Folha de S.Paulo
Cotidiano
Justiça proíbe show de Caetano Veloso em
acampamento de sem-teto em SP
FERNANDA MENA
DE SÃO PAULO
30/10/2017
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Caetano Veloso em acampamento de sem-teto em São Bernardo do Campo, na Grande SP; show em apoio ao movimento foi proibido pela Justiça |
Uma decisão judicial proibiu a realização do show
de Caetano Veloso programado para as 19h desta segunda-feira (30) no
acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) em São Bernardo do
Campo, na Grande São Paulo.
O show prestaria apoio à luta por moradia e à
marcha que os integrantes da ocupação devem realizar nesta terça-feira (31)
rumo ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo do Estado. A ação civil
pública que ensejou a proibição alegava questões de segurança mas argumentava
também que a ocupação já tinha liminar de reintegração de posse confirmada em
segunda instância.
"Não sei dizer se foi censura, não sou um
técnico. Mas dá a impressão de que não é um ambiente propriamente
democrático", disse Veloso. "Pode ser um modo de reprimir uma ação
que seria legítima", questionou.
Ele afirmou que esta foi primeira vez que ele se
viu impedido de cantar desde a redemocratização. "E, mais do que nunca, é
preciso cantar porque há muitas dificuldades", completou, antes de recitar
os versos da canção "Gente", que pretendia cantar no palco e dedicou
aos sem-teto.
O líder do movimento, Guilherme Boulos,
classificou a liminar como um "ato de censura" e de "falta de
democracia". "Alegar questão de segurança é uma excrescência. Fazemos
assembleias diárias com o mesmo número de pessoas", afirmou à Folha.
"Nossa melhor resposta será exercer o nosso direito à manifestação
amanhã", disse.
Com a impossibilidade de realizar o
show, a organização do movimento e os artistas fizeram um ato político. Subiram
em um pequeno palco Caetano Veloso e Paula Lavigne, sua companheira e
empresária, as atrizes Sônia Braga, Aline Moraes e Letícia Sabatella e os
rappers Criolo e Emicida.
A liminar assinada pela juíza Ida Inês
Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo do Campo, foi motivada
por uma ação civil pública apresentada pelo Ministério Público estadual pedindo
a interdição do show sob pena de multa de R$ 500 mil.
O MP pediu "tutela de
urgência" para impedir a realização do show, alegando ausência das
credenciais e de estrutura mínima para o evento, que prometia atrair milhares
de pessoas à ocupação.
O pedido da promotora Regina Célia
Damasceno, que atua nas áreas de meio-ambiente, habitação, urbanismo e família,
alega que o local reúne idosos e crianças, tem alta concentração de materiais
inflamáveis, como madeiras e lonas e possui entrada e saída única, além de
apontar para a necessidade de haver serviços de emergência, como ambulâncias.
"Ninguém é contra a luta por
moradia. Pelo contrário, ela é urgente, mas tem de ser feita sem colocar em
risco pessoas que já se encontram em situação de vulnerabilidade", disse a
promotora sobre o caso.
Na decisão, a juíza Del Cid justificou
que o local "não possui estrutura a suportar show, mormente para artistas
da envergadura de Caetano Veloso".
"Seu brilhantismo atrairá muitas
pessoas para o local, o que certamente colocaria em risco estas mesmas, porque,
como ressaltado, não há estrutura para shows, ainda mais, de artista tão
querido pelo público, por interpretar canções lindíssimas, com voz
inigualável", fundamentou a juíza.
Depois de percorrer prefeitura e fórum
de São Bernardo, Paula Lavigne, produtora e mulher de Caetano, retornou à
ocupação e disse: "Não vai ser desta vez, mas prometo que vai ter outro
show".
Revista VEJA
‘Não é bom ser impedido de cantar’, diz Caetano
Veloso
Cantor
criticou decisão que vetou show dele em ocupação do MTST e declarou que esta é
a primeira vez em que é proibido de cantar no período democrático
Por
Ricardo Chapola
30
out 2017, 22h10
Depois de a Justiça de São
Paulo barrar o show de Caetano
Veloso na ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Bernardo do Campo (SP), o
cantor e compositor classificou a decisão como “manobra legal” e afirmou que esta foi a primeira
vez em que foi impedido de cantar desde o fim da ditadura militar, em 1985.
