Antônio Cícero
entra para a Academia Brasileira de Letras
O
poeta e filósofo foi eleito para a cadeira 27, na sucessão do professor Eduardo
Portella. O compositor é parceiro em músicas de artistas nacionais como Adriana
Calcanhotto e João Bosco.
Por
G1 Rio
10/08/2017
O
escritor Antônio Cícero foi eleito nesta quinta-feira (10/8) para a cadeira 27 da
Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo Eduardo Portella, morto no dia 3
de maio deste ano.
"Antonio Cicero
é um dos escritores mais representativos da literatura brasileira contemporânea", declarou o
Presidente da ABL, Acadêmico Domício Proença Filho.
Cicero
foi eleito por 30 votos. Concorreram na eleição, 22 acadêmicos - 12 por cartas.
Antes
de Cicero, os ocupantes anteriores da cadeira 27 foram: Joaquim Nabuco –
fundador da cadeira e que escolheu como patrono Maciel Monteiro, Dantas
Barreto, Gregório da Fonseca, Levi Carneiro e Otávio de Faria.
FOLHA DE S.PAULO
16/3/2018
Antonio Cicero fará defesa do cânone literário em posse hoje na ABL
O filósofo e escritor Antônio Cícero em sua casa no Rio Foto: |
Maurício Meireles
SÃO PAULO
O discurso de Antonio Cicero, que, na noite desta
sexta (16), toma posse na ABL (Academia Brasileira de Letras), será uma defesa
da existência de um cânone literário —uma resposta, pelo visto, a segmentos da
crítica que tentam relativizá-lo.
“Acho que isso vem do início do século 20, com movimentos de vanguarda
como o Dadaísmo”, diz.
“Em compensação, movimentos de vanguarda posteriores, como o nosso
Concretismo, afirmavam a importância de se reconhecer um ‘paideuma’ isto é, no
fundo, de se reconhecer um cânone. A existência do cânone não impede a
valorização da inovação.”
Filósofo de formação e poeta, Cicero é o segundo
intelectual que também tem uma carreira como compositor a ser eleito recentemente
para a Casa de Machado —em outubro de 2016, havia sido a vez de Geraldinho
Carneiro.
Cicero escreveu a letra de grandes hits da MPB,
como “O Último Romântico”, gravada por Lulu Santos, e “Fullgás”, em parceria
com sua irmã Marina Lima. Como já disseram, deve ser o único filósofo cuja obra
toca no rádio.
Questionado se sua eleição significa um
reconhecimento maior da canção popular como um gênero literário, ele diz:
“Tomara que sim. Afinal, a verdade é que, já há algum tempo, os poemas
de alguns dos nossos maiores poetas, como Caetano Veloso e Chico Buarque, têm a
forma de canções.”
Apesar de seu trabalho intelectual e formação
acadêmica rigorosos, sua posse traz à Academia um escritor que circulava em grupos
que, nos anos 1970, se opunham a instituições como a ABL ou à hierarquia da
vida universitária, vistas como caretas.
Cicero esteve próximo dos tropicalistas e já falou,
em um ensaio publicado em “A Poesia e a Crítica” (Companhia das Letras), seu
último livro, que as conversas com Caetano em Londres, foram importantes para
sua formação intelectual.
De todo modo, apesar de andar com o grupo, ele diz
no mesmo ensaio nunca ter se definido como contracultural.
“Desde cedo, conheci e admirei amigos de meu pai que acabaram fazer
parte da ABL, como Celso Furtado e Helio Jaguaribe, de modo que não tinha esse
preconceito”, diz Cicero. “Além
disso, é importante que haja uma instituição que tenha por fim primeiro
cultivas a língua e a literatura do Brasil.”
ELEIÇÃO
Cicero vai substituir Eduardo Portella, morto em
maio do ano passado, na cadeira 27, cujo fundados é Joaquim Nabuco. Ele
conseguiu se eleger na terceira tentativa, com o apoio da ala dos escritores na
Casa de Machado (que tem ainda juristas, políticos, jornalistas etc.).
