jueves, 24 de agosto de 2017

2006 - ELEIÇÕES

03/10/2006

De Jorge Bastos Moreno / O Globo

Duelo eleitoral PT x PSDB


Caetano Veloso avalia resultado da eleição


Caetano: "É mais fácil Alckmin passar Lula do que Denise a Sérgio".
Compositor acha que Lula é inocente no caso de dossiê.
Elogia Tarso Genro e diz que FH "é tirado a chique".
Afirma que pensa em votar em Lula e Frossard, mas admite também votar em Alckmin e Sérgio Cabral.



O BLOG DO MORENO ENTREVISTA O CANTOR E COMPOSITOR CAETANO VELOSO

P - O país está dividido entre Alckmin e Lula. Quem tem mais chance de ganhar?
R - Todo o mundo está ainda sentindo a virada que foi essa eleição ir para o segundo turno. Acompanhei pela TV o suspense. Achei que, depois de ter certeza de que haveria segundo turno, Alckmim parecia outro homem. Toda a energia e inspiração que parecia lhe faltar durante a campanha apareceu de repente naquele momento em que ele, pedindo para abaixarem os microfones que o estavam afogando, deu o tom ideal do embate. Lula também melhorou. Demorou, mas ele afinal deu uma entrevista coletiva digna desse nome. Ao vivo, pela TV. Se a nova situação deixou Alckmim quase eufórico, deixou Lula quase deprimido. Ambos ganharam com isso. Lula deixou de dizer aquelas bobagens megalômanas que vinha repetindo ultimamente. Alckmim deixou de ser um fantasma de candidato. Podem dizer que as promessas de tocar a campanha do segundo turno em tom civilizado de confronto de programas de governo são um lugar-comum demagógico. Mas eu acho que ambos estavam sendo sinceros quando prometeram isso. É do que mais precisamos. Não entendo de chances de vitória. Eu próprio posso votar num ou noutro, a depender do andamento das campanhas. Até há poucos dias, Lula era favorito. Alckmim cresceu. Pode ser que a tendência seja esse crescimento continuar. Mas até quando? Até onde? E o que é que eu prefiro, o que é melhor objetivamente? Lula continuar, acalmar mais os delírios salvacionistas da esquerda - tendo uma oposição do PSDB e do PFL em tom sóbrio e até colaborativo (mais ou menos como foram no primeiro mandato de Lula, ao contrário do PT durante o governo FH) - talvez seja o cenário ideal. Por outro lado, seria bom se Alckmim, presidente, se parecesse com ele ontem à noite na TV- e nada com ele na foto que fica na esquina do Jardim de Alah, com cara de carola de sorriso enjoado.

P - O que deve ter sido decisivo para a disputa ir pro segundo turno: a ausência de Lula nos debates ou a tentativa do PT de comprar o dossiê?
R - A história do dossiê pesou muito porque trouxe de volta o clima dos outros escândalos. A combinação disso, com a não ida de Lula ao debate, foi fatal para a vitória em primeiro turno.

P - O que deve ter acontecido com o PT: troca o comando, mas a prática continua a mesma?
R - Não sei. Não entendo esse pessoal. Vi Lula ontem dizendo que quer estar vivo para ver desvendada a engenharia que levou seus companheiros a darem esse "tiro no pé". Ele parecia sugerir que houve uma trama muito bem urdida por inimigos do PT, uma armadilha na qual os companheiros "aloprados" caíram. Pode ser. Mas, ainda que se prove que opositores de Lula tenham seduzido os petistas, o fato é que a compra do dossiê estava encaminhada, o dinheiro era grande e, como no caso do mensalão ou do Francenildo, alguns passos cruciais foram dados por petistas importantes,dirigentes do partido, pessoas com ligações diretas com o presidente. Uma amiga me disse que o PT parece um arrastão: não dá pra saber se o garoto que pegou sua sandália recebia ordens do chefe. Piadas à parte, não creio, por exemplo, que um homem como Tarso Genro tenha qualquer identificação com essas práticas. O PT não é isso. Mas parece que não só tem muito disso como é um ambiente propício para a germinação desses fungos. Lula era, antes de ser Presidente da República, apenas o Presidente de Honra do PT. De certa forma, esse título diz muito, se o pensarmos à luz desses atos. Acho que ele aprendeu a fazer política. Só a fazer política. Então, ele é um chefe sob quem esse tipo de coisa pode acontecer. À pergunta "Lula sabia?" podemos, para responder, usar esse episódio do dossiê como exemplo. É claro que ele não sabia desse projeto de compra: ele teria impedido. Mesmo assim, isso se deu. Quer dizer: ele é um chefe simbólico sob quem coisas assim acontecem. O importante é que ele, cada vez mais, tome consciência de que deve ser duro com os companheiros quanto a atos desonrosos. Acho que a campanha para o segundo turno pode ir bem se Alckmim resumir as referências ao caso do dossiê à exigência de compromisso, por parte de Lula, de não admitir essa baderna. Claro que as investigações policiais seguem - entrando pelo próximo mandato, seja de quem for - e podem trazer situações explosivas. Mas isso não deve ser puxado pelas campanhas. As campanhas devem ser humildes perante as investigações. Sinceramente, acho que tanto Lula quanto Alckmim podem segurar as coisas nesse tom.

