7 de agosto de
2017
FAROL - para o amado amigo Caetano Veloso
Somente a flor
do querer para ver-
Ter-te numa canção, pelo prazer
De compor a emoção, para fazer
Valer o sonho, o amor, todo o viver.
Somente à foz do saber para ver
Se ao ter-te inteiro aqui, pelo lazer
De alargar a ilusão, e refazer
A lida, a verve, o verso avulso a haver
Noutra página alva, alvo incer-
To, do início, que fez brilhar, crescer
De "a" a "z", cá, moreno tom de nascer...
Ter-te numa canção, pelo prazer
De compor a emoção, para fazer
Valer o sonho, o amor, todo o viver.
Somente à foz do saber para ver
Se ao ter-te inteiro aqui, pelo lazer
De alargar a ilusão, e refazer
A lida, a verve, o verso avulso a haver
Noutra página alva, alvo incer-
To, do início, que fez brilhar, crescer
De "a" a "z", cá, moreno tom de nascer...
Semente, ser
mais mente, amanhecer:
Mais do que podem metro e rima, o cer-
To do ser, farol deste acontecer.
Mais do que podem metro e rima, o cer-
To do ser, farol deste acontecer.
Adriano Nunes
Caetano Veloso completou nova
primavera nesta segunda-feira (7/8).
Para celebrar os 75 anos do cantor e
compositor, Paula Lavigne, sua ex-mulher e empresária, preparou uma
festa para ele. O agito foi no apartamento de Caetano, em Ipanema, Rio de
Janeiro, e contou com amigos da vida toda, entre eles Dedé
Gadelha Veloso, sua primeira mulher, e o artista plástico Emanoel
Araújo, amigo de infância de Caetano, desde os tempos de Santo
Amaro da Purificação. Um dos pontos altos da noite foi quando Nelson
Sargento, de 93 anos, deu de presente para o aniversariante um
quadro feito especialmente para ele. Caetano ficou emocionadíssimo com a
surpresa.
Baby do Brasil |
Nelson Sargento e Caetano Veloso. O aniversariante recebeu de presente quadro feito por Nelson |
Emanoel Araújo e Dedé Gadelha |
Bruno Gagliasso, Preta Gil, Fernanda Paes Leme, João Vicente de Castro |
Alix Duvernoy e Nelson Sargento |
Marcus Preto |
Uma presença internacional: Erika
Ender, panamense que compôs ao lado de Luis Fonsi o hit “Despacito”. Ao longo
da noite, Erika deu até uma palinha da música! Claro que a união das melhores
rodas da música não poderia resultar em outra coisa que pura cantoria!
ESTADÃO
Cultura
Caetano Veloso, 75 anos:
legado maior que seus discos será a criação à prova de preconceito
O tropicalista não elimina uns para a existência de outros, e essa não é
prerrogativa criativa de um movimento musical, mas uma lição de vida; no dia de
seu aniversário, leia as melhores frases o baiano
Julio Maria, O Estado de S.Paulo
07 Agosto
2017
Setenta e cinco anos hoje. Caetano Veloso chega à
marca da serenidade com projetos que incluem a família e uma revisão e
ampliação das próprias percepções da história que testemunhou e ajudou a
escrever. O primeiro refere-se a uma volta aos palcos, agora, em conjunto com
seus três filhos, Moreno (44 anos), Zeca (25) e Tom (20). Foi a mulher Paula
Lavigne quem deu a informação em seu Twitter. O segundo diz respeito ao
relançamento, 20 anos depois, do livro Verdade Tropical. Caetano amplia o
conteúdo, esticando-o de 1997 até os dias atuais.
Caetano Veloso, 75 anos hoje Foto: ANDRE LESSA/ESTADÃO |
Caetano foi tema, este ano, de uma biografia. Não
autorizado, embora o artista estivesse ciente o tempo todo de sua feitura, o
livro é uma pesquisa profunda, feita por mais de 10 anos pelos autores Carlos
Eduardo Drummond e Marcio Nolasco. O artista não se opôs a nenhuma das
informações do livro, mas o atacou com uma frase constrangedora aos autores:
segundo seu entendimento, ele seria de “baixa qualidade literária”.
