domingo, 9 de diciembre de 2012

2001 - NOITES DO NORTE ao vivo


















Caetano faz ensaio aberto de Noites do Norte



Cantor estréia dia 7 show baseado em seu último CD

Antônio Carlos Miguel / CliqueMusic

28/05/2001

Seis meses após lançar o CD Noites do Norte, Caetano Veloso prepara-se para estrear o show homônimo ao álbum no Canecão (Rio de Janeiro) a partir do dia 7 de junho. A novidade desta vez é que o baiano fará ensaios do espetáculo abertos ao público, com preços populares.

"O fato de começar com ensaios abertos aconteceu casualmente", conta Caetano. "Jaquinho (Morelenbaum) tinha compromissos, o que impediu que a gente estivesse com o show pronto a tempo. Quanto ao roteiro, pedi a Paulinha (Lavigne) que fosse ao ensaio para me ajudar no que eu precisava mudar. Ela é a produtora, a chefe desse escritório que me representa, e foi bem dura.
Algumas mudanças cruciais, que deram nova cara, foram idéias dela. Ao mesmo tempo, outras coisas também cruciais que ela queria tirar, achei inadmissível e não mudei." 

"Nem todas as músicas do disco estarão no show", continua o cantor. Sou Seu Sabiá e Meu Rio ficaram de fora. Ensaiamos muito Cobra Coral, mas acabou saindo também. Apesar de ser uma canção espetacular, o canto em uníssono de Cobra Coral não ficou de uma forma que me satisfizesse. Toda noite cantávamos e essa era a que menos me convencia tecnicamente. Zera a Reza, que também tem vozes, a gente consegue. A melodia com frases curtas é mais fácil de fazer".

Os ensaios abertos de Noites do Norte acontecem nos dias 1º e 2 (sexta-feira e sábado, às 22h) e 3 de junho (domingo, às 20h), com ingressos a R$ 10 (pista) e R$ 15 (sentados). Ainda sem o cenário de Hélio Eichbauer e figurinos, Caetano, Jaques Morelenbaum (cello), Davi Moraes (guitarra), Pedro Sá (baixo), Cesinha (bateria) e Márcio Victor, Dú, Jô e André Junior (percussão) vão seguir o roteiro previsto, mas poderão interromper e repetir as músicas. Para os fãs, além do preço acessível, essa será a oportunidade de conhecer mais um pouco do processo de criação de Caetano. 

"Tim Maia dizia que quando não estava cantando podia fazer besteira. E eu que, quando não estou cantando, acho o mundo chato. E o que eu gosto mesmo é de cantar. Todos os dias eu melhoro somente por ter estado cantando no ensaio do show. Então, aquela hora me dá uma alegria", finaliza o baiano.








1/6/2001 - Caetano Veloso durante ensaio aberto no Canecão, no Rio de Janeiro
Fotos: Antônio Gaudério / Folhapress Digital




2/6/2001 - Paula Lavigne (à esq.) e Paula Burlamaqui observam ensaio aberto do cantor Caetano Veloso no Canecão, no Rio de Janeiro (RJ) - Foto: Roberto Price / Folhapress




JORNAL DO BRASIL – Caderno B



Segunda-feira, 4 de Junho de 2001



Vários beijos e um tapa



Em ensaio aberto de novo show, Caetano discute com a platéia por causa de 'Um tapinha não dói', mas tudo acaba em festa.



ANGÉLICA BRUM




 
1/6/2001Caetano reclamou da iluminação e da roupa, mas não interrompeu o show nenhuma vez




Na noite de sexta-feira, Albertina Torres, de 26 anos, foi com a irmã Ana, 29, e a amiga Alice, 19, ao Canecão ver Caetano Veloso. Depois de quase duas horas, ela vibrava: ''Está tudo perfeito. Só faltou Sozinho.'' Não se passaram nem dois minutos e o artista já estava no bis cantarolando aqueles versos do Peninha: ''Às vezes, no silêncio da noite...'' A moça deu-se por satisfeita: ''Pronto, não precisa de mais nada''. Tanta alegria tinha um outro motivo: ela e suas amigas pagaram cada uma apenas R$ 10 para ver (de pé) o show, ou melhor, o ensaio aberto de Noites do norte, novo espetáculo de Caetano. Para os fãs, não foi um mero ensaio, até porque, ao contrário do previsto, o artista não interrompeu nenhuma música para fazer correções. ''Foi show, Caetano é sempre show'', bajulou Paulo Megueba, do Afro-reggae, grupo de Vigário Geral apadrinhado pelo baiano.

Mas Caetano não queria deixar que ninguém se esquecesse de que treino é treino, jogo é jogo. Logo depois das primeiras canções, reclamou da iluminação. Mais adiante, admitiu que ainda não havia escolhido o violão da estréia, marcada para a próxima quinta-feira. E, antes do encerramento, levantou a camisa para mostrar que precisa ajustar o cós da calça. Os fãs, como sempre, adoraram. E daí que o cenário e o figurino não estivessem prontos? Para eles, estava tudo perfeito: repertório equilibrado entre antigos sucessos como Tigresa e peças do novo disco como Zera a reza, canções da bossa nova como Samba de verão (Marcos e Paulo Sérgio Valle) e Caminhos cruzados (Tom Jobim/Newton Mendonça), muito bate-papo com o público, a indefectível Regina Casé com sua indefectível entourage na platéia, José Celso Martinez Corrêa e Charles Gavin no camarim e até uma leve polêmica.

''Viva o funk'' - Desta vez, a celeuma ficou por conta de uma questão batida. Surrada. ''Afinal, um tapinha dói?'', provocou Caetano, depois de cantar a vinheta funk O tapinha não dói e antes de receber a única vaia da noite. Não foi forte, mas foi vaia. ''Senti uma reação, mas não sei de onde veio... Será que foi da Comissão de Ética do Senado?'', brincou/reclamou. ''Não entendi o porquê da reação. Eu, que sou tão novidadeiro, estou cantando o tapinha depois de Rita Lee e de Adriana Calcanhoto, e vocês ainda têm essa reação?'', insistiu, antes de gritar: ''Viva o funk do morro!''. No ensaio/show de sábado, nem vaia houve.

Ao contrário de casos passados (''tira a gravata, Caetano'', lembram-se?), a discussão não rendeu. O público, que pagou só R$ 10 ou R$ 15 (sentado), estava disposto a colaborar. O artista retribuiu e afirmou que a platéia parecia mais ensaiada do que o show. ''Ele conseguiu transformar essa coisa horrível numa música gostosa'', endossou Marina Costa, de 29 anos, para quem o tapinha não doeu nos ouvidos.

E a noite estava mesmo para beijos, não para tapas. Além de agradecer aos fãs, Caetano se derreteu em elogios à banda. Jacques Morelenbaum, no cello, mereceu vários beijos e olhares carinhosos depois de O último romântico, de Lulu Santos.

Todos os outros músicos - Davi Moraes na guitarra (especialmente este), Pedro Sá no baixo, Cesinha na bateria e o quarteto Marcio Vitor, André Junior, Jó e Du na percussão - mereceram os mesmos afagos. Sem eles, sozinho no palco, Caetano só cantou Araçá azul.

Mais duas - No bis, depois de se queixar novamente da luz, arrancou gritos de aprovação da platéia ao admitir que estava voltando ao palco de qualquer jeito porque ainda precisava ensaiar algumas músicas. Quando parecia ter chegado ao fim, mais uma surpresa: ele havia se esquecido de duas canções, Menino do Rio e Leãozinho.

Embora Paula Lavigne, mulher e empresária de Caetano, tenha anunciado que haveria pelo menos 500 ingressos para vender na hora, muita gente teve que recorrer aos cambistas, que ofereciam entradas para o ensaio aberto a preços de teatro. E teatro do Shopping da Gávea: R$ 35. Para um fã especial de Caetano, mesmo R$ 10 foi um preço altíssimo: Zeca Veloso, de 9 anos, filho do compositor, disse na semana passada à sua mãe, Paula, que, fosse ele o artista, cobraria apenas R$ 2. A partir de quinta-feira Zeca ainda vai ficar mais triste: os ingressos custarão de R$ 20 a R$ 60.

