Lanzado en abril de 2004, simultáneamente en Estados Unidos, Europa y Japón.
2004
A FOREIGN SOUND
Universal Music / Mercury Records CD 60249808621 [Brasil]
01. CARIOCA [THE CARIOCA] (Edward Eliscu/Gus Kahn/Vincent Youmans) 3:31
02. SO IN LOVE (Cole Porter) 5:30
03. I ONLY HAVE EYES FOR YOU (Harry Warren/Al Dubin) 1:21
04. IT’S ALRIGHT, MA [I’M ONLY BLEEDING] (Bob Dylan) 6:08
05. BODY AND SOUL (Robert B. Sour/Edward Heyman/John W. Green/Frank Eyton) 3:31
06. NATURE BOY (Eden Ahbez) 1:59
07. THE MAN I LOVE (George Gershwin/Ira Gershwin) 4:10
08. THERE WILL NEVER BE ANOTHER YOU (Harry Warren/Mack Gordon) 1:48
09. SMOKE GETS IN YOUR EYES (Jerome Kern/Otto Harbach) 2:39
10. DIANA (Paul Anka) 3:28
11. SOPHISTICATED LADY (Duke Ellington/Mitchell Parish/Irving Mills) 5:18
12. COME AS YOU ARE (Kurt Cobain) 4:16
13. FEELINGS (Morris Albert/ Louis Gaste) 4:33
14. SUMMERTIME (Dubose Heyward/George Gershwin/Dorothy Heyward/Ira Gershwin) 2:33
15. DETACHED (Arto Lindsay/Ikue Mori/Tim Wright) 1:30
16. JAMAICA FAREWELL (Lord Burgess) 2:45
17. LOVE FOR SALE (Cole Porter) 2:37
18. CRY ME A RIVER (Arthur Hamilton) 3:10
19. IF IT'S MAGIC (Stevie Wonder) 3:04
20. SOMETHING GOOD (Richard Rodgers) 1:38
21. STARDUST (Hoagy Carmichael/Mitchell Parish) 3:26
22. BLUE SKIES (Irving Berling) 2:47
Bônus track:
LOVE ME TENDER (Elvis Presley/Vera Matson) 3:24
Otros temas grabados:
- ALWAYS (Irving Berlin) 3:42 Edición EE. UU. - Inglaterra
- MANHATTAN (Richard Rodgers/Lorenz Hart) 3:58 Edición EE. UU. - Inglaterra / Bônus track Europa
- [NOTHING BUT] FLOWERS 4:19 (David Byrne/Chris Frantz/Jerry Harrison/Tina Weymouth) Edición EE. UU. - Inglaterra
.
Caetano Veloso - Abril / 2004
A idéia de fazer A FOREIGN SOUND é muito velha.
Na verdade, quando estava em Londres (de 1969 a 72), conversando com amigos, já falava disso e pensava em fazer um CD com repertório anglo-americano quando voltasse ao Brasil.
Trinta anos se passaram e a idéia, a forma de fazer ou não este CD, mudou muito.
Há cerca de uns 10 anos fui à Nova Iorque completamente decidido a não fazer mais esse trabalho.
Bob Hurwitz, presidente da Nonesuch, me cobrou e eu disse que a idéia não existia mais, que eu a achava sem interesse.
Bob insistiu, disse que eu era a única pessoa do mundo que poderia gravar Cole Porter e Bob Dylan num mesmo CD.
No avião de volta ao Brasil, pensando na conversa com Bob, me animei.
Lembrei de It's alright, ma do Bob Dylan (de onde saiu o título do CD que afinal fiz), pensei em gravar só com voz e cello, com Jaques fazendo o que Dylan faz no violão e que parece o Te entrega Corisco, de Sérgio Ricardo para Deus e o Diabo.
Sempre tive grande intimidade com o repertório anglo-americano, sou fã não só do auge dos anos 20, 30, 40 e 50, mas também do pós-rock n' roll, cujo maior representante é Bob Dylan.
Depois disto, a idéia do disco voltou a esfriar.
Fiz Circuladô, e Livro e Prenda Minha e Noites do Norte e Noites do Norte ao Vivo.
Fazendo o A FOREIGN SOUND, sofri muitas vezes por não fazer outras coisas que estava inspirado a fazer.
Também, virou um pouco lugar comum para músicos de minha geração visitar a grande canção norte-americana.
Há uma espécie de desafio na feitura deste CD.
Gravei-o agora porque posso fazer qualquer coisa.
Quando fiz Fina Estampa (95), já pensava na questão de mexer em uma área de maior poder, que é a língua espanhola.
A língua portuguesa é um gueto: embora haja muitos falantes dentro do mundo português, há muito poucos fora dele.
Inglês é muito mais poder do que espanhol.
Parece que ambiciono ampliar o mercado, entrar no grande mundo!!
Tenho ambições até maiores do que esta, mas não exatamente esta.
Cantar as canções americanas é voltar a pontos de minha vida e da cultura de massas do século XX.
Tenho ternura pelo material.
Eles produziram a canção pop mais bonita do mundo, todas essas músicas já foram cantadas pelos melhores.
O nível de composição e de execução dos americanos é um paradigma para o Ocidente.
A FOREIGN SOUND é um disco atípico – tomei liberdades maiores na seleção, que é alienígena para quem quer que seja.
Não supunha que pudesse fazer nada de relevante. Pode ser que as minhas gravações suscitem algum interesse enviesado.
Não espero mais do que isso.
Conferencia de prensa realizada el 1 de abril de 2004, en el Hotel Copacabana Palace, Rio de Janeiro.
O GLOBO
02/04/2004
Caetano Veloso lança CD com canções americanas abrasileiradas e 'caetanizadas'
Jamari França - Globo Online
RIO - Caetano Veloso está lançando o disco ''A foreign sound'' com 23 canções americanas, a maioria standards, um projeto que fez zigue-zague na sua cabeça por 30 anos até finalmente ver a luz do dia agora, com lançamento simultâneo nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Numa entrevista coletiva nesta quinta-feira, Caetano falou do disco, de política, de funk e partiu para a auto-crítica, dizendo que até hoje não fez disco algum que o realizasse artisticamente.
- Não sou satisfeito com o que fiz. Estou me devendo fazer alguma coisa que preste - disse ele diante de jornalistas de todo o país reunidos no Copacabana Palace.
Indagado sobre o golpe militar ocorrido há 40 anos disse que foi uma experiência que determinou o rumo de sua vida.
