sábado, 17 de marzo de 2018

2018 - ANTÔNIO CÍCERO - Cadeira 27


Antônio Cícero entra para a Academia Brasileira de Letras


O poeta e filósofo foi eleito para a cadeira 27, na sucessão do professor Eduardo Portella. O compositor é parceiro em músicas de artistas nacionais como Adriana Calcanhotto e João Bosco.

Por G1 Rio
10/08/2017

O escritor Antônio Cícero foi eleito nesta quinta-feira (10/8) para a cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo Eduardo Portella, morto no dia 3 de maio deste ano.

"Antonio Cicero é um dos escritores mais representativos da literatura brasileira contemporânea", declarou o Presidente da ABL, Acadêmico Domício Proença Filho.

Cicero foi eleito por 30 votos. Concorreram na eleição, 22 acadêmicos - 12 por cartas.

Antes de Cicero, os ocupantes anteriores da cadeira 27 foram: Joaquim Nabuco – fundador da cadeira e que escolheu como patrono Maciel Monteiro, Dantas Barreto, Gregório da Fonseca, Levi Carneiro e Otávio de Faria.




FOLHA DE S.PAULO

16/3/2018

Antonio Cicero fará defesa do cânone literário em posse hoje na ABL


O filósofo e escritor Antônio Cícero em sua casa no Rio
Foto: Zô Guimarães / Folhapress

Maurício Meireles
SÃO PAULO

O discurso de Antonio Cicero, que, na noite desta sexta (16), toma posse na ABL (Academia Brasileira de Letras), será uma defesa da existência de um cânone literário —uma resposta, pelo visto, a segmentos da crítica que tentam relativizá-lo.

“Acho que isso vem do início do século 20, com movimentos de vanguarda como o Dadaísmo”, diz.

“Em compensação, movimentos de vanguarda posteriores, como o nosso Concretismo, afirmavam a importância de se reconhecer um ‘paideuma’ isto é, no fundo, de se reconhecer um cânone. A existência do cânone não impede a valorização da inovação.”

Filósofo de formação e poeta, Cicero é o segundo intelectual que também tem uma carreira como compositor a ser eleito recentemente para a Casa de Machado —em outubro de 2016, havia sido a vez de Geraldinho Carneiro.

Cicero escreveu a letra de grandes hits da MPB, como “O Último Romântico”, gravada por Lulu Santos, e “Fullgás”, em parceria com sua irmã Marina Lima. Como já disseram, deve ser o único filósofo cuja obra toca no rádio.

Questionado se sua eleição significa um reconhecimento maior da canção popular como um gênero literário, ele diz:
“Tomara que sim. Afinal, a verdade é que, já há algum tempo, os poemas de alguns dos nossos maiores poetas, como Caetano Veloso e Chico Buarque, têm a forma de canções.”

Apesar de seu trabalho intelectual e formação acadêmica rigorosos, sua posse traz à Academia um escritor que circulava em grupos que, nos anos 1970, se opunham a instituições como a ABL ou à hierarquia da vida universitária, vistas como caretas.

Cicero esteve próximo dos tropicalistas e já falou, em um ensaio publicado em “A Poesia e a Crítica” (Companhia das Letras), seu último livro, que as conversas com Caetano em Londres, foram importantes para sua formação intelectual.

De todo modo, apesar de andar com o grupo, ele diz no mesmo ensaio nunca ter se definido como contracultural.

“Desde cedo, conheci e admirei amigos de meu pai que acabaram fazer parte da ABL, como Celso Furtado e Helio Jaguaribe, de modo que não tinha esse preconceito”, diz Cicero. “Além disso, é importante que haja uma instituição que tenha por fim primeiro cultivas a língua e a literatura do Brasil.”

ELEIÇÃO
Cicero vai substituir Eduardo Portella, morto em maio do ano passado, na cadeira 27, cujo fundados é Joaquim Nabuco. Ele conseguiu se eleger na terceira tentativa, com o apoio da ala dos escritores na Casa de Machado (que tem ainda juristas, políticos, jornalistas etc.).

O autor estreou na poesia em 1996, com “Guardar”, e desde então publicou ainda livros como “A Cidade e os Livros” (2002) e “Porventura” (2012).

No fim de 2016, quando fez 70 anos, ganhou um tributo do músico Arthur Nogueira, que gravou um álbum só com suas composições.

No momento, Cicero trabalha em um novo livro de filosofia, na qual pretende desenvolver a teoria da modernidade já exposta em “O Mundo Desde o Fim”, lançado pela extinta editora e livraria Francisco Alves, em 1995.





De fardão, Antônio Cícero posa com a irmã Marina - Foto: Reprodução / Instagram

Antônio Cícero recebe os cumprimentos de Caetano Veloso
Foto: Reprodução / Instagram


O GLOBO

Antonio Cícero toma posse na ABL com presença de ilustres da MPB

Poeta e filósofo assume a cadeira 27, que já foi do escritor e abolicionista Joaquim Nabuco



Posse do novo imortal Antonio Cicero - Marcelo Theobald / Agência O Globo



POR BOLÍVAR TORRES
18/03/2018 4:30

RIO — Antonio Cícero passou a última sexta-feira, dia da sua posse na Academia Brasileira de Letras, isolado, tentando terminar o seu discurso. Celular desligado, telefone fixo caindo na secretária. Vários e-mails não respondidos. Aguardava-se sua chegada na casa de Machado de Assis às 19h15m para fotos e entrevistas antes da cerimônia (marcada para as 21h), mas já eram quase 20h e nada.

Até que, em cima do laço, o poeta e filósofo, autor de livros como “O mundo desde o fim” e letras de sucessos da MPB como “Fullgás”, apareceu devidamente enfiado no fardão, discurso em mãos, pronto para ser imortalizado.

