Maio /1968 - Guilherme Araújo, Manoel Barenbein, Nara Leão e Rogério Duprat
Foto: Arquivo Rogério Duprat
Barenbein e Arnaldo Baptista
Manoel Barenbein
Ana de Oliveira: Manoel,
como você conheceu o grupo que logo depois veio a lançar o movimento
tropicalista?
Manoel Barenbein:
Eu já tinha sido divulgador, era assistente de produção de Walter Silva, que
produzia todos os shows do Teatro Paramount, e freqüentava também o Teatro de
Arena, onde conheci Gil.
Em 66, eu já havia produzido “A Banda”, de Chico Buarque e gravado
“Disparada”, de Geraldo Vandré.
Mas o processo tomou forma quando saí da RGE para assumir a
direção artística da Polygram, na época Phonogram, justamente às vésperas do
Festival da Record de 67.
Ana: Que
importância tinham os festivais do ponto de vista da gravadora?
Barenbein: Antes
de André Midani, o presidente da companhia era Allain Trousat, tão fã de música
brasileira que hoje, morando na França, tem uma editora de música que só
trabalha com músicos brasileiros que moram lá. Foi Alan que fez o imenso cast
do começo da Phonogram. Um mês e meio antes do Festival de 67, quando tinham
saído as trinta e seis classificadas, dezoito delas eram de artistas da
companhia. Em vez de fazer dezoito compactos simples, ele tomou a iniciativa de
pegar as doze de cada noite e fazer três LPs. Os autores ou intérpretes de
outras gravadoras teriam o seu cover na nossa gravadora. Foi o caso de “Bom
Dia”, de Gil e Nana Caymmi. Produzi Nana pra RGE e Gil pra Phonogram. Por
coincidência, fiquei com os vinte e três artistas que moravam em São Paulo,
entre os quais Gil e Caetano. Toda a minha formação foi com MPB, principalmente
Bossa Nova. Eu conhecia música americana, jazz, rock, Beatles. É claro que o
sonho de todo produtor era fazer música brasileira com som internacional. E o
sonho estava ali.
Ana: O que
você sentiu ao ouvir pela primeira vez “Alegria, alegria” e “Domingo no
parque”?
Barenbein: Quando
a gente foi conversar com Rogério Duprat sobre o arranjo da música de Gil e
quando Caetano me disse que o acompanhamento seriam os Beat Boys, isso
significou muito pra mim. Foi um marco, o ponto central da minha vida. A partir
dali o sonho foi acontecendo.
Ana: Você
sofreu represálias profissionais ou se sentiu estigmatizado por ter trabalhado
com os tropicalistas?
Barenbein: Sim,
mas, talvez pelo meu jeito de ser, não tive problemas. Ao contrário de hoje,
quando se tem que implorar pra rádio tocar, o pessoal do rádio fazia fila pra
saber se eu não tinha o acetato novo de Caetano. Com exceção de um purista ou
outro. Um radialista chegou a quebrar no ar o compacto “Chega de
saudade”/“Desafinado”, de João Gilberto, dizendo que o diretor da Odeon era um
maluco por ter gravado aquilo.
Ana: Você e
Guilherme Araújo tinham atuações paralelas, não é? Como era esse entendimento?
Barenbein:
Pouquíssimos empresários no Brasil podem se comparar a Guilherme. Ele
transformou as idéia de Caetano e Gil em realidade. Sem a sua criatividade
fantástica, muita coisa não teria sido feita. Trabalhamos muito juntos, o que
pra mim é uma honra.
Ana: Em sua
opinião, existem na história da Tropicália personagens ou fatos menos
valorizados do que deveriam ser?
Barenbein: Eu me
sinto parte de um conjunto harmônico, cada um tinha a sua função, e o
fantástico é que ninguém predispôs as coisas. Eram as pessoas certas na hora
certa. Hoje não se fala de Sandino Hohagen, por exemplo, um maestro que
participou muito da história. Ou mesmo de Tom Zé. Mas a gente sempre deu o
crédito pra eles. Só que as coisas vão tomando formato e se ajeitando…
Ana: Como
era o ambiente de estúdio, durante as gravações com Caetano, Gil, Gal, os
Mutantes, Rogério Duprat e Tom Zé?
