BORGES,
Márcio. Os sonhos não envelhecem - Histórias do Clube da Esquina. Geração
Editorial, 1ª edição. 1996. 358
pág.
CAETANO VELOSO
Nos anos
setenta, um grupo de mineiros se afirmou no cenário da musica popular
brasileira com profundas conseqüências
para sua história, tanto no âmbito doméstico
quanto no internacional. Eles traziam o
que só Minas pode trazer: os frutos de um paciente
amadurecimento de impulsos culturais do
povo brasileiro, o esboço (ainda que muito bem-
acabado) de uma síntese possível. Minas
pode desconfiar das experiências arriscadas e,
sobretudo, dos anúncios arrogantes de
duvidosas descobertas. Mas está se preparando para
aprofundar as questões que foram
sugeridas pelas descobertas anteriores cuja validade foi
confirmada pelo tempo. Em Minas o caldo
engrossa, o tempero entranha, o sentimento se
verticaliza.
Márcio
Borges é a pessoa indicada para escrever sobre a experiência daqueles
garotos mineiros nos anos setenta não
apenas por ser ele próprio um dos letristas mais
atuantes e representativos do grupo,
mas por ter sido ele a induzir Milton Nascimento a
compor. E Milton Nascimento foi - é - o
pólo, o elemento catalisador, o próprio lugar de
inspiração do movimento. Quando Milton
surgiu num festival da TV Excelsior de São
Paulo cantando uma composição de Baden
Powell, Gil me chamou a atenção para a
originalidade do seu talento. Essa observação
Gil viria a confirmar quando ouviu as
primeiras composições de Milton. Eu, no
entanto, se fiquei impressionado com a presença
pessoal do colega recém-chegado (sua
beleza nobilíssima de máscara africana, sua
atmosfera a um tempo celestial e
triste, sua aura mística e sexual) não fui capaz de detectar
a grandeza musical de seu trabalho, num
primeiro momento. Vi-lhe a seriedade de
intenções e sinceridade de tom desde
sempre, mas eu sou baiano (amante das aparências) e
estava engajado num programa de regeneração
da música brasileira através da
carnavalização do deboche e do
escândalo- através da paródia e da autoparódia - e não via
ali muito além de um desenvolvimento
daquilo que Edu Lobo já vinha fazendo de
interessante, ou seja, um desdobramento
da bossa-nova que abrangia estilizações das
formas nordestinas. Claro que, em
breve, veria que muito do que nós baianos tínhamos
sublinhado - a saber, rock, pop,
sobretudo Beatles, além da América espanhola - também
estava incorporado ao repertório de
interesses de Milton. Mas todo esse conjunto de
informações desempenhava funções
distintas em seu trabalho e no nosso. Sem apresentar
ruptura com as conquistas da
bossa-nova, exibindo especialmente uma continuidade em
relação ao samba-jazz carioca, Milton
sugeriu uma fusão que - partindo de premissas muito
outras e de uma perspectiva brasileira-
confluía com a "fusion" inaugurada por Miles Davis.
Essa fusão brasileira desconcertou e
apaixonou os próprios seguidores da "fusion"
americana. Quando Milton estava com o show
num teatro à beira da Lagoa Rodrigo de
Freitas, em 1972, eu vim da Bahia -
para onde tinha voltado depois do exílio- e fiquei tão
impressionado com o que vi e ouvi ali
quanto os músicos do Weather Report que visitaram
o Rio pouco antes ou pouco depois.
Talvez por razões - e com conseqüências- diferentes,
mas no mínimo com a mesma intensidade.
A profundidade que eu percebi ali só fez se
intensificar para mim desde então.
Orgulho-me de não ter me entregue a um repúdio puro
e simples do que era diferente de mim.
E de, por isso, poder hoje ter um diálogo
enriquecedor com essa diferença. O que
me levou a isso foi minha reverência pela música:
Milton sempre foi obviamente para mim
um músico muito maior do que eu. Para contar
sobre o lado de dentro dessa história
de mineiros, sobre a vida vista do ângulo daquela
esquina que nomeou o grupo famoso,
Márcio Borges, sensível, poeta, cheio de inteligência
e amor, mostrou-se generoso o bastante
para decidir-se a escrever para nós este livro.
Os Sonhos não envelhecem é relançado em
edição especial de luxo
27/4/2011 |
BORGES,
Márcio. Os sonhos não envelhecem - Histórias do Clube da Esquina (com CD brinde). Geração Editorial, Edição de luxo. 2011. 376 pág.
7 e 8 de maio de 1974, gravação de Milagre dos Peixes, no teatro Municipal de São Paulo |
1. CLUBE DA ESQUINA 1 (Márcio Borges/Lô Borges/Milton
Nascimento)
2. ELA (Márcio Borges/Lô Borges)
3. ALUNAR (Márcio Borges/Lô Borges)
4. CANTO LATINO (Milton Nascimento/Ruy Guerra)
5. EQUATORIAL (Márcio Borges/Beto Guedes/Lô Borges)
6. GIRA GIROU (Márcio Borges/Milton Nascimento)
7. GRAN CIRCO (Márcio Borges/Milton Nascimento)
8. GIRASSOL (Lô Borges/Márcio Borges)
9. TUDO QUE VOCÊ PODIA SER (Márcio Borges/Lô Borges)
10. CLUBE DA ESQUINA 2 (Márcio Borges/Lô Borges/Milton Nascimento)
2. ELA (Márcio Borges/Lô Borges)
3. ALUNAR (Márcio Borges/Lô Borges)
4. CANTO LATINO (Milton Nascimento/Ruy Guerra)
5. EQUATORIAL (Márcio Borges/Beto Guedes/Lô Borges)
6. GIRA GIROU (Márcio Borges/Milton Nascimento)
7. GRAN CIRCO (Márcio Borges/Milton Nascimento)
8. GIRASSOL (Lô Borges/Márcio Borges)
9. TUDO QUE VOCÊ PODIA SER (Márcio Borges/Lô Borges)
10. CLUBE DA ESQUINA 2 (Márcio Borges/Lô Borges/Milton Nascimento)
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