sábado, 1 de septiembre de 2018

2018 - O RETRATO DO BOB






Bob Sousa é fotógrafo, mestre em artes cênicas pela Unesp e crítico de artes visuais da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes). 
Toda semana retrata para o Blog do Arcanjo no UOL uma personalidade do mundo da Cultura e do entretenimento.

Sobre o autor
Miguel Arcanjo Prado é jornalista formado pela UFMG, pós-graduado na USP e mestrando em Artes na UNESP. É vice-presidente da APCA. Mineiro de Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. Passou por TV UFMG, O Pasquim 21, TV Globo, Curso Abril de Jornalismo, Contigo!, Folha de S.Paulo, Agora, R7, Record e Record News.

Sobre o blog
O Blog do Arcanjo conta de um jeito leve e inteligente o que rola nos palcos e nos bastidores do mundo do Entretenimento.




O Retrato do Bob: 
Caetano Veloso se renova na diversidade de seus filhos

Miguel Arcanjo Prado
26/05/2018



Caetano Veloso – Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL


Sozinho, no camarim 1 do Espaço das Américas, na noite fria de São Paulo, Caetano Veloso toca em seu violão "Trem das Cores", acompanhando a música com seu próprio assobio. Do lado de fora, no backstage, tudo é paz. Moreno Veloso, seu filho mais velho, anda, concentrado. Logo, voltam de um passeio pelos arredores os mais novos Zeca Veloso e Tom Veloso. Em poucos minutos, o quarteto familiar está formado. Caetano vem, junto aos filhos, para o lugar sugerido pelo fotógrafo Bob Sousa para seus retratos. Educados, todos cumprimentam todos. O primeiro clique é de "painho", como o chama carinhosamente sua mulher, empresária do clã e mãe dos dois mais novos, Paula Lavigne —esta só chega quando o último clique foi realizado, com a energia de quem sustenta, onipresente, o fluxo para que tudo dê certo, me fazendo lembrar o verso "todo homem precisa de uma mãe", composto e cantado por Zeca no show. Liberado do retrato sozinho e com os filhos, Caetano não se vai. Fica ali, parado ao meu lado, atrás de Bob, que segue seu trabalho, fotografando individualmente os meninos. Caetano observa, com uma expressão satisfeita, os filhos posarem. Um a um. Olho para o lado e vejo um pai orgulhoso de sua cria. O sorriso no rosto do artista explicita a felicidade de ver seu fruto unido a ele neste show "Ofertório", lançado em DVD e nas plataformas digitais, após sucesso nos palcos brasileiros. Sobre a canção-título, mais tarde, ele explica: "Escrevi as palavras como se fossem ditas pela minha mãe e, agora, as repito em homenagem à religiosidade dos meus filhos". Aos 75 anos, Caetano sabe que os dedos da mão não são iguais e se renova na diversidade de seus filhos. Dali a pouco tempo, no palco, Tom vai dançar desavergonhadamente o jovial passinho no funk "Alexandrino", enquanto que Moreno incorpora o tradicional samba de roda do Recôncavo Baiano com o prato na companhia do pai e Zeca, mais tímido, arrisca um tímido passo de samba carioca naquela exuberância musical, diversa e familiar, em diálogo com o ontem e o hoje. Caetano lembra que Moreno tem 20 anos de carreira, Tom, dois, e que Zeca se inicia, enquanto que ele está por aí há muito tempo. Já também liberado de seu retrato, o primogénito Moreno se aproxima. Aproveito para parabenizar pai e filho pela regravação de "Um Canto do Afoxé para o Bloco do Ilê". E revelo que minha avó, a ialorixá Oneida Oliveira, a Mãe Gigi, gostava de me ensinar, pequeno, em Belo Horizonte, a cantar aquela canção baiana, na qual a voz aguda do menino Moreno repetia, singela para o pai, o nome do bloco afro Ilê Aiyê. E que eu, quando ouvia, pequenino, perguntava a vovó se era a própria criança da música, ao que ela me elucidava: "É Moreno, filho de Caetano". Moreno ri, Caetano também. Parecem gostar da ressignificação íntima daquela canção na cabeça do jornalista. "É a Bahia", me define Caetano, antes de explicar, carinhosamente: "Agora é Tom quem diz Ilê Aiyê". E repete o tom agudo do caçula ao bradar o nome do bloco afro tal qual o primogênito fez no disco "Cores, Nomes", aquele que também traz "Trem das Cores", a tal canção assobiada momentos antes por Caetano, sozinho, no camarim 1 do Espaço das Américas, na noite fria de São Paulo.



