26/8/2014
O GLOBO
Música
A
bossa negra de Hamilton de Holanda e Diogo Nogueira
Bandolinista
une suas dez cordas ao canto do filho de João Nogueira em disco inspirado nos
‘Afro sambas’
por Silvio
Essinger
RIO - Segundo o bandolinista Hamilton de Holanda, o disco não tem
absolutamente nada a ver com “A bossa negra” (1961), de Elza Soares — embora
Elza, no conjunto da obra, tenha a ver com o disco. Já a ligação entre a arte
gráfica do CD e as dos LPs “Coisas” (1965) e “Ouro negro” (2001), do maestro
Moacir Santos é, para ele, “pura coincidência”. A “Bossa negra” que Hamilton
acaba de lançar, pela Universal Music, junto com o cantor e estrela do samba
Diogo Nogueira, se localiza num universo amplo, difícil até de se delimitar, no
qual podem ser encontrados elementos de Pixinguinha, Baden Powell, Vinicius de
Moraes, Caetano Veloso, Donga, Dorival Caymmi e Milton Nascimento.
— A gente não pensou na “Bossa negra” como um jeito de se tocar ou um
estilo. Era só um nome forte, sonoro, que apareceu. Poderia ser bossa de várias
outras coisas, não só negras. O ritmo vem do batuque, com certeza. Mas tem um
pouco da harmonia da bossa nova e a influência do choro. Já ouvi gente dizer
que tem um pouco de fado — diz o bandolinista, que faz com Diogo o show de
lançamento do disco, na terça e na quarta-feira, às 21h, no Teatro Net.
A gênese do disco está no encontro que os dois tiveram em 2009, num
camarim em Miami, depois do show que fizeram juntos, só de bandolim e voz.
— Rolou uma sintonia muito grande e, batendo um papo, veio a ideia de compor
algo na linha dos “Afro sambas” (de Baden e Vinicius). E logo ali saiu,
do nada, o nome “Bossa negra” — conta Hamilton.
— A gente teve vários encontros depois disso. E, no final do ano
passado, veio a vontade de fazer shows em São Paulo e no Rio com as canções dos
compositores que a gente achava que tinham ver com o “Bossa negra” — emenda
Diogo. — Foi um sucesso, e aí a gente partiu para gravar aquilo e fazer as
nossas canções.
No estúdio, eles registraram “O que é o amor” (Arlindo Cruz, Maurição e
Fred Camacho), “Risque” (Ary Barroso) e de uma junção de “Mineira” (de João
Nogueira, pai de Diogo, e Paulo César Pinheiro) e do “Samba do arerê” (Xande de
Pilares, Arlindo e Mauro Jr.). Foi, segundo Hamilton “o embrião do disco, para
ver o que ia acontecer”, que ele disponibilizou para audição em seu site
oficial.
Com a resposta favorável a essas primeiras músicas, eles partiram então
para a composição, em parcerias diversas, nos encontros que aconteciam nas
brechas de suas movimentadas agendas. Arlindo Cruz, artista que também não
costuma ficar muito tempo parado, chegou a mandar, de Belém, por WhatsApp, a
parte que faltava para o samba “Brasil de hoje”.
No meio do processo de gravação, que começou em fevereiro e se estendeu
por três meses, apareceu até uma inédita de João Nogueira e Paulo César
Pinheiro.
— “Salamandra” foi um achado. Eu sabia que a música existia e ia gravar
num disco meu, só que isso não aconteceu. O Paulinho Albuquerque, produtor do
disco, que tinha canção, morreu, e a fita se perdeu — diz o cantor. — Eu só
sabia um trecho dela e fui ao Paulo César, que cantou para mim lá na hora e eu
gravei no iPhone.
Para levantar a “Bossa negra” do chão, Hamilton de Holanda partiu de um
conceito instrumental em que o bandolim assume um maior papel harmônico, “como
um instrumento de contraponto e de solo, o tempo inteiro criando uma cama para
a melodia principal do canto”. E o fez trabalhar ativamente com o baixo de
André Vasconcellos.
— Quando comecei a pensar nesse formato, falei para o André: você é a
mão equerda do piano e eu sou a direita — conta.
Faltava apenas a percussão. Para tocá-la, Hamilton convocou Thiago da
Serrinha, músico criado no jongo, e com ele desenvolveu um conjunto de peças
que denominou de “percuteria”: uma caixa de escola de samba, um repique de
anel, um atabaque de jongo, um surdo transformado em bumbo e um prato.
“Bossa negra” é encarado tanto por Hamilton quanto por Diogo como um
projeto especial, que não atrapalha as suas carreiras. Eles começam pelo Rio
uma série de shows que se estende para São Paulo (dias 2 e 3 de setembro, no
Teatro Net), volta em seguida ao Rio (dia 10, no Imperator), vai a Paraty (dia
10 de outubro, no festival MIMO) e segue pelas capitais brasileiras. O plano da
dupla é mostrar esse disco no exterior, ao vivo, a partir do ano que vem (a
Universal tem planos de lançar o CD internacionalmente).
— A gente quis se juntar para fazer um disco do qual a gente tivesse
orgulho, mas o que realmente vai acontecer, a gente vai ver agora — diz Hamilton,
que grava em novembro, na Itália um DVD com o pianista Stefano Bollani (seu
velho parceiro de shows em duo) e que estuda a realização de um disco e/ou DVD
do Baile do Almeidinha (seu projeto de bailes que completou dois anos na semana
passada).
Enquanto isso, Diogo Nogueira vai selecionando repertório para um DVD, o
seu primeiro pela Universal, a ser gravado ao vivo em janeiro, provavelmente em
São Paulo, onde tem um público fiel. Parte desse novo trabalho será feito em
colaboração com Bruno Cardoso e Lelê, do time de produção que surgiu do grupo
de samba romântico Sorriso Maroto. O que, segundo o cantor, não deve ser tomado
como indicativo de nada.
— Eu sigo o meu caminho, como eu faço em todos os meus trabalhos. Eu fiz
propositalmente o meu disco romântico (“Mais amor”, do ano passado), mas
acho que as pessoas não entenderam, acabaram levando para um outro lado.
Pretendo fazer esse DVD com tudo que eu sempre fiz na minha carreira — explica.
26 de agosto de 2014
Ze Ronaldo
Vera Fischer e Caetano Veloso na estreia do show “Bossa Negra” com Diogo
Nogueira e Hamilton de Holanda só hoje e amanhã no Theatro Net-Rio
Diogo Nogueira e Hamilton
de Holanda iniciam no Rio a turnê do disco “Bossa Negra”, os
artistas fazem duas apresentações, dias 26 e 27 de agosto, no Theatro NET
Rio.
O espetáculo “Bossa Negra” é um projeto que promove o encontro de
dois dos maiores expoentes da nova geração da música brasileira: o cantor Diogo
Nogueira e o instrumentista Hamilton de Holanda.
Acompanhados pelo contrabaixista André Vasconcellos e pelo
percussionista Thiago da Serrinha – que carrega em seu nome e mãos a
tradição do jongo – Diogo e Hamilton lançam a turnê do novo álbum no Rio de
Janeiro, dias 26 e 27 de agosto, no palco do Theatro NET Rio, em
Copacabana. Imperdível.
Fotos: Vera Donato
Caetano Veloso e Rildo Hora |
Antonio Pitanga e Vera Fischer |
Foto: Thyago Andrade / Rio News |
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