, exige que funcionem. Assim ela trata esse projeto meu
com meus filhos. Quando eu falava que tinha vontade de produzir isso, já faz um
tempo, ela tinha dúvidas. Tom estava na Dônica, Moreno toca a carreira dele,
Zeca não queria entrar nessa vida. Ele tinha umas músicas lindas, mas não
queria se profissionalizar. Mais recentemente Paulinha se animou e foi quem
convenceu o Zeca. É ela quem segura todas as barras para realizá-lo.
CLAUDIA:
Trabalho e família sempre caminharam juntos na sua vida. Quais as vantagens e
desvantagens disso?
Caetano: Para mim é natural. Moreno é primo
carnal de Preta Gil (com quem Moreno já trabalhou). Somos um pouco como
gente de circo. Paulinha gosta muito de dizer isso. Tudo na vida tem vantagens
e desvantagens. Conheci um grande músico português que fazia questão de deixar
os filhos distantes da visibilidade dele como artista.
Eu
sempre fui diferente. É que fui anônimo até os 25 anos. Depois, no exílio,
voltei a viver anonimamente. Tenho no Brasil, na Argentina, no Uruguai e em
Portugal, possivelmente em Angola e Cabo Verde, talvez em Moçambique, uma vida
de homem famoso. Nunca desgostei da vida de anônimo nem da de célebre. E gosto
de sentir meus filhos perto de mim, com tudo o que eu sou.
CLAUDIA:
Como seus filhos influenciam sua música?
Caetano: Primeiro, com a mera existência
deles, que mudou minha sensibilidade. Depois, com o gosto e a inteligência de
cada um. Por fim, com a natural intimidade que eles têm com coisas de suas
gerações. Zeca me mostra o que eu não teria descoberto sozinho: de James Blake
(compositor londrino de música eletrônica) a Kendrick
Lamar (rapper americano).
Tom me
ensina critérios de escolha dentro da tradição e das novidades do funk e do
pagode. Ele é, além de músico refinado, jogador de futebol. Moreno me aponta
coisas de áreas diferentes, como Buika (cantora espanhola),
composições orientais, indígenas, indianas, do Mali, profundas sacadas
napolitanas. E todos têm estilo próprio. O jeito de cada um cantar, tocar,
criar e ouvir me ensina sempre e muito.
CLAUDIA:
De quem surgiu a ideia do show com os filhos?
Caetano: De mim. De bem dentro de mim. Eles não
imaginavam isso. Com Moreno, eu tinha feito um show lindíssimo, na série Pais e
Filhos, em um Sesc de São Paulo. Depois que Zeca e Tom mostraram muita
criatividade musical, comecei a sonhar em fazer com os três. Felizmente eles
aceitaram.
CLAUDIA:
A relação no palco é de colegas ou de pai com filhos?
Caetano: É tudo.
CLAUDIA:
Como convive hoje com as mulheres, tão cientes de seus direitos e que reafirmam
isso a toda hora?
Caetano: Assunto interessante para nosso
grupo todo masculino. Eu, pessoalmente, sou feminista desde pequenininho.
Felizmente vejo meus filhos serem muito delicados com as mulheres com quem se
relacionam. A começar pelas mães.
CLAUDIA:
Quando você se vê sendo dona Canô com os filhos e netos?
Caetano: Nisso me identifico muito com meu pai
(José Teles Velloso). Mas sou apaixonado pelos filhos como uma mãe. De
todo modo, há uma canção (Ofertório) que fiz para os 90 anos de minha
mãe, cuja letra é na primeira pessoa e é como se fosse ela falando. Vou
cantá-la no show como se eu pudesse me referir a eles como ela se referia a
nós. Eles incluídos.
No hay comentarios:
Publicar un comentario