Ele poderia também agradecer uma leitura possível
de ser feita nessas páginas. Sua formação de abrangência elástica e diálogo
entre mundos se dá primeiro com os filmes franceses e italianos exibidos nos
cinemas de Santo Amaro da Purificação, com a aproximação das artes plásticas e,
só então, com a música. Centrifugada por um pensamento de inquietudes, esta
combinação lhe garantiu uma vantajosa condição para a criação assim que o
artista se viu pronto para devolver ao mundo tudo aquilo que colheu.
O
espírito tropicalista pode ser melhor definido em Caetano. Ao contrário dos
especialistas, os entendidos que gostam de separar o que serve do que não serve
para entrar pelos ouvidos humanos, esses tropicalistas costumam enxergar
verdades e qualidades mesmo nas manifestações descartadas pela academia como
mundanas. Nós, imprensa, gostamos de dizer que eles só fazem isso para
rejuvenescer suas plateias e reafirmar suas condições cardeais, abençoando a
nova era. São tolices das quais precisamos pedir perdão.
A
diferença de um especialista para um tropicalista está no conceito do que é
“bom”. O especialista parte do pensamento da comparação para reforçar seus
valores. John Cage é música, Michel Teló não é. O tropicalista não elimina uns
para a existência de outros, e essa não é prerrogativa criativa de um movimento
musical, mas uma lição de vida. Gil, Tom Zé, Jorge Mautner e Caetano Veloso são
assim. Luiz Melodia era assim. Caetano deve à sua formação multidisciplinar o
fato de poder cantar Peninha com o mesmo interesse com que grava Cole Porter. A
verdade existe nos dois.
No
dia de seus 75 anos, separamos algumas das frases de destaque ditas por Caetano
Veloso em entrevistas ou músicas:
1
“Eu nunca fui a nenhum país comunista,
nem mesmo a Cuba, por no fundo ter uma dificuldade natural de aceitar a ideia
de que um país possa ter um jornal só e que esse jornal pertença ao governo.
Isso para mim é uma coisa intolerável”, Caetano no Roda Viva, em 1997.
2. “Se nós tivéssemos talvez chegados ao
socialismo, não me interessa tanto saber o que o socialismo faria de nós, mas o
que o Brasil faria do socialismo” (ao mesmo Roda Viva)
3.
“Minha mãe me deu ao mundo de maneira
singular me dizendo uma sentença: pra eu sempre pedir licença, mas nunca deixar
entrar” (na música Tudo de Novo)
4.
“Às vezes, a separação é a única
confirmação possível daquilo que é mais valioso numa união”, em entrevista
ao jornal Folha de S.Paulo
5.
“O tempo não para e no entanto ele nunca
envelhece” (em Força Estranha)
6.
“Enquanto os homens exercem seus podres
poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos
naturais” (em Podres Poderes)
7.
“Você diz a verdade, a verdade é o seu
dom de iludir. Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir” (em Dom
de Iludir)
8.
“O bispo Macedo pode ter várias mansões e
um jato maior do que o de Roberto Marinho, o que eu já constatei de perto, mas
a maioria esmagadora dos fiéis é cuidadosa, honesta, organizada e trabalhadora”
(em entrevista ao Estadão)
9.
“Música é bom e eu gostaria de ter mais
talento só para aumentar o prazer. Muitas vezes, percebo a imensidão do prazer
de Djavan, de Milton, de Guinga” (em entrevista ao Estadão)
10.
“Adoro quem é antirreligioso convicto,
como Antônio Cícero. E também as pessoas que, tendo sido criadas sem religião,
não sentem nem necessidade disso nem atração por isso. Mas não é o meu caso.
Tendo a ser supersticioso. Mas não respeito muito as minhas próprias
superstições” (em entrevista ao jornal A Tarde, de 2014)
11.
“Os anos 1970 foram para mim um período
com canções que se tornaram sucesso, algumas até tardiamente. Quando surgiu,
Terra não tocava no rádio porque era longa e alguns diziam ser chata. Sampa não
tocava quando saiu. Leãozinho é chavão de canção querida, mas teve muita reação
contrária. Odara teve mais ainda. Elis Regina ridicularizou a música Gente, por
decisão dos diretores do show que ela fazia, mas ela me pediu desculpas”,
em entrevista ao Estadão, em 2012
12.
