domingo, 8 de noviembre de 2015

1988 - LINDA [Você é Linda]




1988 - Carmen Ritenour, Lee Ritenour e Caetano Veloso



 
1988 - LEE RITENOUR

Participación Especial: CAETANO VELOSO

/ 5:28

Álbum “Festival” [Lee Ritenour]

GRP Records LP GR-9570-1, B-2.

GRP Records CD GRD-9570, Track 7.




LEE RITENOUR, 63, é músico, compositor e guitarrista norte-americano.



O festival que deu em 'Festival'
03/05/2015

O "Brazil Projects 88" foi um marco na minha carreira.

No ano anterior eu havia conhecido Carmen –que é brasileira e com quem me casaria–, por meio de Paulinho da Costa, percussionista carioca radicado nos Estados Unidos, e de Arice, sua mulher.

Esse encontro deflagraria um novo capítulo de minha história com o Brasil, que tinha começado no fim da adolescência, quando, aos 19 anos, fui introduzido pelo violonista Oscar Castro Neves a Dorival Caymmi e Tom Jobim. Eu, que já era apaixonado pela música brasileira, comecei a desenvolver minha relação com seus artistas.


Minha então namorada estava em Nova York produzindo o evento –além de uma megaexposição de arte, o "Brazil Projects 88" incluiria uma série de shows no Town Hall, para os quais Carmen estava convidando grandes músicos.


Eu, que estava morando em Los Angeles e preparava um novo álbum, de repente pensei que o melhor seria levar a produção do disco –que sairia naquele mesmo ano, batizado como "Festival"–, para a Costa Leste.


Mal Carmen abriu o apartamento, e eu já lotava a sala com duas "geladeiras" cheias de equipamentos. Quem viveu aquela época sabe muito bem que era necessário um grande volume de traquitanas até para montar uma fita demo caseira, coisa que hoje se faz sozinho, com o seu iPhone.

Passada sua surpresa, Carmen nos apresentou a todos esses músicos brasileiros. Conhecê-los me fez mudar o conceito do disco; queria incluir aqueles artistas que ela reunira para o projeto.

Ato contínuo, eu já estava perguntando ao Caetano: "Hey, você pode tocar no meu disco?".

Eu e esses músicos maravilhosos –Dave Grusin, Marcus Miller, Omar Hakim, Ernie Watts, Anthony Jackson– um dia estávamos no estúdio, fazendo o arranjo de "Você É Linda" quando Caetano entrou pela porta e, ao ouvir nossa versão, disse: "Meu Deus, eu ainda nem me aqueci e vocês já estão tocando a música fantasticamente!".

Ele ficou surpreso e impressionado com o tratamento americano para uma de suas canções clássicas, e satisfeito por aquele conjunto ter conseguido captar a sensibilidade de sua música.


Graças ao Caetano eu conheci o Carlinhos Brown, que na época tocava percussão com ele. Fiquei encantado com a qualidade do seu trabalho e o convidei para tocar também; gravamos juntos quatro músicas e ficaram ótimas.


Por fim, mas não menos importante, foi nessa mesma ocasião que eu conheci João Bosco, outro artista lendário, que também participou de "Festival".


Ainda de outras formas o "Brazil Projects" me tocaria naquele ano. Ter a oportunidade de ver João Gilberto se apresentar foi uma delas.


Todo mundo conhece as suas histórias, sua fama de ser muito excêntrico. Para mim João Gilberto é apenas um artista fantástico, um dos meus favoritos de todos os tempos, um grande herói.


Carmen conseguiu trazê-lo não uma, mas duas vezes aos Estados Unidos –e todo mundo sabe que não é fácil conseguir convencê-lo a ir a qualquer lugar. Ele se convenceu após ouvir, em um programa de entrevistas na TV brasileira, Carmen falando sobre o projeto. Ele percebeu a integridade e beleza da ideia e depois aceitou o convite para participar.


Do mesmo jeito que só houve um Frank Sinatra, com sua forma própria de cantar, não há outro João Gilberto. Conhecê-lo melhor teve em mim um efeito vital.

Foi muito importante para um músico de jazz contemporâneo ter essa aproximação mais profunda, e de uma só tacada, com esses artistas brasileiros.





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