martes, 20 de marzo de 2018

2002 - O RAPPA E CAETANO VELOSO


ESTADO DE S.PAULO

Agencia Estado
11 Agosto 2002 

Músico do Rappa recebe visita de Caetano Veloso
Acompanhado pela mulher, a empresária Paula Lavigne, o cantor e compositor Caetano Veloso esteve hoje à tarde no Hospital Copa D'Or para visitar o percussionista do grupo O Rappa, Paulo Sérgio Santos, o Paulo Negueba, que foi atingido por duas balas na madrugada de sábado na favela de Vigário Geral, onde mora. Caetano disse que Negueba lhe contou que os tiros foram disparados pela Polícia. "Estou chocado", declarou Caetano. Abalada, Paula culpou o despreparo da polícia pelo episódio. "A Polícia é tão despreparada que sai atirando. O Paulo é mais um. Todos os dias morre gente em favela", afirmou a empresária, que também se disse chocada. "A gente, pelo menos, que vive na zona sul, tem medo de bandido. Eles têm medo de bandido e de polícia. Eles vivem uma vida realmente infeliz", acrescentou Paula. Caetano é padrinho do projeto social Afro Reggae, de Vigário Geral, onde Negueba começou a tocar percussão, e conhece o músico há anos. O compositor declarou estar assustado com a violência no Rio. "Eu acho trágico. Para mim é terrível que aconteçam de novo coisas assim em Vigário Geral e que um membro do Afro Reggae tenha sido atingido", disse.

O cantor afirmou também que é a primeira vez que acontece algo desse tipo com alguém tão próximo dele. Negueba também recebeu visitas de integrantes do Rappa e participantes do Afro Reggae. Segundo o empresário do Rappa, Alexandre Santos, apesar de fraco, Negueba está otimista e brincalhão. Ele foi o segundo músico do grupo atingido pela violência. Em novembro de 2000, o baterista Marcelo Yuka ficou paraplégico, por ter sido baleado numa tentativa de assalto. Novo comandante do Bope Amanhã, o comando-geral da PM anuncia o nome do novo comandante do Batalhão de Operações Especiais, que substituirá o coronel Venâncio Moura, exonerado da função no sábado pela governadora Benedita da Silva (PT). Além do inquérito aberto na 38.ª DP (Brás de Pina), há uma sindicância interna da PM para apurar o caso. Essa investigação poderá se transformar em um Inquérito Policial Militar (IPM).

Até ontem, segundo a Secretaria da Segurança Pública, nenhum dos policiais do Bope que participaram da operação em Vigário Geral na noite de sexta foi punido. Moura não estava no local do tiroteio. Apesar de o comandante-geral da PM, coronel Francisco Braz, ter afirmado no sábado que autorizara a ação do Bope, a Secretaria de Segurança Pública informou que, na avaliação do governo, a incursão do Bope na favela foi inadequada e desnecessária, já que o que a motivou foi uma suspeita e não uma situação de risco imediato. A assessoria ressaltou que ainda não há provas de que os tiros que atingiram o percussionista partiram de policiais. As armas dos PMs e a munição recolhida no local onde Negueba foi baleado serão periciadas.





Revista ISTOÉ Gente
Edição nº 159 

19/08/2002

Percussionista do Rappa é baleado


Yuka (à esq.) ficou paraplégico durante um assalto 


Paulo Negueba, percussionista da banda O Rappa, saía de casa, na favela de Vigário Geral, na noite da sexta-feira 9, quando foi surpreendido por policiais durante uma ação contra traficantes. Acuado pelo tiroteio, o músico de 21 anos abriu a porta do carro para identificar-se e acabou atingido por dois tiros – um no tornozelo e outro nas costas. Negueba foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, onde foi submetido a uma cirurgia de urgência no tornozelo. Pouco antes de entrar na sala de operação, recebeu o telefonema de Marcelo Yuka, baterista e letrista do Rappa, que ficou paraplégico em novembro de 2000 durante um assalto na Barra da Tijuca. “É preciso tomar tiro para você conseguir provar que é cidadão”, desabafou Yuka.



Caetano e Paula Lavigne visitaram Negueba no hospital
No domingo 11, Negueba recebeu a visita do cantor Caetano Veloso e sua mulher Paula Lavigne no Hospital Copa D’Or, para onde foi transferido. Padrinho do projeto AfroReggae, que funciona na favela e do qual o percussionista faz parte, Caetano lamentou a tragédia. “É triste que isso tenha acontecido com um menino que ensina percussão para as crianças na favela”, disse. Negueba só deverá voltar ao trabalho em três meses.





CULTURA

30/08/2002 | Edição nº 223

Show beneficente para Negueba enche o Canecão

BERNARDO ARAUJO, O GLOBO

No que depender do tratamento, em pouco tempo o percussionista Paulo Negueba estará de volta aos shows do Rappa. Anteontem, no Canecão, a banda que ele acompanha, mais o seu grupo de origem, o AfroReggae, e um padrinho de peso, Caetano Veloso, apresentaram-se para um grande público, em show beneficente para Negueba.

