Bob Sousa é fotógrafo,
mestre em artes cênicas pela Unesp e crítico de artes visuais da APCA
(Associação Paulista de Críticos de Artes).
Toda semana retrata para o Blog do Arcanjo no UOL uma personalidade do mundo da Cultura e do entretenimento.
Sobre o autor
Miguel Arcanjo Prado é jornalista formado pela
UFMG, pós-graduado na USP e mestrando em Artes na UNESP. É vice-presidente da
APCA. Mineiro de Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. Passou por TV
UFMG, O Pasquim 21, TV Globo, Curso Abril de Jornalismo, Contigo!, Folha de
S.Paulo, Agora, R7, Record e Record News.
Sobre o blog
O Blog do Arcanjo conta de um jeito leve e
inteligente o que rola nos palcos e nos bastidores do mundo do Entretenimento.
O Retrato do Bob:
Caetano Veloso se renova na diversidade de seus filhos
Miguel
Arcanjo Prado
26/05/2018
Caetano Veloso – Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL |
Sozinho,
no camarim 1 do Espaço das Américas, na noite fria de São Paulo, Caetano Veloso
toca em seu violão "Trem das Cores", acompanhando a música com seu
próprio assobio. Do lado de fora, no backstage, tudo é paz. Moreno Veloso, seu
filho mais velho, anda, concentrado. Logo, voltam de um passeio pelos arredores
os mais novos Zeca Veloso e Tom Veloso. Em poucos minutos, o quarteto familiar
está formado. Caetano vem, junto aos filhos, para o lugar sugerido pelo
fotógrafo Bob Sousa para seus retratos. Educados, todos cumprimentam todos. O
primeiro clique é de "painho", como o chama carinhosamente sua
mulher, empresária do clã e mãe dos dois mais novos, Paula Lavigne —esta só
chega quando o último clique foi realizado, com a energia de quem sustenta,
onipresente, o fluxo para que tudo dê certo, me fazendo lembrar o verso
"todo homem precisa de uma mãe", composto e cantado por Zeca no show.
Liberado do retrato sozinho e com os filhos, Caetano não se vai. Fica ali,
parado ao meu lado, atrás de Bob, que segue seu trabalho, fotografando
individualmente os meninos. Caetano observa, com uma expressão satisfeita, os
filhos posarem. Um a um. Olho para o lado e vejo um pai orgulhoso de sua cria.
O sorriso no rosto do artista explicita a felicidade de ver seu fruto unido a
ele neste show "Ofertório", lançado em DVD e nas plataformas
digitais, após sucesso nos palcos brasileiros. Sobre a canção-título, mais
tarde, ele explica: "Escrevi as palavras como se fossem ditas pela minha
mãe e, agora, as repito em homenagem à religiosidade dos meus filhos". Aos
75 anos, Caetano sabe que os dedos da mão não são iguais e se renova na
diversidade de seus filhos. Dali a pouco tempo, no palco, Tom vai dançar
desavergonhadamente o jovial passinho no funk "Alexandrino", enquanto
que Moreno incorpora o tradicional samba de roda do Recôncavo Baiano com o
prato na companhia do pai e Zeca, mais tímido, arrisca um tímido passo de samba
carioca naquela exuberância musical, diversa e familiar, em diálogo com o ontem
e o hoje. Caetano lembra que Moreno tem 20 anos de carreira, Tom, dois, e que
Zeca se inicia, enquanto que ele está por aí há muito tempo. Já também liberado
de seu retrato, o primogénito Moreno se aproxima. Aproveito para parabenizar
pai e filho pela regravação de "Um Canto do Afoxé para o Bloco do
Ilê". E revelo que minha avó, a ialorixá Oneida Oliveira, a Mãe Gigi,
gostava de me ensinar, pequeno, em Belo Horizonte, a cantar aquela canção
baiana, na qual a voz aguda do menino Moreno repetia, singela para o pai, o
nome do bloco afro Ilê Aiyê. E que eu, quando ouvia, pequenino, perguntava a
vovó se era a própria criança da música, ao que ela me elucidava: "É
Moreno, filho de Caetano". Moreno ri, Caetano também. Parecem gostar da
ressignificação íntima daquela canção na cabeça do jornalista. "É a
Bahia", me define Caetano, antes de explicar, carinhosamente: "Agora é
Tom quem diz Ilê Aiyê". E repete o tom agudo do caçula ao bradar o nome do
bloco afro tal qual o primogênito fez no disco "Cores, Nomes", aquele
que também traz "Trem das Cores", a tal canção assobiada momentos
antes por Caetano, sozinho, no camarim 1 do Espaço das Américas, na noite fria
de São Paulo.