Barenbein: Era
mais que uma festa. Só trabalhei com gente criativa, o que é setenta por cento
do caminho andado. Quando levei pela primeira vez um distorcedor de guitarra
pro estúdio, os técnicos quiseram me matar, porque eram eles que iam todos os
dias ajustar tudo pra que nada saísse distorcido. E de repente chegava um
maluco com uma caixinha, batia o pé no pedal e a guitarra saía distorcendo. Uma
vez Rita Lee chegou pra uma gravação noturna dos Mutantes com uma maleta e
tirou de dentro uma bomba de flit.
O técnico, acostumado com Sílvio Mazurca, Maysa, tudo certinho,
não entendeu nada. Perguntei a Rita o que era aquilo. E ela disse: o ximbau da
bateria. A bomba marcava o tempo do ximbau.
Ana: E os
discos gravados durante o confinamento de Caetano e Gil em Salvador? O clima
das gravações já não era tão leve assim, não é? Parece que você enfrentou
momentos difíceis ao produzir os discos deles nesse período.
Barenbein: O
disco branco de Caetano, que tem “Irene” e “Chuvas de verão”, e o disco de Gil
que tem “Volkswagen blues”, foram ambos feitos ao contrário por causa desse
confinamento. Eles não tinham um tostão. Foi um modo de lhes arrumar dinheiro.
Mas a companhia, que tinha um cast
de subversivos – Caetano, Gil, Elis Regina, Chico Buarque –, não podia entrar
abertamente. Produzimos os discos e antecipamos os direitos. Gil encarregou-se
de fazer os arranjos dos dois e montar um grupo pra gravar. Eu, Duprat, Ari
Carvalhaes e João Pereira saímos do Rio com duas máquinas de gravação estéreo,
na época só com dois canais, microfones e tudo mais. Alugamos um estúdio de
comerciais de rádio, que era mono. Tivemos que trocar o seu equipamento pelo
nosso. Quando voltei pro hotel, vi dois senhores da Polícia Federal me
esperando. Perguntaram se era eu o responsável por Caetano e Gil. Falei dos
dois discos. Disseram: “O senhor sabe que eles não podem se manifestar
publicamente?” Respondi que sim, que aquilo não era público e sim dentro do
estúdio, mostrei as letras, que já tinham sido liberadas pela censura, e lhes
dei o endereço. As gravações, que duraram mais ou menos duas semanas, foram
muito tensas.
Ana: Como
você compararia o mercado fonográfico daquela época com o atual?
Barenbein:
São dois mundos de consumo totalmente diferentes. Ouvimos “Alegria, alegria”
hoje, décadas depois, e sentimos prazer. Mas não temos paciência pra ouvir algo
de quatro ou cinco anos atrás. Naquele tempo, tínhamos só duas rádios, a
Difusora e a Excelsior. Hoje cada cidade tem dezoito rádios FM.
Hoje ouvimos uma música setenta vezes por dia, o artista aparece sessenta e
nove vezes por mês na TV… Não tem comparação, nem da técnica, nem do prazer de
ouvir.
Fonte: Tropicália – Um projeto de Ana de Oliveira
03/10/2007
A censura invade a
MPB
Produtor Manoel Barenbein fala
sobre problemas com
a
DCDP [Divisão
de Censura de Diversões Públicas]
quando trabalhava com Caetano, Gil e Chico.
A história da música popular brasileira é repleta
de álbuns atemporais. Discos que registraram não apenas canções, mas
catalisaram todo o contexto musical de uma época. A carreira fonográfica do
lendário produtor Manoel Barenbein traz alguns dos mais antológicos LPs da MPB.
Em 1970, Barenbein produziu o censurado compacto
Apesar de Você, de Chico Buarque. Trabalhou também na produção dos dois
primeiros álbuns da carreira do compositor. No mesmo ano, foi o responsável por
trazer da Itália, onde Chico estava morando, as gravações de Chico Buarque
Volume 4, LP gravado em condições adversas.
A censura, Manoel viu de perto. Com os
tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, produziu em 1969, dois LP’s
arranjados por Rogério Duprat, antes dos dois baianos partirem para Londres.
Outros destaques de sua carreira são os álbuns Caetano Veloso, de 1967, disco
que antecipa o movimento tropicalista, com capa criada por Rogério Duarte.
Obviamente, não poderíamos deixar da citar Tropicália ou Panis Et Circensis
(1968), trabalho que uniu Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes,
Capinan e Nara Leão, quando ‘lançaram’ a Tropicália, restaurando os padrões
artísticos da época. Mané, como é chamado pelos íntimos, produziu também LP’s
de Os Mutantes, em 68 e 69.
Em entrevista ao Censura Musical, Manoel detalhou
como a censura afetou artistas que fizeram parte do período mais produtivo da
música no Brasil.