Mais cedo, a juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo,
atendeu a pedido do Ministério Público, que alegou que a área é invadida, que a
invasão é ilegal e que o local não tem estrutura para comportar um show desse
porte, além de não ter as autorizações necessárias.
“No período democrático, creio que não, é a primeira vez [que é impedido de cantar]. Eu vivi o período oficialmente não democrático, não é bom pra mim ser
impedido de cantar”, disse o cantor a jornalistas. Questionado por que
havia usado o termo “oficialmente não democrático”, Caetano explicou que “durante a ditadura, era nitidamente uma
ditadura, fechou-se o Congresso, não se dizia que era democracia, não era. Mas
agora, formalmente, é uma democracia, então a gente tem que obedecer às leis do
Estado de Direito”.
Para o cantor e compositor, “manobras legais foram feitas para que o
show não pudesse acontecer” e a decisão “dá
a impressão de que não é um ambiente propriamente democrático”. “Pode ser um modo de reprimir alguma ação
que seria legítima, em princípio. Mas eles apresentam também justificativas por
causa de segurança, porque como o lugar não foi vistoriado. Mas não é em um
lugar interno, tem espaço, seria possível. Eu acho que há má vontade deles”,
criticou Caetano.
Além de Caetano Veloso, a
comitiva de artistas contou com as atrizes Sonia Braga, Leticia Sabatella e
Aline Moraes, os cantores Emicida e Criolo e a produtora Paula Lavigne, mulher
de Caetano. O vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT) e o deputado estadual do
Rio de Janeiro Marcelo Freixo (PSOL) também participaram do ato.
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O cantor Caetano Veloso, no palco montado para seu show em área invadida pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Da esq. para a dir., Sonia Braga, Aline Moraes, Marina Person, Caetano Veloso, Leticia Sabatella, Paula Lavigne e Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Guilherme Boulos, líder do MTST, discursa em invasão em São Bernardo do Campo. (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Leticia Sabatella e Sonia Braga no acampamento do MTST, em São Bernardo (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Guilherme Boulos, líder do MTST, discursa, observado por Sonia Braga, Aline Moraes, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), Marina Person e Caetano Veloso, em São Bernardo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Paula Lavigne discursa no acampamento do MTST, em São Bernardo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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O rapper Emicida, no acampamento do MTST, em São Bernardo do Campo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Marina Person e Caetano Veloso no acampamento do MTST, em São Bernardo do Campo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Sonia Braga, no acampamento do MTST, em São Bernardo do Campo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Sonia Braga, Marcelo Freixo e Marina Person, no acampamento do MTST, em São Bernardo do Campo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Caetano Veloso no acampamento do MTST, em São Bernardo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Guilherme Boulos no acampamento do MTST, em São Bernardo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Leticia Sabatella no acampamento do MTST, em São Bernardo - 30/10/2017 (Felipe Cotrim/VEJA.com) |
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Caetano Veloso e Criolo - Foto: Alex Silva/Estadão
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Marina Person, Sonia Braga, Caetano Veloso e Leticia Sabatella |
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Decisão que proibiu show de Caetano Veloso |
Show
de Caetano Veloso em apoio ao MTST é remarcado para dezembro
Paula Lavigne, empresária do artista, disse
que evento ocorrerá no dia 10 de dezembro, ainda sem local definido. Cantor
faria show nesta segunda (30) em ocupação e foi barrado pela Justiça.
Por Jornal Nacional, São Paulo
31/10/2017
O show do cantor Caetano Veloso
em apoio ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e à ocupação de São
Bernardo do Campo, no ABC Paulista, foi remarcado para o dia 10 de dezembro,
segundo informou Paula Lavigne, produtora e empresária do artista, ao Jornal
Nacional.