CAETANO VELOSO
O preço: R$ 10 e R$ 15.
O show: Como de hábito, Caetano mistura antigas e novas canções e cria o momento-polêmica: Um tapinha não dói.
A quem interessar, Sozinho é só no bis.
O ambiente: Por causa do preço, muita gente jovem, muita gente em pé, muitos aplausos e uma pequena vaia para esquentar o clima.
 











Canecão, 7 de junio de 2001






 
 
 






  

















22/06/2001

Marisa Monte é centro das atenções em show de Caetano

Por Sabrina Grimberg

Já que Ricky Martin não apareceu no Canecão para assistir ao show de Caetano Veloso na quinta-feira (21), a cantora Marisa Monte virou alvo da imprensa. Quando chegou ao camarim para cumprimentar Caetano pelo show Noites do Norte, o baiano brincou com os fotógrafos.

- Nossa, parece até a estréia!, disse se referindo a quantidade de flashes pipocados no instante em que Marisa o abraçou.
Hoje, (22) Marisa Monte sobe ao palco do ATL Hall para apresentar seu show "Memórias, crônicas e declarações de amor", que devido ao sucesso foi esticado para o próximo fim de semana.
Apaixonada pelo trabalho de Caetano a cantora não soube dizer sua música preferida do cantor.
- Esta pergunta é dificílima, tenho que pensar três dias e mesmo assim acho que não chegaria a conclusão alguma, brincou.

Caetano também se declarou fã do trabalho de Marisa Monte.

- Fui a todos os shows dela, desde o primeiro no Jazzmania, revelou o baiano.



Nos dias 29 e 30 de junho será gravado o DVD do show pela Conspiração Filmes, no ATL Hall.












São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2001

Caetano Veloso traz "Noites do Norte" a SP e fala sobre questão racial, vaias, gripe e edema nas cordas vocais 
 
"Não sou branco. Nem homem"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Ele está afônico, depois do edema nas cordas vocais e da gripe que o acompanharam na temporada carioca do show "Noites do Norte". Vem se reacostumando à rotina da vaia, frequente no trecho do show em que canta que "só um tapinha não dói". Diz que não é branco, nem homem, em resposta a artigo publicado no "Jornal do Brasil" da última quinta-feira, em que o jornalista Eugênio Bucci caracterizava sua recente obsessão pela questão racial como ocultamento da culpa que sentiria por ser branco e homem.


Assim está Caetano Veloso às vésperas dos 59 anos e da estréia (amanhã) de seu novo show -que deve virar disco ao vivo, o quinto em dez anos- na cidade em que ele se tornou tropicalista, há 34 anos. Ainda no Rio, voltou agora a falar à imprensa de cá (que evitara no lançamento do CD) e à Folha (com que não falava havia dois anos). Leia trechos.

Folha - Você disse recentemente que tem achado tudo chato, a não ser cantar. Qual é, em 2001, sua concepção de música?
Caetano Veloso - [
Rouco] Cantar sempre foi uma das coisas de que mais gostei. Adoraria ter mais musicalidade para realmente cantar muito bem. Mas justamente agora que senti uma necessidade de focar todo meu investimento de prazer no canto fiquei com um problema nas cordas vocais. Tive um edema, inflamaram duas semanas antes do show. Primeiro o médico deu uns medicamentos, depois aconselhou uma fonoaudióloga. Estreei o show com problema de corda vocal como nunca havia tido. Quando conto isso, as pessoas que viram o show se surpreendem porque julgam que estou cantando muito bem. Mas estou fazendo um esforço muito maior para conseguir muito menos do que costumo conseguir. Fui me recuperando, quando ia recomeçar nessa última semana, eu estava zerado, mas fiquei gripado. Hoje estou muito ruim. Está me dando trabalho cantar.

Folha - Há fatores psicológicos? Com toda sua experiência você ainda fica nervoso quando estréia?
Caetano -
Não, nunca tive problema de voz por causa de estréia. Não digo que não haja fatores psicológicos e que a estréia não seja um elemento a mais, mas é mais coisa minha mesmo, pessoal.

NOITES DO NORTE - Show de Caetano Veloso. Onde: DirecTV Music Hall (av. dos Jamaris, 213, Moema, tel. 0/xx/11/5643-2500). Quando: de amanhã a 1º de julho, às 21h30 (qui.), 22h (sex. e sáb.) e 20h (dom.). Quanto: de R$ 65 a R$ 120.









25/6/2001 - Caetano Veloso em sofá da gravadora e produtora de sua mulher, no Rio de Janeiro, durante entrevista antes de viajar para São Paulo para estrear a temporada paulistana do show "Noites do Norte" - Fotos: Ana Carolina Fernandes / Folhapress








São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2001


MÚSICA

Caetano diz que cantar "só um tapinha não dói", causadora de vaias em seus shows recentes, afasta os "chatos"
 
"Não quero gente chata atrás de mim"




                                                                                                     Foto: Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Caetano na poltrona de onça de Paula Lavigne; novo show tem "Tigresa", "Leãozinho" e canções de Luiz Melodia e Lulu Santos


DA REPORTAGEM LOCAL

Na sequência de sua entrevista, Caetano responde sobre a atual relação dos artistas com a indústria, que emplaca trabalhos de regravações ao vivo (seu "Prenda Minha", de 98, vendeu 1,125 milhão de cópias), mas empaca no que os artistas têm de inédito para cantar ("Noites do Norte" está em 115 mil, segundo sua própria gravadora).
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Folha - A presença de seu filho Moreno em "Noites do Norte" o aproximou do rock de guitarras?
Caetano Veloso -
O disco tem muita coisa a ver com Moreno. Ele está muito presente, e Pedro Sá também. Eu estava interessado em coisas técnicas em que eles, por serem jovens, estão mais inteirados que eu. Sempre trabalhei sem a menor ambição de controle do resultado sonoro. É uma pena, porque hoje há tanto interesse por meu trabalho em vários lugares do mundo e eu não tenho uma obra bem-acabada para mostrar. Era uma anarquia total, era até um modo de resistir ao "producismo" e ao "losangelismo" que estavam na moda. Para nós era assim: vamos todos para o estúdio, a turma, e lá a gente toca.

Folha - Hoje você é o contrário disso, não?
Caetano -
Eu não esperava perenidade para os discos nem reconhecimento internacional. Mas os anos foram passando, e em "Velô" (84) resolvi mudar, quis fazer um disco produzido. Daí em diante foi assim. Mas queria fazer um "negocim" mais meu e então encontrei Jaques Morelenbaum
Folha - Você se irrita quando ele é tratado como um padronizador?
Caetano -
Ele é um músico de grande capacidade, não é um homogeneizador porque o que faz em cada um de meus discos e shows é sempre muito diferente. Talvez as pessoas tenham medo do alto nível e da capacidade de Jaquinho. No Brasil todo mundo se sente incompetente porque é brasileiro, parece que tem incompetência inata. No fundo é um pretexto para que a pessoa possa ser preguiçosa e irresponsável.

Folha - Fracassomania?
Caetano -
Podia ser, já ouvi, Fernando Henrique adora usar essa expressão. Nunca usei. Tudo bem, por que não? Eu defendia Pelé nos anos 70 contra todos os formadores de opinião. Havia uma obrigação de ser de esquerda, de denunciar tortura. Eu achava tudo errado, você tem o luxo de produzir Pelé e ainda vai reclamar? Tem que ajoelhar na frente de Pelé. E calar a boquinha.

Folha - Você prefere a reverência à irreverência?
Caetano -
Acho altamente irreverente ter coragem de realmente ser reverente com quem merece ser alvo de reverência. Agora houve um prêmio do canal Multishow, aparece uma menina, Wanessa Camargo, e a platéia vaia. Você acha que nos Estados Unidos Celine Dion vai cantar no Oscar e a platéia vai vaiar? Lá há um número enorme de pessoas da platéia que devem pensar que Celine Dion é um saco. Mas não vão vaiar, porque Celine Dion, com aquela música intragável, vendeu trilhões no mundo inteiro, e os americanos não querem destruir a capacidade deles próprios de produzirem e se afirmarem.