“Você quer que alguma coisa me enerve?
Sabe que há um tempo um cara de um outro
jornal chegou com um negócio escrito em um telex, em Salvador, no verão,
enquanto eu lhe dava uma entrevista com uma preguiça, uma calma. E ele tentando
tudo para me deixar nervoso. Depois, ele me mostrou o telex e disse: Olha aqui
o que me mandaram da redação: “Tentar
irritá-lo ao máximo.”, na mesma entrevista, ao Estadão
13.
"O funk carioca e sertanejo
universitário são a nova Tropicália", em entrevista à rádio londrina
BBC
CULTURA
Publicado: 20/07/17
Artista, que completa 75 anos, acumula cinco décadas de
sucessos e premiações. Polêmico, foi eleito pela ‘Rolling Stone’ o 4º maior
artista da música brasileira
Fabio Ponso*
com edição de Gustavo
Villela, editor do Acervo O GLOBO
25/11/1966 |
“Um dia, Caetano chegou
pra ficar”, assim dizia o título da reportagem assinada pelo crítico Sérgio
Bittencourt, na edição do GLOBO de 25 de novembro de 1966. O texto anunciava a
chegada ao Rio de Janeiro de um “compositor jovem, vindo da Bahia”, que acabara
de conquistar o prêmio de melhor letra no II Festival da Música Popular
Brasileira, da TV Record, com a música “Um dia”, interpretada pela cantora
Maria Odete. Na ocasião, “o moço simples, de Santo Amaro da Purificação”,
decretava, em tom profético:
— Começo a sentir os
primeiros sintomas de uma nova virada. Ela está para acontecer, não tenham
dúvidas. Eu quero estar na crista dessa virada, com todo o meu coração.
De fato, não demoraria
muito para que Caetano Emanuel Viana Teles Veloso viesse a se tornar uma das
referências da música popular brasileira. Versátil e universal, o baiano se
converteu num dos mais influentes artistas de uma geração de ouro que despontou
em fins dos anos 60, contando com os talentos de Chico Buarque, Gilberto Gil,
Milton Nascimento, Edu Lobo, Maria Bethânia, Gal Costa, entre outros. Expoente
do tropicalismo, ajudou a fundar e difundir o movimento de vanguarda no meio
musical, abalando as estruturas da MPB.
Ao longo de uma
carreira musical de mais de cinco décadas, o cantor e compositor gravou quase
50 discos e se tornou aclamado no Brasil e no exterior, acumulando diversas
premiações e reconhecimentos. Entre eles estão o do jornal americano “The New
York Times”, que, em 2002, o considerou um dos maiores compositores do mundo no
século XX, e o da cultuada revista “Rolling Stone”, que, em 2008, o elegeu como
o quarto maior artista da música brasileira de todos os tempos (os três
primeiros são: Tom Jobim, João Gilberto e Chico Buarque).
No entanto, a biografia
do artista também registra momentos difíceis, como a repressão da ditadura
militar que o levou a viver no exílio, em Londres, por mais de dois anos. Como
autêntico leonino, Caetano possui forte personalidade, traço que marca sua
trajetória: com atitudes e opiniões firmes, ele não se esquiva de polêmicas,
manifestando-se sobre os mais diversos assuntos, o que desperta ao mesmo tempo
reações favoráveis e contrárias.
O menino Caetano
nasceu, em 7 de agosto de 1942, na pequena Santo Amaro da Purificação, no
Recôncavo Baiano. Era o quinto dos sete filhos do funcionário público José
Teles Velloso, que apreciava música e poesia, e da festeira e musical Dona
Canô. Da família, intensamente ligada às tradições folclóricas da região, como
o samba de roda, Caetano herdou a vocação artística e musical.