Caetano Veloso, Moreno Veloso, Zeca Veloso e Tom Veloso
Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL



O Retrato do Bob: 
Moreno Veloso, fruto tropicalista que une música e física

Miguel Arcanjo Prado
16/06/2018




Moreno Veloso, cantor, compositor, músico e físico
Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL


No palco do show "Ofertório", ao lado do pai, Moreno Veloso demonstra a paz e o conforto que emana de sua música, sendo espécie de farol físico-quântico da atmosfera presente no espetáculo familiar, ao lado também dos irmãos mais novos, Zeca e Tom Veloso, como quando revisita de forma sensível "Deusa do Amor", do cancioneiro do bloco afro Olodum.

Após passar por São Paulo no Espaço das Américas e pelo Festival João Rock, o quarteto familiar apresentou nesta sexta (15) o álbum no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, onde repete o show neste sábado (16) às 21h antes de iniciar turnê internacional.

Moreno é filho primogênito de Caetano Veloso, fruto de um dos períodos mais férteis e também difíceis da carreira do pai. Nasceu em Salvador da Bahia, em 22 de novembro de 1972, quando da volta do pai do exílio londrino, fruto do casamento de Caetano com Dedé Gadelha Veloso.

Fruto do tropicalismo, da antropofagia e do desbunde da contracultura que dominou boa parte dos anos 1970, surgiu nu ao lado dos pais em igual condição na libertária e censurada capa do disco "Joia", de 1975.

Mais tarde, em 1981, surgiu, menino, tendo sua doce voz como compasso de "Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê", do disco "Cores, Nomes", canção revisitada agora em "Ofertório" no qual o caçula Tom lhe herda a tarefa de dizer o nome do bloco afro Ilê Aiyê.

Formado em física, o que o torna especialista nas ondas energéticas tão evidentes na música que faz há 20 anos de forma profissional, Moreno Veloso posou para o fotógrafo Bob Sousa nos bastidores do show familiar, sozinho e ao lado do pai e dos irmãos. Depois, conversou de forma tranquila com o Blog do Arcanjo no UOL.

Leia com toda a calma do mundo.



Caetano Veloso olha para o primogênito, Moreno Veloso, na companhia dos irmãos Zeca Veloso e Tom Veloso, nos bastidores do show Ofertório
Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL.



Miguel Arcanjo Prado — Moreno, você já é pai também. Como é no palco agora ser filho e irmão? O que passa por sua cabeças nestes shows em família do "Ofertório"?
Moreno Veloso — Ficar junto da família enquanto a gente faz algum trabalho artístico é muito forte, muito positivo. Eu fico muito feliz e excitado vendo meus irmãos cantando as músicas deles e eu estando ao lado deles, porque eu também os vi crescendo e assim como estou vendo meus filhos crescerem também, assim como eu tenho uma admiração enorme pelo meu pai como artista e também como pai, então, tudo isso junto é uma emoção muito grande. E na minha cabeça quando a gente está no palco vem vários flashes, imagens da minha infância, de meu pai cantando, da gente na praia. Eu vejo imagens também do Zeca pequenininho, da Paulinha grávida do Tom. Eu vejo imagens do Tom bebezinho, da gente brincando junto, das primeiras vezes que vi o Zeca cantar e tocar suas composições e tudo isso vai passando pela minha cabeça durante o show, e é muito emocionante mesmo.

