lunes, 10 de julio de 2017

2017 - O NOME DELA É GAL







Entre as novas produções anunciadas pela HBO, está o documentário no formato de série, O Nome Dela é Gal que está programado para ser exibido com exclusividade nos canais da HBO/MAX. O Nome Dela é Gal é uma biografia em quatro episódios da cantora baiana Gal Costa, que João Gilberto definiu como “a maior cantora do Brasil”. A série conta a sua vida e carreira, desde o seu humilde início cantando nas ruas de Salvador, onde ficou amiga de muitos artistas que se se tornariam outros grandes nomes da música brasileira nas décadas seguintes, à trajetória nas praias do Rio de Janeiro e nas ruas de São Paulo, até a sua transformação em um ícone da música e da cultura. A produção conta com depoimentos de vários amigos de Gal Costa, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Nelson Motta e Tom Zé.

O Nome Dela é Gal
Uma coprodução com Popcon exclusiva para a HBO
Produtores: Roberto Rios, Maria Angela de Jesus, Paula Belchior e Patricia Carvalho, da HBO Latin America; Tatiana Quintela, da Popcon
Direção: Dandara Ferreira

Por Ton Shübber


11/06/2017 – 1° episódio De Maria da Graça a Gal
18/06/2017 – 2° episódio Dos Festivais às Dunas da Gal
25/06/2017 – 3° episódio Da Contracultura ao Pop
02/07/2017 – 4° episódio Do Futuro ao Presente




A carreira, obra, personalidade e música de Gal Costa são temas da série documental O Nome Dela é Gal, que estreia em 11 de junho com exclusividade no canal HBO. Ícone do Tropicalismo, a artista tem sua vida retratada em quatro episódios, compostos por entrevistas, imagens de época e depoimentos de músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Tom Zé. Com duração de uma hora cada episódio, a série produzida pela Popcon vai ao ar às 22h dos domingos.

A trajetória de Gal, definida por João Gilberto como “a maior cantora do Brasil”, é detalhada desde o humilde início cantando nas ruas de Salvador, onde ficou amiga de muitos artistas que seriam grandes nomes da música brasileira nas décadas seguintes, até a sua transformação em um ícone da música e da cultura.

O primeiro episódio, “De Maria da Graça a Gal”, conta como a menina Maria da Graça conhece em Salvador as amigas Dedé e Sandra e os parceiros musicais Caetano e Gil. Junto com Maria Bethânia, formou-se a turma que definiu a trajetória artística daquela que passou a se chamar Gal. Com Caetano, a garota dividia a admiração irrestrita por João Gilberto.

No segundo episódio, “Dos Festivais às Dunas da Gal”, antes de entrar no palco para defender “Divino Maravilhoso” no Festival da Record de 1968, Gal pediu que Gil fizesse um arranjo diferente da música. Foi assim que a adolescente que cantava Bossa Nova saiu do palco como a mulher tropicalista. Caetano, Gil, Dedé e Sandra partiram para o exílio. Gal permaneceu no Brasil e ampliou suas parcerias: Wally Salomão, Jards Macalé e Luiz Melodia. Em plena ditadura militar, o espaço mais conhecido da contracultura no Rio de Janeiro, um pedaço da praia de Ipanema, ficou conhecido como Dunas da Gal.

“Da Contracultura ao Pop”, o terceiro episódio, revela o sonho que Maria Bethânia teve em 1976, em que a turma de Salvador se reunia novamente para criar os “Doces Bárbaros”. Foi um momento único de retomada coletiva do espírito da contracultura. Passado esse momento, Gal seguiu o caminho da estética pop, que lhe permitiu alcançar um público de dimensão antes impensável. A artista decidiu dar um tempo para fazer uma coisa nova.

O último episódio da série, “Do Futuro ao Presente”, apresenta a relação da Gal com seu filho e o momento atual da carreira da cantora, em meio aos bastidores do show “Estratosférica”, de 2015, em que Gal comemora 50 anos de carreira.

O Nome Dela é Gal é produzida por Roberto Rios, Maria Angela de Jesus, Paula Belchior e Patricia Carvalho, da HBO Latin America Originals, e Tatiana Quintela, da Popcon, com recursos da Condecine – Artigo 39. A série tem direção de Dandara Ferreira e será distribuída com exclusividade pela HBOLatin America.