Logo cedo, mostrou
interesse em desenho, pintura, cinema e aprendeu a tocar violão. Enquanto acompanhava
o trabalho de cantores de rádios e músicos da bossa nova, apaixonou-se pela
canção “Chega de saudade” (1959), do disco homônimo de João Gilberto, que se
tornou sua principal referência artística. Entre 1960 e 1962, estimulado pelo
Cinema Novo, escreveu críticas de filmes para o “Diário de Notícias”, de
Salvador. No ano seguinte, iniciou o curso superior em Filosofia, na
Universidade Federal da Bahia, e realizou seu primeiro trabalho na música,
compondo a trilha sonora para a peça “Boca de ouro”, de Nelson Rodrigues,
dirigida por Álvaro Guimarães. Em 1964, participou de espetáculos quase
amadores em Salvador, como o musical “Nós, por exemplo”, ao lado da irmã Maria
Bethânia, Gal Costa, Tom Zé e Gilberto Gil.
Seu primeiro trabalho
profissional na música, com pegada bossa-novista, veio em 1965, com o compacto
“Cavaleiro/Samba em paz”, lançado pela RCA, enquanto acompanhava Bethânia na
turnê do espetáculo “Opinião”, no Rio de Janeiro, cidade que escolheria para
viver. Foi Bethânia, aliás, que o lançara ao mercado como compositor, pouco
antes, com a gravação em compacto de “É de manhã”. Ainda influenciado pela
bossa nova, Caetano gravou seu primeiro LP, “Domingo”, em 1967, em parceria com
Gal Costa, emplacando sua primeira canção de sucesso (“Coração vagabundo”), e
obtendo reconhecimento da crítica.
Ainda em 1967, casou-se
com Dedé Gadelha, em Salvador, e enlouqueceu o público do III Festival de
Música Popular, da TV Record, ao apresentar “Alegria, alegria”. Na ocasião, a
música cantada por Caetano, acompanhado de guitarras elétricas do grupo
argentino “Beat Boys”, causou enorme frisson, terminando em quarto lugar na
competição. Junto com “Domingo no Parque”, também executada ao som de guitarras
por Gilberto Gil e Os Mutantes, e classificada em segundo lugar, a canção
lançou a base do som tropicalista — influenciado pela Jovem Guarda e pelos
Beatles —, dando início ao movimento de vanguarda que provocou efervescência na
música popular brasileira.
No início de 1968,
Caetano lançou seu primeiro LP solo (“Caetano Veloso”), que contou com sucessos
como “Soy loco por tí, America” e “Superbacana”, além da própria “Alegria,
alegria” e da canção-manifesto “Tropicália” (com o verso “eu organizo o
movimento”). O principal marco do Tropicalismo, no entanto, foi o lançamento,
no ano seguinte, do álbum “Tropicália” ou “Panis et circensis”, em que Caetano
e Gil — ao lado de Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé, Capinam, Torquato
Neto e Rogério Duprat —, apresentavam uma inusitada mistura de estilos e
sonoridades musicais, de raízes brasileiras e estrangeiras, firmando as bases
do movimento. Ainda em 1968, em meio ao endurecimento do regime militar,
Caetano apresentou no III Festival Internacional da Canção, da TV Globo, a
canção “É proibido proibir”, sendo vaiado e desclassificado após realizar
histórico discurso de improviso contra o público e o júri: “vocês não estão
entendendo nada!”, gritou, na ocasião.
O estilo vanguardista e
contestador de Caetano atraiu a atenção do regime militar, até que, em dezembro
de 1968, ele foi preso, em São Paulo, junto com Gilberto Gil sob a acusação de
terem desrespeitado a bandeira e o hino brasileiros durante uma apresentação. A
delação, segundo revelou o compositor anos mais tarde, teria sido feita pelo
locutor de rádio Randal Juliano, que noticiou o fato sem checar sua veracidade.
Os dois foram levados para o Rio, tiveram as cabeças raspadas, sendo submetidos
a interrogatório, e permaneceram detidos num quartel do Exército. Após quase
dois meses, Caetano e Gil foram inocentados e autorizados a voltar para
Salvador, devendo cumprir, no entanto, prisão domiciliar. Em julho de 1969, os
militares decidiram que a situação dos dois só se resolveria com o exílio, e os
autorizaram a realizar um show de despedida para arrecadação de fundos,
partindo em seguida para Londres, na Inglaterra.
