Fotos: Lita Cerqueira |
Carlos
Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987).
Poeta,
contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta
brasileiro do século XX. Drummond foi um dos principais
poetas da segunda geração do Modernismo brasileiro.
"Eu escolhi este
poema porque acho ele extraordinariamente bem escrito.
Representa a densidade
assim da escrita poética de Drummond como poucos e também porque ele evoca
desde que houve o atentado contra as torres gêmeas do World Trade Center em
Nova York que este poema me impresionó pelo fato de conter magnificamente bem
expressa toda a intensidade do ressentimento contra os Estados Unidos e também
o sentido complexo da verdade política que há por trás de isso que não é meramente
um ressentimento. É muito complexo poéticamente e muito atual históricamente quando
os própios jovens americanos estão fazendo passeatas contra Wall Street."
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
● canto esponjoso - Armando Freitas Filho
● cerâmica - Aurélio Mesquita
● elegia – Nuno Ramos
● josé / legado - Eucanaã Ferraz
● poema da necessidade - Laura Liuzzi
● poema de sete faces - Alcides Villaça
● quadrilha - Omar Salomão
● um boi vê os homens - Joca Rainers Terron
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
Poema
de Carlos Drummond de Andrade in: «Sentimento do Mundo» (1940)
Consideração do poema:
Leituras de carlos drummond de andrade
Leituras de carlos drummond de andrade
Longa-metragem, Documentário,
64', 2012.
SINOPSE
O filme, realizado por ocasião das comemorações do
"Dia D", em 31 de outubro, reúne leituras de poemas de Carlos
Drummond de Andrade por poetas, escritores, compositores, atores, intelectuais
e outras figuras públicas.
Produção do
Instituto Moreira Salles - IMS
● a flor e a náusea - Marlene de Castro
Correa
● canto esponjoso - Armando Freitas Filho
● cerâmica - Aurélio Mesquita
● elegia – Nuno Ramos
● josé / legado - Eucanaã Ferraz
● poema da necessidade - Laura Liuzzi
● poema de sete faces - Alcides Villaça
● quadrilha - Omar Salomão
● um boi vê os homens - Joca Rainers Terron
O GLOBO
Documentário ‘Consideração do poema’ traz
personalidades recitando versos de Drummond
Selecionado para o É Tudo Verdade, o filme terá
duas sessões durante o festival
por André Miranda
24/03/2012
O músico Chico Buarque pensou em ser arquiteto na juventude - Divulgação |
RIO
- Um "Poema de sete faces" se entrelaça com um "Anedota
búlgara", que se emparelha
com um "Também já fui brasileiro", que se junta a um "Elegia
1938", que,
ao lado de muitas outras poesias de Carlos Drummond de Andrade, aparece reunida
num novo filme que está prestes a entrar nesta história.
Dirigido
por Gustavo Moura, Eucanaã Ferraz e Flávio Moura, "Consideração do
poema"
reúne poetas, escritores, compositores, atores, professores e outras
figuras
públicas recitando obras variadas de Drummond, de frente para a câmera, sem
nenhum elemento a mais para distrair a atenção do espectador. O filme foi feito
por conta do centenário de nascimento do poeta, que será comemorado em outubro,
e terá sua primeira exibição numa sala de cinema no É Tudo Verdade, o maior
festival de documentários do país, que começa neste sábado para o público e
segue até o dia 1 de abril em Rio e São Paulo.
Participam
de "Consideração do poema"
nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Cacá Diegues, Jorge Mautner, Milton
Hatoum, Marilia Pêra, Nuno Ramos e Dráuzio Varella. O filme teve uma primeira
versão, mais curta, mostrada no Instituto Moreira
Salles no ano passado, justamente pela celebração do aniversário de Drummond,
em 31 de outubro.
—
A ideia original era que o filme tivesse 20 minutos, mas aí fomos chamando
mais
gente, mais pessoas foram lendo e se animando, e o projeto cresceu —
explica
Gustavo Moura, que participou do É Tudo Verdade com o documentário
"Cildo"
em 2008 e que retorna nesta edição também com o curta "Capela", este
em competição.
No
filme, todos aparecem sentados, à frente de um fundo preto, simplesmente
lendo.
Alguns ainda fazem breves comentários, como no caso de Antonio Cicero,
que,
antes de ler "Fraga e sombra", diz: "Não tem nenhuma palavra sobrando em nenhum desses
poemas. Tudo é perfeito, o som é perfeito."
Idealizador
do projeto, o poeta Eucanaã Ferraz fez a seleção dos poemas para
cada
leitor, deixando em alguns casos opções em aberto. Os leitores foram
escolhidos
a partir de uma lista feita por ele, com a adição de sugestões dos
outros
dois diretores.
—
O grupo inicialmente soa um tanto aleatório, mas há uma ligação estética e
literária
entre aquelas pessoas e o Drummond. A Fernandinha (Fernanda Torres), por
exemplo, tem uma compreensão, uma inteligência, que faz que a leitura dela não
seja uma leitura qualquer — afirma Eucanaã.
O
filme será exibido em quatro horários do É Tudo Verdade, dois no Rio (dia 29,
às
19h, no Unibanco Arteplex; e dia 1 de abril, às 18h, no Instituto Moreira
Salles)
e dois em São Paulo (dia 28, às 19h, no CineSesc; e dia 30, às 14h, no
Museu
da Imagem e do Som). Depois, a ideia dos diretores é que ele consiga ter uma
sobrevida nas salas de cinema e que passe na Festa Literária Internacional de
Paraty, a Flip, cujo autor homenageado de 2012 é justamente Carlos Drummond de
Andrade.
—
Não sabemos ainda dentro de qual contexto, mas possivelmente ele será exibido na
Flip — afirma Flávio Moura, que também é cocurador da homenagem a Drummond na Festa
de Paraty.
— O filme também sobrevive a partir de leituras individuais na internet,
separando-se cada trecho.
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