Magazine WOO

29 de maio de 2017
  

“O NOME DELA É GAL” ESTREIA EM JUNHO NA HBO


DIVIDIDA EM QUATRO EPISÓDIOS, A BIOGRAFIA DA CANTORA GAL COSTA SERÁ EXIBIDA NOS DOMINGOS COM EXCLUSIVIDADE











Gal Costa é um ícone da música brasileira, mas ela percorreu uma longa jornada até alcançar prestígio mundial. Sua carreira, que começou nas ruas de Salvador, cruzou com a de vários outros grandes nomes da música nacional. Agora, artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Nelson Motta e Tom Zé se reúnem para contar a história de Gal Costa. [Adoro Cinema]









Em série, Bethânia grava depoimento emocionado sobre Gal Costa

9/6/2017
Coluna Ancelmo Gois



TV
Gal Costa se emociona ao ouvir depoimento de Bethânia em documentário
"O Nome Dela é Gal" vai ao ar em quatro episódios e será exibido pelo canal HBO

Da Redação (redacao@correio24horas.com.br)
11/06/2017 01:00:00

A cantora Gal Costa se emocionou com o depoimento gravado por Maria Bethânia para o documentário "O Nome Dela é Gal", que será exibido em quatro episódios pelo canal HBO sempre aos domingos. “Não conheço outra [voz] com aquele timbre, nem com aquela pureza sonora. Acho a voz dela uma coisa rara”, disse Bethânia.

Foto: Divulgação
Segundo reportagem do portal UOL, a entrevista está no primeiro capítulo do documentário, que vai ao ar amanhã. Duas das maiores cantoras do país, Gal e Bethânia começaram as carreiras nos anos 1960, em Salvador e por diversas vezes dividiram o palco. No entanto, nos últimos anos elas andavam meio distantes.

Ainda de acordo com o UOL, Bethânia sorri ao relembrar histórias vividas na juventude e falou sobre o último contato que teve com Gal, na época da morte de sua mãe Dona Canô. "Sinto falta". “Também senti saudades ao ver o entusiasmo dela falando do tempo em que começamos nossas carreiras", comentou Gal ao UOL.


O Estado de S.Paulo


Vida de Gal Costa é tema de documentário da HBO

Série 'O Nome Dela é Gal', dirigida por Dandara Ferreira em quatro capítulos, estreia neste domingo com histórias e imagens raras de uma das maiores vozes do País

Julio Maria, 11 Junho 2017

Gal não era bom. Curto demais, lembrava abreviação de palavra que não devia ser dita, general. Ainda pior, o general em comando era Costa e Silva. Caetano ouvia aquilo e decretava a tragédia: imagine Gal Costa, cantora com nome de ditador. Maria da Graça também não. Havia dez mil no mundo e metade delas era de cantora de fado. Gal, Gau, Maria da Graça, Gracinha. A voz de cristal precisava de um nome. “Gal: Guilherme Araújo Limitada”, brincou o empresário Guilherme. A brincadeira desempatou o jogo. O nome dela era Gal.

