1971
Documentário, 3"
“Gal Fa-Tal”
Fotografia,
câmera e direção: IVAN CARDOSO
Edição:
CLAUDIO TAMMELA
Produção:
TOPÁZIO FILMES 1971
Imagens inéditas de Gal Costa, no Pier de
Ipanema com Wilma Dias e Paulo Lima e no show “Gal a todo vapor”, intercalado
com cenas de “Nosferato no Brasil”.
Torquato Neto |
FALSA BAIANA
NÃO SE ESQUEÇA DE
MIM
Fotos: Mário Luiz Thompson
1/1/1972 - Dunas do barato |
A
retirada de toneladas de areia do mar para a construção do Emissário de Ipanema
criou, nos primeiros anos da década de 1970, dunas artificiais na orla.
Em 1972
aquele pedacinho da orla da Zona Sul era o ponto de encontro de inúmeras
tribos, na efervescência da contracultura.
A cantora Gal Costa, à época
estrela do espetáculo "Gal a todo vapor" no Teatro Tereza Rachel, em
Copacabana, e Caetano Veloso eram figurinhas fáceis daquela faixa de areia.
Salvador, novembro/72 - Foto: IvanCardoso |
21/3/1972 - Foto:
Eurico Dantas
|
1972
Revista Amiga
TV ● TUDO
Rio de Janeiro - 25 de abril de 1972 - n° 101
Reportagem de SÉRGIO LIMA E SILVA
Fotos de FREDERICO MENDES
22/7/1973 - Pier de Ipanema - Arquivo - Agência O Globo O "pier", que ficava entre as ruas Farme de Amoedo e Teixeira de Melo, teve seu período áureo de 1970 a 1973 |
1972
Revista inTerValo 2000
Ano X - n° 477
Editora Abril
1974
Revista Geração Pop
Fevereiro n° 16
Editôra Abril
Foto: Marco Antônio Rezende |
03/12/2011
Houve uma vez um verão
Aconteceu em 1972, no Píer de Ipanema, foi o primeiro a criar uma tribo,
entrou para a história e vai virar filme
Renato Lemos - O Globo
Foto: Reprodução Internet |
Renato Lemos - O Globo
RIO - Tinha tudo para dar errado: o píer era uma horrorosa estrutura de madeira, aço e ferro enfiada mar adentro, em plena Ipanema, com o único propósito de escorar tubos de esgoto até alto-mar. Para fixar as pilastras, toneladas de areia foram retiradas do fundo do mar e espalhadas na praia formando dunas artificiais. Quem passava na calçada da Vieira Souto simplesmente não conseguia enxergar o mar. Tinha tudo para dar errado, mas, no comecinho de 1972, o conjunto formado pelo píer medonho, pelas dunas de araque e por um punhado de surfistas, artistas, desbundados, poetas, hippies e malucos de todos os tipos transformou o lugar no point do verão. Aquele seria o Verão do Píer. Ou, dependendo da vontade do freguês, o Verão das Dunas. Tanto faz. O que se sabe é que, de lá pra cá, Ipanema não parou mais de inventar seus verões.
Sem
o Verão do Píer — o primeiro a criar uma tribo em Ipanema — provavelmente não
existiria o Verão do Circo, o Verão da Lata e nem o Verão do Apito. É possível
até que não existisse nem o Posto 9 nem o Coqueirão. Naquele 1972, havia algo
de novo no ar e, especialmente, no mar. Quando a corrente vinha dos lados do
Leblon, encontrava uma barreira formada pelos pilares e pelas chapas de ferro
que formavam o emissário submarino, ali em frente à Farme de Amoedo. A onda
então recuava um pouco, como se fosse empurrada para trás, elevando e aplanando
o fundo de areia, deixando-o na medida para o surfe.
—
Era como os corais do Havaí, só que no quintal da nossa casa — explica Marco
Telles, o Coyote, editor do site pierdeipanema.com.br, dedicado exclusivamente
às histórias daquela época. — A história do Píer começou nas ondas.
Depois
disso, cada onda que vinha era melhor que a outra. Nunca se tinha visto
esquerdas tão perfeitas em Ipanema. Os surfistas — que já se queixavam do
excesso de forasteiros do Arpoador — foram os primeiros a chegar ao lugar.