O autor estreou na poesia em 1996, com “Guardar”, e
desde então publicou ainda livros como “A Cidade e os Livros” (2002) e
“Porventura” (2012).
No fim de 2016, quando fez 70 anos, ganhou um
tributo do músico Arthur Nogueira, que gravou um álbum só com suas composições.
No momento, Cicero trabalha em um novo livro de
filosofia, na qual pretende desenvolver a teoria da modernidade já exposta em
“O Mundo Desde o Fim”, lançado pela extinta editora e livraria Francisco Alves,
em 1995.
De fardão, Antônio Cícero posa com a irmã Marina - Foto: Reprodução / Instagram |
Antônio Cícero recebe os cumprimentos de Caetano Veloso Foto: Reprodução / Instagram |
O GLOBO
Antonio Cícero toma posse na ABL com presença de
ilustres da MPB
Poeta e filósofo assume a cadeira 27, que já foi do
escritor e abolicionista Joaquim Nabuco
Posse do novo imortal Antonio Cicero - Marcelo Theobald / Agência O Globo
|
POR BOLÍVAR TORRES
18/03/2018 4:30
RIO — Antonio
Cícero passou a última sexta-feira, dia da sua posse na Academia Brasileira de Letras,
isolado, tentando terminar o seu discurso. Celular desligado, telefone fixo
caindo na secretária. Vários e-mails não respondidos. Aguardava-se sua chegada
na casa de Machado de Assis às 19h15m para fotos e entrevistas antes da
cerimônia (marcada para as 21h), mas já eram quase 20h e nada.
Até que, em cima do laço, o poeta e filósofo, autor
de livros como “O mundo desde o fim” e letras de sucessos da MPB como
“Fullgás”, apareceu devidamente enfiado no fardão, discurso em mãos, pronto
para ser imortalizado.
— Estava até agora reescrevendo o discurso, não
estava achando bom — disse ele — Reescrevi três vezes nas duas últimas semanas.
Estou acostumado a dar palestras, mas isso é diferente, não é para ser muito
teórico. Queria algo mais pessoal, mas não tanto. Acho que consegui o tom.
Cícero dedicou carinho especial ao texto, desde
ontem gravado para sempre na história da instituição. Depois de duas tentativas
frustradas de entrar para a Academia, ele finalmente conseguiu sua eleição em
agosto do ano passado, para a cadeira 27, que tem como fundador o escritor e
abolicionista Joaquim Nabuco e pertencia até então a Eduardo Portella.
Cícero é aplaudido em sua posse na ABL - Marcelo Theobald / Agência O Globo |
Como manda a tradição, Cícero dedicou boa parte da
sua fala a homenagens ao antecessor e ao patrono. Mas também usou sua
intervenção para defender o que considera uma das principais funções de uma
academia: a determinação do cânone literário.
“Contra o relativismo difuso que vigora em nossos
dias, afirmo que existem obras boas e obras ruins, obras insignificantes e
obras imortais”, leu em voz alta o novo acadêmico. “Um poeta que acredita que
todos os poemas ou todos os textos se equivalem — por exemplo, que tudo é
relativo ao gosto da pessoa que julga — não tem por que produzir uma obra nova.
Pois bem, o cânone pretende ser o conjunto das obras modelares, exemplares,
imortais. Ele é tanto mais perfeito quando mais perto disso chegar.”
Autor e teórico com formação filosófica e
literária, leitor dos clássicos gregos no original, Cícero já vinha sustentando
essa ideia há um tempo (escreveu um capítulo sobre o tema seu mais recente
livro, “A poesia e a crítica”). Mas não deixa de ser curioso que ela seja
levantada na mesma noite em que a Academia celebrou um maior envolvimento com a
cultura popular.
