Letra:
Chico Buarque
Quando te der
saudade de mim
Quando tua
garganta apertar
Basta dar um
suspiro
Que eu vou
ligeiro
Te consolar
Se o teu vigia se alvoroçar
Se o teu vigia se alvoroçar
E estrada
afora te conduzir
Basta soprar
meu nome
Com teu
perfume
Pra me atrair
Se as tuas noites não têm mais fim
Se as tuas noites não têm mais fim
Se um
desalmado te faz chorar
Deixa cair um
lenço
Que eu te
alcanço
Em qualquer
lugar
Quando teu coração suplicar
Quando teu coração suplicar
Ou quando teu
capricho exigir
Largo mulher
e filhos
E de joelhos
Vou te seguir
Na nossa casa
Na nossa casa
Serás rainha
Serás cruel, talvez
Vais fazer
manha
Me aperrear
E eu, sempre
mais feliz
Silentemente
Silentemente
Vou te deitar
Na cama que
arrumei
Pisando em
plumas
Toda manhã
Eu te
despertarei
Quando te der saudade de mim
Quando te der saudade de mim
Quando tua
garganta apertar
Basta dar um
suspiro
Que eu vou
ligeiro
Te consolar
Se o teu vigia se alvoroçar
Se o teu vigia se alvoroçar
E estrada
afora te conduzir
Basta soprar
meu nome
Com teu
perfume
Pra me atrair
Entre suspiros
Entre suspiros
Pode outro
nome
Dos lábios te
escapar
Terei ciúme
Até de mim
No espelho a
te abraçar
Mas teu amante
Mas teu amante
Sempre serei
Mais do que
hoje sou
Ou estas
rimas
Não escrevi
Nem ninguém
nunca amou
Se as tuas noites não têm mais fim
Se as tuas noites não têm mais fim
Se um
desalmado te faz chorar
Deixa cair um
lenço
Que eu te
alcanço
Em qualquer
lugar
E quando o nosso tempo passar
E quando o nosso tempo passar
Quando eu não
estiver mais aqui
Lembra-te,
minha nega
Desta cantiga
Que fiz pra
ti
Caetano Veloso sobre "Tua Cantiga", nova canção de Chico Buarque
"Foi frutífero
que eu tivesse tido de retardar a audição da nova canção de Chico. Talvez eu a
tivesse achado bonita, delicada e antiga e a deixasse de lado. Perguntaram-me
algumas vezes nesses dias: já ouviu? "Ainda não" era a resposta com
que continha minha calma curiosidade. Ao ouvi-la (ao lado de Tom e de Cezar
Mendes, que tinha ficado impressionado com a música ali ouvida) fiquei tomado.
Cezar tinha elogiado o tratamento harmônico, o
piano e o baixo, repetindo o nome de Cristóvão. Sou tão fascinado pelo lado
músico de Chico (cujo violão vem das vozes cantadas em casa com Miúcha,
portanto não é esquemático, como nossos violões perigam ser, o que Guinga
percebeu como ninguém, deixando-se influenciar e influenciando o mestre de
volta) que pensei que aquelas inversões, que fazem um tema em tom menor padrão
virar invenção extraordinária, fossem do próprio Chico. Mas, sobre essas
harmonias, eram as rimas que me sideravam. O cantor refere-se a elas, como se
cresse que só ele sabe quantas há na canção. Mas as rimas que mexem fundo com a
gente são as inaparentes, as que se dão nas consoantes das palavras finais dos
penúltimos versos das estrofes: suspiro/ligeiro; nome/perfume; lenço/alcanço;
filhos/ joelhos; nega/ cantiga. "Minha nega" e "cantiga"
são chave de ouro. O ritmo de lento afoxé sob essas formas verbais aprofunda a
sensação de velha brasilidade que só se supunha morta porque fazia tempo que
Chico não vinha com uma música."
-
Caetano Veloso
ESTADÃO
Chico Buarque divulga ‘Tua Cantiga’, primeiro single de seu novo disco,
‘Caravanas’
Adriana
Del Re
28
Julho 2017
No estúdio: Chico com Cristóvão ao piano, Jorge Helder no baixo e Jurim Moreira na bateria. - Foto: Rodrigo Assad
|
Há
tempos, Chico Buarque tem se alternado entre a produção literária e a música.
Depois do libro O Irmão Alemão,
de 2014, chegou a vez de o cantor e compositor lançar seu novo disco de
inéditas, Caravanas,
o 23 da carreira, que chega às lojas no fim de agosto, pela Biscoito Fino. Mas
o primeiro single do álbum, Tua Cantiga, entrou na madrugada de quinta-feira, 27,
para sexta, 28, nas plataformas digitais, e está aí para todo mundo ouvir e ver
(o clipe oficial).
Foi
só uma prévia do que se pode esperar do novo trabalho – o mais recente até
então era Chico,
de 2011. E Tua Cantiga
traduz muito o universo ‘buarquiano’, por isso, talvez há quem torça o nariz e
diga que a música não traz nada de surpreendente. E quem disse que Chico quer
as grandes transformações? Como letrista, com notória habilidade de tratar das
coisas do amor, Chico parece falar, na nova canção, do casal que vive preso às
próprias vidas – e possivelmente a outros parceiros –, mas cujo amor é tamanho
que basta ela querer que ele larga tudo para ficar com ela. “Quando teu coração
suplicar/ Ou quando o teu capricho exigir/ Largo mulher e filhos e de
joelhos/
Vou te seguir”, diz um trecho.
Chico
assina a composição com o pianista Cristóvão Bastos, responsável pela melodia.
Cristóvão, parceiro de Chico pela segunda vez numa música, prepara a cama
musical para Chico deitar sua letra de amor.
A primeira parceria dos dois tinha ocorrido há exatos 30 anos, em
1987, com a célebre Todo o
Sentimento. Em entrevista ao Estado, Cristóvão afirma que Todo o Sentimento e Tua Cantiga chegaram a Chico pelo
mesmo caminho: sua irmã, a cantora Miúcha. Nas duas vezes, Cristóvão mostrou a
canção para ela, que ficou empolgada com as melodias e logo pensava em levar
para o irmão. “Miúcha teve uma intuição maravilhosa. Ela brinca: (a melodia) está precisando de um
detetive de palavras. E não tem detetive melhor do que ele (Chico).”
Logo na abertura da nova canção, pode passar quase imperceptível,
mas há uma inspiração em Bach. A referência foi inconsciente, conta Cristóvão –
e vem de Polonaise em Sol Menor,
Bach. “Percebi que os dois primeiros compassos (das duas músicas) são semelhantes na melodia.” Nessa
introdução, você olha para a capa que acompanha esse primeiro single nas
plataformas digitais e percebe ter ali a trilha sonora perfeita para aquela
típica paisagem carioca.
As pessoas – e as relações – vêm e vão. Mas a canção fica eternizada,
como tras Tua Cantiga ao
final: “E quando nosso tempo passar, quando eu não estiver mais aqui/
Lembra-te, minha nega, desta cantiga que fiz pra ti”.
Tua Cantiga é um belo começo para o aguardado novo
disco de Chico.
No hay comentarios:
Publicar un comentario