- Talvez eu não estivesse lançando disco nenhum se não tivesse havido a prisão e passado dois anos e meio no exílio. Eu tinha vontade de deixar de fazer música popular porque acho que não tenho talento musical suficiente para ficar fazendo isso. Continuo com a mesma opinião, mas eu não tive forças...se não tivesse havido aquilo eu teria tido força para dar uma guinada no meu destino e fazer só filmes ou ensinar, estudar para ensinar, mas eu preferiria fazer filmes. Eu acho que música é uma coisa muito séria e a pessoa precisa ter mais musicalidade para estar metido nisso do que eu tenho. Eu fui diminuído na minha coragem de decisão por estes acontecimentos.
Indagado por um jornalista porque escolheu o dia primeiro de abril, dia do golpe e da mentira, para lançar o disco, ele rebateu: - Eu escolhi para fazer a entrevista coletiva, não para lançar o disco, que não é lançado hoje. O Dia da Mentira é o dia da imprensa o dia do disco é verdade pura (risos).
Música brasileira é a terceira melhor do mundo
Jamari França - Globo Online
RIO - Caetano Veloso está lançando o disco ''A foreign sound'' com 23 canções americanas, a maioria standards, um projeto que fez zigue-zague na sua cabeça por 30 anos até finalmente ver a luz do dia agora, com lançamento simultâneo nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Numa entrevista coletiva nesta quinta-feira, Caetano falou do disco, de política, de funk e partiu para a auto-crítica, dizendo que até hoje não fez disco algum que o realizasse artisticamente.
- Não sou satisfeito com o que fiz. Estou me devendo fazer alguma coisa que preste - disse ele diante de jornalistas de todo o país reunidos no Copacabana Palace.
Indagado sobre o golpe militar ocorrido há 40 anos disse que foi uma experiência que determinou o rumo de sua vida.
- Talvez eu não estivesse lançando disco nenhum se não tivesse havido a prisão e passado dois anos e meio no exílio. Eu tinha vontade de deixar de fazer música popular porque acho que não tenho talento musical suficiente para ficar fazendo isso. Continuo com a mesma opinião, mas eu não tive forças...se não tivesse havido aquilo eu teria tido força para dar uma guinada no meu destino e fazer só filmes ou ensinar, estudar para ensinar, mas eu preferiria fazer filmes. Eu acho que música é uma coisa muito séria e a pessoa precisa ter mais musicalidade para estar metido nisso do que eu tenho. Eu fui diminuído na minha coragem de decisão por estes acontecimentos.
Indagado por um jornalista porque escolheu o dia primeiro de abril, dia do golpe e da mentira, para lançar o disco, ele rebateu: - Eu escolhi para fazer a entrevista coletiva, não para lançar o disco, que não é lançado hoje. O Dia da Mentira é o dia da imprensa o dia do disco é verdade pura (risos).
Música brasileira é a terceira melhor do mundo
Caetano fez várias restrições ao próprio CD, dizendo que tinha "uma seleção demasiadamente variada" e que era longo demais, 75 minutos, para ser ouvido aos poucos, mas não quis tirar músicas de que todos gostavam. Ele acha que a canção americana é a melhor do mundo, pela riqueza que vai de compositores como Rodgers e Hart, Irving Berlim, Cole Porter, George e Ira Gershwin, pasSando pelos gênios do jazz como Duke Ellington, Miles Davis, cantoras como Ella Fitzgerald e Billie Holiday, colocando em segundo lugar a música cubana e, a seguir a brasileira.
O disco tem em um repertório americano de standards que remetem até aos anos 30, como a hilária "The carioca" da trilha sonora do filme ''Going down to Rio'' que foi o primeiro da dupla de ouro do musical, Fred Astaire e Ginger Rogers, mas é o primeiro filme deles e a estrela era Dolores del Rio. O filme se passa num Rio fake, que tem até uma réplica do Copacabana Palace, a razão alegada para que a coletiva de imprensa fosse no hotel.
- É uma falsa canção de um país tropical, por isso coloquei a percussão baiana, que são ritmos tropicais que não existem. O disco apresenta uma diversidade muito grande de arranjos, nada da voz empostada e de uma cascata de violinos que se esperaria de um disco de standards.
'Aquele inglesinho, Rod Stewart'
O disco tem em um repertório americano de standards que remetem até aos anos 30, como a hilária "The carioca" da trilha sonora do filme ''Going down to Rio'' que foi o primeiro da dupla de ouro do musical, Fred Astaire e Ginger Rogers, mas é o primeiro filme deles e a estrela era Dolores del Rio. O filme se passa num Rio fake, que tem até uma réplica do Copacabana Palace, a razão alegada para que a coletiva de imprensa fosse no hotel.
- É uma falsa canção de um país tropical, por isso coloquei a percussão baiana, que são ritmos tropicais que não existem. O disco apresenta uma diversidade muito grande de arranjos, nada da voz empostada e de uma cascata de violinos que se esperaria de um disco de standards.
'Aquele inglesinho, Rod Stewart'
Caetano afirma que esta diversidade fez com que o nome, tirado da canção It's alright ma (I'm only blleding), de Bob Dylan se encaixasse como uma meia-calça no CD, que ele considera "alienígena para cá, para mim e para a música americana". Ele duvida que os americanos se interessem por "Foreign sound".
- Artistas de toda parte do mundo gravam este repertório...Brian Ferry, Elis Costello, aquele inglesinho , Rod Stewart, discos que estouraram feitos de maneira singela sem o risco de parecer, como no meu, uma releitura, essa palavra meio cafona embora, no meu caso, esta questão seja driblada,retorcida e transformada em outras coisas. Ele diz que este aspecto alienígena do disco está bem sintetizado na canção "Feelings", que o brasileiro Albert Morris compôs em inglês plagiando o francês Louis Gaste.
- "Feelings" é uma falsa canção americana que se tornou um standard. Uma canção que saiu do fundo do poço do subdesenvolvimento que os americanos pensam que é americano. Cantar sério é a ironia da não ironia. O grupo Offspring já tinha gravado com ironia, daí fiz a sério - diz ele.
Outro aspecto que contribui para esta desamericanização (argh) das canções é o fato de ser um disco inteiramente feito por brasileiros, sem a preocupação de se aproximar do original, embora o tratamento de algumas músicas se aproxime do original (Caetano, teu nome é contradição). Ele conta que, no decorrer da gravação, que se estendeu longamente não apenas pelos 30 anos de ruminação, mas pelas paradas para que ele excursionasse, que Jaquinho Morelenbaum excursionasse com o Sakamoto, do disco com repertório de Tom Jobim que gravaram e a assimilação e arranjo de cada faixa, (ufa!) ele pensou em outras coisas como um disco de sambas.
- Não uma antologia, mas sambas inéditos compostos por mim. Fiz até um, "Diferentemente", e outros possíveis sambas começaram a aparecer na minha cabeça, mas reprimi. O meu sucesso recente com músicas românticas de outros autores - ''Feelings'' (Morris Albert), ''Você não me ensinou a te esquecer'' (Fernando Mendes) - me fez pensar num disco de canções sentimentais minhas. Não tem nada, aguardem o retorno do recalcado.