Gal Costa em estúdio para a gravação do documentário Foto: IVAN ABUJAMRA

Gal Costa é o tema de uma formato batizado de série documental chamado O Nome Dela É Gal, dirigido por Dandara Ferreira, produzido pela Popcorn e pelo canal HBO em quatro partes. A primeira, De Maria da Graça a Gal, será neste domingo, dia 11, às 22h. Uma exibição feita a jornalistas na quinta, 8, mostrou este primeiro episódio. Os outros serão Dos Festivais às Dunas de Gal; Da Contracultura ao Pop; e Do Futuro ao Presente, todos aos domingos, às 22h.
O universo de Gracinha é reerguido por quem testemunha seu nascimento artístico. Caetano Veloso, mentor conceitual no início da vida e da série, com a idealização do disco Domingo, de 1967, e no fim do projeto, com a direção de Recanto, de 2011, é reconhecido por ela como uma de suas partes orgânicas. “Eu e Caetano éramos um só. Eu me sentia a voz dele.”
Uma voz, para os jornalistas, quase sempre calada. A frase que abre o primeiro capítulo mexe com o seu silêncio. Gal diz que hoje em dia está muito melhor, que fala o que lhe vem à cabeça. Os jornalistas sabem que não é bem assim, mas o pensamento mais rebuscado de Gal é algo que se revela no especial. “Uma das coisas que me surpreenderam foi o fato de Gal se colocar dessa forma. Acho que é uma personagem subversiva, mas naquela simplicidade”, diz a diretora Dandara. É de surpreender a qualidade de um texto que Gal recita como voz de fundo, um pensamento poético com o qual não costuma se expressar. O texto, no entanto, é melhor do que a própria interpretação da leitura, que sai automatizada.
A menina Gal tem a marca das estrelas. Aos 7 anos já era diagnosticada com ouvido absoluto. Ainda jovem, sentiu uma premonição gelar a alma quando viu um cantor conhecido no bairro passar por sua rua e ser perseguido por fãs que disputavam um autógrafo. Gal primeiro pensou: “Que bobagem essas meninas querendo uma assinatura em um pedaço de papel”. Achava a cena ridícula quando ela mesma foi transportada a outra dimensão por um pensamento que invertia as condições. Em sua experiência sensorial, era Gal quem dava autógrafos a outras pessoas. “Guardei aquilo pra mim. E até hoje tenho sensações que não conto para ninguém.”
“A maior cantora do Brasil” é uma frase que se repete em alguns depoimentos, comprovando como o mundo da MPB se dividiu, em algum momento, entre fãs de Gal Costa e de Elis Regina. Maria Bethânia diz: “Ela tem o cristal na voz.. Não conheço outro timbre daquele, a voz dela é rara.” A própria Gal lembra de seu encontro com João Gilberto, cantando uma música após a outra, mesmo nervosa, até ouvir do ídolo: “Gracinha, você é a maior cantora do Brasil.” Nelson Motta reedita uma frase sua, usada muitas vezes para definir Elis, agora com Gal: “É minha cantora do coração... A acompanho desde sempre e ela está cantando cada vez melhor.”
Gal pediu à diretora Dandara apenas que não explorasse sua intimidade. “Era para ficarmos só no artístico”. Apenas Jards Macalé e Jorge Mautner não puderam participar dos depoimentos por problemas de agenda. Não se sabe se os apelos de Dandara, intermediados pela jornalista Claudia Faissol, chegaram a João Gilberto. E um artista, Chico Buarque, não deu retorno aos pedidos de gravação.
Ainda no tempo das descobertas de Salvador, Gal trabalhava em uma loja de discos. Quando saiu seu primeiro compacto em 1965, com Eu Vim da Bahia, de Gil, de um lado, e Sim, Foi Você, de Caetano, do outro, ela percebeu que estavam vendendo como água no próprio estabelecimento em que ganhava o sustento. Descobriu então que o próprio patrão havia comprado 120 cópias do disco. “Não é fofo?” A amiga Sandra Gadelha lembra que Gal caminhava cantando com uma panela de feijoada ao lado do rosto. “Era para trabalhar a emissão da voz com o diafragma. Eu ficava estudando técnicas que aprendia com o que ouvia de João Gilberto. Eu imitava ele descaradamente.”
Há um momento comovente entre as duas cantoras de histórias paralelas mais próximas nesse cenário. Maria Bethânia, distante há anos de Gal por motivos não revelados publicamente, fica sabendo que ela, Bethânia, era uma das personagens das quais Gal mais fazia questão de estar no projeto. Ela se comove com isso e tece palavras das mais elogiosas à amiga, com um olhar baixo e nostálgico. Ao assistir ao especial pela primeira vez, Gal se emocionou. Além de produzir conteúdo para a preservação da história de uma personagem definitiva do canto moderno, o especial da HBO pode ter feito um serviço a duas amigas que, seja qual for o motivo, não poderiam estar distantes.




TV

Uma escola chamada Gal

Filha de Juca Ferreira, Dandara Ferreira dirige minissérie “O Nome Dela É Gal”, sobre a cantora Gal Costa, para HBO


Minissérie surgiu a partir de um DVD ao vivo nunca concretizado

PUBLICADO EM 19/06/17
Daniel Oliveira

Dandara Ferreira começou a estudar teatro ainda jovem. Mas na época, uma de suas professoras foi Fátima Toledo. E a aluna começou a mostrar cada vez mais interesse pelo outro trabalho de sua mestre, renomada preparadora de elenco de vários filmes nacionais. A atração das câmeras e sets foi tamanha que “na época do vestibular, decidi que queria estudar cinema”, conta Dandara, admitindo que pode ter sido um desejo herdado no DNA, já que seu pai – o ex-ministro Juca Ferreira, que assume hoje a pasta da cultura em Belo Horizonte – também sonhou em ser cineasta antes de se embrenhar pela política.