Caetano Veloso, Moreno Veloso, Zeca Veloso e Tom Veloso Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL |
O Retrato do Bob:
Moreno Veloso, fruto tropicalista que une música e física
Miguel
Arcanjo Prado
16/06/2018
Moreno Veloso, cantor, compositor, músico e físico Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL |
No
palco do show "Ofertório", ao lado do pai, Moreno Veloso demonstra a
paz e o conforto que emana de sua música, sendo espécie de farol
físico-quântico da atmosfera presente no espetáculo familiar, ao lado também
dos irmãos mais novos, Zeca e Tom Veloso, como quando revisita de forma
sensível "Deusa do Amor", do cancioneiro do bloco afro Olodum.
Após
passar por São Paulo no Espaço das Américas e pelo Festival João Rock, o
quarteto familiar apresentou nesta sexta (15) o álbum no Vivo Rio, no Rio de
Janeiro, onde repete o show neste sábado (16) às 21h antes de iniciar turnê
internacional.
Moreno
é filho primogênito de Caetano Veloso, fruto de um dos períodos mais férteis e
também difíceis da carreira do pai. Nasceu em Salvador da Bahia, em 22 de
novembro de 1972, quando da volta do pai do exílio londrino, fruto do casamento
de Caetano com Dedé Gadelha Veloso.
Fruto
do tropicalismo, da antropofagia e do desbunde da contracultura que dominou boa
parte dos anos 1970, surgiu nu ao lado dos pais em igual condição na libertária
e censurada capa do disco "Joia", de 1975.
Mais
tarde, em 1981, surgiu, menino, tendo sua doce voz como compasso de "Um
Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê", do disco "Cores, Nomes",
canção revisitada agora em "Ofertório" no qual o caçula Tom lhe herda
a tarefa de dizer o nome do bloco afro Ilê Aiyê.
Formado
em física, o que o torna especialista nas ondas energéticas tão evidentes na
música que faz há 20 anos de forma profissional, Moreno Veloso posou para o
fotógrafo Bob Sousa nos bastidores do show familiar, sozinho e ao lado do pai e
dos irmãos. Depois, conversou de forma tranquila com o Blog do Arcanjo no UOL.
Leia
com toda a calma do mundo.
Caetano Veloso olha para o primogênito, Moreno Veloso, na companhia dos irmãos Zeca Veloso e Tom Veloso, nos bastidores do show Ofertório Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL. |
Miguel Arcanjo
Prado — Moreno, você já é pai também. Como é no palco agora ser filho e irmão?
O que passa por sua cabeças nestes shows em família do "Ofertório"?
Moreno Veloso — Ficar junto da
família enquanto a gente faz algum trabalho artístico é muito forte, muito
positivo. Eu fico muito feliz e excitado vendo meus irmãos cantando as músicas
deles e eu estando ao lado deles, porque eu também os vi crescendo e assim como
estou vendo meus filhos crescerem também, assim como eu tenho uma admiração
enorme pelo meu pai como artista e também como pai, então, tudo isso junto é
uma emoção muito grande. E na minha cabeça quando a gente está no palco vem
vários flashes, imagens da minha infância, de meu pai cantando, da gente na
praia. Eu vejo imagens também do Zeca pequenininho, da Paulinha grávida do Tom.
Eu vejo imagens do Tom bebezinho, da gente brincando junto, das primeiras vezes
que vi o Zeca cantar e tocar suas composições e tudo isso vai passando pela minha
cabeça durante o show, e é muito emocionante mesmo.
Miguel Arcanjo
Prado — No que você é baiano e no que é carioca?