- Artistas de toda parte do mundo gravam este repertório...Brian Ferry, Elis Costello, aquele inglesinho , Rod Stewart, discos que estouraram feitos de maneira singela sem o risco de parecer, como no meu, uma releitura, essa palavra meio cafona embora, no meu caso, esta questão seja driblada,retorcida e transformada em outras coisas. Ele diz que este aspecto alienígena do disco está bem sintetizado na canção "Feelings", que o brasileiro Albert Morris compôs em inglês plagiando o francês Louis Gaste.
- "Feelings" é uma falsa canção americana que se tornou um standard. Uma canção que saiu do fundo do poço do subdesenvolvimento que os americanos pensam que é americano. Cantar sério é a ironia da não ironia. O grupo Offspring já tinha gravado com ironia, daí fiz a sério - diz ele.
Outro aspecto que contribui para esta desamericanização (argh) das canções é o fato de ser um disco inteiramente feito por brasileiros, sem a preocupação de se aproximar do original, embora o tratamento de algumas músicas se aproxime do original (Caetano, teu nome é contradição). Ele conta que, no decorrer da gravação, que se estendeu longamente não apenas pelos 30 anos de ruminação, mas pelas paradas para que ele excursionasse, que Jaquinho Morelenbaum excursionasse com o Sakamoto, do disco com repertório de Tom Jobim que gravaram e a assimilação e arranjo de cada faixa, (ufa!) ele pensou em outras coisas como um disco de sambas.
- Não uma antologia, mas sambas inéditos compostos por mim. Fiz até um, "Diferentemente", e outros possíveis sambas começaram a aparecer na minha cabeça, mas reprimi. O meu sucesso recente com músicas românticas de outros autores - ''Feelings'' (Morris Albert), ''Você não me ensinou a te esquecer'' (Fernando Mendes) - me fez pensar num disco de canções sentimentais minhas. Não tem nada, aguardem o retorno do recalcado.
02/04/2004
Um Bob Dylan por teimosia, uma Julie London que parece Monsueto
Jamari França - Globo Online
O repertório do disco "A foreign sound" abarca desde autores clássicos da canção americana, como Cole Porter e os irmãos Gershwin, a Kurt Cobain, do Nirvana e Bob Dylan. A seguir, falas de Caetano sobre algumas músicas.
"It's alright, Ma (I'm only bleeding)" de Bob Dylan - "Está no disco por teimosia. Foi a primeira música que pensei em fazer há uns 10 anos. O título saiu dessa música quando já tinha desistido de gravá-la."
"Body and soul" (John W. Green Frank Eyton, Edward Heyman, Robert B. Sour) - "Uma canção em que você se sente bem, uma canção de que Augusto de Campos gostava, mais uma razão para incluí-la. Gravei só com violão e depois chamei o Zeca Assumpção (baixo) e o Ricardo Silveira (guitarra) e eles tocaram em cima do violão, um quatro por quatro simples, clássico."
"Diana" (Paul Anka) - "Sempre esteve e nunca sairia. Quando fiz "Baby", pus um contraponto de "Diana". Quando eu estava no clássico, eu adorava esta música e "Baby" é uma das maiores canções do Tropicalismo."
"Come as you are" (Kurt Cobain) - "Nevermind" é um dos discos mais lindos do rock, fica entre os cinco mais do rock e de todos os tempos também. É uma canção de amor que se liga à tradição da canção e tem um twist."
"Cry me a river" (Arthur Hamilton) - "É do período cool dos anos 50 de Julie London e ao emsmo tempo parece um samba de Monsueto um 'Mora na filosofia'''.
"Something good" (Richard Rodgers) - "As canções da 'Noviça rebelde' são muito bonitas. Esta é tão singela que não resisti. As pessoas não se lembram fortemente como sendo da 'Noviça', lembram mais de ''Sound of music'' e ''My favorite things''.
"Love me tender" (Elvis Presley/Vera Matson) - "Esta é uma canção do século 19, melodia da época da guerra civil americana. Fizeram esta letra para o Elvis gravar. Eu cantava para ninar meu filho Moreno e pedi ao Jaquinho uma celesta."
"The man I love" (George e Ira Gershwin) - "Resolvi tocar como uma marchinha bossa, que nem 'Coração vagabundo', e ficou bem bacana"
"Stardust" (Hoagy Carmichael e Mitchell Parish) - "Parece um chorinho. Pedi ao Armandinho para tocar um bandolim elétrico. Parece Pixinguinha".
"Blue skies" (Irving Berlin) - "Esta é uma prece adoro a clareza e a alegria de Irving Berlim. Sinto como uma prece. Você canta e aquilo te leva para o que a música está dizendo."
02/04/2004
'Rock não é arte, é lixo de quem não sabe tocar'
Jamari França - Globo Online
"Não tenho o desejo de ser uma pessoa retirada desse degradado mundo. Faço questão de estar no meio do negócio. Podia fazer só discos experimentais, mas isso não me atrai muito. É como se fosse um cara mimado que ainda fosse me mimar. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."
"Como um todo, a música americana é superior. Mesmo o rock inglês que deu respeitabilidade ao rock é como se fosse um grupo de rock português que cantasse pagode"
"O disco mais bonito que saiu no Brasil ano passado foi o 'Brasileirinho''' (de Maria Bethânia)
"Sou popular de baixa origem. Já fiz coisas populares como 'Qalquer coisa'. O Roberto Carlos me disse que o sonho dele era ter lançado esta música".
Sobre uma frase dele no encarte que diz que 'Ivan Lins é música, Nirvana é lixo' e uma declaração de Frank Sinatra, também no encarte, de que o rock é forçado e falso - "Em 1991 eu disse que Nirvana é lixo e nunca mudei de idéia. Os críticos de música que se voltam preferencialmente para o rock criaram um novo esnobismo em que o rock é autêntico, refinado e respeitável e tudo mais cafona. Na época, o Ivan Lins tinha feito um show em festival - acho que o Free Jazz - e vários artigos sacanearem ele, isso num período em que as bandas de Seattle eram incensadas pelos críticos. Eles não lembram que o Frank Sinatra disse que rock é lixo. Quando o punk veio, foi para dizer que rock não é arte, é lixo de quem não sabe tocar."
Sobre a coletiva ser no primeiro de abril, dia da mentira e do golpe militar de 1964 - "Eu escolhi para fazer a entrevista coletiva, não para lançar o disco, que não é lançado hoje. O Dia da Mentira é o dia da imprensa o dia do disco é verdade pura."
Jamari França - Globo Online
"Não tenho o desejo de ser uma pessoa retirada desse degradado mundo. Faço questão de estar no meio do negócio. Podia fazer só discos experimentais, mas isso não me atrai muito. É como se fosse um cara mimado que ainda fosse me mimar. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."
