ESTADO DE S.PAULO
Agencia Estado
11 Agosto 2002
Músico do Rappa recebe
visita de Caetano Veloso
Acompanhado
pela mulher, a empresária Paula Lavigne, o cantor e compositor Caetano Veloso
esteve hoje à tarde no Hospital Copa D'Or para visitar o percussionista do grupo
O Rappa, Paulo Sérgio Santos, o Paulo Negueba, que foi atingido por duas balas
na madrugada de sábado na favela de Vigário Geral, onde mora. Caetano disse que
Negueba lhe contou que os tiros foram disparados pela Polícia. "Estou
chocado", declarou Caetano. Abalada, Paula culpou o despreparo da polícia
pelo episódio. "A Polícia é tão despreparada que sai atirando. O Paulo é
mais um. Todos os dias morre gente em favela", afirmou a empresária, que
também se disse chocada. "A gente, pelo menos, que vive na zona sul, tem
medo de bandido. Eles têm medo de bandido e de polícia. Eles vivem uma vida
realmente infeliz", acrescentou Paula. Caetano é padrinho do projeto
social Afro Reggae, de Vigário Geral, onde Negueba começou a tocar percussão, e
conhece o músico há anos. O compositor declarou estar assustado com a violência
no Rio. "Eu acho trágico. Para mim é terrível que aconteçam de novo coisas
assim em Vigário Geral e que um membro do Afro Reggae tenha sido
atingido", disse.
O
cantor afirmou também que é a primeira vez que acontece algo desse tipo com
alguém tão próximo dele. Negueba também recebeu visitas de integrantes do Rappa
e participantes do Afro Reggae. Segundo o empresário do Rappa, Alexandre
Santos, apesar de fraco, Negueba está otimista e brincalhão. Ele foi o segundo
músico do grupo atingido pela violência. Em novembro de 2000, o baterista
Marcelo Yuka ficou paraplégico, por ter sido baleado numa tentativa de assalto.
Novo comandante do Bope Amanhã, o comando-geral da PM anuncia o nome do novo comandante
do Batalhão de Operações Especiais, que substituirá o coronel Venâncio Moura,
exonerado da função no sábado pela governadora Benedita da Silva (PT). Além do
inquérito aberto na 38.ª DP (Brás de Pina), há uma sindicância interna da PM
para apurar o caso. Essa investigação poderá se transformar em um Inquérito
Policial Militar (IPM).
Até
ontem, segundo a Secretaria da Segurança Pública, nenhum dos policiais do Bope
que participaram da operação em Vigário Geral na noite de sexta foi punido.
Moura não estava no local do tiroteio. Apesar de o comandante-geral da PM,
coronel Francisco Braz, ter afirmado no sábado que autorizara a ação do Bope, a
Secretaria de Segurança Pública informou que, na avaliação do governo, a
incursão do Bope na favela foi inadequada e desnecessária, já que o que a
motivou foi uma suspeita e não uma situação de risco imediato. A assessoria
ressaltou que ainda não há provas de que os tiros que atingiram o
percussionista partiram de policiais. As armas dos PMs e a munição recolhida no
local onde Negueba foi baleado serão periciadas.
Revista ISTOÉ Gente
Edição
nº 159
19/08/2002
Percussionista do Rappa é baleado
Yuka (à esq.) ficou paraplégico durante um assalto
|
Paulo Negueba, percussionista da banda O Rappa,
saía de casa, na favela de Vigário Geral, na noite da sexta-feira 9, quando foi
surpreendido por policiais durante uma ação contra traficantes. Acuado pelo
tiroteio, o músico de 21 anos abriu a porta do carro para identificar-se e
acabou atingido por dois tiros – um no tornozelo e outro nas costas. Negueba
foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, onde foi submetido a uma cirurgia de
urgência no tornozelo. Pouco antes de entrar na sala de operação, recebeu o
telefonema de Marcelo Yuka, baterista e letrista do Rappa, que ficou
paraplégico em novembro de 2000 durante um assalto na Barra da Tijuca. “É preciso tomar tiro para você conseguir
provar que é cidadão”, desabafou Yuka.
Caetano e Paula Lavigne visitaram Negueba no hospital |
CULTURA
30/08/2002 | Edição nº 223
Show beneficente
para Negueba enche o Canecão
BERNARDO ARAUJO,
O GLOBO
No que depender do tratamento, em pouco tempo o
percussionista Paulo Negueba estará de volta aos shows do Rappa. Anteontem, no
Canecão, a banda que ele acompanha, mais o seu grupo de origem, o AfroReggae, e
um padrinho de peso, Caetano Veloso, apresentaram-se para um grande público, em
show beneficente para Negueba.