Nos últimos dois anos, a ABL elegeu duas
personalidades com raízes na contracultura:
Cícero e o poeta, tradutor e compositor Geraldinho
Carneiro (em 2016). Em seu discurso de recepção, o acadêmico Arnaldo Niskier
louvou Cícero citando duas vezes a letra de “Fullgás”, hit do pop-rock composto
por ele nos anos 1980.
Também saiu do protocolo para destacar as presenças
ilustres da cultura popular na plateia, como Martinho da Vila, Marina Lima
(irmã de Cícero e coautora de “Fullgás”) e Caetano Veloso (“Todos nós, aqui
presentes, aprendemos muito com Caetano”, lembrou, provocando aplausos).
— Isso demonstra a abertura da Academia para a
cultura popular — disse Niskier.
Não há, porém, nenhuma contradição em celebrar o
pop e defender o cânone. O próprio Cícero assinala que, embora necessária, a
noção de cânone não é fixa, está aí para ser discutida e modificada — a
Academia seria, inclusive, um dos agentes desse processo.
Geraldinho Carneiro, que nos anos 1980 dialogou com
o movimento da poesia marginal e, assim como Cícero, compôs letras de canções
populares, disse ter adorado o discurso do novo acadêmico, embora tenha suas
diferenças.
— O meu discurso foi muito diferente, eu
esculhambei o cânone — brinca.
Já o poeta e agitador cultural Jorge Salomão, irmão
do tropicalista Waly, ficou animado ao ver tantos amigos da contracultura na
plateia:
— Talvez agora haja um fluxo na ABL — disse ele.
JORNAL
DO BRASIL
18/03/2018
A
posse de Cícero
Um bafo de frescor arejou o salão da Academia
Brasileira de Letras. Os imortais abriam alas para a mais humana mortalidade,
na poesia de Antônio Cicero, autor de versos como “Não quero mudar você / nem mostrar novos mundos / pois eu, meu amor, /
acho graça até mesmo em clichês”. E faz afirmações como “Com que direito considerar o poema “Os
Lusíadas”, digamos, melhor ou mais memorável que a canção “A Eguinha Pocotó”,
quando muita gente prefere esta?”.
Com a entrada de Cícero, abre-se uma fresta para a
contracultura na ABL e, nessa esteira, valores inquietantes se colocam. Alguns
até passaram por lá... O poeta, filósofo e compositor Antônio Cícero Correia
Lima, irmão da cantora Marina Lima, tomava posse da cadeira 27, cujo fundador foi
Joaquim Nabuco.
Caetano Veloso, Martinho da Vila, Fernanda Montenegro e outros foram levar abraço ao novo imortal – Foto: Marcelo Borgongino |
Cícero discursou sobre a imortalidade da poesia,
passeando por Immanuel Kant, Antônio Carlos Sechin e Hélio Jaguaribe. Perguntou
o que fazia certos poemas, entre tantos, bons ou não, serem imortais. Ele mesmo
respondeu: ‘um poema bom vale por si, sobrevive ao tempo’. Estava ali, quase
disfarçada, a defesa da existência de um cânone literário.
Sobre a cadeira 27, teceu elogios a Nabuco, que no
século 19 previra as marcas que a escravidão deixaria pelos próximos muitos
anos na sociedade brasileira. Em se tratando de Antônio Cícero, citar o
abolicionista não foi apenas alusão à história da cadeira 27, mas clara crítica
à desigualdade social no Brasil. Com o rosto denunciando sua felicidade, foi
aplaudido por longo tempo.
Caetano Veloso e Antônio Cícero - Foto: Marcelo Borgongino |
Arnaldo e Ruth Niskier e Caetano Veloso e Paula Lavigne - Foto: Marcelo Borgongino |
Paula Lavigne e Caetano Veloso - Foto: Marcelo Borgongino |
Caetano e Cícero - 'Tabu' de Julio Bressane |
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