Censura Musical: Durante o período em que você trabalhou com Caetano e
Gil, como a censura atrapalhou o trabalho dos dois?
Manoel: Em 69, o Gil e o Caetano ficaram presos no Rio e
enquanto se preparava a deportação deles, os dois foram “confinados” em
Salvador. Eles não podiam sair da cidade, não podiam fazer nada em público. Na
realidade, estavam passando por uma fase de dificuldade econômica, pois não
podiam fazer show, ou seja, não podiam trabalhar. Quem vive de música e não
pode fazer show, não consegue viver. Aí a companhia decidiu ajudar e definimos
com que íamos gravar dois LP’s e a gravadora daria um adiantamento dos direitos
que eles teriam posteriormente ao lançamento dos discos.
CM: Quais problemas você encontrou durante a gravação destes discos?
Manoel: Chegando no Hotel em Salvador, estavam dois caras
me esperando e perguntaram: “O senhor que é o responsável pelo pessoal que está
trabalhando com Caetano e Gil?” O pior é que eu estava sozinho. O Rogério
(Duprat – arranjador tropicalista) ficou conversando com Caetano e Gil e os
dois técnicos saíram passear.
CM: E como você se explicou?
Manoel: A sorte é que eu tinha uma pasta com todas as
anotações dos discos dos dois. Para que não houvesse problema, eu já tinha
levado todas as letras com o carimbo da censura de “liberado”. Chegamos na
delegacia, o delegado chefe me chamou:”O senhor não sabe que o Caetano e Gil não
podem fazer aparições públicas?” Eu disse: “Eu sei, é por isso que a gente está
num local fechado. Nós alugamos um estúdio e estamos, inclusive, autorizados
pela Polícia Federal de Brasília pra isso e mostrei os documentos originais.
Ele disse que tudo bem. Eu falei que se ele quisesse conferir que podia
aparecer no estúdio. Falei que nós estaríamos lá a partir da três da tarde do
dia seguinte.
CM: Caetano e Gil ficaram receosos?
Manoel: Eles ficaram “pê da vida”, pois os caras não
deixavam eles trabalharem.
CM: Como foi a gravação dos LP’s?
Manoel: O Gil fez todos os arranjos, eu peguei o
equipamento do Rio e levei pra Bahia pra gravar. Chegamos em Salvador, o Gil
tinha ensaiado com o grupo do Pepeu (Gomes). Esses caras foram participar de um
programa de TV e tocaram uma música que na letra tinha a frase “...menina dos
peitinhos duros...”. A censura bateu em cimas dos caras, o empresário deles se
apavorou, pegou todos os instrumentos, colocou dentro de uma Kombi, se mandou
pro interior da Bahia e deixou cinco músicos sem instrumentos pra gravar. Então
nós tínhamos músicos, estúdio, equipamento que eu trouxe do Rio, mas não
tínhamos instrumentos.
CM: O que vocês fizeram?
Manoel: Era mês de junho e estava chovendo muito em
Salvador. Fomos emprestar os instrumentos de uns amigos do Pepeu, atolamos o
carro e pegamos. Mas na hora que fomos gravar, não dava, era impossível!
Tivemos que gravar o disco ao contrário. Gravamos as bases lá e terminamos de
gravar no Rio.
CHICO CENSURADO
Censura Musical: Como foi produzir um
artista tão censurado como Chico Buarque?
Manoel: O Chico Buarque foi um cara que sofreu muito com
a censura. Teve uma época que nós ficamos um bom tempo sem poder gravar
absolutamente nada dele porque tudo que ia pra Brasília com o nome dele era
censurado. Podia não ter nada da música, e os caras censuravam porque achavam
que teria. Eles (censores) pensavam que já os caras queriam dar de malandro,
então barrava-se tudo. Até a ida do Chico pra Itália ainda deu pra trabalhar,
mas depois que ele voltou ficou mais difícil.
Censura Musical: Embora muitas canções foram censuradas, “Apesar de
você” passou despercebida. Como isso aconteceu?
Manoel: Um dia, eu estava no Rio, dez e meia da manhã
toca meu telefone e minha secretária disse que o Chico tava na linha. (Manoel
relembra o diálogo no telefone).
Chico: Alô, Manoel!
Manoel: Fala Chico! O que você tá fazendo acordado
essa hora?
Chico: Não fui dormir ainda. Estou aqui com o
Vinícius. Você não quer vir aqui não? Fiz uma música, você não quer ver?