A noite começou com Caetano sozinho no palco, com
seu violão. O público, que em sua maioria tinha ido ver o Rappa, dividiu-se
basicamente em meninas que acompanhavam o baiano em sucessos como "O
leãozinho", "Nosso estranho amor" e "Menino do Rio" e
rapazes que ignoravam o baiano. Em canções mais populares, como
"Sozinho" e "Como uma onda", de Lulu Santos, ele conseguiu
um bom coro da platéia.
A canção mais mal recebida foi "Noites do
Norte", que praticamente ninguém conhecia.
O som das conversas chegou a abafar a voz de
Caetano, que depois explicou que se tratava de um texto do abolicionista
Joaquim Nabuco — que ganhou aplausos ao ter o nome citado — e que a havia
incluído para lembrar a herança da escravidão, culpada em parte pela violência
que atingiu Negueba. Ele também lembrou que conhece o músico há anos e
apresentou a atração seguinte, o AfroReggae.
Espertamente, o grupo de Vigário Geral tocou apenas
duas músicas, ambas acompanhadas por dançarinos e acrobatas. Saíram aplaudidos
e deixaram o público esperando a atração principal.
Sem muitos discursos ou lamentos, o Rappa começou o
show — após um simple de "Canta, canta, minha gente", de
Martinho da Vila — com suas músicas mais fortes, como "Lado B lado
A", "Tumulto" e "Ninguém regula a América", que o
grupo compôs e gravou em parceria com o Sepultura.
— Salve, salve, Negueba — disse o cantor Falcão. —
Você é um dos caras mais amados que a gente conhece.
Além da substituição do baterista Marcelo Yuka —
baleado em 2000 e hoje paraplégico — pelo tecladista Lobato, que já acontece há
mais de um ano, a percussão ficou por conta de outros dois integrantes do
AfroReggae, Cléber e Altair, que deram conta do recado com competência. Depois
das músicas mais pesadas, o Rappa pôs o público para cantar com sucessos como
"A minha alma (a paz que eu não quero)", "Me deixa" e suas
versões para "Hey Joe", sucesso de Jimi Hendrix, e "Vapor
barato" (Waly Salomão e Macalé). No fim, Falcão manifestou apoio a Kátia
Lund, co-diretora de "Cidade de Deus" e responsável por um dos clipes
do grupo, "A minha alma".
Sexta-Feira,
30 de Agosto de 2002
Além de CD, Caetano
Veloso faz turnê e lança livro no exterior
Por
Luiz André Ferreira, especial para Reuters
RIO
DE JANEIRO (Reuters) - O cantor e compositor Caetano Veloso mal encerrou as
comemorações de seu aniversário de 60 anos e já tem novos motivos para
celebrar.
Após
o show de quarta-feira no Rio de Janeiro com o grupo O Rappa, em solidariedade
ao percussionista Paulo Negueba -- ferido com tiros num choque entre policiais
e traficantes de uma favela carioca --, Caetano anunciou que pretende viajar
para continuar divulgando "Noites do Norte", além de músicas de seu
mais recente álbum e um livro.
O
músico baiano lançou este mês o disco "Eu Não Peço Desculpas" em
parceria com o produtor Jorge Mautner e deverá sair em turnê pela América do
Norte em outubro. Durante a excursão, Caetano lançará no exterior o livro
"Verdades Tropicais".
"Vou
ficar um mês e meio por lá", declarou o músico baiano a repórteres após a
apresentação com O Rappa no Canecão. Ele ainda lamentou não ter espaço na
agenda para promover o trabalho com Mautner pelo Brasil.
"Quero
muito (fazer shows por aqui). Mas acho que só conseguirei concretizar essa
vontade numa possível curta temporada no final do ano, depois da turnê pelos
Estados Unidos", comentou.
"Não
é tão fácil assim conceber um show, principalmente quando é fruto de um
trabalho tão prazeroso como esse com Mautner. Temos que ensaiar e estudar o
formato".
A
idéia do novo CD surgiu em uma conversa com Mautner, amigo de Caetano há 30
anos, quando este ficou retido nos Estados Unidos após os ataques de 11 de
setembro. O cantor tinha viajado ao país para participar do Grammy Latino, que
foi cancelado por causa dos atentados.
"Eu
Não Peço Desculpas" mistura rock, balada, música brega e country, como a
faixa de abertura, "Todo Errado". "Regravamos o 'Maracatu
Atômico' e o 'Lágrimas Negras', enquanto Mautner deu uma concepção totalmente
inusitada a 'Cajuína', conseguindo transportá-la do Piauí, seu cenário
original, para um clima russo", contou Caetano Veloso.
A
canção "Tarado", segundo ele, foi musicada sobre um poema de Mautner
e "Feitiço" foi a reprodução de uma conversa entre ele, Noel Rosa e
Gilberto Gil sobre a canção "Aquele Abraço".
No hay comentarios:
Publicar un comentario