Miguel Arcanjo Prado — No que você é baiano e no que é carioca?
Moreno Veloso — Eu sou mais baiano no nascimento, porque foi em Salvador a cidade em que eu nasci e também a família, toda a parte familiar é baiana, dos dois lados, da minha mãe e do meu pai, basicamente. Na educação culinária e musical eu também sou muito mais baiano. Na educação formal, eu sou carioca, porque eu fiz minha faculdade no Rio de Janeiro, os meus amigos de escola são todos cariocas como o Pedro Sá, o Domênico, o Cassinho, então tem uma coisa da minha vida profissional dentro da música que está muito ligada ao Rio de Janeiro, porque está ligada à essas pessoas que acabei de citar.

Miguel Arcanjo Prado — E quais são seus lugares preferidos em Salvador e no Rio?
Moreno Veloso — Sobre os meus lugares favoritos, é difícil dizer. A Bahia é um lugar maravilhoso, mas acho que eu escolheria o Porto da Barra, como lugar emblemático de Salvador. Do Rio de Janeiro, não sei. Acho que dar uma volta no fim de tarde na Lagoa Rodrigo de Freitas é uma coisa que não tem preço. Se o dia estiver bonito, misericórdia.

Miguel Arcanjo Prado — No que você é mais Veloso e no que é mais Gadelha?
Moreno Veloso — Eu sou mais Veloso na música e no samba de roda e sou mais Gadelha na física, porque fui trabalhar, me formei em física na UFRJ, trabalhei em um laboratório, então, essas duas vertentes compõem a minha pessoa também. E eu realmente sou filho da minha mãe e do meu pai, em muitos outros aspectos, não só na física e na música, mas isso fica para depois.

Miguel Arcanjo Prado — Estudar física foi importante para você em que sentido?
Moreno Veloso — Estudar física foi muito importante porque é um sonho, uma coisa que existe até hoje dentro de mim, esse pensamento filosófico matemático, uma representação mais geométrica matemática da existência da natureza, do universo, essa pesquisa e também, principalmente porque a gente não deixa nossa cabeça esmorecer, a gente não deixar de exercitar nosso cérebro. Isso é super importante pra musica, pra vida, pra tudo. Então, se você tiver oportunidade de fazer o seu cérebro trabalhar – e na física a gente faz ele trabalhar muito – se você tiver a oportunidade de fazer esse exercício, não perca, porque é muito bom. Vale a pena e faz bem à saúde.

Miguel Arcanjo Prado — Como foi tocar com Gil em "Refavela 40" e na sequência emendar o trabalho com seu pai e seus dois irmãos em "Ofertório"? Como é ser esta ponte de diálogo entre estes dois trabalhos?
Moreno Veloso — É uma felicidade enorme fazer parte desse "Refavela 40" que o Bem Gil [filho de Gilberto Gil e Flora Gil] arrumou e regenciou para nós todos. Ele me chamou e eu fiquei muito feliz. "Sandra" [canção que canta no show com a família Gil] é uma das músicas de amor mais bonitas que eu conheço. É o nome de minha tia com quem Gil foi casado [Sandra Gadelha, irmã de sua mãe, Dedé Gadelha] e teve 3 filhos, meus primos, dentre eles a Preta Gil, que é minha prima. São pessoas que eu amo e é uma felicidade enorme fazer parte dessa festa em homenagem aos 40 anos do disco "Refavela". E claro que, na sequência, no mesmo festival [João Rock], no mesmo palco, logo depois desse show lindo do "Refavela", fazer o show com meu pai e meus irmãos foi uma coisa incrível. Ficar no meio entre o Gil e os filhos dele, meu pai e meus irmãos… Eu fiquei realmente muito feliz. Não tenho muitas palavras para dizer. É maravilhoso.

