lunes, 12 de noviembre de 2012

1968 - ONDE ANDARÁS



" ... Essa parceria não nasceu de uma relação minha com Caetano. Foi a Maria Bethânia que me pediu, se eu gostaria de escrever para ela duas letras de fossa, de dor-de-cotovelo, que ela queria gravar no seu disco de estréia. Então fiz e entreguei a ela duas letras, uma é “Onde Andarás” e a outra é um poema que também é do mesmo livro, que eu adaptei para servir como letra, porque como poema era muito longo. Mas Caetano só musicou uma delas, o outro poema eu acho que inspirou “Alegria Alegria”, porque fala “atravessa a rua, entra no cinema” é um poema urbano, que fala exatamente da cidade e o enfoque é o mesmo e o fato dele não ter posto música na minha letra e ter escrito “Alegria Alegria” dá a impressão de que ele achou melhor criar uma letra sobre aquele assunto. Existe na música “Alegria Alegria” uma expressão que é de um poema meu “o sol se reparte em crimes”. Isso é de um poema que diz assim: “A tarde se reparte em iogurtes, coalhadas, copos de leite”. Esse uso do verbo repartir nesse sentido é do poema “Na leiteria”. “A tarde se reparte em copos de leite”, “o sol se reparte em crimes/espaçonaves, guerrilhas”. Tudo bem, a função da poesia é essa, o poeta inventa as expressões e o artista popular, o compositor não tem essa função - é muito mais a de comunicar de maneira ampla com o público. Não é a de mudar a linguagem, de reinventar a linguagem, isso é mais dos poetas...


...Eu, em geral, sou levado a escrever por alguma coisa que me espanta, que me surpreende, que me comove. Pegar uma música e saber que sentido tem aquilo... eu não sei que sentido tem aquela música. A música tudo bem, pela melodia a gente se guia, mas o que vou escrever? Como é que eu vou transformar aquilo em palavras? Eu não consigo, é muito difícil. Isso é coisa para Caetano, Chico, eles entendem disso. O Capinan tem uma experiência de letrista que não tenho, é um outro departamento...."

[Ferreira Gullar en entrevista con Gilfranciso Santos, 2008]



 










Ferreira Gullar [1930/2016]













Revista InTerValo


Música: Caetano Veloso
Letra: Ferreira Gullar
© 1968


Onde andarás nessa tarde vazia
Tão clara e sem fim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema te esqueces de mim
Enquanto o mar bate azul em Ipanema
Em que bar, em que cinema te esqueces...
Eu sei, meu endereço apagaste do teu coração
A cigarra do apartamento
O chão de cimento
Existem em vão
Não serve pra nada a escada, o elevador
Já não serve para nada a janela
A cortina amarela, perdi meu amor
E é por isso que eu saio pra rua
Sem saber pra quê
Na esperança talvez de que o acaso
Por mero descaso
Me leve a você
Na esperança talvez de que o acaso
Por mero descaso
Me leve...

Eu sei




1968 - CAETANO VELOSO
6136 2620 / 1:55
Álbum "Caetano Veloso"
Philips LP R 765.026 L, A-5.
CD 838.557-2, Track 5.




1969 - MARIA BETHÂNIA
Álbum "Maria Bethânia"
Odeon LP MOFB 3577, B-4.


1970 - ISAURINHA GARCIA & NOITE ILUSTRADA
Álbum “Papo Furado”
Continental LP PPL 12.463, B-3.2.


1985 – JOANNA
Participación Especial: GAL COSTA
Álbum “Joanna”
RCA Victor LP 103 0648, A-6.


1988 - MARIA BETHÂNIA
Álbum "Maria"
BMG/Ariola LP 140.0004, B-4.



 
2001 – MARISA MONTE
Álbum “Café Brasil” [Varios intérpretes]
Teldec / Warner Music Brasil CD 8573-82368-5, Track 2. [Alemania]


2007 - KEICO YOSHIDA
Álbum “Samba canção”
KT-002, Track 5. [Japón]
Rabbit Music Co, Track 5. [2012, Corea]


2008 – ADRIANA CALCANHOTTO
Álbum “Maré”
Sony / BMG CD 886972704524, Track 10.






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