Depois vieram as menininhas bonitas que sempre vão atrás deles, os hippies, o
cheiro de parafina, a maresia, a paz e o amor, os violões, o incenso, os sovacos
cabeludos, os intelectuais, a festa, o pôr do sol e os malucos que cismaram de
bater palma para ele. Por fim, veio Gal Costa.
Em
janeiro de 1972, Gal estava botando gente pelo ladrão no novíssimo Teatro
Tereza Rachel (que nos anúncios publicados nos jornais aparecia localizado como
"em cima do Opinião"), em Copacabana. "Gal a todo vapor"
era uma espécie de continuação de "Gal fa-tal", sucesso absoluto no
ano anterior. O show era dirigido por Wally Salomão e misturava guitarras,
barulho, banquinho, violão e uma cantora no ponto exato entre a timidez e a
malícia.
Gal
cantava "Pérola Negra" (de um novato chamado Luiz Melodia), "Sua
estupidez" (naquele momento, cantar um sucesso do careta Roberto Carlos,
isso sim, parecia uma estupidez) e "Vapor barato" (reza a lenda que a
música teria sido composta por Macalé e Wally Salomão do alto das dunas, e que
seu título não se referia exatamente à substância que inspirava a dupla, mas a
um navio que passava no horizonte). Nas noites de quinta a domingo, Gal estava
arrasando no palco. No resto do tempo, podia ser vista subindo e descendo as
dunas de Ipanema, onde balançava a cabeleira, sorria pros meninos e pras
meninas, se espreguiçava e, por fim, abria sua toalha de praia bem pertinho das
ondas. As Dunas da Gal nasciam ali.
—
Era um lugar onde ninguém ia, a obra causava um certo incômodo e afastava as
pessoas em geral. Eu e Macalé percebemos isso, vimos que o espaço era bacana,
começamos a ir ali. Então começou a juntar, naturalmente, uma turma mais hippie
— explica Gal, 40 anos e um punhado de sucessos depois. — Como dizia o Mautner,
virou um lugar protegido por uma redoma energética contra tudo de ruim que
havia no Brasil.
No
Brasil de 1972, mergulhado até o pescoço na ditadura, havia muita coisa ruim —
e ninguém está se referindo, necessariamente, a Dom e Ravel cantando "Eu
te amo meu Brasil". Para contrabalançar, Chico Buarque emplacava
"Construção" no primeiro lugar das paradas, os Novos Baianos gravavam
o clássico "Acabou chorare", Caetano lançava "Samba, suor e
cerveja", Milton reunia o "Clube da Esquina", Gil vinha com
"Expresso 2222" e Benjor (que ainda era só Ben), encantado com o
carisma de um negro dentuço e desengonçado que comandava o ataque do Flamengo,
começava a compor "Fio Maravilha". Por fim, Jorge Mautner estava
lançando "Para iluminar a cidade", um elepê gravado ao vivo no
Opinião, com capa assinada pelo vampiro Ivan Cardoso e um lote de músicas
perfeitas para embalar qualquer viagem. Mautner — o profeta da contracultura —
era a cara das Dunas do Barato.
—
A contracultura no Brasil foi o Tropicalismo. É o que nos define e diferencia
entre todos os países do planeta, a cultura negra, branca e indígena
entrelaçadas. De Jesus Cristo aos tambores do candomblé — explica Mautner, que,
naquele início de 1972, acabara de voltar de Londres e andava assinando artigos
no "Pasquim". — O que nos iluminava ali nas dunas era a luta contra a
ditadura, o desejo de democracia, as liberdades individuais e sexuais, a
realização dos direitos humanos e a desobediência civil.
Desobedecer,
naquela época, não tinha nada a ver com produzir apitaços para avisar da
chegada da polícia na praia, como aconteceria 26 anos depois no Verão do Apito
— até mesmo porque, no território livre das dunas, a polícia não ia mesmo. A pílula
acabara de chegar ao país, e os esconderijos das dunas (especialmente de
noitinha) eram um ótimo lugar para testar se elas funcionavam de verdade. Ao
mesmo tempo, a maconha era mais consumida que Continental sem filtro, o mais
popular do mercado. Muita gente ia ali só para isso — namorar, fumar um
baseado, jogar conversa fora — e nem pensava em colocar uma sunga ou um biquíni
para dar um mergulhinho.
