O escritor pernambucano José Almino de Alencar |
Escrevi
a resenha do novo livro de crônicas de José Almino de Alencar, "Gordos,
magros e guenzos", que vai ser lançado no Rio nesta sexta (2/3), na Livraria da
Travessa do Shopping Leblon, às 19h. O director Guel Arraes, irmão de José Almino, vai mediar o bate-papo entre o
autor e eu.
"Zé foi o meu primeiro guia quando, sem entender, me vi no grande mundo, fora de casa: ele era, de repente, ao mesmo tempo a casa e o mundo — e com isso me mostrava a possível realidade extramuros. Isso se deu na dimensão física, anedótica. E se expandiu depois nas formas intelectual e estética. Zé tem sido, desde então, um dos meus mestres, um dos meus nortes. Ele sinaliza, aponta, faz rápidos contrapesos, surpreende com alguma informação crucial, ensina. Quando Zé Almino assume um tom ensaístico e quase crítico, a grandeza de seu intelecto se reafirma num nível que leva o leitor a ver confirmado todo o coerente mundo mental do autor, tão imenso quanto discreto, que tinha sido adivinhado nas crônicas."
"Zé foi o meu primeiro guia quando, sem entender, me vi no grande mundo, fora de casa: ele era, de repente, ao mesmo tempo a casa e o mundo — e com isso me mostrava a possível realidade extramuros. Isso se deu na dimensão física, anedótica. E se expandiu depois nas formas intelectual e estética. Zé tem sido, desde então, um dos meus mestres, um dos meus nortes. Ele sinaliza, aponta, faz rápidos contrapesos, surpreende com alguma informação crucial, ensina. Quando Zé Almino assume um tom ensaístico e quase crítico, a grandeza de seu intelecto se reafirma num nível que leva o leitor a ver confirmado todo o coerente mundo mental do autor, tão imenso quanto discreto, que tinha sido adivinhado nas crônicas."
Caetano
Veloso
José Almino de Alencar.
Gordos, magros e guenzos: crônicas
Cepe (Companhia Editora de Pernambuco) • 228 pp
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CAETANO VELOSO FAZ APOLOGIA DE GORDOS, MAGROS E GUENZOS
A amizade entre Caetano Veloso e José Almino de Alencar, que começou na época da ditadura e perdura até hoje, rendeu em fevereiro um artigo de Caetano, publicado na revista 451, sobre o libro Gordos, magros e guenzos, que reúne crônicas de José Almino, lançado no Rio de Janeiro.
Caetano participou do lançamento, organizado pela Cepe, marcado por uma longa conversa entre os dois amigos.
Fotos: Facebook
2018
Revista
Quatro cinco um
a revista dos
libros - ano dois, número nove, março de dos mil e dezoito
Os
textos reunidos por José Almino de Alencar no livro cujo título — Gordos,
magros e guenzos — traz toda uma definição da perspectiva regional, estética e
pessoal do autor (e é um dos pontos que me ligam, para honra minha, diretamente
ao seu imaginário) são peças de refinamento e amadurecimento da nossa
sensibilidade, da nossa civilidade e das nossas letras. A frase retorcida
(embora não exatamente gorda) com que abri este comentário é um exemplo do que
não se encontra na prosa de Zé Almino. Esta, de seu lado, não é propriamente
magra, como o são a de Graciliano ou a de Hemingway, a de Zé Rubem Fonseca ou a
da poesia de João Cabral. A prosa de Zé Almino é elegante e equilibrada,
entende o gordo e o guenzo mas, sempre perto da magreza, sabe espelhá-los sem
entregar-se a eles. De todo modo, não é retorcida.
Sou
de um Brasil que não acreditava no mundo exterior. Zé foi o meu primeiro guia
quando, sem entender, me vi no grande mundo, fora de casa: ele era, de repente,
ao mesmo tempo a casa e o mundo — e com isso me mostrava a possível realidade
extramuros. Isso se deu na dimensão física, anedótica. E se expandiu depois nas
formas intelectual e estética. Zé tem sido, desde então, um dos meus mestres,
um dos meus nortes. Ele sinaliza, aponta, faz rápidos contrapesos, surpreende
com alguma informação crucial, ensina. Ainda na anedota de nossas vidas. No
livro da reunião de escritos seus, isso acontece por meio de peças artísticas
despretensiosas e deslumbrantes. Ali há de tudo o que importa. A menção a
Machado de Assis vem com a vivência entranhada de sua literatura; a citação de
Paulo Mendes Campos surge como reeleição do autor mineiro ao Olimpo da nossa
inteligência; o anúncio de Tupan Sete experimenta o mistério do quase
inexistente; a lembrança da frase de Valéry a respeito da superioridade da
poesia sobre a prosa ecoa a vida do Recife, de Paris, de Nova York, cidades que
têm suas prosas sempre poéticas na solidão do exilado.
Tudo
é tão de Zé quanto, como ele mesmo diz sem usar estas palavras, só um poema
pode ser de alguém. Nada que não traga os remansos de sotaques da origem ou de
adoção. Lê-se aí a história da língua no Brasil, a história do homem
brasileiro, a história desse homem peculiar que conta a história. As marcas do
afastamento e do reencontro com o português brasileiro reaparecem nas cenas
reproduzidas pelo narrador, nas atraentes irregularidades de pontuação do argumentador,
na dor das suas discretas confissões emocionais.