Caetano: Houve crescimento da economia no governo Lula

P - A que se deve tanta popularidade do Lula, ao assistencialismo do bolsa-família ou à certeza do povo de que ele nada tem a ver com isso?
R - Não é só o assistencialismo do bolsa-família. Há muitos indicadores de melhoras ocorridas nesse período do governo Lula. Eu acho que Fernando Henrique nunca chamou Delfim Neto ou qualquer outro economista ligado à ditadura porque Fernando Henrique é tirado a chique. Palocci ouviu Delfim e Lula foi encorajado por Delfim - o que resultou em crescimento das exportações, melhora da balança comercial. Não entendo de economia, mas até aí eu chego. Outros aspectos da economia cotidiana dos brasileiros também melhoraram. Muitos deles são efeito de gestos iniciados no governo anterior, outros se devem a ventos favoráveis na economia mundial. Seja como for, acho que esse governo não é simplesmente para se jogar fora. Não me sinto tão sem sintonia com o povo que votou em Lula (eu votei em Alckimin). O pobre percebe as melhoras, reconhece a origem pobre de Lula, conhece muito mais ele do que os outros candidatos: é natural que vote nele. Não sei se o povo tem certeza de que Lula não tem nada a ver com os desmandos. Mas é um clássico popular dizer que todo político é desonesto. O povo não ia ser mais duro com Lula do que com os outros. Seria preciso pressupor uma má vontade especial para com Lula, quando sabemos que é exatamente o contrário que acontece.

P - Lula critica tanto a elite. A elite realmente é contra ele?
R - Eu estava falando em Delfim Neto e, veja só, Delfim defendeu agressivamente Lula contra mim (contra quem, como eu, se dizia indignado com os escândalos). É bem verdade que ele disse que eu, que me dizia democrata radical, era antidemocrático porque me opunha à opção que, segundo as pesquisas, o povo tinha feito por Lula. É uma visão algo gozada da democracia essa que exige do cidadão que engula suas convicções se elas não estiverem de acordo com as escolhas da maioria. Mesmo que essas escolhas sejam apenas indicadas por pesquisas pré-eleitorais. Para quem conduziu um "milagre" econômico num governo que não respeitava a liberdade de expressão, faz sentido. Para mim, não. Fui preso para que o governo em que atuava Delfim realizasse o seu milagre. Vê-lo agora defender Lula contra mim, em nome do povo e da democracia, é mais do que irônico: é revelador do quanto essas alegações de "a elite contra Lula" são duvidosas. Claro que há semelhança com Lacerda-versus-Getúlio. Mas a semelhança é superficial: Lula não é Getúlio, não tem nem o lado estadista nem o lado tirano populista. E a própria chegada dele ao poder já é típica de tempos bem diferentes daqueles. Assim, apesar da divisão dos votos por diferença de classe e por região, Lula é um fenômeno das conquistas de modernização da vida política brasileira, diante da qual esse modelo Lacerda/Getúlio mostra-se obsoleto. As elites intelectuais apóiam Lula. Isso se reflete na imprensa. A sintonia do governo Lula com os interesses dos banqueiros tem sido irrepreensível. A média dos menos pobres e mais escolarizados tendeu a votar agora contra Lula. É só. O que não quer dizer que não haja uma elite que seja intransigente com os delitos ostensivos. Uma elite formada, digamos, por Gabeira, por mim e por uma empregada doméstica evangélica que eu conheço e que, no entanto, admitiu apagar da memória os vídeos comprometedores exibidos pela Globo em que o Bispo líder de sua igreja ostentava má fé.