— Estava até agora reescrevendo o discurso, não estava achando bom — disse ele — Reescrevi três vezes nas duas últimas semanas. Estou acostumado a dar palestras, mas isso é diferente, não é para ser muito teórico. Queria algo mais pessoal, mas não tanto. Acho que consegui o tom.

Cícero dedicou carinho especial ao texto, desde ontem gravado para sempre na história da instituição. Depois de duas tentativas frustradas de entrar para a Academia, ele finalmente conseguiu sua eleição em agosto do ano passado, para a cadeira 27, que tem como fundador o escritor e abolicionista Joaquim Nabuco e pertencia até então a Eduardo Portella.



Cícero é aplaudido em sua posse na ABL - Marcelo Theobald / Agência O Globo


Como manda a tradição, Cícero dedicou boa parte da sua fala a homenagens ao antecessor e ao patrono. Mas também usou sua intervenção para defender o que considera uma das principais funções de uma academia: a determinação do cânone literário.

“Contra o relativismo difuso que vigora em nossos dias, afirmo que existem obras boas e obras ruins, obras insignificantes e obras imortais”, leu em voz alta o novo acadêmico. “Um poeta que acredita que todos os poemas ou todos os textos se equivalem — por exemplo, que tudo é relativo ao gosto da pessoa que julga — não tem por que produzir uma obra nova. Pois bem, o cânone pretende ser o conjunto das obras modelares, exemplares, imortais. Ele é tanto mais perfeito quando mais perto disso chegar.”

Autor e teórico com formação filosófica e literária, leitor dos clássicos gregos no original, Cícero já vinha sustentando essa ideia há um tempo (escreveu um capítulo sobre o tema seu mais recente livro, “A poesia e a crítica”). Mas não deixa de ser curioso que ela seja levantada na mesma noite em que a Academia celebrou um maior envolvimento com a cultura popular.

Nos últimos dois anos, a ABL elegeu duas personalidades com raízes na contracultura:

Cícero e o poeta, tradutor e compositor Geraldinho Carneiro (em 2016). Em seu discurso de recepção, o acadêmico Arnaldo Niskier louvou Cícero citando duas vezes a letra de “Fullgás”, hit do pop-rock composto por ele nos anos 1980.

Também saiu do protocolo para destacar as presenças ilustres da cultura popular na plateia, como Martinho da Vila, Marina Lima (irmã de Cícero e coautora de “Fullgás”) e Caetano Veloso (“Todos nós, aqui presentes, aprendemos muito com Caetano”, lembrou, provocando aplausos).

— Isso demonstra a abertura da Academia para a cultura popular — disse Niskier.
Não há, porém, nenhuma contradição em celebrar o pop e defender o cânone. O próprio Cícero assinala que, embora necessária, a noção de cânone não é fixa, está aí para ser discutida e modificada — a Academia seria, inclusive, um dos agentes desse processo.

Geraldinho Carneiro, que nos anos 1980 dialogou com o movimento da poesia marginal e, assim como Cícero, compôs letras de canções populares, disse ter adorado o discurso do novo acadêmico, embora tenha suas diferenças.

— O meu discurso foi muito diferente, eu esculhambei o cânone — brinca.

Já o poeta e agitador cultural Jorge Salomão, irmão do tropicalista Waly, ficou animado ao ver tantos amigos da contracultura na plateia:

— Talvez agora haja um fluxo na ABL — disse ele.




JORNAL DO BRASIL

18/03/2018

A posse de Cícero

Um bafo de frescor arejou o salão da Academia Brasileira de Letras. Os imortais abriam alas para a mais humana mortalidade, na poesia de Antônio Cicero, autor de versos como “Não quero mudar você / nem mostrar novos mundos / pois eu, meu amor, / acho graça até mesmo em clichês”. E faz afirmações como “Com que direito considerar o poema “Os Lusíadas”, digamos, melhor ou mais memorável que a canção “A Eguinha Pocotó”, quando muita gente prefere esta?”.


Com a entrada de Cícero, abre-se uma fresta para a contracultura na ABL e, nessa esteira, valores inquietantes se colocam. Alguns até passaram por lá... O poeta, filósofo e compositor Antônio Cícero Correia Lima, irmão da cantora Marina Lima, tomava posse da cadeira 27, cujo fundador foi Joaquim Nabuco.


Caetano Veloso, Martinho da Vila, Fernanda Montenegro e outros foram levar abraço ao novo imortal – Foto: Marcelo Borgongino

Cícero discursou sobre a imortalidade da poesia, passeando por Immanuel Kant, Antônio Carlos Sechin e Hélio Jaguaribe. Perguntou o que fazia certos poemas, entre tantos, bons ou não, serem imortais. Ele mesmo respondeu: ‘um poema bom vale por si, sobrevive ao tempo’. Estava ali, quase disfarçada, a defesa da existência de um cânone literário.

Sobre a cadeira 27, teceu elogios a Nabuco, que no século 19 previra as marcas que a escravidão deixaria pelos próximos muitos anos na sociedade brasileira. Em se tratando de Antônio Cícero, citar o abolicionista não foi apenas alusão à história da cadeira 27, mas clara crítica à desigualdade social no Brasil. Com o rosto denunciando sua felicidade, foi aplaudido por longo tempo.



Caetano Veloso e Antônio Cícero - Foto: Marcelo Borgongino

Arnaldo e Ruth Niskier e Caetano Veloso e Paula Lavigne - Foto: Marcelo Borgongino

Paula Lavigne e Caetano Veloso - Foto: Marcelo Borgongino




Caetano e Cícero - 'Tabu' de Julio Bressane




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