O GLOBO
quarta-feira, 26 de novembro de
2008
Coluna Ancelmo Gois
Professor
Caetano
Caetano
Veloso viajou ontem para Ribeirão Preto para falar das relações entre Bossa
Nova, o Tropicalismo e o modernismo brasileiro para alunos do ensino médio do
Colégio COC. A aula-show será transmitida ao vivo para alunos da rede de
escolas em todo país.
Logo
depois, Caetano embarca de volta para o Rio onde finaliza seu novo álbum, que
deve chegar às lojas no começo do ano que vem.
Foto:
Célio
Messias/AE
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Jornal
A CIDADE
Caderno C
Quarta-Feira, 26 de Novembro 2008
"Professor" Caetano
Régis Martins
DESPOJADO Durante duas horas, Caetano Veloso fez palestra virtual para
mais de 40 mil pessoas - Foto:
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Antes de se tornar o sumo-sacerdote do tropicalismo, Caetano Veloso, lá
pelos idos de 1950, pensou seriamente em ser professor. Pelo menos foi o que
ele disse durante a palestra que ministrou de um estúdio das Faculdades COC
utilizado para aulas de ensino a distância. Mais de 40 mil alunos de 280
telesalas espalhadas em unidades do colégio pelo país assistiram ao baiano
falar sobre o tema “Da Bossa Nova ao Tropicalismo".
Na verdade, o cantor, compositor, escritor e cineasta nas horas vagas
(realizou "Cinema Falado" nos anos 80)
aproveitou a abrangência do assunto para falar sobre tudo o que bem quisesse.
Do fim da escravidão no país até a guerra-fria. Caetano abusou em digressões e
devaneios que lhe são peculiares. Mas também demonstrou seu incrível carisma junto
aos jovens.
O público formado por diretores, professores, alunos e jornalistas
convidados a assistir a palestra do estúdio talvez nunca tenha visto aquele
ícone da MPB de uma forma tão despojada e acessível. Caetano "abriu os trabalhos" por volta das 15h30. "Até a bossa nova, a música brasileira foi uma coletânea de
amores fracassados", disse, ao falar sobre o impacto de João Gilberto e seu Chega de Saudade para a música há meio
século. Para Caetano, aquele compacto de 45 rpm e que continha "Chega de Saudade" de um lado e “Bim Bom" do outro,
mudou sua vida, e de muita gente, para sempre. "Foi uma bomba que se espalhou
por toda a cultura nacional", afirmou.
Sentado num banquinho com o microfone à frente, de camisa pólo, óculos e
cabelos branquíssimos, o sujeito abusou na erudição. Mas Caê não segue qualquer
metodologia pedagógica. Apesar de ter um roteiro dos itens que iria falar numa
mesinha ao seu lado, sua cabeça barroca conseguiu unir numa mesma frase, a
bossa, o governo JK e o presidente da República. "Até o Lula é fruto daqueles
anos. Se o JK não tivesse criado o parque industrial no ABC, em São Paulo, não
teríamos um torneiro mecânico como presidente do Brasil", argumentou, para
diversão dos presentes.
Por voltas das 16h50, Caê finalmente chegou ao Tropicalismo, movimento
criado por ele e pelo parceiro Gil no final dos anos 60. Talvez pelo tempo que
começava a se esgotar, o palestrante mostrou-se muito mais sucinto quando falou
sobre a Tropicália.
"Sinceramente, gosto mais de falar sobre a Bossa Nova do que do
Tropicalismo", comentou, antes de contar as causas e conseqüências do movimento
que uniu guitarras elétricas a ritmos brasileiros. "Muita gente da chamada MPB
virou a cara, me destratou e até chorou porque eu e Gil resolvemos misturar
rock com música brasileira. Mas o importante é que pelo menos um cara nos
apoiou: João Gilberto", concluiu.
Ao final, às 17h30, Caetano brindou a todos com uma versão brejeira de Chega de Saudade.
Baiano X Baiano
Caetano minimiza críticas de Tom Zé.
Caetano minimiza críticas de Tom Zé.
Durante uma entrevista coletiva no final da palestra, Caetano ainda teve
tempo de falar de uma recente polêmica promovida por outro baiano tropicalista:
Tom Zé. No último final de semana, Tom xingou Caetano num show em São Paulo e
criticou o conterrâneo em seu blog. Tudo isso porque, acreditem, Caetano
elogiou o CD novo de Tom. "Isto foi uma besteira dele. Não sei porque fez isso.
O que eu posso fazer? Eu adoro o Tom Zé e ele não pode me impedir de elogiar o
disco dele. Sou um cara desobediente".
E para frustração dos fãs, Caetano acabou não se encontrando com o amigo
Gil, que também estava na cidade para um show no Pedro II. Depois da palestra
voou para o Rio de Janeiro, onde grava seu novo disco "Zii e Zie". "Tios e Tias" em
italiano.
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