A
moda, inclusive na praia!, eram as calças jeans desbotadas, boca de sino, e as
camisas com slogans contra a guerra do Vietnã. Se as lojas de Copacabana
ofereciam a nova coleção da Ducal ("Neste verão, o homem carioca veste os
ternos Relax, do mais puro tergal"), os malucos do Píer se esbaldavam com
os panos, as sandálias de couro e as bijuterias compradas na Feira Hippie, que
funcionava havia quatro anos bem ali pertinho, na General Osório.
O
fotógrafo Frederico Mendes, espécie de cronista da época e responsável por
alguns dos melhores flagrantes daquele verão, explica:
—
As dunas eram um reflexo direto do Tropicalismo. Da música ao jeito de as
pessoas se vestirem, tudo levava ao movimento. Um dia eu estava no alto das
dunas quando vi a garota passando lá embaixo sem a parte de cima do biquíni.
Era o primeiro topless de Ipanema. Corri em casa, lá em Copacabana, peguei
minha câmera e voltei para fotografá-la. O incrível é que as pessoas em volta
nem ligavam...
Talvez
não ligassem porque ainda estivessem sob o efeito da visão de Ana Maria
Magalhães completamente nua em "Como era gostoso o meu francês", a incursão
de Nelson Pereira dos Santos no antropofágico mundo dos índios brasileiros. No
filme, lançado em janeiro, Ana Maria contracenava com Arduíno Colassanti,
pescado dos mares do Arpoador para as telas. Se "Como era gostoso o meu
francês" era o assunto nas rodas das Dunas, "A 300 km por hora",
com Roberto Carlos, levava uma multidão ao Super Bruni 70, na Visconde de
Pirajá. O Rei cortava um dobrado para vencer o vilão interpretado por um
cabeludo Raul Cortez.
No
teatro, "Hoje é dia de rock" (bebê?) prosseguia com a carreira de
sucesso e, no Night and Day, Marília Pêra encarnava Carmen Miranda em "A
pequena notável". A tropicalíssima Carmen, musa inspiradora daquele Verão
das Dunas, seria também enredo do Império Serrano, campeão do carnaval de 1972.
A escola apresentava um samba que, pela primeira vez, ousava misturar gírias à
rigidez típica dos carnavais da época: "Que grilo é esse?/ Vou embarcar
nessa onda/ É o Império Serrano que canta, dando uma de Carmen Miranda".
—
As dunas funcionavam como uma fronteira demarcada. A repressão não ia até lá.
Desconfio que até incentivava aquilo, porque, no fundo, gostava que as pessoas
tivessem optado pelo desbunde e não pela luta armada — especula Fernando Fedoca
Lima, de 56 anos, surfista da época e autor de boa parte das fotos que ilustram
esta reportagem. — Mas, no geral, tudo o que se produzia lá repercutia do lado
de fora: moda, música, comportamento. A cultura do Rio de Janeiro não foi mais
a mesma depois daqueles verões.
Um
retrato desse tempo provavelmente estará nos cinemas a partir de 2013, com o
longa "Píer de Ipanema — 1972". É um filme de ficção que remonta às
histórias em torno das areias de Ipanema. O produtor paulista Guilherme Keller
chegou a pensar em fazer um documentário, mas percebeu que, na boa, aquele
mundo doido parecia mesmo coisa de ficção. Ele conta com o auxílio de Sergio
Ayrosa — que trabalhou na equipe técnica de produções como "Avatar" e
"Harry Potter" — nos efeitos especiais.
—
Vamos reconstituir o píer com efeitos especiais e tentar recuperar todo o clima
daquela época — explica Guilherme, que está associado à produtora RT, de
Rodrigo Teixeira. — O foco vai ser o verão de 1972. Aquele período serve de
síntese de tudo o que foi o píer.