Logo que se formou, aos 23 anos, ela começou a trabalhar com vídeos musicais, dirigindo clipes como “As Palavras” e “Segue o Som”, de Vanessa da Mata. O trabalho foi se tornando um tipo de especialização que Dandara não tinha pretendido, mas rendeu a ela a grande oportunidade de sua carreira até hoje. “Eu sempre fui muito fã da Gal (Costa). E sempre me incomodava a falta de material audiovisual sobre ela. Tentei alguns contatos para fazermos um documentário, mas ela sempre desconversava. Só que acabamos nos aproximando, e a equipe dela me convidou para dirigir o DVD de um show”, explica.

O projeto acabou não dando certo, mas Dandara aproveitou a chance para fazer seu xeque-mate: propor um programa de TV sobre a história de Gal Costa. E, incrivelmente, uma das artistas mais reclusas e discretas da MPB disse sim. O resultado é a minissérie “O Nome Dela É Gal”, em exibição na HBO aos domingos, às 22h.

Dividido em quatro episódios de cerca de 1h, o programa vai desde o início, em Salvador, como a baianinha Maria da Graça, “Gracinha”, passando por todas as fases da artista, até o sucesso da turnê do álbum “Estratosférica”, em 2015. “Fiz a proposta num almoço em junho de 2015, e ela estava num período de 50 anos de carreira, 70 de vida, que queria isso”, considera a diretora.

Só que Dandara descobriu, da maneira mais trabalhosa, que “topar” não significava que Gal ia de uma hora para outra abrir o livro de sua vida e se debulhar em revelações em frente à câmera. “Eu achava, na hora que ela topou, que eu teria acesso a tudo, que ia invadir a vida da pessoa. E aí, a cada dia, ela determinava até onde era meu limite ‘daqui você não ultrapassa’”, confessa. O que não quer dizer que não haja verdade na minissérie. “O documentário mostra a personalidade da Gal, reservada. Não dá para querer que ela seja uma pessoa que não é. E ela acabou falando muita coisa que nunca discutiu, como a relação com o pai, que tinha uma outra família”, revela.

Ainda assim, Dandara se comprometeu a focar a minissérie na carreira da cantora, e não em sua vida pessoal. E não pôde filmar na casa, nem teve acesso ao acervo pessoal, de Gal. Para preencher as lacunas, a produção recorreu ao depoimento de uma série de personagens – das amigas de infância Sandra e Dedé até Caetano, Gil, Bethânia, Tom Zé e Nelson Motta – e correu atrás de material de arquivo da época.

“Foi uma pesquisa bem trabalhosa, porque muita coisa no Brasil foi apagada durante a ditadura, então a gente teve que ir atrás de material lá fora”, explica a diretora. Com isso, “O Nome Dela É Gal” conta com uma série de imagens de TVs francesas, alemãs e de Londres que surpreenderam a própria Gal. “Tem uma imagem dela tocando violão na praia que ela não lembrava. Era material inédito de uma TV alemã”, gaba-se Dandara.

A minissérie conta ainda com um emocionante depoimento de Bethânia – que teve um desentendimento com Gal e não fala com ela desde 2012, mas foi a primeira a confirmar sua participação –, afirmando que a conterrânea é “a maior cantora do Brasil”. E traz trechos inéditos de uma autobiografia que a cantora começou a escrever e nunca publicou. “Eu fiquei surpresa com o conteúdo dos textos, muito bem escritos e embasados. Não imaginava que a Gal escrevesse dessa forma”, admite Dandara.

Para a diretora, essa perspectiva – de uma mulher contando sua própria história, por meio do olhar de outra mulher – é a grande força do programa. Não por acaso, seu episódio favorito é o segundo, sobre a fase tropicalista de Gal – não só porque incluem seus discos prediletos da cantora, mas porque é uma das primeiras vezes que se conta a história do movimento de um ponto de vista feminino.

“É uma responsabilidade muito grande contar a história de uma mulher que teve essa importância para a cultura brasileira”, reconhece. E o contato com toda essa potência se revelou contagioso: o próximo projeto de Dandara é um longa documental sobre mulheres empoderadas. “Só que desta vez, fora da música e fora das artes”, ela ri.