Moreno Veloso — Eu sou mais
baiano no nascimento, porque foi em Salvador a cidade em que eu nasci e também
a família, toda a parte familiar é baiana, dos dois lados, da minha mãe e do
meu pai, basicamente. Na educação culinária e musical eu também sou muito mais
baiano. Na educação formal, eu sou carioca, porque eu fiz minha faculdade no
Rio de Janeiro, os meus amigos de escola são todos cariocas como o Pedro Sá, o
Domênico, o Cassinho, então tem uma coisa da minha vida profissional dentro da
música que está muito ligada ao Rio de Janeiro, porque está ligada à essas
pessoas que acabei de citar.
Miguel Arcanjo
Prado — E quais são seus lugares preferidos em Salvador e no Rio?
Moreno Veloso — Sobre os meus
lugares favoritos, é difícil dizer. A Bahia é um lugar maravilhoso, mas acho
que eu escolheria o Porto da Barra, como lugar emblemático de Salvador. Do Rio
de Janeiro, não sei. Acho que dar uma volta no fim de tarde na Lagoa Rodrigo de
Freitas é uma coisa que não tem preço. Se o dia estiver bonito, misericórdia.
Miguel Arcanjo
Prado — No que você é mais Veloso e no que é mais Gadelha?
Moreno Veloso — Eu sou mais
Veloso na música e no samba de roda e sou mais Gadelha na física, porque fui
trabalhar, me formei em física na UFRJ, trabalhei em um laboratório, então,
essas duas vertentes compõem a minha pessoa também. E eu realmente sou filho da
minha mãe e do meu pai, em muitos outros aspectos, não só na física e na
música, mas isso fica para depois.
Miguel Arcanjo
Prado — Estudar física foi importante para você em que sentido?
Moreno Veloso — Estudar física
foi muito importante porque é um sonho, uma coisa que existe até hoje dentro de
mim, esse pensamento filosófico matemático, uma representação mais geométrica
matemática da existência da natureza, do universo, essa pesquisa e também,
principalmente porque a gente não deixa nossa cabeça esmorecer, a gente não
deixar de exercitar nosso cérebro. Isso é super importante pra musica, pra
vida, pra tudo. Então, se você tiver oportunidade de fazer o seu cérebro
trabalhar – e na física a gente faz ele trabalhar muito – se você tiver a
oportunidade de fazer esse exercício, não perca, porque é muito bom. Vale a
pena e faz bem à saúde.
Miguel Arcanjo
Prado — Como foi tocar com Gil em "Refavela 40" e na sequência
emendar o trabalho com seu pai e seus dois irmãos em "Ofertório"?
Como é ser esta ponte de diálogo entre estes dois trabalhos?
Moreno Veloso — É uma felicidade
enorme fazer parte desse "Refavela 40" que o Bem Gil [filho de
Gilberto Gil e Flora Gil] arrumou e regenciou para nós todos. Ele me chamou e
eu fiquei muito feliz. "Sandra" [canção que canta no show com a
família Gil] é uma das músicas de amor mais bonitas que eu conheço. É o nome de
minha tia com quem Gil foi casado [Sandra Gadelha, irmã de sua mãe, Dedé
Gadelha] e teve 3 filhos, meus primos, dentre eles a Preta Gil, que é minha
prima. São pessoas que eu amo e é uma felicidade enorme fazer parte dessa festa
em homenagem aos 40 anos do disco "Refavela". E claro que, na
sequência, no mesmo festival [João Rock], no mesmo palco, logo depois desse
show lindo do "Refavela", fazer o show com meu pai e meus irmãos foi
uma coisa incrível. Ficar no meio entre o Gil e os filhos dele, meu pai e meus
irmãos… Eu fiquei realmente muito feliz. Não tenho muitas palavras para dizer.
É maravilhoso.
Miguel Arcanjo
Prado — Você já misturou em um show a banda argentina Onda Vaga e Daniela
Mercury e Muzenza. Isso é muito você?