Antes de embarcar,
Caetano deixara as bases de voz e violão de seu próximo disco, lançado ainda em
1969, com sucessos como “Atrás do trio elétrico” e “Não identificado”. No Velho
Continente, Caetano gravou mais dois álbuns, mesclando canções em português e
inglês, com temática saudosa e melancólica, e destaque para o sucesso “London,
London”.
4/2/1971 |
Em janeiro de 1971, o
artista obteve permissão para retornar ao Brasil para a missa de 40 anos de
casamento de seus pais, na Bahia. Na ocasião, foi interrogado por militares e
se negou a atender um pedido para fazer uma canção elogiando a construção da
rodovia Transamazônica. Caetano também pôde voltar ao Brasil em agosto, quando
participou de programas de TV, entre eles um encontro histórico com seu
“mestre” João Gilberto e Gal Costa, na TV Tupi.
O regresso definitivo
ao país se deu somente em janeiro de 1972, ano em que nasceu Moreno, seu
primeiro e único filho com Dedé. Ao longo da década de 70, gravou novos e importantes
discos, como o clássico “Doces Bárbaros” (1976), ao lado de Gil, Gal e
Bethânia, a partir de um encontro idealizado por esta última, e o elogiado
“Cinema transcendental” (1979), com sucessos como “Menino do Rio”, “Lua de São
Jorge” e “Beleza pura”. Do repertório do artista, na década, se destacam ainda
canções como “Sampa”, “Terra”, “Odara”, “Um índio” e “Qualquer coisa”.
Nos anos 80, Caetano
viu sua popularidade crescer no exterior, onde passou a realizar um número
maior de shows em grandes festivais, como o de Montreaux, na Suíça, e casas de
espetáculos famosas, como o Olympia, em Paris, e o Carnegie Hall, em Nova York.
No Brasil, obteve seus primeiros discos de ouro ao atingir a marca de cem mil
cópias vendidas com “Outras palavras” (1981), que trazia os hits “Lua e
estrela” e “Rapte-me, camaleoa”, e “Cores, nomes” (1982), com os sucessos
“Queixa” e “Sina” — de Djavan, que consagrou, na canção, o verbo “caetanear”.
Cada vez mais pop,
emplacou, em 1983, o hit “Você é linda” - do álbum “Uns” - que virou tema de
novela e passou a ser uma de suas músicas mais tocadas. Obteve, em seguida, seu
primeiro disco de platina, com “Totalmente demais” (1985), que atingiu a marca
de 250 mil cópias vendidas. Gravado ao vivo, a partir de show no Copacabana
Palace, o álbum trouxe regravações de canções de outros artistas, com destaque
para a faixa-título, proibida pelo regime militar três anos antes. Em 1989, o
álbum “Estrangeiro” — já mais distante da pegada comercial dos trabalhos
anteriores — foi aclamado pela crítica e rendeu ao cantor o seu primeiro Prêmio
Sharp (atual Prêmio da Música Brasileira). Além do hit “Meia-lua inteira”, de
Carlinhos Brown, o disco trazia a faixa “Branquinha”, dedicada à sua nova
companheira, a atriz Paula Lavigne, com quem teve dois filhos: Zeca, em 1992, e
Tom, em 1997.
Nos anos 90, Caetano
apresentou novos trabalhos de destaque, como “Circuladô” (1991), “Tropicália 2”
(1993), em parceria com Gil, celebrando os 25 anos do movimento, e “Fina
estampa” (1994), uma releitura de clássicos latino-americanos, gravado em
espanhol. Em 1998, com “Prenda minha”, atingiu pela primeira vez na sua
carreira a marca de um milhão de cópias vendidas, obtendo seu primeiro e único
disco de diamante, graças ao estrondoso sucesso da canção “Sozinho”, do
compositor Peninha. Por fim, o disco “Livro” (1997) rendeu a Caetano seu
primeiro Grammy, na categoria world music, e seu primeiro Grammy Latino, na
categoria melhor disco de MPB.
Nos anos 2000, o
artista retomou a pegada de discos com novas canções autorais, com destaque
para “Noites do norte” (2000), Cê (2006) e “Zii e Zie” (2009), flertando com o
rock e o underground. Na linha de releituras, gravou, em 2004, “A foreign
sound”, seu primeiro disco totalmente em inglês, interpretando standards da música
americana.