"Como um todo, a música americana é superior. Mesmo o rock inglês que deu respeitabilidade ao rock é como se fosse um grupo de rock português que cantasse pagode"
"O disco mais bonito que saiu no Brasil ano passado foi o 'Brasileirinho''' (de Maria Bethânia)
"Sou popular de baixa origem. Já fiz coisas populares como 'Qalquer coisa'. O Roberto Carlos me disse que o sonho dele era ter lançado esta música".
Sobre uma frase dele no encarte que diz que 'Ivan Lins é música, Nirvana é lixo' e uma declaração de Frank Sinatra, também no encarte, de que o rock é forçado e falso - "Em 1991 eu disse que Nirvana é lixo e nunca mudei de idéia. Os críticos de música que se voltam preferencialmente para o rock criaram um novo esnobismo em que o rock é autêntico, refinado e respeitável e tudo mais cafona. Na época, o Ivan Lins tinha feito um show em festival - acho que o Free Jazz - e vários artigos sacanearem ele, isso num período em que as bandas de Seattle eram incensadas pelos críticos. Eles não lembram que o Frank Sinatra disse que rock é lixo. Quando o punk veio, foi para dizer que rock não é arte, é lixo de quem não sabe tocar."
Sobre a coletiva ser no primeiro de abril, dia da mentira e do golpe militar de 1964 - "Eu escolhi para fazer a entrevista coletiva, não para lançar o disco, que não é lançado hoje. O Dia da Mentira é o dia da imprensa o dia do disco é verdade pura."
JORNAL DO BRASIL
04-04-2004
Caetano Veloso: 'Se não tivesse havido o golpe teria tido forças para dar uma guinada na minha vida e fazer filmes ou ensinar'
Os americanos estão na ponta
Caetano reverencia ícones da música dos EUA em novo disco e diz que se não fosse a ditadura teria virado cineasta
João Bernardo Caldeira
Primeiro de abril de 2004. Exatos 40 anos depois do golpe de 1964, Caetano Veloso reuniu, anteontem, a imprensa brasileira no Copacabana Palace para falar sobre seu novo disco, A foreign sound (leia crítica), que traz standards da música americana. Mas, em se tratando do baiano, era impossível evitar outros assuntos. Logo num primeiro de abril, o dia da mentira (ou "o dia da imprensa", brincou), o cantor afirmou, entre outras coisas, que graças à ditadura é que seguiu carreira como cantor. Mas não se ateve ao passado e sobraram críticas ao governo Lula.
"Estou de saco cheio de o governo ser mais mantenedor do que experimental. A crítica que tenho é apenas essa, acho que ele poderia ser mais experimentador na política", diz o artista, cujo último disco, Eu não peço desculpa, foi lançado em 2002.
Ao afirmar que nos anos de chumbo a cultura se misturou com a política, Caetano, 61 anos, lembrou que nem tudo foram flores. Apesar disso, ele considera que foi justamente a efervescência do período que impulsionou sua trajetória musical:
"O que se deu foi uma hegemonia da arte de esquerda, você tinha que ter um passaporte para ser aprovado, o que é horrível. Mas a ditadura determinou o rumo da minha vida. Na época, eu tinha vontade de deixar de fazer música, porque acho que não tenho talento suficiente. Continuo com a mesma opinião, mas se não fosse o golpe eu teria tido forças para dar uma guinada na minha vida e fazer filmes ou ensinar".
Apesar do audacioso lançamento simultâneo no Brasil, Estados Unidos e Europa, ele diz não ter a pretensão de estourar suas músicas junto ao grande público estrangeiro. O ponto de vista que assume é o de um brasileiro de olho na música que é paradigma para todo o Ocidente, graças a nomes como George Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin, Bob Dylan ou Kurt Cobain. Para chegar até os grandes standards da música americana, Caetano Veloso distingue seu trabalho do de Rod Stewart.
"No disco de standards do Rod Stewart as canções são tratadas diretamente, não tem o risco, como no meu, de fazer surgir na mente do ouvinte a palavra releitura, que é um pouco cafona. Embora eu saiba que mesmo no meu caso essa questão é driblada e retorcida. Cada faixa do meu disco possui muitas camadas de leituras possíveis, mas são tantas as versões com esse repertório que não acho que essas observações possam fazer meu álbum relevante para um americano", analisa ele, que vem testando o repertório do CD em shows no exterior.
Nesse percurso, Caetano sublinha questões e sugere aproximações entre a música americana e brasileira. Ele diz que The man I love só o interessou quando introduziu o andamento de uma "marcha bossa", enquanto Stardust faz menção direta ao chorinho através do bandolim elétrico de Armandinho. Cry me a river, por sua vez, é "tão Monsueto" que ganhou tamborim e surdo em referência ao samba, e Diane, que, segundo Caetano, inspirou-o a compor o hit Baby, foi ajustada para soar como sua correspondente tropicalista.
Caetano afirma que não quis fazer um disco de canções americanas abrasileiradas. Ele descreve casos como Body and soul, recriada sem grandes alterações. Come as you are, sucesso do Nirvana, também teve respeitado seu DNA, o riff de guitarra de Kurt Cobain. Isso porque ele quer fugir do ufanismo exagerado, que eleva a bossa nova como de suma importância para a canção americana:
"Com a bossa nova, e também depois, com os mineiros do Clube da Esquina, houve alguma influência da canção brasileira na americana. Mas houve muito mais o contrário, o Pat Metheny disse isso numa entrevista, e eu concordo".
Caetano, na verdade, considera a música americana incomparavelmente superior à do resto do mundo:
"Existe a obra de Cole Porter, George Gershwin, Richard Rodgers, Duke Ellington, de todo o pessoal do jazz, seja na composição ou sobretudo na interpretação, Thelonious Monk, Miles Davis, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Sarah Vaughan, Frank Sinatra... É muita gente, o nível é muito alto. Depois disso vieram as transgressões do rock. E olha que o Brasil tem uma música popular extraordinária.
Mas, em linhas gerais, os americanos estão na ponta".
Na faixa Feelings, Caetano admite brincar de esconde-esconde ao regravar a falsa canção americana, assinada pelo brasileiro Morris Albert (em parceria com um francês graças a um processo de plágio) e sucesso nos Estados Unidos. Ele conta ter preferido reler a música de maneira direta, distante da paródia feita pelo grupo de rock Offspring. Além disso, a faixa é tão desgarrada quanto o próprio conceito disco, não é brasileira, nem americana, estrangeira em toda a parte.
"É verdade, de certa forma, Feelings é central no disco, tem um jogo de espelhos aí, são muitos reflexos. E tratei a canção sem ironia, porque o Offspring já tinha feito uma versão espalhafatosa".