A
conversa de Genet com um militante da esquerda brasileira surge como um
refletor sobre a beleza possível do Cristo do Corcovado, beleza cuja
possibilidade assombra por ter-se mostrado anterior ao pensamento de quem
comenta. Num caso assim, Zé exibe um humor, nada infrequente entre
pernambucanos, que sabe ser breve e fundo, sem esconder o sofrimento que lhe
possa estar por trás. Cícero Dias! Os despachos de Machado, onde o escritor
aparece em seu papel de funcionário público, a exercer julgamento de caso
envolvendo questões da escravidão, mas não é explicitamen-
te julgado pelo narrador/pesquisador.
Os
belos versos de Alceu Valença derramam-se sobre a inflação em febre branda. A
“unánime noche” de Borges, cuja incapacidade de ser compreendida por um
anglófono serviu (com a ajuda da reação do próprio Borges) a V. S. Naipaul para
acabar de desqualificar o escritor argentino, ressurge em Zé Almino como começo
de conversa para refletir sobre a poesia que subjaz a toda prosa, abstendo-se
de criticar a atitude imperial anglo-saxã que despercebeu ser essa bela frase
de abertura o momento em que Borges, vivenciando a língua espanhola em
profundidade, está mais perto do por ele tão desprezado Lorca do que nunca.
Zé
me ensinou a admirar Naipaul mas segue gostando mais dele do que eu. Já sua
abertura para o comentário de Machado de Assis sobre o aforismo do Barão Louis,
que é o pedido “Dai-me boa política que eu vos darei boas finanças”, é talvez o
exemplo mais “gordo” de sua escrita — mas atinge as figuras ainda atuais da
política brasileira com a ferocidade que eu gostaria de poder cultivar bem. O
retrato de seu pai, Miguel Arraes, deputado desarmado na Assembleia
pernambucana, explica o ponto de vista político que pode permanecer inabalado
nesse cético nada desprovido de doçura. Captar esse ângulo é o que nos faz
entender com propriedade a distinção que ele faz entre o golpe de 1964 e o
movimento que resultou no impeachment de Dilma Rousseff: difícil encontrar
outro arrazoado brasileiro sobre esse caso que seja tão abrangente e razoável —
e tão claro.
A
oração terrível pela alma de Rubens Paiva, na aproximação do texto do algoz ao
caso brutal de Gilles de Rais, abre o mundo do historiador minucioso e sucinto:
o texto sobre os suicídios de Vargas e de Allende autopsia os dois
ex-presidentes, Joaquim Nabuco e o Segundo Reinado. É com essas lentes que Lima
Barreto é retratado, numa crônica que não é a única que nos leva a chorar. Faz
com que captemos o essencial da louvação a Mário de Andrade como intelectual
público. Ou a da grandeza poética de Vinicius. Ou o século curto e a formação
de Miguel.
Quando
Zé Almino assume um tom ensaístico e quase crítico, a grandeza de seu intelecto
se reafirma num nível que leva o leitor a ver confirmado todo o coerente mundo
mental do autor, tão imenso quanto discreto, que tinha sido adivinhado nas
crônicas. O Machado que fora flagrado em ação no serviço público é mensurado
histórica e sociologicamente em leitura do estudo sobre ele feito por Reginald
Daniel, numa sugestão de mirada para a questão racial brasileira que nos induz
a pensar mais, ler mais, enfrentar melhor o dificílimo assunto.
Depois,
olhando com carinho a figura de Ariano Suassuna, que vai de esboço de
antagonista a vizinho de casa e de alma de seu pai, Zé põe a nu a estrutura
viva dos mitos que vêm se fazendo necessários para que possamos interpretar e
sofrer o Brasil. E tudo o que ele diz na resenha do livro de Ana Pessoa a
respeito da importância das miúdas lembranças vivenciais para o entendimento da
História se aplica ao artigo, pessoal e sensível, com que ele próprio,
recordando seu encontro com Francisco de Assis Barbosa, fecha o volume. Quem lê
tudo, sai engrandecido. E grato.
Caetano Veloso participa de lançamento do livro de José Almino de
Alencar
Almino, filho do ex-governador do Estado Miguel
Arraes, recebe muitos convidados no Rio
Bruno Brandão em 02/03/18
Amigo da família Arraes, Caê prestigia o lançamento de Almino - Foto: Divulgação |
José
Almino de Alencar, filho do ex-governador Miguel Arraes, lança o seu livro
“Gordos, magros e guenzos”, nesta sexta-feira (2), às 19h, na Livraria Travessa
do Leblon. Na ocasião, conversa mais do que especial com Caetano Veloso. O papo
será registrado por Guel Arraes, que fará um documentário.
O
FUXICO
03/03/2018
Publicado
por: Giovanna Prisco
Fotos:
Divulgação / André Freitas
CAETANO VELOSO E
REGINA CASÉ PRESTIGIAM LANÇAMENTO DE LIVRO
Evento
ocorreu na última sexta-feira (2)
O
livro Gordos, Magros e Guenzos, do autor José Almino de Alencar, trata-se de
uma miscelânea composta por crônicas e reflexões literárias.
O
lançamento oficial aconteceu na última sexta-feira (2), no shopping Leblon,
localizado no Rio de Janeiro.
Além
do lançamento, também ocorreu um bate-papo sobre o livro com a presença de
algumas personalidades famosas, como Caetano Veloso e Regina Casé.
A
atriz Fernanda Torres também estava presente na plateia, acompanhando tudo.
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