Sombra do pai não incomoda diretora
Orgulhosa da trajetória do pai, Dandara Ferreira afirma não se incomodar quando alguém se refere a ela como “a filha do Juca”. Segundo ela, isso abre menos portas do que as pessoas imaginam, e ela nem se sente obrigada a provar seu talento, porque muita gente nem sabe de seu parentesco “real”. “O Caetano e Gil são amigos do meu pai, mas a Gal, por exemplo, nem conhece ele tanto assim”, afirma.

Baiana de nascimento, ela conta, ainda, que vive há 19 anos em São Paulo. E quando Juca foi nomeado como secretário da cultura da cidade, pelo ex-prefeito Fernando Haddad, a situação – na verdade – foi inversa. Formada em cinema pela conceituada FAAP e tendo trabalhado em diversas produtoras, em contato com diferentes áreas da cultura, Dandara é relativamente conhecida nos meios em que o pai circulou. “Ele me contava que todo dia encontrava alguém que dizia ‘ah, você é o pai da Dandara!”. Eu respondia ‘pois é, agora você está no meu território’”, ela brinca.




Revista Bravo!

Guilherme Werneck
Jun 9 / 2017

Gal To-tal

A cineasta Dandara Ferreira mergulha na obra da cantora baiana em série de quatro episódios para a HBO
O nome dela é Gal  - Fotos: Ivan Abujamra e Divulgação

Quando uma professora de dança moderna de Dedé, que viria a ser a primeira mulher de Caetano Veloso, apresenta Gracinha para o futuro arquiteto do tropicalismo, ele achou que aquela menina era a maior voz do Brasil.

Pouco depois, quando João Gilberto a conheceu, pediu que ela fosse buscar o violão e começou a tocar uma música atrás da outra para a menina cantar. Não teve dúvidas ao dizer que ela era a maior cantora do Brasil.

Tom Zé, Maria Bethânia, Gilberto Gil. Não havia quem não ficasse enlouquecido pela voz da menina que treinava em casa, ouvindo rádio e cantando com uma panela ao lado do rosto para aprender a projetar a voz.

Pouco depois o Brasil conheceu sua maior cantora. Entretanto, quase um “quiet Beatle” da Tropicália, pouco se ouviu da voz de Gal para além do cantar. Precisou de uma fã, que se apaixonou por aquela voz na primeira infância, ouvindo Fa-tal com o pai na fossa depois de sua mãe sair de casa para que a voz menos audível de Gal Costa fosse amplificada.



“Apesar de ser baiana e de conhecer Gil e Caetano por conta de meu pai [Juca Ferreira], não conhecia Gal. A primeira vez que estive com ela, foi na época do Recanto [2011]. Desde a adolescência era muito fã dela, principalmente dessa Gal dos anos 70, fatal, diva do desbunde”, conta Dandara. “Um dia recebi um telefonema de Caetano me convidando para jantar. Estava cheia de compromissos e, num primeiro momento, disse que não podia. Quando ele contou que a Gal estaria, cancelei tudo e fui correndo encontrá-los. Foi horrível, ela não deu a mínima para mim, só queria falar com o Caetano”, ri.

Isso não impediu que Dandara conseguisse abertura para fazer essa investigação sobre a vida da cantora, que se materializa agora na série O Nome Dela é Gal, exibida em quatro episódios de uma hora, aos domingos, às 22h, pela HBO, a partir deste domingo, dia 11.

Os quatro episódios abordam quatro fases distintas da carreira de Gal. O primeiro conta o início da carreira e vai até a gravação do LP Domingo, com Caetano Veloso, em 1967. O segundo mergulha no tropicalismo, quando Gal ganha o Brasil. O terceiro fala de sua fase pop, que começa no fim dos anos 1970 e segue até os 1990. E o último aborda a Gal de hoje, que se junta a músicos jovens, tanto em Recanto como em Estratosférica.

“No primeiro episódio, a grande coisa é a Maria da Graça se transformar em Gal, a formação desse grupo de amigos, Gil, Caetano, Bethânia, a fase joão-gilbertiana, tímida, e a chegada do empresário Guilherme Araújo, que lhe dá o nome de Gal”, conta Dandara. “Mas o que eu mais gosto é o segundo, cuja temática é a Tropicália. Quando ela explode com Divino, Maravilhoso, deixando de lado o jeito tímido para cantar de forma expressiva, gritar, aflora todo um outro lado dela. Para mim, essa transformação mostra que ela também é uma personagem subversiva.”