A noite começou com Caetano sozinho no palco, com seu violão. O público, que em sua maioria tinha ido ver o Rappa, dividiu-se basicamente em meninas que acompanhavam o baiano em sucessos como "O leãozinho", "Nosso estranho amor" e "Menino do Rio" e rapazes que ignoravam o baiano. Em canções mais populares, como "Sozinho" e "Como uma onda", de Lulu Santos, ele conseguiu um bom coro da platéia.

A canção mais mal recebida foi "Noites do Norte", que praticamente ninguém conhecia.

O som das conversas chegou a abafar a voz de Caetano, que depois explicou que se tratava de um texto do abolicionista Joaquim Nabuco — que ganhou aplausos ao ter o nome citado — e que a havia incluído para lembrar a herança da escravidão, culpada em parte pela violência que atingiu Negueba. Ele também lembrou que conhece o músico há anos e apresentou a atração seguinte, o AfroReggae.

Espertamente, o grupo de Vigário Geral tocou apenas duas músicas, ambas acompanhadas por dançarinos e acrobatas. Saíram aplaudidos e deixaram o público esperando a atração principal.

Sem muitos discursos ou lamentos, o Rappa começou o show — após um simple de "Canta, canta, minha gente", de Martinho da Vila — com suas músicas mais fortes, como "Lado B lado A", "Tumulto" e "Ninguém regula a América", que o grupo compôs e gravou em parceria com o Sepultura.

— Salve, salve, Negueba — disse o cantor Falcão. — Você é um dos caras mais amados que a gente conhece.

Além da substituição do baterista Marcelo Yuka — baleado em 2000 e hoje paraplégico — pelo tecladista Lobato, que já acontece há mais de um ano, a percussão ficou por conta de outros dois integrantes do AfroReggae, Cléber e Altair, que deram conta do recado com competência. Depois das músicas mais pesadas, o Rappa pôs o público para cantar com sucessos como "A minha alma (a paz que eu não quero)", "Me deixa" e suas versões para "Hey Joe", sucesso de Jimi Hendrix, e "Vapor barato" (Waly Salomão e Macalé). No fim, Falcão manifestou apoio a Kátia Lund, co-diretora de "Cidade de Deus" e responsável por um dos clipes do grupo, "A minha alma". 




Sexta-Feira, 30 de Agosto de 2002

Além de CD, Caetano Veloso faz turnê e lança livro no exterior

Por Luiz André Ferreira, especial para Reuters

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O cantor e compositor Caetano Veloso mal encerrou as comemorações de seu aniversário de 60 anos e já tem novos motivos para celebrar.

Após o show de quarta-feira no Rio de Janeiro com o grupo O Rappa, em solidariedade ao percussionista Paulo Negueba -- ferido com tiros num choque entre policiais e traficantes de uma favela carioca --, Caetano anunciou que pretende viajar para continuar divulgando "Noites do Norte", além de músicas de seu mais recente álbum e um livro.

O músico baiano lançou este mês o disco "Eu Não Peço Desculpas" em parceria com o produtor Jorge Mautner e deverá sair em turnê pela América do Norte em outubro. Durante a excursão, Caetano lançará no exterior o livro "Verdades Tropicais".

"Vou ficar um mês e meio por lá", declarou o músico baiano a repórteres após a apresentação com O Rappa no Canecão. Ele ainda lamentou não ter espaço na agenda para promover o trabalho com Mautner pelo Brasil.

"Quero muito (fazer shows por aqui). Mas acho que só conseguirei concretizar essa vontade numa possível curta temporada no final do ano, depois da turnê pelos Estados Unidos", comentou.

"Não é tão fácil assim conceber um show, principalmente quando é fruto de um trabalho tão prazeroso como esse com Mautner. Temos que ensaiar e estudar o formato".

A idéia do novo CD surgiu em uma conversa com Mautner, amigo de Caetano há 30 anos, quando este ficou retido nos Estados Unidos após os ataques de 11 de setembro. O cantor tinha viajado ao país para participar do Grammy Latino, que foi cancelado por causa dos atentados.

"Eu Não Peço Desculpas" mistura rock, balada, música brega e country, como a faixa de abertura, "Todo Errado". "Regravamos o 'Maracatu Atômico' e o 'Lágrimas Negras', enquanto Mautner deu uma concepção totalmente inusitada a 'Cajuína', conseguindo transportá-la do Piauí, seu cenário original, para um clima russo", contou Caetano Veloso.

A canção "Tarado", segundo ele, foi musicada sobre um poema de Mautner e "Feitiço" foi a reprodução de uma conversa entre ele, Noel Rosa e Gilberto Gil sobre a canção "Aquele Abraço".




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