"A
gafieira Estudantina é um patrimônio cultural do Rio, e corre o risco de fechar
as portas se não for tombada!
Está
ali, na praça Tiradentes, desde os anos 20, mantendo viva a tradição da música
de salão brasileira e a memória dos grandes nomes de nossa música e de nossa
cultura.
Estamos
em campanha para que ela seja tombada: o Rio merece." (19/8/12)
A novelista Glória Perez lançou a campanha "Prefeito: Tombe a
Estudantina" pelo seu twitter. E Caetano Veloso, um dos assíduos
frequentadores da casa, ao tomar conhecimento do iminente despejo da
Estudantina, recordou os anos em que a frequentava e fez um apelo ao prefeito
Eduardo Paes pelo seu tombamento, em sua coluna do Segundo Caderno do jornal O
Globo, dia 19/08/12:
Jornal O Globo
Coluna
Caetano Veloso
O colunista escreve aos domingos
19/08/2012 7:30.
Descarrego
Uma defesa à Estudantina Musical do Rio
Quando cheguei ao Rio com Bethânia, no final de 1964, começo de 1965, eu
vinha do Méier para a Siqueira Campos, onde ficava o Teatro de Arena, que
passou a se chamar Opinião por causa do espetáculo do qual minha irmã tinha
sido convidada para participar, e, depois da função, íamos ao Cervantes, ao
Zicartola e à Estudantina. A Estudantina Musical, gafieira que deveria ser
estudada em close reading pela Liv Sovik (para livrá-la de vez do
preconceito racialista), existe desde os anos 1920, hoje na Praça Tiradentes.
Toda vez que volto lá entro no mesmo estado de espírito que experimentei pela
primeira vez naquela época. Uma alegria da festa (coisa essencial para mim) em
situação peculiar. Era como os bailes do Apolo em Santo Amaro — ou os que
periodicamente aconteciam na quadra de esporte do ginásio Theodoro Sampaio —,
só que com a regularidade diária de um bar e com a cultura da dança ornamental
de casal enlaçado desenvolvida ao nível do virtuosismo.
Não que não tentássemos algo disso no Apolo ou no ginásio, mas na
Estudantina o desenvolvimento da tradição alimentada no tango (o samba e o
tango da voz e da história de Carmen Miranda) é levado ao máximo. Os ornamentos
feitos com o corpo que o tango cultivou, adaptados — via maxixe — ao ritmo do
samba (e à informalidade brasileira), produzem no ambiente uma felicidade que
as casas de tango de Buenos Aires — muito mais sérias e estáveis, respeitáveis
e mundialmente reconhecidas — não conhecem. A Estudantina é, por essas e outras
muitas razões, um elemento crucial na amarração da cultura carioca. Ela
sustenta hábitos, estilos e gostos essenciais para a cultura da Cidade dos
Brasileiros (como João Gilberto chama o Rio), em áreas geográficas do seu
perímetro urbano (e em áreas mentais de seus habitantes) onde muitas vezes nem
seu nome é conhecido.
Pois bem. Dizem-me que a Estudantina está para fechar. Dependendo de um
tombamento que passa pela prefeitura. O prefeito Eduardo Paes poderia agir no
sentido de, no fim do seu mandato (e no desejo de estendê-lo), ligar seu nome e
sua energia a um núcleo da vida carioca. Essas coisas são mais fortes do que
macumba ou sessão de descarrego de igreja evangélica: ter seu nome ligado à
salvação de algo tão central ao significado do Rio pode dar superpoderes ao
atual prefeito, dignificando sua passagem pelo posto, se não garantindo sua
reeleição no segundo turno contra Freixo (sim, o Ex-Blog do Cesar Maia explica
que isso está por acontecer, embora, é claro, ele não cite Freixo
nominalmente).
(...)
A Estudantina Musical, teve seu prédio tombado no dia 22/8/2012