Cheguei lá, tava o Vinícius num canto com um copo
na mão. Aí o Chico pegou o violão e começou a cantar. Quando terminou, me perguntou:
“O que você acha?”
Eu disse: Se você não disser que tem segunda
intenção, não dá pra dizer nada. Agora se você disser que sim, é óbvio. Manoel
comenta - Se você pegar a letra, pensa numa mulher. Esquece de ditadura,
ditador, de Médici.
O Chico me perguntou: “O que você acha? Passa?”
Manoel: Não sei. Vamos fazer como fizemos com todas
as outras.
Então o Dr. João Carlos Miller Chaves (advogado da gravadora
Philips na época) mandou pra Brasília e a música voltou liberada.
Eu liguei pro Chico: “Voltou liberada!”
Ele disse: “Você tá me gozando…”
Manoel: Estou indo aí. Pode preparar uma dose que
eu quero beber!
CM: E quando surgiu
o veto?
Manoel: O disco já tinha
vendido em torno de 80 a 100 mil cópias.
Um
dia, alguém abriu o bico, porque sempre tem alguém que abre. Apareceu um fileto
de jornal "A música de Chico Buarque 'Apesar de você' foi feita em homenagem
ao presidente Médici". Isso saiu num domingo de manhã,
o exército invadiu a fábrica. Dr. João Carlos me ligou e falou:
Some!
Depois
de três, quatro días em casa ele avisou que eu podría sair. Eles invadiram a
fábrica e quiseram saber qual era o disco no estoque que tinha “Apesar de
você”. Eles levaram tudo pra quebrar. Só não quebraram a
matriz, porque não estava lá.
CM: A gravadora
teve prejuízos?
Manoel: Eu diria que nem
tanto, porque existe um processo dentro da discografía que uma proibição
se torna um marketing. Mas se ninguém falar nada, passa batido. O Zuza (Homem
de Mello) foi muito feliz em colocar uma parábola dizendo que a MPB cresceu a medida
em que a ditadura foi ficando mais forte, e perdeu a criatividade quando a
ditadura acabou. A censura trabalhou muito em cima do universitário, do que
cara que estava desabrochando. Esse cara, quando tinha capacidade criativa, ele
driblava e acabou.
CM: Em tantos anos
de carreira, você se recorda de outros fatos sobre censura?
Manoel: Quando eu assumi a
direção artística na Phonogram em São
Paulo, o presidente da companhia era o Allan Frossard, formado em psiquiatria
na Sorbonne, com livros publicados na França. Esse cara,
acabou indo trabalhar com livros, e em 65 veio parar no Chile para montar a
Phonogram, e depois veio por Brasil. De 68 para 69, ele pediu pra matriz da
companhia para que o mudassem de país, e os caras lá acharam um absurdo, pois
ele estava montando uma gravadora extraordinária aquí.
Ele
saiu do Brasil por um único motivo – porque não tinha livros para
ler, porque tudo que lê importava, a censura vetava na alfândega. Ele foi
embora porque nao tinha livros pra ler e era o presidente da companhia! Pra
mim, esse é o maior exemplo de censura.
Fonte: Censura Musical
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Produtor participou do nascimento da indústria
fonográfica no País
Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO
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O Estado de S.Paulo
Produtor da Tropicália,
Manoel Barenbein vai morar em Israel
Aos 75 anos, o homem que escreveu boa parte da história da MPB em seu
melhor período deixa o Brasil no final de fevereiro
Renato
Vieira
23
Janeiro 2018
A
foto de Olivier Perroy para a capa de 'Tropicália ou Panis Et Circencis',
gravado em maio de 1968, mostra, naturalmente, a linha de frente do movimento
tropicalista. O discreto produtor Manoel Barenbein não está na imagem. Bem que
poderia. Em seu livro 'Verdade Tropical', Caetano Veloso endossa sua
importância, definindo-o como “um judeu
paulista narigudíssimo que era produtor contratado da Philips e que comprara
nossa briga com carinho e determinação”. Nas comemorações dos 50 anos do
álbum, seu nome deve ser lembrado, mas ele estará longe da badalação. A não ser
que haja alguma em Ma'ale Adumim, cidade próxima a Jerusalém. É para lá que,
aos 75 anos, ele se muda no fim de fevereiro, em uma viagem sem perspectiva de
retorno.