Folha - Mas para cada Celine Dion eles têm dez contrapontos a ela.
Caetano -
Não, para cada Celine Dion eles têm 30 Celines Dion, a maioria delas preta e todas cantando muitíssimo bem. No Brasil não há. As pessoas que têm capacidade de cantar dificilmente chegam ao estrelato aqui. Só Elis Regina chegou ao estrelato de primeiro lugar. Você tem Joyce, Jane Duboc, meninas incríveis que ficam no coro o resto da vida. São carreiras injustamente falhadas. Lá, não, porque a cada antiga Celine Dion que apareceu o que falou mais alto não foi a vergonha. Quando digo que Sandy canta bem é porque ela canta. É bom que se possa criar uma indústria competente em torno disso.

Folha - Como avalia a saúde atual da indústria fonográfica daqui?
Caetano -
Houve um crescimento grande do país e uma grande subida no mercado alguns anos atrás. Depois disso houve uma queda, hoje há uma possibilidade de instabilidade porque o Brasil é um país muito instável. O governo que está aí fez muitas trapalhadas, uma em cima da outra. A crise energética é inaceitável, um presidente não pode ser surpreendido por uma questão relativa a um setor de longo prazo. Está errado, é incompetência. A perda da respeitabilidade política pela liberação de verbas para os parlamentares não votarem a favor da CPI da corrupção foi algo muito malfeito. E sobre o artigo de José Arthur Giannotti na Folha, se há uma área cinza em que a moral não deve entrar, justamente essa não deveria ser dita. Não deve ser explicada como uma mostra de maior inteligência ainda. Há algo de doentio nessa superioridade errada do lado USP do PSDB.

Folha - Em entrevista à Folha em 97, você classificava como má-fé dizer que FHC pudesse ter comprado votos de parlamentares para a reeleição. Reviu aquela impressão?
Caetano -
Essas tramóias e essa zona de sombra moral de que fala Giannotti de fato existem e têm que existir. Mas para existir quem faz tem que saber fazer, tem que saber mantê-la na sombra. Não basta posar de bacana. Não falo isso para dizer que tenho a mesma opinião dos críticos do governo, nem da reação popular a ele. Há uma evidente perda de perspectiva, mas até aqui a passagem de FHC pela Presidência tem um saldo positivo e uma marca positiva na história futura do Brasil.

Folha - Voltando ao mercado fonográfico, os artistas têm precisado fazer muitos discos ao vivo e de regravações para ter sucesso.
Caetano -
Olha, como isso não tem impedido que discos novos com algo novo a dizer apareçam, não vejo nenhum problema. Os discos de canções regravadas são bons, porque engrossam o caldo da memória brasileira. Antigamente, no Brasil, parecia que a pessoa tinha que ir se descartando logo de si mesma. Quanto a isso, os discos ao vivo e as revisitações de repertório são de extrema positividade. Há casos que vão para um nível baixo de comercialismo e oportunismo, de aproveitamento do que é mais fácil. Mas isso é o mercado. Eu não sou o mercado, sou um artista e sou livre.

Folha - De "Prenda Minha" para o disco inédito, você perdeu nove em cada dez compradores. O mercado não o aprisiona num modelo de valorizar só o que você já foi?
Caetano -
Não, de jeito nenhum. "Noites do Norte", que é um disco difícil, vendeu mais ou menos o que meus discos vendem. O caso de "Prenda Minha" é que saiu da norma. Se 150 mil chegarem a comprar "Noites do Norte" já é muita coisa, já é um disco danado. Não posso posar de coitadinho, como não sou, nem dizer que o mercado está me estrangulando.
Talvez as coisas fiquem repetitivas. Talvez não, com certeza. Mas é uma tendência natural de quem vende, fazer o que vende mais facilmente. É claro que a gravadora tem que querer isso. Seu jornal não quer que você faça de modo a que ele venda mais? Vocês não fazem coisas muito mais abjetas do que qualquer um de nós possa fazer para que o jornal venda mais?

Folha - Você pode responder em relação a seu meio, sem comparar?
Caetano -
Essa comparação é que é importante. Mas a questão é que é natural que uma empresa que vende discos queira vender discos. E que, se ela descobre qual a melhor maneira de vender discos, ela vai tender a fazer isso. Nunca vi o "New York Times" dizer que Ray Charles é um imbecil. Abro a Folha e vejo dizerem isso de mim e de Chico Buarque.

Folha - Que são imbecis?
Caetano -
Praticamente. Só falta xingar a mãe da gente. O artigo sobre o disco de Chico falava mais de mim que dele. Era desrespeitoso, ofensivo, horrendo.

Folha - Você é orientado pela culpa por ser branco e homem, como afirmou texto do "JB"?
Caetano -
Não sou branco. Nem sou homem. O artigo é confuso, mas me fez bem, porque tratou com muito amor o show. A questão racial é crucial para mim. O movimento negro, sob influência dos americanos, trouxe muitas coisas boas, mas também têm ameaçado muitos tesouros nossos. Essa sensação espontânea de que não se tem que pensar as pessoas como divididas racialmente é um tesouro, é algo divino, que o Brasil tem como experiência e deve ser reencontrado.

Folha - Essa postura não oculta atrás dela um homem branco, poderoso, um "senhor de escravos"?
Caetano -
Joaquim Nabuco diz que cada indivíduo brasileiro é um composto de senhor e escravo. É esse composto que é nosso dever transformar em cidadão. Passando a ser cidadão, você vira alguma coisa que transcende isso.

Folha - Você tem reagido bem às vaias à música do tapinha?
Caetano -
É uma centena ou duas de pessoas entre 2.000. É uma vaia danada, 200 pessoas vaiando. Me divirto um pouquinho. É surpreendente, porque havia sido cantado por Fernanda Abreu, Adriana Calcanhotto e Rita Lee, e é uma obviedade total.

Folha - As vaias de agora não vêm de você ficar intransigente na defesa de seu apreço por Sandy e congêneres e marginalizar a elite cultural que o adorava?
Caetano -
Por mim... Afasto os chatos. Não quero gente chata atrás de mim.

Folha - Os chatos que pagam R$ 85 para ver seu show?
Caetano -
Uma coisa não tem nada a ver com a outra, que sociologia é essa? Os dias que mais me vaiaram no Canecão foram os dos ensaios abertos, quando custava R$ 10. Era uma gente mais jovem, mais ambiciosa intelectualmente, que tem pouco dinheiro e se sente mais ameaçada por determinadas posições estéticas ou culturais. É uma vontade de dizer "eu sou mais bacana do que o resto". É do chato bacaninha que estou falando, não do burguês que tem dinheiro para pagar.

Folha - Por que em "Rock'n'Raul" você tacha Raul Seixas, que misturava repente e baião com rock, como um mero americanizado?
Caetano -
Essa visão foi ele que deu. Desde a Bahia eu sabia de sua identificação imediata com o rock'n'roll e com a figura do americano. É completamente diferente do nosso pessoal. Ele às vezes conversava em inglês, teve duas mulheres americanas, andava de bota americana. Mas ao mesmo tempo era muito "baianista". Falava com sotaque carregado, só usava gírias de Salvador, isso aparecia na música. Mas pegou o pós-tropicalismo, um mundo fácil para ele quanto a isso.

Folha - Tom Zé também fez uma música sobre Raul, mas admitindo sua brasilidade, colocando-o lado a lado com Luiz Gonzaga.
Caetano -
Ouvi a música do Tom Zé, vi que eles chegam ao FMI. É bacana, porque no fundo termina sendo a mesma coisa. Também entendo como enfrentamento, na minha música Raul diz "mas minha alegria, minha ironia é bem maior do que essa porcaria".