Embora Gal não tenha aberto seu acervo pessoal de fotos, não tenha gravado cenas externas e não tenha falado muito de sua intimidade, há muitas preciosidades na série. Com uma pesquisa impecável, traz imagens que nem a Gal nem os outros tropicalistas sabiam que existiam. “Tem umas gravações feitas pela TV alemã, na Bahia, que nem Gal nem Caetano sabiam quando e onde foram feitas. Descobrimos na cinemateca imagens inéditas incríveis do Leon [Hirszman, cineasta] na época do show Fa-Tal, que mostram a intimidade dos dois.”

Outra preciosidade são os escritos que Dandara encontrou. “Para mim foi uma surpresa. Como fã, não estava acostumada a ver a Gal se posicionar. A Tropicália é uma voz masculina. Mas foi muito bacana ver que seus escritos são interessantes e têm uma consistência”, comenta. Esses textos, escritos no começo dos anos 2000 para uma possível biografia, entram na série na voz da própria Gal.

Dandara cedeu à Bravo! um deles, em que ela fala sobre a Tropicália:

Naquela época convivia com todo o ambiente tropicalista. Só falávamos dos movimentos novos que surgiam no mundo. Gil ouvia Hendrix o dia inteiro. Janis Joplin não saia da minha cabeça. Aquele som, aquele rasgo de voz foi me tomando de uma forma que criou em mim uma necessidade de fazer alguma coisa diferente do que eu acreditava, de tudo o que já fizera e de como eu entendia a música até então. Eu era muito radical, gostava de pouquíssima coisa. João era meu ídolo e nada, quase nada passava pela minha peneira.

Não gostava de iê iê iê, nem da Jovem Guarda, de nada. Precisava fazer alguma coisa para me expressar, botar pra fora o que eu sentia, com força, atitude, e que, falando francamente, chamasse a atenção sobre mim.

Gil e Caetano, envolveram-se de corpo e alma com essas novas experiências da música popular brasileira. E dentre essas pesquisas me deparei com Divino Maravilhoso, uma canção que mexeu comigo. Caetano convidou-me para cantá-la no Festival da Record e Gil se propôs fazer o arranjo. Ele foi tão perspicaz que me perguntou como é que eu queria cantá-la. Expliquei que queria cantar de uma forma nova, explosiva, de uma outra maneira. Queria mostrar uma outra mulher que há em mim. Uma outra Gal além daquela que cantava quietinha num banquinho a bossa nova. Queria cantar explosivamente. Para fora. Gil fez então o arranjo para o Divino Maravilhoso.

Quando Caetano me viu pisar o palco cheia de penduricalhos e espelhinhos pendurados no meu pescoço, aquela cabeleira afro armada por Dedé, quase morreu de susto. Ele não sabia de nada. Não tinha escutado o arranjo do Gil, nada, nada. Cantei com toda a fúria e força que haviam em mim. Metade da platéia se levantou para vaiar. A outra metade aplaudiu ferozmente. Um homem na minha frente berrava insultos. Foi então que me veio ainda uma força maior que me atirou contra ele. Cantava diretamente para ele: É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte! Cantava com tanta força e tanta violência que o homenzinho foi se aquietando, se encolhendo, e sumiu dentro de si mesmo.

Foi a primeira vez que senti o que era dominar uma platéia. E uma platéia enfurecida. Naquele tempo de polarização política, a música era a única forma de expressão. Despertava paixões, verdadeiras guerras. Saí do Divino Maravilhoso fortalecida, crescida. Acho que naquela noite entrei no palco adolescente, menina, e saí mulher. Sofrida, arrebentada, mas vitoriosa.


Dandara constrói a narrativa da série de um jeito muito fluido, fazendo com que as histórias sejam contadas por diferentes vozes, que vão se complementando: Caetano, Gil, o ex-namorico de portão Tom Zé, Nelson Motta, Luiz Melodia, Bethânia, a amiga de infância Sandra Gadelha, famosa Drão. “O foco é a Gal, mas tem depoimentos incríveis. E nem sempre elogiosos. Sobre fase pop de Gal, por exemplo, Caetano diz que ele e Bethânia eram aristocráticos, enquanto Gal e Gil foram pro lado pop, que ele não gosta tanto, mas sabe da importância que teve”

É essa importância que Dandara traz à tona com essa série. Mas como fica a fã depois de mergulhar na vida de seu ídolo? “Para mim, como sou muito fã, foi uma oportunidade de reverenciá-la e colocá-la no devido lugar, deixar esse registro na história”, conta. “No processo, a Gal foi desmistificada. Esse foi um projeto desafiador, longo, bem exaustivo. Um projeto grande, de uma personagem grande, que tem uma história muito consistente.”