Os que aguardam o Caetano compositor não perdem por esperar. Ele tem em mente duas possíveis idéias para futuros discos. Um de sambas e outro de músicas sentimentais, inspirado em sucessos como Sozinho, de Peninha, que o ajudou a vender mais de 1 milhão de cópias do disco Prenda minha (1999).
"Em ambos os casos esboços de canções apareceram em minha cabeça, mas eu tive que reprimir para não me desconcentrar. Mas o retorno do recalcado... me aguardem!"
Longe dos standards requentados
Regravar standards americanos depois do roqueiro escocês Rod Stewart (It had to be you – The great american songbook, 2002, As time goes by – The great american songbook II, 2003) e até mesmo da brega grega Nana Mouskouri (Nana swings, 2003)? Sem dúvida, uma tarefa para Caetano "Superbacana" Veloso. "Gravei-o agora porque posso fazer qualquer coisa", desafia no release.
Mas recolhe as armas: "Não supunha que pudesse fazer nada de relevante. Pode ser que minhas gravações suscitem algum interesse enviesado. Não espero mais que isso", delimita. Empáfia menos modéstia, noves fora talento superlativo e insubordinação aos cânones. Resultado: A foreign sound (Universal), uma visão com direito a um estranhamento em relação à música internacional que nos coloniza e acalenta desde o século passado.
Irving Berlin, Bob Dylan, George Gershwin, Stevie Wonder, Cole Porter, Elvis Presley, Duke Ellington, Paul Anka e (oops!) Morris Albert, cada caso é um caso. Entre 23 faixas, há tratamentos respeitosos, quase reverentes, e outros próximos da iconoclastia do impenitente tropicalista que, no encarte de frases contraditórias (e músicas fora da ordem de apresentação), acusa o Nirvana de ser um lixo, comparado a Ivan Lins. Mas escala Come as you are, de Kurt Cobain, entre as 11 faixas que compõem a edição internacional do CD. Dialético, movendo-se em ziguezague, Caetano dribla o tiroteio do banal.
Mas não escapa de algumas soluções convencionais, como bossanovizar alguns standards, como Cry me a river, Stardust e So in love, algo que Frank Sinatra e Tom Jobim fizeram no disco Change partners, que gravaram em dueto, em 1967, em I concentrate on you e Baubles, bangles and beads, e Nara Leão & Roberto Menescal perpetraram em dois discos inteiros de versões (Meus sonhos dourados, 1987, e My foolish heart, 1989).
Já The man I love fica entre a bossa e a marcha-rancho sinfônica, regida por Jaques Morelenbaum. There will never be another you ganhou um sincopado do violão de Gilberto Gil. E Summertime, nos anos 60 dramatizada pela lixa de Janis Joplin, uma divisão sinuosa e restauradora. Outros clássicos – sempre com a voz de Caetano projetada em relevo, à flor da pele – mantiveram-se entre a canção e a balada, sob forro de cordas (So in love) ou metais (Smoke gets in your eyes). Em Love for sale, nudez total: voz à capela. Sophisticated lady e Body and soul receberam tinturas jazzísticas.
Até aí, um disco de bom gosto, mas razoavelmente comportado. Os toques tropicalistas começam literalmente na faixa de abertura, o ex-mambo Carioca (The carioca), do filme Flying down to Rio (Voando para o Rio), estrelado por Fred Astaire em 1933, timbalado com surdo virado, afoxé e bacurinha. "Não é um foxtrot nem uma polca/ tem algo de um novo ritmo", diz a letra dessa tentativa americana de assimilar a tropicalidade.
Urros e gritos que lembram a fase Araçá azul do Caetano vanguardista desprendem-se de Detached, de Arto Lindsay e parceiros. A enjoativa balada para roda de violão Love me tender, êxito de Elvis, ganha, sem salvação, moldura de caixinha de música. Já a menos surrada It’s magic, de Stevie Wonder, tem embalagem eletrônica tremulante, programada pela dupla da hora Berna Cepas e Kassin.
O toque brega da seleção – a isca para a polêmica – é a inclusão da medíocre Feelings, de 1975, do brasileiro travestido de importado Morris Albert (o carioca Mauricio Alberto Kaiserman), "que os americanos pensam ser música americana", segundo o arranjador Jaques Morelembaum, citado por Caetano no encarte. Nem isso. O compositor francês Louis Gaste (cujo nome agora consta como parceiro na ficha técnica) provou na Justiça, em 1987, que Feellings é plágio de sua Pour toi.
Há ainda outros toques tropicalizantes. A bela levada de samba de Come as you are, de Kurt Cobain, em arranjo de Pedro Sá e do filho de Caetano, Moreno Veloso. O jogo de espelhos da citação do arranjo de Rogério Duprat para Baby, em Diana, que no original evocava a música do canadense Paul Anka.
E a invasão do baião de viola Corisco, de Sérgio Ricardo, do filme Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, na discursiva e tensa It’s alright, ma (I’m only bleeding), de Bob Dylan. Dissonâncias que afastam definitivamente A foreign sound da linha de montagem dos standards requentados para as novas gerações.
FOLHA de S. Paulo
03/04/2004
Caetano Veloso apresenta "alienígena" em inglês
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Enviado especial da Folha de S.Paulo ao Rio
Enviado especial da Folha de S.Paulo ao Rio
Copacabana Palace, 1º de abril de 2004. Caetano Veloso, 61, apresenta a jornalistas brasileiros "A Foreign Sound", feito de canções em inglês. "O Dia da Mentira é o dia da imprensa. Meu disco é de verdade", compartimenta o autor do livro "Verdade Tropical" (97), sobre a data escolhida.
Nessas mesmas horas, o Brasil "celebra" o aniversário da instalação do regime militar, que viveria até a maioridade civil e acabou há 19 anos. "Foi uma experiência que determinou o rumo da minha vida", diz o ex-exilado em Londres.
Avalia que, como compensação a um governo de direita, a cultura local passou a viver no pós-64 como que uma ditadura de esquerda. "Nesse sentido o tropicalismo é de centro, concordo. Não é porque está com o PSDB ou em cima do muro. A obrigação do artista é estar acima do muro."
Centrista que é, acordou em 1º de abril de 2004 e não quis se estender sobre o país de Lula, Dirceu, Waldomiro Diniz e José Roberto Santoro. "A gente já está de saco cheio desse governo que é muito mantenedor e pouco experimentador", disse. Só.
Mas disse sobre o impacto da ditadura de direita em sua vida: "Fui particular e diretamente tocado, não posso deixar de reconhecer. Talvez não estivesse lançando disco nenhum hoje se não houvesse prisão ou exílio. Teria tido força para dar uma guinada na vida, fazer filmes ou ensinar".