2001 - Junio - San Pablo - DirecTV Music Hall





29/6/2001 - Augusto de Campos visita Caetano Veloso na estréia do show "Noites do Norte", no DirecTV  Music Hall, em São Paulo - Foto: Ana Ottoni / Folhapress

29/6/2001 - Raí e Zetti na estréia do show "Noites do Norte", de Caetano Veloso, no DirecTV  Music Hall, em São Paulo - Foto: Ana Ottoni / Folhapress

29/6/2001 - Sérgio Dias e Lourdes na estréia do show "Noites do Norte", no DirecTV  Music Hall, em São Paulo - Foto: Ana Ottoni / Folhapress





5 de julho de 2001
Marco Antonio Barbosa 

Caetano Veloso também lançará DVD



O espetáculo Noites do Norte será gravado e também vai render um álbum ao vivo



Multiplicam-se os projetos de DVDs de grandes nomes da MPB.

O próximo seduzido pelo canto de sereia do vídeo digital é Caetano Veloso. Seu show Noites do Norte vai ganhar registro duplo, em CD e DVD. As apresentações que Caetano faz no DirecTV Hall (SP) nos dias 14 e 15 de julho serão a base para os dois lançamentos. A idéia não surgiu de repente: a gravadora do cantor, a Universal Music, já planejava produzir o DVD antes mesmo da estréia do show. Só para lembrar, a gravação do show Noite do Norte será o quarto disco ao vivo lançado por Caetano nos últimos nove anos.






2001
NOITES DO NORTE AO VIVO
Gravado ao vivo, nos dias 15 de julho de 2001 no DirectTV Hall, São Paulo e 06 e 07 de agosto de 2001 na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Salvador.
Universal Music / Mercury Records CD 04400165272

CD 1

01. TWO NAIRA FIFTY KOBO (Caetano Veloso)
02. SUGAR CANE FIELDS FOREVER (Caetano Veloso)
03. NOITES DO NORTE (Caetano Veloso/Joaquim Nabuco)
04. 13 DE MAIO (Caetano Veloso)
05. ZUMBI (Jorge Ben)
06. HAITI (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
07. O ÚLTIMO ROMÂNTICO (Lulu Santos /Antônio Cícero/Sérgio Souza)
08. ARAÇÁ BLUE (Caetano Veloso)
09. NOSSO ESTRANHO AMOR (Caetano Veloso)
10. ESCÂNDALO (Caetano Veloso)
11. COBRA CORAL (Caetano Veloso/Waly Salomão) con Lulu Santos
12. COMO UMA ONDA [Zen Surfismo] (Nelson Motta/Lulu Santos) con Lulu Santos
13. MIMAR VOCÊ (Alain Tavares/Gilson Babilônia)
14. MAGRELINHA (Luiz Melodia)
15. ROCK’N’RAUL (Caetano Veloso)
16. ZERA A REZA (Caetano Veloso)

CD 2

01. DOM DE ILUDIR (Caetano Veloso) / TAPINHA (Naldinho)
02. CAMINHOS CRUZADOS (Antonio Carlos Jobim/Newton Mendonça)
03. TIGRESA (Caetano Veloso)
04. TREM DAS CORES (Caetano Veloso)
05. SAMBA DE VERÃO (Paulo Sérgio Valle/Marcos Valle)
06. MENINO DO RIO (Caetano Veloso)
07. MEU RIO (Caetano Veloso)
08. GATAS EXTRAORDINÁRIAS (Caetano Veloso)
09. LÍNGUA (Caetano Veloso)
10. CAJUÍNA (Caetano Veloso)
11. GENTE (Caetano Veloso) / PARABENS A VOCÊ (Mildred J. Hill/Patty S. Hill)
12. EU E A BRISA (Johnny Alf)
13. TROPICÁLIA (Caetano Veloso)
14. MEIA LUA INTEIRA [Capoeira larará] (Carlinhos Brown)
15. TEMPESTADES SOLARES (Caetano Veloso)
16. MENINO DEUS (Caetano Veloso)













O ESTADO DE S. PAULO - Caderno 2

Quinta-feira, 15 de novembro de 2001

Reflexões sobre a negritude e outras provocações

No novo disco, Caetano reúne canções novas e antigas que falam da pós-escravatura


MAURO DIAS

Caetano Veloso lançou oficialmente, na terça-feira, seu novo disco, Noites do Norte - Ao Vivo. Seguiu uma regra de mercado: o artista lança um disco, faz o show de lançamento, grava o show, lança o registro do show. "Há muita reação na imprensa contra o hábito de fazerem-se discos nascidos de show que nasceram de discos", escreveu o compositor, no texto de apresentação do CD - outro hábito que vem mantendo, o de escrever os textos de apresentação, para a imprensa, dos próprios discos. Em geral, esses textos são encomendados a terceiros.

"Mas eu não tinha idéia clara de lançar Noites do Norte ao vivo", disse, na tarde da mesma terça-feira, durante entrevista coletiva. Fez comparação com as duas obras imediatamente anteriores: quando gravou Fina Estampa, pensava no lançamento de um "ao vivo", o mesmo tendo ocorrido com Livro. "No caso de Noites do Norte, o que me animou a lançar o 'ao vivo' foi poder registrar o show inteiro, gravado ainda no início da temporada, e lançar o disco com todas as músicas, na ordem exata em que elas foram mostradas no palco. Nos outros, foi feita uma compilação do shows."

Extensíssimo - O resultado é um álbum duplo. Tem 32 faixas. É, como o compositor diz, um CD "extensíssimo". Valoriza-o, na opinião de Caetano, a qualidade da banda que o acompanhou nos espetáculos - qualidade dos arranjos e da execução desses. "Não fiz correções na minha voz", conta. E admite que, eventualmente, ela, a voz, possa demonstrar "inabilidades". Poderia. Não demonstra.

Noites do Norte - Ao Vivo foi gravado em um dia de julho, em São Paulo, e em dois dias do início de agosto, em Salvador. O cantor Lulu Santos faz duas participações especiais: em Cobra Coral, de Caetano, e em Como uma Onda, dele, Lulu. Dá ao repertório mais uma composição, O Último Romântico, cantada só por Caetano, que assina a direção geral do espetáculo e co-assina, com o ainda diretor musical Jaques Morelenbaum, a direção do CD.

"Eu venho namorando há muito tempo as canções do Lulu", disse o compositor.
"Já cantei algumas delas, em outras oportunidades; sempre tive vontade de gravar Assim Caminha a Humanidade, que quase entrou no repertório de Livro",diz. Bom, a canção acabou ficando de fora, também, do novo trabalho.
"Outra que ficou de fora, infelizmente, foi a minha Eu Sou Neguinha, conta.

"Mas é uma canção muito grande, e o show já estava muito grande, com duas outras músicas muito grandes que não podiam sair do repertório porque tinham tudo a ver com a idéia central de Noites do Norte, que são Haiti e Língua.

Língua, lançada em 1984 (Caetano a gravou com participação de Elza Soares), já traz a questão da negritude pós-escravocrata brasileira e do samba-rap ("Nós canto-falamos como quem/ Inveja os negros"); o mesmo se dá com Haiti, que é, propriamente, um samba-rap e tem como centro da narrativa a questão do negro no Brasil ("E quando ouvir o silêncio sorridente/ De São Paulo diante da chacina/ 111 presos indefesos, mas presos são/ Quase todos pretos, ou quase brancos quase/ Pretos de tão pobres"). Essas são, também, questões centrais de Noites do Norte. O nome do disco ao vivo, do show e do disco ao vivo saem de um texto de Joaquim Nabuco, um fascínio recente do compositor, sobre a escravidão, sobre a condição dos escravos após a abolição da escravatura: "A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil (...)", começa o texto.

A reflexão sobre a negritude (Caetano escreveu, um dia: "Sou um mulato nato/ No sentido lato/ Mulato democrático/ Do litoral) orienta a primeira parte do repertório de Noites do Norte - Ao Vivo. Que não se esgota aí. Não apenas pelas provocações - unir, numa mesma faixa, a feminina e pós-feminista Dom de Iludir, com o funk Tapinha - como pelo resgate de obras fundamentais à formação do compositor (Caminhos Cruzados, de Tom Jobim e Newton Mendonça, Eu e a Brisa, de Johnny Alf), trabalhos de contemporâneos que admira (as citadas de Lulu Santos, Magrelinha, de Luís Melodia).