Além da estréia no Brasil, a série será exibida em 24 países, na América Latina e Caribe.








Entrevista exclusiva com Dandara Ferreira, diretora da Série “O Nome dela é Gal”
30 de junho de 2017

No próximo domingo (2) vai ao ar o último capítulo da série sobre a vida de Gal Costa, que tem feito grande sucesso e arrancado vários elogios, por sua linguagem ao mesmo tempo nova e fluida. No momento em que aproveita o bom momento, Dandara falou com exclusividade à Fórum sobre a realização da série, seu formato, a paixão pela obra de Gal e também sobre o seu pai, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira.
Por Julinho Bittencourt

Estreou, no dia 11 de junho, no canal pago HBO, a série em quatro episódios “O Nome dela é Gal”, sobre a vida da cantora Gal Costa. O programa é dirigido por Dandara Ferreira, uma jovem cineasta baiana radicada em São Paulo há quase vinte anos, para aonde foi estudar cinema na FAAP.
No próximo domingo (2) vai ao ar o último capítulo da série, que tem feito grande sucesso e arrancado vários elogios, por sua linguagem ao mesmo tempo nova e fluida. Em meio a esse bom momento de sua carreira, Dandara falou com exclusividade à Fórum sobre a realização da série, seu formato, a paixão pela obra de Gal e também sobre o seu pai, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira.
Dandara e Gal - Foto: Arquivo pessoal
Fórum – Me corrija se estiver errado, mas parece que com “O Nome dela é Gal” você inaugura algo inédito, pelo menos no Brasil, que é a série/biografia. A gente pode dizer isso?
Dandara Ferreira – Eu acho que sim. Não me lembro de nenhuma outra série/biografia. Acho que a diferença do documentário da Gal está no formato de série. Um momento novo do documentário brasileiro, dividido por episódios. Há uma continuidade em cada um, não tem um final fechado. A pessoa que vai assistir precisa ficar interessada em ver o próximo episódio.
Fórum – A narrativa da série é elaborada como uma dessas grandes biografias que a gente tem hoje por ai do Fernando Morais, Ruy Castro, Lira Neto. Você entrou mesmo na vida da Gal, pesquisou, foi buscar personagens e, no fim, conseguiu transpor para a TV uma linguagem mais densa. Era esse o objetivo desde o começo?
Dandara Ferreira – Sim. Sou muito fã da Gal e sentia falta de uma documentação audiovisual sobre ela. O desejo veio daí: reverenciar e colocá-la no lugar que ela tem na história brasileira. Pesquisei bastante para escrever o roteiro e fui atrás de pessoas que tiveram proximidade com a Gal, para entender mais sobre ela. A Elis tem filme, livro, especial de televisão. Da Gal não tinha nada. Sinto falta de ter uma biografia da Gal. Espero que alguém escreva.
Fórum – Você usa um recurso raro, com um ótimo resultado, onde o narrador desaparece. A história é toda contada pelos personagens, você deixa que eles falem e conduz/narra através da ilha de edição. Fale, por favor, sobre essa opção.
Dandara Ferreira – Acho que o narrador não desaparece no documentário. Ele está lá. Devido a personalidade fechada da Gal, os outros personagens ajudam a contar a história, mas quem realmente narra é ela. A Gal que entrevistei conta a sua história com simplicidade, que contrapõe com a Gal artista e com tudo que ela viveu – e também com o que as outras pessoas falam sobre ela. Os outros personagens participam como observadores. Ajudam a elaborar a história de uma forma mais completa.
Fórum – No primeiro capítulo, você coloca o espectador em Salvador na década de 60, com uma percepção clara de que algo de muito importante estava acontecendo ali. Depois de tantos anos lendo e ouvindo histórias sobre aquele lugar e período, “O Nome dela é Gal” parece ser uma obra definitiva sobre isso. Você acha que essa descoberta se deve a um distanciamento histórico, foi involuntário ou você estava preparada para isso desde o começo?