O disco "alienígena", como ele chama, sai dia 8, simultaneamente na América Latina, do Norte, Europa e Ásia. É a primeira vez que isso acontece com um músico daqui. A tiragem local é minguada, se considerada a pujança passada da indústria multinacional brasileira. "No Brasil, a tiragem inicial será de 50 mil, o que significa disco de ouro nos parâmetros atuais", "celebra" o gerente-geral da gravadora, José Antonio Eboli.
"Ninguém vai ouvir este disco inteiro. É muita música, né?", graceja o cantor. São 23 músicas.
Ele compara o "Estrangeiro" de 1989 com o "forasteiro" de agora: "É o oposto. Aquele era um disco de canções brasileiras com músicos estrangeiros, gravado nos EUA. Aqui eu disse: 'Se vou fazer música americana, vai ter que ser só com músicos brasileiros, gravado no Brasil'".
Se "Estrangeiro" era experimentador e "A Foreign Sound" é cheio de standards de rejeição romântica, então "A Foreign Sound" é mantenedor? "Não creio que seja um disco conservador." "Esse disco é monstro." "No mercado estrangeiro não se concebe que um disco tenha ao mesmo tempo Irving Berlin e Nirvana. É meio pretensioso, experimental demais para eles."
Arrojado? "É. É mais maluco." Mas, "como um todo, a musicalidade americana é melhor que a brasileira". "Há uma ansiedade no Brasil, que as pessoas vivem como humilhação. Aqui você nunca pode ser tão espontaneamente rebelde quanto seria um grupo de rock ou hip hop americano", ataca cá.
"Um país não lançará o disco no mesmo dia. Que país seria? A Inglaterra, que hoje é como Porto Rico, uma ilha que pertence aos EUA, atrelada automaticamente, um 'Estado Unido'", ataca lá.
Atacado ele também é, agredido até. "Um carro em São Paulo emparelhou no meu, o cara falou: 'Seu filho da puta, por causa de você o Brasil não vai para a frente'", ri. Houve também o menino moicano do "Big Brother Brasil", que disse que vomitaria em Caetano. "Quem?", faz charme. "Não é ruim ele", faz expressão lasciva.
"As meninas do Bonde do Faz Gostoso são lindas", refere-se ao grupo de funk carioca. Diz se interessar pela "violência histórica" do movimento. "Hoje os bailes de periferia só tocam música produzida aqui, é uma virada histórica."
Enquanto gravava, diz que sentia vontade de iniciar outro, só de inéditas suas, talvez só de sambas ou canções sentimentais. "Esboços apareceram na minha cabeça, tive que reprimilos. Mas aguardem o retorno do recalcado."
Rio de Janeiro, entrevista coletiva no Dia da Mentira, do golpe militar, da imprensa, da música popular brasileira.
Avalia que, como compensação a um governo de direita, a cultura local passou a viver no pós-64 como que uma ditadura de esquerda. "Nesse sentido o tropicalismo é de centro, concordo. Não é porque está com o PSDB ou em cima do muro. A obrigação do artista é estar acima do muro."
Centrista que é, acordou em 1º de abril de 2004 e não quis se estender sobre o país de Lula, Dirceu, Waldomiro Diniz e José Roberto Santoro. "A gente já está de saco cheio desse governo que é muito mantenedor e pouco experimentador", disse. Só.
Mas disse sobre o impacto da ditadura de direita em sua vida: "Fui particular e diretamente tocado, não posso deixar de reconhecer. Talvez não estivesse lançando disco nenhum hoje se não houvesse prisão ou exílio. Teria tido força para dar uma guinada na vida, fazer filmes ou ensinar".
O disco "alienígena", como ele chama, sai dia 8, simultaneamente na América Latina, do Norte, Europa e Ásia. É a primeira vez que isso acontece com um músico daqui. A tiragem local é minguada, se considerada a pujança passada da indústria multinacional brasileira. "No Brasil, a tiragem inicial será de 50 mil, o que significa disco de ouro nos parâmetros atuais", "celebra" o gerente-geral da gravadora, José Antonio Eboli.
"Ninguém vai ouvir este disco inteiro. É muita música, né?", graceja o cantor. São 23 músicas.
Ele compara o "Estrangeiro" de 1989 com o "forasteiro" de agora: "É o oposto. Aquele era um disco de canções brasileiras com músicos estrangeiros, gravado nos EUA. Aqui eu disse: 'Se vou fazer música americana, vai ter que ser só com músicos brasileiros, gravado no Brasil'".
Se "Estrangeiro" era experimentador e "A Foreign Sound" é cheio de standards de rejeição romântica, então "A Foreign Sound" é mantenedor? "Não creio que seja um disco conservador." "Esse disco é monstro." "No mercado estrangeiro não se concebe que um disco tenha ao mesmo tempo Irving Berlin e Nirvana. É meio pretensioso, experimental demais para eles."
Arrojado? "É. É mais maluco." Mas, "como um todo, a musicalidade americana é melhor que a brasileira". "Há uma ansiedade no Brasil, que as pessoas vivem como humilhação. Aqui você nunca pode ser tão espontaneamente rebelde quanto seria um grupo de rock ou hip hop americano", ataca cá.
"Um país não lançará o disco no mesmo dia. Que país seria? A Inglaterra, que hoje é como Porto Rico, uma ilha que pertence aos EUA, atrelada automaticamente, um 'Estado Unido'", ataca lá.
Atacado ele também é, agredido até. "Um carro em São Paulo emparelhou no meu, o cara falou: 'Seu filho da puta, por causa de você o Brasil não vai para a frente'", ri. Houve também o menino moicano do "Big Brother Brasil", que disse que vomitaria em Caetano. "Quem?", faz charme. "Não é ruim ele", faz expressão lasciva.
"As meninas do Bonde do Faz Gostoso são lindas", refere-se ao grupo de funk carioca. Diz se interessar pela "violência histórica" do movimento. "Hoje os bailes de periferia só tocam música produzida aqui, é uma virada histórica."
Enquanto gravava, diz que sentia vontade de iniciar outro, só de inéditas suas, talvez só de sambas ou canções sentimentais. "Esboços apareceram na minha cabeça, tive que reprimilos. Mas aguardem o retorno do recalcado."
Rio de Janeiro, entrevista coletiva no Dia da Mentira, do golpe militar, da imprensa, da música popular brasileira.
- - - - - - - - - - - -
21/05/2004
Caetano Veloso lança "A
Foreign Sound" com shows no Tom Brasil
da Folha Online
Com
uma temporada de oito shows na casa de espetáculos Tom Brasil - Nações Unidas,
Caetano Veloso lança em São Paulo, na próxima semana, o disco "A Foreign
Sound", em que faz uma releitura de canções em língua inglesa.