Na verdade, ele não considera provocação ter gravado Tapinha. Provocação, diz, foi ter gravado Vicente Celestino, ter levado os Mutantes ou os Beach Boys e suas guitarras ao palco, na época do tropicalismo. "Depois, antes de mim, a Rita Lee, a Adriana Calcanhoto, a Fernanda Abreu já haviam cantado o Tapinha", lembra. As vaias que recebeu, atribui-as a dois motivos - o preconceito contra a música de fato popular - o funk carioca - e a incorreção política embutida no ato de afirmar que um "tapinha de amor não dói" - embora termine sua versão com um "dói", afirmativo, solene.
Seja como for, o preconceito, diz ele, reflete a maneira injusta como a sociedade brasileira está organizada. "Não se pode deixar de gostar só porque é do povo, embora se deva estar alerta para não incorrer no erro de gostar só porque o povo gosta", diz. E, completa, se o artista detecta alguma coisa na música verdadeiramente popular, tem a obrigação de revelar isso ao público que - por preconceito - nem ouviria. O Tapinha, para ele, tem um jeito engraçado, alegre, de lidar com uma questão que já está equacionada.

Comentou, por fim, o fato de que fotos suas, caricaturado como Osama bin Laden, circularam, pela Internet. "Fiquei preocupado. Alguém poderia acreditar na história. E ele, de fato, parece comigo, com gente da minha família. Não concordo em nada com ele, o que fez, mas é um homem bonito."











14/11/2001


Caetano: "Ninguém manda em mim, fora de casa"

Por Marcos Salles

Foto: Fred Pontes


Noites do Norte ao Vivo é o novo CD de Caetano Veloso, gravado nos dias 15 de julho no DirecTV Hall, em São Paulo, e 6 e 7 de agosto, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador. Como brinde, a participação especial de Lulu Santos, nas faixas Cobra Coral (Caetano Veloso/Waly Salomão) e Como uma Onda (Lulu Santos/Nelson Motta).

Ontem à tarde, no Espaço Universal UP, Caetano conversou com o Babado.

Babado - Em seu último CD ao vivo, Prenda Minha, de 1999, a vendagem ultrapassou 1 milhão de cópias. Você vê alguma chance de que aconteça o mesmo?
Caetano - Não via naquele, quanto mais nesse.

Babado - Você escreveu o material de divulgação do CD. O que significa “ninguém manda mim, fora de casa”?
Caetano - Quem dizia isso era o tecladista Ricardo Cristaldi. Mas ninguém manda em mim. E, em casa, como sou discípulo de Oswaldo de Andrade, cresci sob as ordens de mamãe. Minhas mulheres mandam em mim dentro de casa e, mais do que elas, meus filhos, né? Esses dias, Zeca me fez ficar com ele até as 5h. Eu obedeço. Fora disso não obedeço.

Babado - Este CD traz sua polêmica gravação do funk Tapinha.
Caetano - Não rolou uma polêmica. É exagero. Rolou uma série de vaias quando a platéia era predominantemente universitária durante os ensaios abertos. E, de vez em quando, tem pessoas que vaiam. O Tapinha é uma canção de mulher, feito por uma mulher e que fala de uma maneira meio sacana, alegre, do componente sexual da pancada do homem na mulher. Um pouquinho de porrada pode ser gostoso. É um lugar comum, mas que aparece com muita graça na canção, que é, ainda por cima, do mundo funk carioca.

Babado - E quais as razões das vaias?
Caetano - As principais razões são: por ser funk há um preconceito de status ou qualidade em relação à produção do funk carioca e porque talvez pareça politicamente incorreto eu repetir que um tapinha não dói como se fosse uma incitação à violência contra a mulher. Eu termino o número dizendo um “dói” de compaixão, dando uma seriedade que na canção original não tem. Uma identificação com a mulher, que às vezes sofre com a superioridade física do homem e a humilhação física. Emendo “Dom de Iludir” com uma música que eles não respeitam. Eles se sentem desrespeitados e por isso vaiam.

Babado - Você gosta de cantar a música?
Caetano - Gosto imensamente da repetição do refrão desde a primeira vez que ouvi. E canto com alegria. Acho até que às vezes algumas mulheres merecem levar umas porradas.

Babado - Você pensou em tirá-la do roteiro do show por causa das vaias?
Caetano - Não, já recebi vaias muito mais intensas e muito mais persistentes do que agora. Já enfrentei verdadeiras polêmicas. Quando cantei o Tapinha, Rita Lee, Adriana Calcanhoto e Fernanda Abreu já tinham cantado em seus shows. Não tinha vontade de provocar nada escandaloso. Não esperava nem uma vaia. Do ponto de vista do show business, o melhor que acontece é justamente quando vaiam.

Babado - Então, nada de preconceito ou de querer ser eclético?
Caetano - No Tropicalismo, gravei uma música do Vicente Celestino considerada a mais cafona das cafonas. Dissemos que Roberto Carlos era bacana, que rock and roll era aceitável. Tudo era escândalo na época. Tapinha é pinto. Eu to acostumado a isso. Não é porque eu queira ser eclético. Hoje em dia não há tapinhas fortes o suficiente, porque o estrago já feito pelo Tropicalismo.

Babado - Você vai votar no Lula?
Caetano - Pode ser que seja o momento do Lula. Votar nele é uma possibilidade que eu reconheço em público. Mas uma possibilidade. Tenho muito interesse na campanha do Ciro Gomes. Um sujeito que admiro desde que foi prefeito de Fortaleza.

Babado - E Fernando Henrique Cardoso?
Caetano - Não participo dessa história de esculhambar Fernando Henrique, que virou moda no Brasil nos últimos anos. Nunca participei e não participo. Acho um presidente respeitabilíssimo sob mil aspectos. A chegada dele na presidência é algo importante na nossa história. Não queria que ele se reelegesse, mas ainda assim ele ter entrado e mantido o real, ter a figura que tem, é muito importante. Eu gosto dele.

Babado - E a Roseana?
Caetano - O fato dela ser mulher é muito importante. É legal a figura dela, simpática. O leque de candidatos não é ruim.




15/11/2001

O disco gera o show que gera o disco

JOÃO BERNARDO CALDEIRA

Mais uma vez Caetano Veloso lança um disco ao vivo seguido de um gravado em estúdio, como fez em Circuladô Vivo (1992), Fina Estampa ao Vivo (1995) e Prenda Minha (1999). Como das outras vezes, o baiano não reproduziu simples e burocraticamente as apresentações dos shows: "Como ninguém manda em mim, fora de casa, teimosamente faço discos de shows de discos, mas não os faço como se espera que eu faça", afirmou, acusando a imprensa de ter um certo preconceito com discos de shows.

"O de Fina Estampa estava alicerçado em inéditas fortes: ‘Cucurrucucu Paloma', 'Lábios que beijei', 'Você esteve com meu bem', 'O Samba e o Tango' etc. O de Livro (Prenda Minha), na ausência total de canções do disco de estúdio", comparou Caetano, em coletiva à imprensa carioca esta semana. Em Noites do Norte Ao Vivo, Universal, a intenção é reproduzir as apresentações ao vivo sem alterar o repertório - mantendo as 32 músicas, em um disco duplo - ou a ordem das músicas.

Um disco-documento - É o baiano quem explica a diferença: "Como se tratava de uma parcela pequena do repertório total, dava para escolher (nos outros discos) o que estava mais limpo. Houve também, naqueles casos, uma providencial mudança na ordem das canções. Neste aqui vai tudo. É o disco de show mais disco-de-show que já fiz, um documentário do que o show tem sido", contou, ressaltando que nenhuma performance superou sua versão original: "Minha participação vocal não é limpa quanto em Prenda Minha", reconhece.