Somando-se aos
trabalhos com Gil, com os Doces Bárbaros, e seu LP de estreia, com Gal Costa,
entre os quase 50 álbuns da discografia de Caetano estão discos gravados em
parceria com Chico Buarque (em 1972), sua irmã Maria Bethânia (em 1978), Jorge
Mautner (em 2002) e o rei Roberto Carlos (em 2008). Suas composições fizeram
sucesso ainda na voz de centenas de cantores, sendo um dos mais gravados da
história da MPB.
Além de inúmeras vezes
gravado no Brasil e no mundo, Caetano é um dos mais laureados da música
brasileira, com dezenas de prêmios nacionais e internacionais, com destaque
para a conquista de 19 troféus do Prêmio da Música Brasileira (é o terceiro
maior ganhador do evento), e de dez Prêmios Grammy (dois no Grammy Awards e oito
no Grammy Latino). O currículo de conquistas lhe rendeu a homenagem como
“personalidade do ano” na edição do Grammy Latino de 2012.
Mas a trajetória de
Caetano e sua importância para a cultura brasileira vão além. Camaleônico,
adotou diversos estilos nos palcos, transitando entre os visuais hippie,
andrógino, casual e clássico, lançando moda e inspirando novos artistas.
Seguindo sua paixão pelo cinema, produziu trilhas sonoras para diversos filmes
brasileiros e estrangeiros, e dirigiu o controverso “Cinema falado” (1986), em
linguagem experimental, duramente criticado pelo Bonequinho do GLOBO em 4 de
dezembro de 1986. Também ganhou as telas de cinema como ator nos filmes “Tabu”
(1982) e “Sermões, a história de Antônio Vieira” (1989), de Júlio Bressane; e com
sua história, contada nos documentários “Coração Vagabundo” (2008), do diretor
Fernando Grostein Andrade, e Tropicália (2012).
Desde os anos 60, atuou
como produtor musical e apadrinhou novos artistas. Também escreveu críticas e
artigos em importantes jornais e revistas, sendo colunista do GLOBO entre 2010
e 2014. Foi objeto de estudos, tema de livros e escreveu ainda os seus, com
destaque para “Verdade tropical” (1997), reunindo lembranças do tropicalismo e
relatos sobre sua história de vida e visão de mundo. Na televisão, compôs
trilhas sonoras para novelas e minisséries e apresentou os especiais “Divino
maravilhoso” (1968), na TV Tupi, e “Chico e Caetano” (1986), na Rede Globo. Em
Hollywood, foi o primeiro cantor brasileiro a se apresentar na cerimônia do
Oscar, em 2003. Na Sapucaí, foi enredo da Mangueira em 1994, com os Doces
Bárbaros, e na Rio-2016, brilhou como um dos destaques da cerimônia de
abertura.
Em 2013, causou
polêmica ao se colocar como um dos líderes de um movimento de artistas contrários
à publicação de biografias não autorizadas de pessoas públicas, o que foi
considerado por muitos como uma espécie de apoio à censura. Apesar desses e de
outros episódios controversos no cenário cultural — como discussões públicas
com outros artistas e jornalistas — é quando se trata de política que Caetano é
mais fortemente lembrado como uma figura polêmica, que inspira reações opostas.
Sempre instigado e sem
receio de se posicionar, já criticou e ao mesmo tempo defendeu publicamente
figuras como os ex-presidentes Collor, Fernando Henrique Cardoso e Lula, e o
cacique político baiano Antônio Carlos Magalhães (ACM). Em janeiro de 1990,
após criticar duramente a gestão do prefeito de Salvador, Fernando José, sofreu
um atentado a bomba e tiros quando passava férias em sua casa, na capital
baiana. Na época, Caetano declarou que “culpar a prefeitura seria muito óbvio”,
e que, apesar de tudo, continuaria criticando as autoridades quando tomassem
atitudes “civicamente intoleráveis”.
Na história recente do
Brasil, manifestou-se contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em
2016, e defendeu a renúncia do presidente Michel Temer, participando de atos
públicos em prol da realização de eleições diretas, em 2017.
5/8/2016 - Instagram - Foto: Reprodução |
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