Para
o repertório do show, Caetano selecionou músicas americanas do novo álbum, como
"So in Love", de Cole Porter, "It's Alright Ma", de Bob
Dylan, "Come as You Are", do Nirvana, "Cry me a River", de
Arthur Hamilton, e "Diana", de Paul Anka, além de clássicos de sua
carreira.
Caetano
vai abrir o espetáculo com a canção "Não tem Tradução", de Noel Rosa,
e apresentará também a sua nova composição "Diferentemente".
Acompanhado
por uma orquestra com 21 elementos, o cantor e compositor baiano sobe ao palco
do Tom Brasil com Jaques Morelenbaum (cello) --responsável também pela a
direção musical--, Lula Galvão (violão), Jorge Helder (baixo), Pedro Sá
(guitarra), Léo Reis (percussão) e Carlos Bala (bateria).
Caetano Veloso durante entrevista para a Folha em
estúdio, no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, RJ, 21/05/2004
Fotos: Alexandre
Campbell / Folhapress
Depois
da capital paulista, a turnê do disco segue depois para Salvador, Porto Alegre,
Curitiba e Belo Horizonte, chegando ao Rio de Janeiro em julho.
CORREIO DO BRASIL
Show de Caetano Veloso mistura Nirvana e Carmen Miranda em SP
28/5/2004
Ao
evocar Carmen Miranda, Kurt Cobain e Osama bin Laden, na estréia do show “A
Foreign Sound”, Caetano Veloso foi além dos standards americanos de seu novo
disco. O cantor e compositor baiano fez releituras de sambas e pérolas
nacionais, sem nunca deixar de fazer, mesmo que sutilmente, referências às
conexões culturais Brasil-Estados Unidos.
Na
platéia, personalidades como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a
dupla Sandy e Junior prestigiaram a versatilidade de Caetano e endossaram suas
ousadias.
A
apresentação aconteceu em São Paulo, na noite de quinta-feira. No mês passado,
o mesmo show foi apresentado em Nova York, no Carnegie Hall.
O repertório de 25 canções foi
executado de formas diversas. Em alguns momentos, o cantor preferiu abrir mão
do acompanhamento, como em “Love for Sale”, em outros cantou com a banda e
cerca de dez membros da Orquestra Sinfônica de São Paulo, como em “The Man I
Love” e “Cry me a River”.
“Come as you Are”, do Nirvana,
e “Manhattan” ganharam acompanhamentos mais minimalistas, com violoncelo de
Jaques Morelembaum (que também regeu a orquestra) e intervenções do baixo
acústico de Jorge Helder.
Interpretando Kurt Cobain,
Caetano levantou do banquinho no final e cantou sem microfone, fazendo ressonar
pela casa de espetáculos Tom Brasil o refrão “memoria”.
Para cantar, quase recitando,
“It’s All Right”, a primeira música mais agitada da noite, Caetano teve que
recorrer aos óculos de grau para ler a letra da canção, mas mesmo assim se
atrapalhou nos longos versos de Bob Dylan.
“A do Bob Dylan eu já pedi
desculpas, foi um erro de leitura”, disse o músico à Reuters após o show. “A
estrutura (dos próximos shows) será essa mesma, não tem muito o que mudar.”
Caetano também comentou nos
camarins que o ensaio havia sido melhor que a própria estréia, mas Paula
Lavigne, sua mulher, abrandou: “Caetano achou, mas eu não sei. Teve alguns
problemas de som, com a guitarra, mas coisas que só a gente percebe.”
De calça risca de giz e malha
preta com proteção nos cotovelos, Caetano emendou “Baby” em “Diana”, e imitou
os trejeitos de Carmen Miranda em “Adeus Batucada” e “The Carioca”. Não
esqueceu também de “Cucurucucu Paloma”, em espanhol, e a inédita
“Diferentemente”, em que cita Osama e Condoleezza Rice e se declara ateu.
Dos sambas, cantou “Não tem
Tradução” e “Manhã de Carnaval”, quando contrastou a suavidade da canção com um
gestual “heavy metal” debochado.
Na platéia, Junior comentava
com seu pai, Xororó, as virtudes do baterista Carlos Balla e do guitarrista
Pedro Sá, em especial no final da música “Brasil Pandeiro”.
“Parece até berimbau”, comentou
Preta Gil, do lado de Sandy, que acompanhou em voz baixa o sucesso dos Novos
Baianos.
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, ao lado de sua mulher, Ruth, chegou no meio da décima canção,
“Feelings”, às 23h10, ciceroneado por Lavigne.
Acomodado na mesa mais próxima
do cantor, não resistiu à velha marchinha de carnaval “Mamãe eu Quero”, que
encerrou o show, cantando e dançando discretamente.
Ao deixar a casa de espetáculos
nos acordes finais da última canção, Fernando Henrique ainda cumprimentou o
senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o publicitário Nizan Guanaes.
“Caetano faz essa reverência à
música americana, mas sem ser subalterno”, disse Guanaes, que estava sentado
próximo à atriz Ana Paula Arósio.
Ao lado das celebridades, o
publicitário João De Simoni Soderini Ferracciu assistiu ao show na segunda
fileira.
“Acho que ele reinventou muitas
músicas, deu um tratamento personalizado. Tem que ter coragem para fazer isso”,
disse ele, após “Love for Sale”. “Conseguiu fazer de uma batucada (“Adeus
Batucada”) uma música intimista.”
28/5/2004
Caetano reúne de FHC a Sandy
O cantor Caetano Veloso reuniu uma eclética e
estrelada platéia na estréia do show A Foreign Sound em São Paulo, ao
levar aos palcos sucessos da música americana cantados em inglês
Luciana Franca
Uma platéia das mais ecléticas esteve no Tom Brasil
Nações Unidas, em São Paulo, para a estréia do show A Foreign Sound, de
Caetano Veloso, na quinta-feira 27. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
que dificilmente é visto em estréias badaladas, estava na fila do gargarejo com
Ruth Cardoso para conferir o repertório predominantemente americano escolhido
pelo músico baiano. Na mesa ao lado, o senador petista Aloizio Mercadante
também aplaudia o show. Só mesmo Caetano para conseguir reunir Sandy e Junior
Lima, acompanhados pelos pais Noely e Xororó, Wanessa Camargo, Ana Paula
Arósio, Nizan Guanaes e Donata Meirelles, Arnaldo Antunes e Marisa Orth na
mesma platéia.
27/5/2004 - Junior
Lima e Sandy na platéia estrelada - Foto:
Jayme de Carvalho JR |
Caetano
Veloso recebe o carinho de Wanessa Camargo no camarim
Foto:
Jayme de Carvalho JR
|
Apesar da baixa temperatura da noite paulistana, o
frio não atrapalhou o programa dos convidados vips. Angélica protegeu-se com
uma pashimina verde clara e foi à apresentação com o namorado Luciano Huck.