Entre os discos ao vivo há uma semelhança: em todos eles Caetano não alterou nos estúdios sua voz. "Como no caso de Prenda Minha, Circulandô ou Fina Estampa, não fiz pessoalmente nenhum trabalho de pós-produção em estúdio para corrigir o que não me parecesse bom em minhas atuações vocais. Não sou contra refazer, em princípio, mas não vejo muito sentido em fazer algo ao vivo se depois vai ser transformado no estúdio", defende.

O disco-documento da turnê de Noites do Norte, que esteve em junho no Canecão, no Rio, - são intercaladas em três apresentações diferentes: duas na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (6 e 7 de novembro) e outra no DirectTV Hall, em São Paulo (15 de julho). No entanto, as músicas do bis, que variavam em cada cidade, foram deixadas de fora (no Rio ele tocou "Leãozinho" e "Sozinho").

Lulu Santos - A inclusão do show do dia 7, em Salvador, é mais do que justificável. No dia do aniversário de 59 anos de Caetano, Lulu Santos subiu ao palco ao lado do baiano para acompanhá-lo em "Cobra Coral", de Noites do Norte, e "Como uma onda", sucesso de Nelson Motta e Lulu. "Venho namorando as músicas do Lulu Santos e já toquei aqui e ali ‘Como uma onda’, na MTV e no Circo Voador. Quase cantei ‘Assim caminha a Humanidade’ no show de Livro", revelou.

Um tapinha não dói - Outra pérola não presente em Noites do Norte de estúdio é o mega sucesso do funk carioca, a polêmica "Um Tapinha", de Naldinho, que sucitou reação negativa em mulheres que viam em seus versos um machismo pró-violência. Quando Caetano cantou "vai um tapinha não dói /só um tapinha ", no Canecão, algumas vaias ecoaram em protesto. Para Caetano, as vaias tiveram dois motivos: "há um preconceito em relação à qualidade do funk carioca, além de existir uma reação como se fosse politicamente incorreto (cantar 'Tapinha') e representasse uma aprovação da violência contra mulher".

Mas segundo Caetano, não é nada disso: nem o funk é destituído de qualidade, nem foi sua intenção atacar as mulheres. "Termino a música dizendo um dói de compaixão com a mulher que as vezes sofre com a dor física da violência do homem", se defende, apesar de em seguida revelar desejos mais ocultos: "Eu canto com uma alegria que penso que as mulheres às vezes merecem umas porradas", reconhece, com um sorriso no rosto.

Tapa foi dado pelo Tropicalismo - Sobre a suposta baixa qualidade do funk carioca, o baiano mantém a fama de polêmico, e ataca os defensores da boa música, os "bacaninhas que só ouvem Chico (Buarque), Edu Lobo, (Gilberto) Gil e Francis Hime". "A questão é ficar alerta para não desaprovar só porque o povo aprovou e perceber que a poesia aparece também em fontes que você não costuma ouvir", defende. Mas um "Tapinha" para ele não foi sequer polêmica: "Já recebi vaias muito mais intensas. Durante o Tropicalismo gravei uma música do Vicente Celestino que era considerado o mais cafona e dissemos que Roberto Carlos era bacana. Então 'Tapinha' é pinto! Polêmica foi quando dissemos que o rock era aceitável ou quando subi com os Mutantes para cantar 'É proibido proibir' ", se recorda. Não há mais como chocar o público, segundo Caetano. Nem mesmo com um "Tapinha". "Hoje em dia não há tapinhas fortes o suficiente, porque o estrago já foi feito com o Tropicalismo", analisa.

Polêmica ou não, o fato é que o cantor e compositor tropicalista poderia ter atenuado as reações negativas se não houvesse encaixado a música logo depois da pacata "Dom de Iludir", sem intervalo para os fãs recuperarem o fôlego. "Eu teria um grande aplauso certo se eu parasse logo em 'Dom de iludir'. Mas eu emendo direto 'Tapinha' e as pessoas ficam meio desconcertadas", reconhece.

Bin Laden - Em tempos de guerra, difícil é não falar de atentados terroristas, Estados Unidos, Afeganistão e de um fato curioso: a caricatura que circulou na Internet sobrepondo as imagens de Bin Laden e Caetano Veloso. O baiano não só soube da brincadeira, como conferiu e aprovou, surpreendentemente: "Queriam dizer que o Bin Laden era parecido comigo. Mas eu acho parecido! Ele tem uma cara parecida com pessoas da minha família e é bonito!", disse.
Brincadeiras a parte, o baiano relembra de quando estava nos Estados Unidos, em Los Angeles, justamente no fatídico dia 11 de setembro, dia dos atentados terroristas."Em pleno Estado Unidos da América não ver um avião no céu durante todo o dia parecia uma ficção científica", contou, nessa que poderá ser sua última entrevista à imprensa.

Última entrevista - No lançamento de Noites do Norte, o baiano preferiu não falar com a mídia, divulgando o disco com uma única entrevista diponibilizada em seu site. Desta vez, ele concedeu esta coletiva, o que pode não se repetir no futuro: "Mantenho as críticas à imprensa mas não me recuso a dar entrevistas, com exceção da revista Veja, que eu não falo. Mas posso fazer igual ao Frank Sinatra que certa vez decidiu não dar entrevistas nunca mais". Enquanto isso, resta aproveitar a paciência do baiano.





20/11/2001
O firme propósito de Caetano

MONICA RAMALHO






A proposta não era surpreender. E Caetano Veloso não surpreendeu. Depois de fixar olhos e ouvidos no baiano por mais de duas horas, restou a sensação de que ele estava ali, ao lado daqueles músicos maravilhosos, com o firme propósito de lamber a cria: o espetáculo com sonoridade para lá de sofisticada que veio de um disco e acabou virando outro disco. No repeteco, entrou novamente a fusão da poética "Dom de iludir" com o funk "Um tapinha não dói". Dessa vez, no entanto, sem um pingo de polêmica.
Caetano se comportou como um bom cidadão da Bahia e não trouxe nenhuma idéia mirabolante ao público na disputada estréia no ATL Hall, nesta segunda-feira, 19 de novembro. Em "Noites ao Norte ao Vivo", o cantor e compositor repetiu o roteiro e o figurino do show inicial, apresentado em junho passado aos cariocas. O novo/velho espetáculo perdeu e ganhou em calor humano. Se o tamanho da casa impôs uma certa distância entre palco e platéia (havia cerca de seis mil pessoas no local), a participação especialíssima do cantor Lulu Santos deu aquele charme extra que compensa o programa.
A sessão número um de aplausos efusivos veio assim que o baiano entoou os primeiros versos de "O último romântico", parceria de Lulu e Antonio Cícero, acompanhado pelo cello certeiro de Jaques Morelembaum. Bastou Lulu interpretar "Objeto não identificado", apenas colocando voz e violão, para levar a pequena multidão aos céus. Foi um dos melhores momentos "recordações" da noite.

 

 

Juntos, a dupla grisalha mostrou "Cobra coral", da nova safra de Caetano (registrada em "Noites do Norte" e também no disco ao vivo), e "Como uma onda", de Lulu, tão surrada que representa uma espécie de hino da juventude dos anos 80. Igualzinho ao show que eles fizeram no último aniversário de Caetano, no dia 7 de agosto, em Salvador. Ah, outra coisa: se depender de Caetano, continua na moda beijar convidados na frente do público. O músico anfitrião sapecou uma bitoca no Lulu.
No show de lançamento do álbum duplo (são 32 faixas), não faltaram canções do antigo repertório que fez Caetano ser quem é, como as sempre ótimas "Cajuína", "Gente", "Menino do Rio", "Leãozinho" e "Nosso estranho amor". Disco e show trazem, nos créditos, músicos do peso de Davi Moraes (guitarra e bandolim), Jaques Morelembaum (cello e contrabaixo), Pedro Sá (baixo e guitarra), Cesinha (bateria) e Marcio Vitor, Josino Eduardo, André Júnior e Eduardo Josino (percussão).
Do Rio de Janeiro, onde continuam em cartaz nesta terça-feira, dia 20, Caetano e banda seguem em direção a Belo Horizonte (Palácio das Artes, nos dias 28 e 29 de novembro), São Paulo (Teatro Alfa, nos dias 1 e 2 de dezembro) e Argentina (pequena turnê de sete shows no Gran Rex, em Buenos Aires, entre os dias 6 e 15 de dezembro).