Moreno Veloso — É verdade. Eu já
misturei OndaVaga com Daniela Mercury, o Muzenza, mas veja só, isso é minha
educação. Meu pai é tropicalista. Esse pessoal gosta de antropofagia e isso
nada mais é do que também uma postura de muito respeito para as coisas que eu
admiro e que eu acho que podem ficar lado a lado.
No
Brasil, a gente encontra essas pessoas, esses músicos, esses artistas, essas
bandas maravilhosas e também na Argentina, fora do Brasil e em qualquer lugar,
a gente não pode ter medo e muito receio de fazer eles ficarem juntos dentro do
nosso universo, porque o nosso universo é o nosso gosto, é o que impulsiona a
gente, e essas coisas impulsionam a minha vida artística. Não sei se é assim
pra todo mundo, mas com certeza é pra mim. Eu me movo dentro das coisas que me
deixam excitado, e com certeza essas são algumas delas e outras também, e por
aí vai.
O Retrato do Bob:
Zeca Veloso, o filho de Caetano que é mais Paula
Miguel
Arcanjo Prado
14/07/2018
Zeca Veloso – Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL |
Zeca Veloso é o filho do meio de Caetano Veloso e o
primogênito de Paula Lavigne. Compositor da bela e delicada canção "Todo
Homem", sucesso que abre "Onde Nascem os Fortes", ele foi
resistente ao pedido familiar para entrar no mundo da música. Contudo, acabou
cedendo.
Aos 26 anos, Zeca começa a estar diante dos
holofotes que seu pai conhece tão bem há mais de cinco décadas. Afinal, o
admirador de Prince e rhythm and blues começa a carreira no nobre posto de
cantar o tema de abertura de série da Globo.
Atualmente, ele viaja a Europa com a turnê de
sucesso "Ofertório", o
álbum e show familiar ao lado do pai e dos dois irmãos, Moreno Veloso e Tom
Veloso, e com a mãe orquestrando os bastidores.
Mesmo diante do concerto aclamado no Brasil e pelo
público e crítica de lugares como Paris e Londres, ele afirma não se sentir
"músico de nível profissional".
Zeca posou para o fotógrafo Bob Sousa e conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo no UOL
sobre o que sente diante dessa mudança em sua vida, antes mais pacata e tímida.
Falou como é estar junto da família neste novo
cotidiano artístico e revelou com quem crê parecer mais: se com Caetano Veloso
ou Paula Lavigne, sua mãe. Afinal, sua música decreta que todo homem precisa de
uma.
Leia
com toda a calma do mundo.
Caetano Veloso e Zeca Veloso – Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL |
Miguel Arcanjo Prado — Por que você resistiu tanto para seguir o caminho
da música?
Zeca Veloso — Demorei um pouco a topar fazer o show, não me
sentia preparado tecnicamente, mentalmente, de muitas formas. Não era e ainda
não sou músico de nível profissional.
Miguel Arcanjo
Prado — De cara, sua música "Todo Homem" virou abertura de "Onde
Nascem os Fortes" na Globo. Como é se lançar já com todo esse peso? Zeca Veloso — De um jeito bom, é um
pouco engraçado ouvir a música no rádio, na TV, etc. Um ano atrás não imaginava
a repercussão que o nosso projeto teve, muito menos minha música como single e
abertura de série… Soube, antes de "Onde Nascem os Fortes" começar,
que a música era tocada no set de filmagem para preparar os atores, depois
soube que tinha sido escolhida para ser a abertura. Fiquei muito feliz com tudo.
Miguel Arcanjo
Prado
— Essa música é uma homenagem sua pra
Paula Lavigne, sua mãe?
Zeca Veloso — Não posso dizer
que seja exatamente uma homenagem a ela, tem ela, mas tem algumas outras
coisas.
Miguel Arcanjo
Prado — Qual o lado melhor de estar no palco com seus dois irmãos e seu pai?
Zeca Veloso — Não tenho como
dizer uma só coisa, é uma alegria enorme de muitas maneiras.
Miguel Arcanjo
Prado — Você é mais Caetano ou mais Paula?
Zeca Veloso — Eu acho que mais
Paula.
Caetano Veloso, Moreno Veloso, Zeca Veloso e Tom Veloso Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL |
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