Depois de aplaudir o surpreendente bis, quando Caetano cantou a marchinha
carnavalesca “Mamãe Eu Quero”, os fãs famosos fizeram fila na porta do camarim
para cumprimentá-lo. O músico recebeu todos os amigos numa maratona que durou
quase duas horas.
Aplausos
de Ruth e Fernando Henrique Cardoso - Foto:
Jayme de Carvalho JR |
FHC e multidão de famosos no show de Caetano em SP
28 de maio de 2004
A estréia da turnê A Foreign
Sound de Caetano Veloso, 61 anos, aconteceu em alto estilo. O cantor e
compositor baiano abriu nesta quinta-feira (27) a temporada de oito shows no
Tom Brasil Nações Unidas, em São Paulo, com uma platéia repleta de
celebridades.
Estavam
presentes Fernando Henrique Cardoso,
Ana Paula Arósio, os irmãos Sandy e Junior, Wanessa Camargo, Arnaldo Antunes, Marisa Orth, Preta Gil, Cristiana
Oliveira, Noely, Xororó, Angélica, Luciano Huck,
Paula Lavigne, Jair Rodrigues, Luciana Mello, Jairzinho Oliveira, entre outros.
Show
Em A Foreign Sound, Caetano faz uma releitura de canções em língua inglesa. Acompanhado por uma orquestra com 21 elementos, o cantor abriu o espetáculo com a canção Não tem Tradução, de Noel Rosa.
Em A Foreign Sound, Caetano faz uma releitura de canções em língua inglesa. Acompanhado por uma orquestra com 21 elementos, o cantor abriu o espetáculo com a canção Não tem Tradução, de Noel Rosa.
No
repertório estavam So in Love, de Cole Porter, It's Alright Ma,
de Bob Dylan, Come as You Are, do Nirvana, Cry me a
River, de Arthur Hamilton, e Diana, de Paul Anka, além
de clássicos de sua carreira.
Depois
da capital paulista, a turnê do disco A Foreign Sound segue para
Salvador, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte, chegando ao Rio de Janeiro
em julho.
Depois da consagração
e de ser aplaudido de pé, Caetano recebe os parabéns dos amigos e relaxa com
uma champagne - Foto: Marcelo
Liso/Virgulando
|
San Pablo, 27/5/2004 |
Caetano Veloso recebe os parabéns de Wanessa Camargo - Foto:
Marcelo Liso/Virgulando
|
Sandy e Júnior, fãs assumidíssimos
de Caetano, foram conferir o cantor no Tom Brasil, em São Paulo - Foto: Greg Salibian / Folhapress
|
27/5/2004 - Paula
Lavigne, dá as coordenadas pelo rádio para sua equipe
no camarim do cantor no Tom Brasil, em São Paulo (SP) - Foto: Greg Salibian / Folhapress
|
El show A Foreign Sound fue estrenado en San Pablo el 27 de mayo de 2004 -temporada hasta el 6 de junio-, continuando para Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte y Rio de Janeiro, hasta el mes de julio.
Rio de Janeiro, 15/7/2004 |
Gilberto Braga, Paula Lavigne, Caetano Veloso e Regina Casé |
Despues de la gira por Brasil, se presentó en Europa y en Estados Unidos.
En el Palacio de Congresos de Madrid los días 31 de octubre y 1 de noviembre de 2004.
Una edición especial del álbum, que incluye la edición original europea del disco y un CD maxi-single con los 3 temas bonus editados exclusivamente en las ediciones originales brasileña y norteamericana.
2004
CAETANO VELOSO
Álbum “A FOREIGN SOUND” (On tour edition)
Universal Music CD + maxi single 0602498 242612 [España]
Lanzamiento: 4/10/2012
CD 1
1. CARIOCA [The Carioca] (Edward Eliscu/Gus Kahn/Vincent Youmans) 3:31
2. SO IN LOVE (Cole Porter) 5:30
3. I ONLY HAVE EYES FOR YOU (Harry Warren/Al Dubin) 1:21
4. IT'S ALRIGHT, MA [I'm Only Bleeding] (Bob Dylan) 4:08
5. BODY AND SOUL (Frank Eyton/Edward Heyman/Robert B. Sour/John W. Green) 3:31
6. NATURE BOY (eden ahbez) 1:59
7. THE MAN I LOVE (George Gershwin/Ira Gershwin) 4:10
8. THERE WILL NEVER BE ANOTHER YOU (Mack Gordon/Harry Warren) 1:48
9. SMOKE GETS IN YOUR EYES (Jerome Kern/Otto Harbach) 2:39
10. DIANA (Paul Anka) 3:28
11. SOPHISTICATED LADY (Mitchell Parish/Duke Ellington/Irving Mills) 5:18
12. COME AS YOU ARE (Kurt Cobain) 4:16
13. FEELINGS (Morris Albert/Louis Gaste) 4:33
14. SUMMERTIME (George Gershwin/Ira Gershwin/DuBose Heyward/Dorothy Heyward) 2:33
15. DETACHED (Arto Lindsay/Ikue Mori/Tim Wright) 01:30
16. JAMAICA FAREWELL (Erving Burgess) 2:45
17. LOVE FOR SALE (Cole Porter) 2:37
18. CRY ME A RIVER (Arthur Hamilton) 3:10
19. IF IT'S MAGIC (Stevie Wonder) 3:04
20. SOMETHING GOOD (Richard Rodgers/Oscar Hammerstein) 1:38
21. STARDUST (Hoagy Carmichael/Mitchell Parish) 3:26
22. BLUE SKIES (Irving Berlin) 2:47
Bonus track:
MANHATTAN (Richard Rodgers/Lorenz Hart) 3:58
CD 2
BONUS MAXI SINGLE:
01. [NOTHING BUT] FLOWERS (David Byrne/Chris Frantz/Jerry Harrison/Tina Weymouth) 4:18
02. ALWAYS (Irving Berlin) 3:40
03. LOVE ME TENDER (Vera Matson/Elvis Presley) 3:24
A Foreign Sound - 10 y 11/10/2004 [Miami] |
Beacon Theatre, Nova York, 19 e
20/10/2004
|
Copyright © 2004, Julie M. Welch
|
A Foreign Sound - 10/11/2004 - Sala Santa Cecilia - Italia |
Durante mayo de 2005, A Foreign Sound se presentó en varias ciudades japonesas:
Día 15: Festival Hall in Osaka
Día 17: Aichiken Geijutsu Gekijo in Nagoya
Día 19: Acros Fukuoka in Fukuoka
Día 23: Tokyo Geijutsu Gekijo
Días 24 y 25: Tokyo International Forum
No hay comentarios:
Publicar un comentario