2002
NOITES DO NORTE AO VIVO [1]
Gravado, ao vivo, nos dias 15 de julho de 2001 no DirectTV Hall, São Paulo e 06 e 07 de agosto de 2001 na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Salvador.
Universal Music / Mercury Records DVD 00731454836296


01. TWO NAIRA FIFTY KOBO (Caetano Veloso)
02. SUGAR CANE FIELDS FOREVER (Caetano Veloso)
03. NOITES DO NORTE (Caetano Veloso)
04. 13 DE MAIO (Caetano Veloso)
05. ZUMBI (Jorge Ben)
06. HAITI (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
07. O ÚLTIMO ROMÂNTICO (Lulu Santos /Antônio Cícero/Sérgio Souza)
08. COBRA CORAL (Caetano Veloso/Waly Salomão) Participación: Lulu Santos
09. COMO UMA ONDA [Zen Surfismo] (Nelson Motta/Lulu Santos)
Participación: Lulu Santos
10. MIMAR VOCÊ (Alain Tavares/Gilson Babilônia)
11. ARAÇÁ BLUE (Caetano Veloso)
12. ESCÂNDALO (Caetano Veloso)
13. MENINO DEUS (Caetano Veloso)
14. MAGRELINHA (Luiz Melodia)
15. ROCK’ N’ RAUL (Caetano Veloso)
16. ZERA A REZA (Caetano Veloso)
17. DOM DE ILUDIR (Caetano Veloso)
18. TAPINHA (Naldinho)
19. CAMINHOS CRUZADOS (Antonio Carlos Jobim/Newton Mendonça)
20. TIGRESA (Caetano Veloso)
21. TREM DAS CORES (Caetano Veloso)
22. SAMBA DE VERÃO (Paulo Sérgio Valle/Marcos Valle)
23. GATAS EXTRAORDINÁRIAS (Caetano Veloso)
24. LÍNGUA (Caetano Veloso)
25. CAJUÍNA (Caetano Veloso)
26. GENTE (Caetano Veloso)
27. TROPICÁLIA (Caetano Veloso)
28. EU E A BRISA (Johnny Alf)

Extras




ZECA ENTREVISTA
NOITES DO NORTE POR CAETANO VELOSO
DISCOGRAFIA
Aniversário PARABÉNS À VOCÊ [HAPPY BIRTHDAY TO YOU]
(Mildred J. Hill/Patty S. Hill)

Homenagem a Jorge Amado MILAGRE DO POVO
(Caetano Veloso)





O Estado de S.Paulo – Caderno 2
  
Terça-feira, 19 de Março de 2002

Caetano lança DVD e anuncia disco com Jorge Mautner

Depois da boa vendagem do DVD de Prenda Minha, é a vez de Noites do Norte testar o formato. Entre seus próximos projetos, estão um álbum em parceria com Jorge Mautner e uma antologia de músicas carnavalescas da Bahia

No camarim do Teatro Castro Alves, em Salvador, Caetano Veloso se prepara para o bis. Ao fundo, ouve-se a platéia cantar Parabéns para Você. É a noite do dia 6 de agosto de 2001, véspera do aniversário do cantor e compositor baiano. Enquanto repassa a lista das músicas ainda por tocar, Caetano recebe a notícia: "Jorge Amado morreu", lhe diz a mulher, Paula Lavigne. Corta. Surgem no mesmo palco, já no dia seguinte, Caetano e sua banda. Em homenagem ao escritor, executam Milagres do Povo. "Ele (Amado) é um homem que foi tão feliz e soube expressar tão bem a felicidade dele que, mesmo chorando, a gente só pode comemorar", diz o cantor para o público. A cena, emocionante, está entre os extras trazidos pelo DVD Noites do Norte ao Vivo, lançamento da Universal Music, que chega às lojas esta semana.

Na noite de segunda-feira, o cantor recebeu a imprensa para exibição de trechos do DVD, na sede da gravadora, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. "Eu mesmo ainda não vi inteiro", confessou, alegando dificuldades com a tecnologia. "Estou aprendendo a mexer devagar. Não tenho pressa." O show, que já rodou o Brasil, será apresentado ao mundo no segundo semestre. A Europa poderá assisti-lo em junho e julho. Em setembro, é a vez da turnê norte-americana. "Ou estadunidense. Nem sei como chamar. Esse país (EUA) não tem nome", brincou Caetano, que recebeu platina pela vendagem de seu DVD anterior, Prenda Minha. Foram 70 mil cópias. Também no segundo semestre deve se apresentar com a irmã Maria Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil, num revival dos Doces Bárbaros. Mas sem turnê.

Para breve, anuncia novo disco, uma parceria com o escritor, compositor e cantor Jorge Mautner. "Estamos produzindo um repertório. Haverá músicas novas, mas quero gravar coisas dele, o que nunca fiz. Maracatu Atômico é um sonho que todo mundo deveria ter. É irresistível", afirma, para em seguida elogiar a versão dos pernambucanos Chico Science e Nação Zumbi. "É maravilhoso que tenham feito. É maracatu mesmo." As gravações, diz Caetano, podem começar na semana que vem. Comentou ainda a participação no próximo filme do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, em que aparece cantando, e falou do movimento hip hop, que considera de grande potencial revolucionário em termos culturais e compara ao samba, nascido nos morros cariocas.

Carnaval - Caetano falou também de sua vontade de fazer um disco com músicas carnavalescas da Bahia, uma espécie de antologia do que se produziu a partir dos anos 60 até hoje. A lista é variada: Moraes Moreira, Banda Reflexus, Timbalada, Carlinhos Brown, Netinho, Luís Caldas. "Banda Eva com Ivete (Sangalo), Ivete sem Banda Eva. Todo esse mundo extremamente rico. Um grande e denso repertório carnavalesco à altura da grande tradição brasileira, uma demonstração de saúde cultural enorme", diz Caetano, sem poupar a crítica especializada pelo que considera "má vontade" com o universo do axé.

"Hoje há um abismo entre a minha vontade e a má vontade geral da crítica em relação ao axé. Não tenho palavras para preencher esse abismo." E por que o autor de Atrás do Trio Elétrico não produz mais para o carnaval? "O carnaval foi se transformando e esse pessoal, como o Carlinhos Brown, sabe fazer melhor. Não me senti necessário nem competente", responde, humilde.

Além da homenagem a Jorge Amado, o DVD também traz como extras uma entrevista com o cantor feita pelo seu filho Zeca e cenas domésticas de seu aniversário. O show em si é composto por 28 canções, de antigos sucessos (como Tigresa, Língua, Tropicália, Gente e Trem das Cores) aos mais recentes, como Haiti, Rock´n´Raul e Noites do Norte.

Há também covers, que vão de Magrelinha, de Luís Melodia, passando por uma versão do funk Tapinha, até Como Uma Onda, de Lulu Santos, que comparece para um dueto, cabelos combinando com a calça vermelha, tímido como diante de um ídolo.
Na banda, destaque para Jaques Morelenbaum e seu violoncello eletrônico. Os shows que estão no DVD foram gravados em São Paulo e na Bahia, sob direção de Carlos Nader e Carlos Manga Júnior.



Entrevistas de presentación del DVD en marzo de 2002.