Nos últimos anos, depois de uma passagem pela
Record TV, Barenbein produziu artistas contemporâneos, como Gabriel Guerra e
Joana Flor, e tentou viabilizar projetos que não se concretizaram. Constatou
que as novas formas de gravação e divulgação de música haviam se modificado
definitivamente. Decidiu ficar perto do filho e dos netos, ainda sem saber o
que irá fazer em Israel. “O princípio básico quando comecei a produzir era
fazer um trabalho a longo prazo. Não se pensava no primeiro disco, mas sim em
uma carreira.
Para eu conseguir estabelecer os artistas com quem
quero trabalhar, é necessário tempo. Hoje se pensa na audiência e no
imediatismo. Do jeito que está o sistema, eu não tenho como entrar”, diz
Barenbein, para quem discos devem ser tratados como obras de arte. A decadência
do suporte físico, portanto, é outro fator que motivou a mudança de vida e
País.
Barenbein
era conhecido por ser rápido e certeiro, em uma época em que as gravações eram
tecnicamente limitadas, geralmente feitas em dois ou quatro canais. Quando era
da gravadora Philips (hoje Universal Music), chegou a produzir 18 discos por
ano. Seu nível de exigência foi além dos corredores dos estúdios. Chico
Buarque, na contracapa de seu álbum de estreia, aquele em que aparece com uma
cara alegre e outra séria, cita “Mané Berimbau e seus braços urgentes”. Na
gravação de Pega a Voga, Cabeludo, Gilberto Gil e os Mutantes avisam,
debochadamente: “Manoel, para de encher!”. “É que eu era um chato, não
conseguia ficar dentro do estúdio esperando as coisas acontecerem. O Chico
escreveu aquilo na contracapa porque eu ficava mexendo os braços para acabar a
gravação. Mas ficava até achar que estava bom e os artistas entendiam isso. O
clima era o melhor possível”, conta o produtor.
Nascido
em Ponta Grossa, Barenbein chegou a São Paulo aos sete anos de idade. No fim
dos anos 1950, começou a carreira como divulgador. Foi técnico de som do show
Dois Na Bossa (1965), que reuniu Elis Regina e Jair Rodrigues e chegou ser a
diretor musical da TV Tupi. Também passou pela Rádio América, cuja discoteca
era frequentada com assiduidade por um cantor que começava a despontar chamado
Roberto Carlos. Por meio do radialista Walter Silva, o Pica-Pau, Barenbein
conseguiu o posto de assistente da direção artística da RGE. Uma de suas
primeiras descobertas, indicação de Toquinho, foi Chico Buarque.
Barenbein
se diz distante dos artistas que produziu há 50 anos. “Eles continuam os
mesmos, mas as pessoas em volta são outras. E eu não sou muito fã de ir em
camarim”. Ele não se lembra quando foi a última vez que esteve com Gil, só se
recorda de que foi durante uma premiação em São Paulo. O encontro mais recente
com Caetano ocorreu em 2004, quando o baiano participou da festa de aniversário
da cidade que foi ao ar pelo SBT, onde Barenbein trabalhava. Ele se emocionou
na coletiva de imprensa, em que o compositor fez questão de saudá-lo. “Olha, o
Barenbein está aqui. Ele é a Tropicália”.
Já
com a saída do Brasil definida, Barenbein quis falar com um velho amigo que não
encontra há muito tempo. Ligou para seu empresário no fim do ano passado e
deixou um número de telefone. Em uma noite, no meio do ensaio para o show
Caravanas, Chico
ligou. Foram 15 minutos de conversa, em que lembraram os trabalhos que fizeram
juntos. Barenbein aproveitou para fazer um pedido: que a caravana de Chico vá
para Israel. “Fico contente em ver que os
artistas que conheci há mais de 50 anos continuam aí”.
A
fotografia que estampou a capa do foi realizada na casa de Oliver Perroy,
fotógrafo da Editora Abril, em São Paulo. A
ideia foi fazer uma paródia às fotos de família que, antigamente, a classe
média costumava encomendar.
A
arte da capa foi finalizada por Rubens Gerchman, pintor e criador de Lindoneia.
Gilberto
Gil, sentado no chão, segura o retrato de formatura do curso normal de Capinam;
Tom Zé, de terno, segura uma mala de couro; Gal Costa e Torquato Neto representam um
típico casal recatado do interior; Rogério Duprat, segura um penico na mão como
se fosse uma xícara; Caetano Veloso segura uma foto de Nara Leão e os Mutantes, ao
fundo, levantam suas guitarras, instrumento atacado por alguns setores da
esquerda tradicional como símbolo da colonização imperialista.
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