Miguel Arcanjo Prado — Você já misturou em um show a banda argentina Onda Vaga e Daniela Mercury e Muzenza. Isso é muito você?
Moreno Veloso — É verdade. Eu já misturei OndaVaga com Daniela Mercury, o Muzenza, mas veja só, isso é minha educação. Meu pai é tropicalista. Esse pessoal gosta de antropofagia e isso nada mais é do que também uma postura de muito respeito para as coisas que eu admiro e que eu acho que podem ficar lado a lado.
No Brasil, a gente encontra essas pessoas, esses músicos, esses artistas, essas bandas maravilhosas e também na Argentina, fora do Brasil e em qualquer lugar, a gente não pode ter medo e muito receio de fazer eles ficarem juntos dentro do nosso universo, porque o nosso universo é o nosso gosto, é o que impulsiona a gente, e essas coisas impulsionam a minha vida artística. Não sei se é assim pra todo mundo, mas com certeza é pra mim. Eu me movo dentro das coisas que me deixam excitado, e com certeza essas são algumas delas e outras também, e por aí vai.




O Retrato do Bob: 
Zeca Veloso, o filho de Caetano que é mais Paula

Miguel Arcanjo Prado
14/07/2018 

Zeca Veloso – Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL


Zeca Veloso é o filho do meio de Caetano Veloso e o primogênito de Paula Lavigne. Compositor da bela e delicada canção "Todo Homem", sucesso que abre "Onde Nascem os Fortes", ele foi resistente ao pedido familiar para entrar no mundo da música. Contudo, acabou cedendo.

Aos 26 anos, Zeca começa a estar diante dos holofotes que seu pai conhece tão bem há mais de cinco décadas. Afinal, o admirador de Prince e rhythm and blues começa a carreira no nobre posto de cantar o tema de abertura de série da Globo.

Atualmente, ele viaja a Europa com a turnê de sucesso "Ofertório", o álbum e show familiar ao lado do pai e dos dois irmãos, Moreno Veloso e Tom Veloso, e com a mãe orquestrando os bastidores.

Mesmo diante do concerto aclamado no Brasil e pelo público e crítica de lugares como Paris e Londres, ele afirma não se sentir "músico de nível profissional".

Zeca posou para o fotógrafo Bob Sousa e conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo no UOL sobre o que sente diante dessa mudança em sua vida, antes mais pacata e tímida.

Falou como é estar junto da família neste novo cotidiano artístico e revelou com quem crê parecer mais: se com Caetano Veloso ou Paula Lavigne, sua mãe. Afinal, sua música decreta que todo homem precisa de uma.


Leia com toda a calma do mundo.


Caetano Veloso e Zeca Veloso – Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL


Miguel Arcanjo Prado — Por que você resistiu tanto para seguir o caminho da música?
Zeca Veloso — Demorei um pouco a topar fazer o show, não me sentia preparado tecnicamente, mentalmente, de muitas formas. Não era e ainda não sou músico de nível profissional.

Miguel Arcanjo Prado — De cara, sua música "Todo Homem" virou abertura de "Onde Nascem os Fortes" na Globo. Como é se lançar já com todo esse peso? Zeca Veloso — De um jeito bom, é um pouco engraçado ouvir a música no rádio, na TV, etc. Um ano atrás não imaginava a repercussão que o nosso projeto teve, muito menos minha música como single e abertura de série… Soube, antes de "Onde Nascem os Fortes" começar, que a música era tocada no set de filmagem para preparar os atores, depois soube que tinha sido escolhida para ser a abertura. Fiquei muito feliz com tudo.

Miguel Arcanjo Prado — Essa música é uma homenagem sua pra Paula Lavigne, sua mãe?
Zeca Veloso — Não posso dizer que seja exatamente uma homenagem a ela, tem ela, mas tem algumas outras coisas.

Miguel Arcanjo Prado — Qual o lado melhor de estar no palco com seus dois irmãos e seu pai?
Zeca Veloso — Não tenho como dizer uma só coisa, é uma alegria enorme de muitas maneiras.

Miguel Arcanjo Prado — Você é mais Caetano ou mais Paula?
Zeca Veloso — Eu acho que mais Paula.



Caetano Veloso, Moreno Veloso, Zeca Veloso e Tom Veloso
Foto: Bob Sousa – Blog do Arcanjo – UOL




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