Dandara Ferreira – O primeiro episódio é sobre a década de 60. A série é dividida em 4 episódios, por fases da carreira da Gal: 1 – começo da carreira, mais joaogilbertiana; 2 – tropicalista; 3 – pop e 4 – atual. Essas fases têm relação com a personalidade da Gal, de ser uma pessoa inquieta, subversiva, que está sempre inovando. Gal é personagem histórico, símbolo do Brasil e de suas transformações. Uma artista está sempre ligada ao seu tempo, no sentido de puxar as pessoas para o que não é obvio.
Fórum – A gente percebe, durante todo o tempo, que você lutou contra as paixões, o fascínio pela obra de Gal e dos baianos, para se manter isenta, ao mesmo tempo em que lança mão delas. Como foi esse embate?
Dandara Ferreira – Eu queria ouvir a Gal. Queria saber o que ela pensa. Saber o ponto de vista dela. Tentei deixar que os personagens conduzissem. Mas, no momento que fiz as escolhas dos recortes da vida dela, focando mais nas fases da carreira dela que mais gosto, acabei tendo uma interferência também.
Fórum – Você apresenta a sua personagem como ‘a voz feminina do tropicalismo’ – termo usado por Bethânia – uma mulher linda, que canta divinamente, encanta e apaixona, enfim, a musa no sentido explícito da mitologia grega. Uma mulher avessa à reivindicada por algumas feministas hoje em dia e, ao mesmo tempo, um ícone da então modernidade daquela época. Como foi trabalhar isso?
Dandara Ferreira – Este documentário é sobre uma mulher, feito por uma mulher. Normalmente, a voz da tropicália é sempre masculina. Queria destacar a voz feminina. Gal do meu imaginário sempre foi uma mulher fatal. E ela é isso: mulher explosiva, fatal, musa, subversiva. Nos anos 70, ela foi uma figura dominante. Diva do desbunde, resistência artística. Deram nome de um pedaço da praia de Ipanema de Dunas da Gal, que era um lugar de conforto ao mundo externo, porque a figura dela representava isso. Ainda no período da ditadura, Gal teve uma das capas de discos mais polêmicas na época, com o disco “Índia”. Hoje em dia, ela já tem 70 anos e o contexto é bem diferente. Mas ela está sempre se inovando. Seu disco “Recanto” é um dos melhores discos dos últimos tempos, é moderno e lá está o seu passado tropicalista. Ela é uma pessoa subversiva, nunca está na zona de conforto.  Na história do Brasil não é pouca coisa, ainda mais sendo mulher.
Fórum – Você é filha do ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira. Em que medida ele, um protagonista vital dessa Salvador hedonista e criativa da década de 60, te influenciou a fazer esse documentário?
Dandara Ferreira – Diretamente, ele não me influenciou em nada. Mas, acho que o fato de eu ser filha dele e ter convivido com esse universo tão rico culturalmente, me facilitou muito, já que de alguma forma isso é familiar para mim. Minha paixão pela Gal começou através do meu pai. Na minha casa, a música sempre esteve muito presente e a Gal é a cantora prefira do meu pai. Cresci ouvindo Gal, especialmente no período da separação dos meus pais, em que ele ouvia com uma certa frequência a música “Hotel das estrelas”.
Fórum – Por ser filha do Juca, a despeito de todos os benefícios óbvios que isso trouxe para sua formação, isso te prejudicou no sentido de não poder trabalhar livremente? Aquelas pessoas que chegam pra dizer: “Ah, ela conseguiu isso por causa dele”, “ela conseguiu tal edital porque foi ajudada” etc. O que você fala sobre isso?
Dandara Ferreira – Sei que muita gente deve achar que as minhas conquistas tenham alguma relação com meu pai. Faz parte da cultura machista, patriarcal. Mas, quem me conhece sabe que não é bem assim. A educação que obtive em casa foi de aprender desde cedo a caminhar sozinha. Moro há 19 anos em São Paulo e criei minhas relações totalmente independente do meu pai. Foi até curioso que, quando ele veio morar aqui, quando aceitou o convite do Haddad para ser secretario de Cultura, ele ia em vários lugares e as pessoas perguntavam se ele era o pai da Dandara. E durante o período que meu pai esteve no ministério, eu nunca participei de nenhum edital.


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