“Chamei os amigos para gravar em Londres.
Os arranjos são de Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de
Sousa. Não saíram na ficha técnica e eu tive a maior briga com meu amigo que
fez a capa. Como é que bota essa bobagem de dobra e desdobra, parece que vai
fazer um abajur com a capa, e não bota a ficha técnica? Era importantíssimo.
Era um trabalho orgânico, espontâneo, e meu primeiro disco de grupo, gravado
quase como um show ao vivo. Foi Transa que que me deu coragem de fazer os
trabalhos com A Outra Banda da Terra. Tem a Nine out of Ten, a minha melhor música em
inglês. É histórica. É a primeira vez que uma
música brasileira toca alguns compassos de reggae, uma vinheta no começo e no
fim. Muito antes de John Lennon, de Mick Jagger e até de Paul McCartner. Eu e o
Péricles Cavalcanti descobrimos o reggae em Portobelo Road e me encantou logo. Bob Markey e The Wailers foram a melhor coisa dos anos
70. Gosto do disco todo. Como gravação, a
melhor é Triste Bahia. Tem o Mora na Filosofia, que é um grande samba, uma
grande letra e o Monsueto é um gênio. Me orgulho imensamente deste som que a
gente tirou em grupo.”
[Caetano Veloso, Depoimento à Marcia
Cezimbra, Jornal do Brasil, 16/5/91]
Londres, 1971
1971 - Caetano Veloso e Jards Macalé - Crédito: Pedro Paulo Koellreutter |
1971 - Crédito: Pedro Paulo Koellreutter |
1971 - Crédito: Pedro Paulo Koellreutter |
1971 - Crédito: Pedro Paulo Koellreutter |
1971 - Crédito: Pedro Paulo Koellreutter |
1971 - Crédito: Pedro Paulo Koellreutter |
1971 - Crédito: Pedro Paulo Koellreutter |
1972
TRANSA
Grabado en 1971 en Chappell’s Studios, Londres
Phonogram / Philips LP 6349 026 / CD 838.511-2 [1989]
Producción: Ralph Mace
Músicos: Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque y Áureo de Sousa.
Participación de Angela Rô Rô en Nostalgia.
Concepción de la tapa tridimensional (“discobjeto” en la 1ª Edición): Álvaro Guimarães (Verbo)
Planeamiento gráfico: Aldo Luiz
Fotos: Deca, Ricardo Lisboa y Juca Gonçalves
Lado A
1. YOU DON’T KNOW ME (Caetano Veloso) Participación Especial: Gal Costa
2. NINE OUT OF TEN (Caetano Veloso)
3. TRISTE BAHIA (Caetano Veloso/Gregório de Matos)
Lado B
1. IT’S A LONG WAY (Caetano Veloso)
2. MORA NA FILOSOFIA (Arnaldo Passos/Monsueto Menezes)
3. NEOLITHIC MAN (Caetano Veloso) Participación Especial: Gal Costa
4. NOSTALGIA [That’s what rock’n roll is all about] (Caetano Veloso) Participación Especial: Gal Costa
1972
Revista inTerValo
2000
Ano
X – n° 487
Capa:
Osmar Prado
Foto
de Joel Maia
Editora
Abril
1972
Revista inTerValo
2000
Ano
X - n° 489
29
de maio de 1972
Capa:
Regina Duarte
Foto
de Sérgio Jorge
Editora
Abril
14/8/1972 - Revista inTerValo 2000, n° 500 |
DISCO
Canções do exílio
Gravado por Caetano Veloso em Londres e reverenciado por gerações, o
disco "Transa" ganha reedições em CD e LP
24/06/2012
Marcelo Perrone
Na
terra da rainha, foi o rei quem fez Caetano Veloso chorar. Forçado a deixar o
Brasil por ordem da ditadura militar, em julho de 1969, o artista baiano fez de
Londres o destino- ele e seu conterrâneo, amigo e parceiro de tropicália
Gilberto Gil.
De
passagem pela capital da Inglaterra, o rei Roberto Carlos visitou Caetano e
acabou lhe mostrando uma canção nova: Nas Curvas
da Estrada de Santos. Caetano se desmanchou.
Os
primeiros instantes da temporada do desterro foram dolorosos para Caetano. Em
uma das cartas-diário que escrevia ao semanário Pasquim, mencionou esse
encontro no qual a música nova do rei lhe arrancou lágrimas de saudades do
Brasil. E atestou: "Meu coração está
cheio de ódio opaco. Nós estamos mortos". Comovido pelo baixo astral de
Caetano, Roberto compôs para ele, com Erasmo, Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos ("Um dia a
areia branca / Teus pés irão tocar / E vai molhar seus cabelos / A água azul do
mar").
O
trauma do exílio ficou marcado nos dois discos que Caetano gravou em Londres,
produzidos pelo britânico Ralph Mace. O primeiro, batizado com o nome do
artista, foi lançado em 1970 na Inglaterra e, no ano seguinte, no Brasil- tras London, London, sua
crônica do expatriado em terra estranha.
O
segundo, Transa, lançado aqui em janeiro 1972, quando Caetano foi autorizado
a voltar para casa, é reconhecido por fãs, críticos e artistas de diferentes
gerações como um marco que extrapola os limites geográficos da MPB e se coloca
entre as grandes criações da música universal.
A
celebração aos 40 anos de Transa traz o disco de volta,
em uma reedição da gravadora Universal nas versões CD e LP, com áudio
remasterizado no estúdio Abbey Road, aquele dos Beatles, e projeto gráfico
original que recupera o chamado "discobjeto"- o encarte pode ser
montado como peça de decoração. E faz justiça com os créditos para o
excepcional time de músicos que Caetano recrutou para as gravações no Chappells
Studios: Jards Macalé (guitarra e direção musical), Moacyr Albuquerque, já
falecido (baixo), Tutty Moreno e Áureo de Souza (alternando-se na bateria e
percussão).
Como
diz em entrevista a Zero Hora, Caetano estava musicalmente mais seguro e melhor
adaptado quando concebeu Transa como uma fervilhante
caldeira de experimentação.
São
sete faixas, apenas duas cantadas em português. Mora na Filosofia é
uma releitura lisérgica do samba de Arnaldo Passos e Monsueto Menezes. Triste
Bahia se ergue a partir de um poema de Gregório de Matos e avança
para uma épica viagem sonora na qual Caetano observa a terra natal com um olhar
ao mesmo tempo crítico e melancólico. Com quase 10 minutos de duração, Triste
Bahia é uma das canções mais emblemáticas de Caetano, pelo vigor
lírico e, sobretudo, pela complexidade musical que combina psicodelia
progressiva com samba de roda, capoeira e afoxé.
Nas
faixas cantadas em inglês, Caetano pesca referências bossa-novistas de João
Gilberto e Edu Lobo (You Don’t Know Me), funde
Beatles com o paraibano Zé do Norte (It’s a Long Way) e incorpora,
de forma pioneira, o reggae que chegava a Londres com os imigrantes jamaicanos
(Nine Out of
Ten).
Com
esse disco, Caetano promoveu o descarrego de seus fantasmas e, direto do
terreiro da efervescente Swinging London, colocou sua terra em Transa.
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