Con Cláudio Lins - Programa A VIDA É UM SHOW - TVE/Rede Brasil




  




ISTOÉ Gente

25/03/2002

Eleição

O político Caetano

O cantor e compositor elogia Ciro Gomes, afirma que não quer continuar com a turma da USP, mas diz temer a imaturidade do Brasil para um governo comandado por Lula

Luís Edmundo Araújo

Bem-humorado e sorridente, Caetano Veloso chega pontualmente para a exibição de trechos do DVD Noites do Norte ao Vivo, que ele acaba de lançar e está divulgando. O motivo do encontro é a música, mas o cantor e compositor sente-se à vontade como poucos para discorrer sobre os candidatos a presidente, fazer análises sobre os sotaques de políticos, elogios ao movimento do hip hop das periferias e o comentar o medo da dengue que toma conta de quem mora no Rio de Janeiro. Só não se estende muito quando o assunto é a proximidade de seus 60 anos. “Ainda não fiz, faço em agosto”, diz ele, para emendar em seguida: “Tenho muitos problemas, mas não sei se com isso também. Com 57, 58 anos já pensava nessas coisas, não tanto na conta redonda dos 60, mas na perspectiva geral da idade em que você está, levando em conta o que sabemos a respeito de idades humanas. É isso”.

Ao falar de política, porém, Caetano não é nada econômico. Primeiro, ressalta pontos positivos dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, como a cassação dos mandatos dos senadores Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, mas diz não ter vontade de continuar com a turma da Universidade de São Paulo (USP) que integra a equipe do presidente. “Acho importante que a passagem de Fernando Henrique tenha contribuído para o desmantelamento da estrutura das oligarquias mais antiquadas, mas não queria continuar na USP.”

Caetano acha que este poderia ser o momento de Lula, para quem fez campanha em 1989, na eleição contra Collor, mas faz suas ressalvas. “É preciso ver se estamos maduros para o Lula, se alguns setores da esquerda não vão exigir que ele vá mais para a esquerda. Porque um presidente tem que saber conduzir uma nação para dirigi-la”, afirma. É aí que entra no nome de Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, outro de seus prováveis candidatos. “Ciro fala bem e o sotaque dele é muito bonito. Por falar em sotaque, adoro o Armínio Fraga. Fico com a impressão de que devíamos fazer que nem os americanos, que mudam o governo mas mantêm o presidente do Banco Central”, brinca o cantor, sem esconder sua aversão ao modo de falar dos paulistas e de alguns políticos nordestinos. “Acho horrível muita gente com sotaque paulista, e esses políticos com sotaque baiano, nordestino, mas o Armínio fala como carioca e o Ciro fala um nordestino bonito.”

E os tucanos? Caetano admite a possibilidade de votar em José Serra e repetir o voto no PSDB. Serra agradece: “Independentemente de qual venha a ser a preferência eleitoral do Caetano, vou continuar achando que ele é um artista extraodinário. Sou fã dele”, diz o senador. O artista baiano não esconde que o momento é de dúvidas. “Não quero ficar na USP, mas também não tenho vontade de que o Brasil passe pelos problemas que podem advir da eleição de Lula”, justificou. O compositor conta que conhece Roseana e acha simpática a pré-candidata do PFL, mas arranca risos ao explicar porque não votaria nela. “Penso naquela paródia do pessoal do Casseta e Planeta, ‘tu é Sarney, tu é Sarney que eu sei’. Isso não me sai da cabeça”, diz ele.

A seriedade só volta à conversa quando o assunto é a epidemia de dengue no Rio de Janeiro, que já matou 40 pessoas. “Tenho medo de pegar. Passei repelente quando saí de casa. É uma coisa séria, pessoas morreram. É uma pena que o Brasil tenha de enfrentar um problema desses ainda.” É algo que o eleitor Caetano Veloso pode ajudar a deixar no passado.



“Acho horrível muita gente com sotaque paulista, e esses políticos com sotaque baiano, nordestino, mas o Armínio fala como carioca e o Ciro fala um nordestino bonito”, diz o compositor

“Acho importante que a passagem de Fernando Henrique tenha contribuído para o desmantelamento da estrutura das oligarquias mais antiquadas, mas não queria continuar na USP’’








Especial na TVE 




Caetano Veloso gravou o especial de aniversário de um ano do "A vida é um show", da TVE/Rede Brasil. Nos bastidores, o cantor baiano dizia a todos que escolheu o programa para lançar seu DVD porque gosta muito de Cláudio Lins e do seu trabalho como apresentador.

Elogiou o programa dizendo que é o único na TV brasileira que dá esse espaço, homenageando um artista durante uma semana. A atração será exibida em maio. 







 
 
















Lanzamiento DVD
13/05/2002 Brasil

Especial Caetano Veloso - Programa TVE - A Vida é um Show

O programa do cantor e compositor Caetano Veloso será veinculado de segunda a sexta-feira desta semana, dentre os dias 13 e 17 de Maio no horário de 22:00h às 22:30 e no domingo, dia 19 um compacto com uma hora de duração, às 23:30h.

O programa comemora um ano com uma semana dedicada a Caetano Veloso, que mostra composições do seu novo sucesso, o DVD Noites do Norte, e conversa com Cláudio Lins sobre a carreira, os filhos, a Tropicália, o exílio em Londres e a influência de sua mãe, Dona Canô, que o ensinou a cantar cantigas de roda.

Na seleção musical, clipes do novo DVD e pérolas do Acervo, como O quereres, Língua e Tropicália. O programa conta também com os depoimentos de Moreno Veloso, Luis Carlos Maciel, Gilberto Gil e Maria Betânia falando sobre Caetano. Direção de Luiz Carlos Pires.

22:00 – TVE













10 Maio 2002

Caetano volta a SP com "Noites do Norte"

Agencia Estado

Caetano Veloso ainda aproveita o sucesso das músicas do seu disco Noites do 
Norte, lançado em 2000. Depois de ser elogiado pelo crítica estrangeira, fazer
uma extensa turnê de divulgação, ter lançado um álbum ao vivo com o mesmo
repertório e ainda ter gravado um DVD da turnê, o cantor e compositor baiano
volta a São Paulo, e hoje e amanhã, às 22h30, no palco do Olympia.

É fácil entender as razões de Caetano para não abandonar o projeto.

Noites do Norte Ao Vivo é um belo espetáculo, em que o compositor presta
homenagens a Tom Jobim, Jorge Ben Jor, Lulu Santos, e tira do esquecimento
músicas suas que há muito não cantava, como Araçá Azul, do disco homônimo, do início dos anos 70.



Temas que interessam ao compositor - como política, Bahia e literatura - são comentados em algumas das melhores partes do show, como a canção Noites do Norte (texto musicado de Joaquim Nabuco), 13 de Maio (com seu inusitado jogo de compassos, cortesia do filho Moreno) e a lírica releitura de Zumbi, de Jorge Ben Jor.



No roteiro dirigido pelo violoncelista Jaques Morelembaum - parceiro musical de

Caetano há mais de uma década - também está garantida uma sessão das canções conhecidas, como Menino do Rio, Leãozinho e outras que ficaram mais famosas em vozes alheias, como Nosso Estranho Amor e Tigresa.



Há ainda espaço para as músicas que Caetano admira, como Caminhos Cruzados, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, e Samba de Verão, composição da época da bossa nova feita pelos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle. Caetano também renova o zelo por seu patrimônio poético, com letras que vão do puro jogo de linguagem (Cantiga do Boi), à expressão de uma saudade (Meu Rio, com um lamento em forma de cavaquinho tocado por Dudu Nobre), passando por uma dura queixa de amor, no estilo de velhos sambas (Tempestades Solares). E o compositor baiano continua recebendo elogios unânimes da imprensa mundial com o show, por suas reconstruções sonoras, pela unidade teórica dada pelos textos de Joaquim Nabuco e por suas ousadas posturas cênicas.



Por isso, a turnê ainda deve passear pelos Estados Unidos, México, além

de outros países da América Latina. Mas quem pretende ouvir algum material

inédito de Caetano ainda vai ter de esperar mais um pouco.



Noites do Norte ao Vivo.

Hoje 10 e amanhã 11, às 22h30, no Olympia (R. Clélia, 1517, tel. 3866-3000).

De R$ 30 a R$ 85.


 


 




10 de maio 2002, SP


Maria Rita
Preta Gil

Jandir Ferrari e Inêz Viana
 

 


Última presentación: Ibirapuera (SP) - 26/8/2002





[1] Segundo título en formato digital versatile disc, lanzado en Brasil el 18 de marzo de 2002.


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