Por enquanto, apenas a data foi
definida. O local será divulgado posteriormente. Procurada pelo G1, a Prefeitura de São
Bernardo do Campo diz não ter informações sobre o assunto.
A apresentação do artista
estava marcada para ocorrer às 19h desta segunda-feira (30) na ocupação, mas a
Justiça de São Paulo aceitou pedido do Ministério Público para impedir o
evento.
Na ocasião, as atrizes Letícia
Sabatela, Alinne Moraes, Sônia Braga e a cineasta Marina Person, além dos
cantores Emicida e Criollo, estiveram no local em apoio ao movimento.
Após o veto, o Caetano lamentou
a decisão e disse ser "a primeira vez que sou impedido de cantar no
período democrático".
"Ser impedido de cantar
não é bom. Mais do que nunca é preciso cantar, como diz a música de Vinicius de
Moraes (Marcha de Quarta-feira de Cinzas). Porque há muita dificuldade",
disse Caetano, que foi ao terreno ocupado por seis mil famílias."
"As pessoas esperavam que
houvesse o show. As pessoas viram que nós viemos, vieram outros artistas,
Criolo, Emicida, atrizes. Me viram juntos perto deles."
"Eu não sou técnico em
questões legais. Me sinto mal, dá a impressão que não é um ambiente
propriamente democrático. É um modo de reprimir uma ação que seria legítima.
Mas eles apresentam justificativa por causa de segurança. Acho que há má
vontade deles. Envolve a prefeitura da cidade, a parte jurídica. Aceitei vir
porque me interessou a questão."
"Isso
aqui está há 40 anos sem função social. A invasão tem sentido de exigir que a
lei se cumpra. A gente está perto das pessoas. Viver e cantar."
Caetano disse que dedicaria a
música "Gente" para as pessoas da ocupação.
Na
segunda-feira, durante visita à ocupação, a produtora e empresária Paula
Lavigne afirmou, após a chegada de Caetano no local, que a apresentação iria
ocorrer em outra ocasião. “Nao vai ser dessa vez, mas prometo que vai rolar”,
disse.
"A
gente não está aqui para descumprir nenhuma ordem judicial, e o show será
cancelado."
"[Será]
remarcado, com certeza. Vamos ver o que precisamos fazer para o show ser
remarcado, nem que o pessoal da ocupação vá para outro local para ver o
show", declarou Paula Lavigne, produtora e empresária.
Caetano
e os demais artistas chegaram a subir no palco que foi montado para o show, mas
o cantor não se apresentou. Manifestantes gritaram em defesa da ocupação e
aplaudiram os artistas, que falaram brevemente, com mensagens de apoio e
solidariedade aos integrantes do Movimento.
"Não
estamos aqui para fazer guerra. Estamos aqui em missão de paz. Viemos aqui
apoiar vocês, apoiar a ocupação. (...) Eu prometo que a gente vai fazer esse
show, seja aqui ou em qualquer outro lugar", disse Lavigne no palco.
Decisão barra show
A
decisão para barrar o show é da juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda
Pública de São Bernardo do Campo. Ela estabelece uma multa de R$ 500 mil caso
não seja cumprida a decisão. "Fica deferida ordem policial, caso
necessário", escreveu em sua decisão.
No
texto da decisão, a juíza diz que "trata-se de ação civil pública, onde o
Ministério Público pede tutela provisória de urgência, para não realização de
show artístico, que seria realizado em local que foi ocupado, e que está sub
judice referida ocupação.”
Ainda
segundo o texto, a juíza considera que o “local que não possui estrutura a
suportar show, mormente para artistas da envergadura de Caetano Veloso, um dos
requeridos nesta ação.”
“Seu
brilhantismo [de Caetano] atrairá muitas pessoas para o local, o que certamente
colocaria em risco estas mesmas, porque, como ressaltado, não há estrutura para
shows, ainda mais, de artista tão querido pelo público, por interpretar canções
lindíssimas, com voz inigualável", afirma a juíza na decisão.
Coordenador nacional do
Movimento, Guilherme Boulos defendeu que a medida foi descabida e
preconceituosa.