P - O próprio Lula citou isso como exemplo da degradação do Congresso e a mídia insiste em colocar a eleição do estilista Clodovil Hernandez como exemplo de que o povo não sabe votar. Isso é preconceito ou realmente um exemplo de que o povo não sabe votar?
R - O povo vota como sabe. Votar em pessoas conhecidas - e não votar em desconhecidos - é um dos critérios básicos desse saber. Eu não sabia do caso do Clodovil. Mas me pergunto se as motivações dele para buscar eleger-se não serão boas. Ele era um cara muito boa-gente quando o conheci há anos. Depois acho que vi algum jeito malvado dele na TV, não lembro. Mas não
espero que ele tenha razões ruins para desejar ser parlamentar. Parece que muitos eleitores também não.

P - Delfim era tido como uma referência importante no Congresso. Ele não se elegeu. Será que ele tinha tanta importância assim?
R - Ele foi um importante consultor do governo Lula.

P - Frossard ou Sérgio Cabral?
R - Por enquanto penso que vou votar em Lula e em Denise Frossard (para confirmar o que disse de mim um crítico, julgando que fosse depreciativo: que sou "de centro"). Mas é apenas o primeiro dia depois do primeiro turno. E eu pretendo realmente deixar para decidir depois de acompanhar as campanhas. Pode ser que termine votando outra vez em Alckmin. E que alguma coisa - além da amizade com o pai dele - me leve a querer votar em Cabral. Agora, se é prognóstico que você quer, não tenho (assim como Lula) bola de cristal. Mas acho mais provável Alckmin ultrapassar Lula do que Denise ultrapassar Sérgio. Se bem que o Rio é useiro e vezeiro em surpreender. Mas surpresa mesmo foi na Bahia!


20/11/2006

Caetano, no segundo turno, repetiu voto em Alckmin


por Cristiana Lôbo

Caetano Veloso revelou publicamente seu voto em Geraldo Alckmin, no primeiro turno. Fez isso, primeiramente, em entrevista ao blog do Moreno no “globo online” e repetiu na estréia do show “Cê”, em Brasília, no fim de semana que passou. Mais tarde, ele revelaria a alguns jornalistas que, no segundo turno, repetira o voto em Alckmin.
– O Lula já estava lá na frente e o Alckmin com menos votos do que recebeu no primeiro … começou dizendo.
Caetano fez uma avaliação política que, na ocasião, os coordenadores da campanha presidencial tucana não fizeram.
– Ele vinha bem. Mas sua primeira aparição depois do primeiro turno foi ao lado de Garotinho, sorridente, da mulher dele a da filha com uma camiseta “Fora Lula”. Aí, não dá… Outros erros aconteceram e ele foi perdendo – disse Caetano.
Mas o voto em Alckmin não foi apenas para dar um recado a Lula. Na conversa, Caetano revelou alguma simpatia por Geraldo Alckmin. Mais especialmente, ao conhecimento que ele demonstrou sobre cinema e o cinema nacional. Há dois anos, Caetano conheceu Alckmin em São João Del Rey, na casa da família de Aécio Neves. E ali conversaram sobre cinema, sobre características de escritores brasileiros. Isso, ao que parece, encantou Caetano Veloso, a ponto de ele dar o voto ao tucano.
Caetano não esconde que gosta de polemizar e diz estar acostumado a ouvir vaias. No show em Brasília, ele imaginou que pudesse ser vaiado por eleitores de Lula ao revelar que no primeiro turno seu voto foi em Alckmin. A platéia, no entanto, não se manifestou. Mais tarde, ele considerou a reação como sinal de civilidade, de amadurecimento político. Ele gostou da reação do público.

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