Fernando Barros, Wanderlino Nogueira Neto e Caetano Veloso Salvador, Fevereiro 2018 |
“Meu querido amigo Wanderlino Nogueira Neto morreu
hoje. Ele foi um dos mais marcantes colegas que tive no curso clássico do
Colégio Severino Vieira, em Salvador.
A primeira pessoa a me falar da importância de
Oswald de Andrade, quando do modernismo paulista de 22 só sabíamos os nomes de
Mário e de Villa Lobos e sussurros sobre Anita Malfati. Eu não segui seu
conselho de atentar para Oswald, cuja obra só vim a conhecer anos depois, via
poetas concretos, instigado pela montagem de O Rei da Vela no Oficina de Zé
Celso.
Em Verdade Tropical conto sobre a confusão do nome
"Panis et Circencis", que, inacreditavelmente, saiu grafado assim na
capa do disco: Wanderlino tinha me ensinado a expressão e deve ter rido muito
ao lê-la truncada. Confirmando uma intuição minha sobre a força de sua
personalidade, Wanderlino se tornou um militante dos direitos humanos, tendo se
tornado membro do Comitê dos Direitos da Criança da ONU. Em 2015 ele ganhou o
prêmio Faz Diferença. Pensei, na altura, que seria uma oportunidade de vê-lo e
conversar com ele (a última vez em que tínhamos estado juntos fora depois de um
show meu em Aracaju, uma década e meia antes), mas tarefas surgiram para mim no
dia da premiação. Agora estive com ele na Bahia, junto a nosso outro colega do
Severino, Fernando Barros, no Hospital Aliança, onde ele estava em tratamento.
Tenho muita saudade dele e muita frustração por não
ter voltado a conversar com ele nesses últimos anos. Havia muita coisa sobre
que eu queria e precisava ouvi-lo.
Toda turma do clássico do Severino deve estar agora
com o pensamento e o coração voltados para ele. Muita gente no Brasil e no
mundo também.”
[Caetano Veloso, 26/2/2018]
VERDADE TROPICAL
1a reimpressão 1997
Edição de 20 ANOS 2017
Wanderlino Nogueira
Neto
ANTROPOFAGIA
Pág 241 (1997) // Pág.
255 (2017)
“… Oswald (de
Andrade) – cujo nome eu só ouvira ser pronunciado duas vezes: por meu colega de
classe Wanderlino Nogueira Neto no curso secundário, e naquela conversa entre Rogério (Duarte) e Agrippino (de Paula) sobre Panamérica - …”
PANIS ET CIRCENSIS
Pág. 278 (1997) // Pág.
288 (2017)
“… Eu tinha feito e
dado para Gil musicar uma letra a que pus o nome de ‘Panis et Circensis …”
“… Não fui
verificar (àquela altura nem saberia onde) se a expressão ‘Panis et Circensis’
estava na forma latina correta. Eu tinha uma vaga lembrança de uma conversa com Wanderlino Nogueira Neto, que foi
quem, no curso clássico, me ensinou a famosa expressão, em que julguei ter
aprendido que se trataba de dois substantivos no genitivo com função partitiva (como no francês “du pain et du cirque).
Tenho uma memoria vívida desse solilóquio silencioso no 2002 e muitas vezes me
envergonhei mais com essa lembrança do que com a constatação do erro em si. (Na verdade, a forma em que a
expressão se fez famosa é ‘panis et circenses’, esta última palavra sendo um
adjetivo que no plural, substantiva-se no significado de 'coisas de circo'.)…”
DIVINO, MARAVILHOSO
Pág. 328 (1997) // Pág.
332 (2017)
“… Wally (Salomão) me fora anunciado como João Gilberto: um colega do clássico (Wanderlino) me disse
que eu, que gostava de coisas loucas, precisava conhecer um sujeito
maravilhoso, um conterrâneo seu (da cidade de Jequié, no interior da Bahia) que
tinha muito a ver comigo. Ficou de trazê-lho até o Severino Vieira (Wally
estudava no Central) para fazer as apresentações. Depois de uns dois alarmes falsos, finalmente nos
encontramos. Wanderlino falara-lhe também de mim. Wally não me decepcionou, mas me
parece que, embora não o tenha desagradado, eu não o entusiasmei. Wanderlino
sabia mais do que nós: em pouco tempo, Wally e eu tínhamos nos tornado amigos e
somos atê hoje*. …
* Wally morreu em 2003, aos 59 anos.
Salvador, 10/5/2017 - Carlos Eduardo Drummond e Wanderlino Nogueira Neto |
“O Brasil perdeu um grande brasileiro! Wanderlino Nogueira Neto foi promotor de justiça e membro do Comitê de Direitos da Criança na ONU. Colega de classe de Caetano Veloso, Wanderlino colaborou imensamente na pesquisa do livro "Caetano - Uma Biografia". Minha homenagem e gratidão eterna a esse homem extraordinário que tive a honra de conhecer e ter como amigo.” [Carlos Eduardo Drummond]
Salvador, 10/5/2017 - Wanderlino Nogueira, Marina Bastos. A turma do clássico com Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, autores do livro CAETANO uma biografia |
Salvador, 10/5/2017 - Marina Bastos, Mabel Velloso e Wanderlino Nogueira Neto |
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