Em
1975, o píer seria desmontado, deixando para trás alguns verões de moda,
liberdade, fumaça, boas ondas e — dizem os mais maldosos — quilos de piolhos
pelo caminho. Era o fim do caminho, como profetizava "Águas de
março", de Tom Jobim, que fechou genialmente aquele verão de 1972. O Verão
das Dunas — que apresentou ao carioca nomes como Rose di Primo, Angela Ro Ro,
Evandro Mesquita, Pepê, Petit (o Menino do Rio inspirador de Caetano), José
Simão, Chacal e Baby Consuelo — deixaria também muita saudade. Ou, como
preferiam os poetas da época, saüdade.
No
dia 20 de janeiro de 1972, uma revisão ortográfica da língua portuguesa entrava
em vigor no país. Saudade, que até então podia ser escrita com um charmoso
trema sobre o u, perdia de vez o "acento". A grita era geral. Aurélio
Buarque de Hollanda, pai do pai dos burros, foi aos jornais reclamar:
"Estamos caminhando para a anarquia ortográfica. É só o começo."
Começo,
por sinal, levava o circunflexo em cima do e: comêço. Eram sinais do tempo.
A
partir daquele janeiro de 1972, a história dos verões do Rio definitivamente
seria escrita de um outro jeito.
Fotos: Fernando "Fedoca" Lima
1971 - Foto: Ivan Cardoso |
Moraes Moreira |
Dividido em cinco episódios, o inédito e exclusivo “Dunas
do Barato”, que estreia no Canal Brasil nesta quinta-feira (18/05), às 21h, promove
uma volta ao passado por meio de imagens e depoimentos para relembrar o Píer de
Ipanema, desmontado em 1975, e que culminou no encontro de uma turma de
artistas, poetas e revolucionários durante quatro anos, enquanto o Brasil vivia
sob o Regime Militar.
A construção, projetada para erguer um emissário
que levaria o esgoto da cidade ao mar, propiciou também o surgimento de ondas
perfeitas para surfistas, e dunas que impediam a visão de pedestres no asfalto.
A ideia surgiu de uma proposta de Roberto Moura, o produtor-executivo
do programa. Responsável pelo filme “Surf Adventures”, ele pensava num outro
longa sobre o surfe no píer. “Aí fiz uma contraproposta e propus que a gente
falasse não apenas deste assunto, mas do caldeirão cultural que foi aquele
lugar”, explica Olivio Petit, que assina texto, roteiro e direção da série
documental.
Foram cerca
de 50 entrevistados e uma seleção de imagens icônicas para resgatar toda a
essência do local. O primeiro episódio aborda as musas e os poetas locais, com
as memórias de gente como Ziraldo, Chacal, David Azulay, Alceu Valença, Regina
Martelli, Jorge Mautner, Jards Macalé, Patricia Travassos e José Wilker, entre
outros.
“O significado do píer é uma
coisa que a gente acaba olhando depois. Na época ninguém tinha nenhuma
preocupação de ter significado praquilo. Primeiro, a gente era contra o píer é
uma coisa que vai sujar a praia, aí de repente, de teimosia, a gente passou a
ir e ia todo dia, e eram as mesmas pessoas todo dia”, conta Wilker, morto em abril de
2014.
Sinopse: Dividido em
cinco episódios, o programa dirigido por Olivio Petit promove uma volta ao
passado por meio de imagens e depoimentos para relembrar o Píer de Ipanema,
desmontado em 1975, e que propiciou o encontro de uma turma de artistas, poetas
e revolucionários durante quatro anos, enquanto o Brasil vivia sob a Ditadura
Militar.
A construção, projetada para erguer um emissário
que levaria o esgoto da cidade ao mar, propiciou também o surgimento de ondas
perfeitas para surfistas e dunas que impediam a visão de pedestres no asfalto.
Episódio: As Musas e Os Poetas
No episódio de estreia da série, personalidades
resgatam a história das musas e dos poetas que surgiram nas areias de Ipanema,
no Rio de Janeiro, em 1970.
“A gente achava que podia fazer tudo o que
queria ali. Na realidade, a gente tava cercado pela polícia. Era uma como uma
válvula de escape. Ali podia tudo, mas se você saísse na calçada com droga ou
um comportamento inadequado, dançava” [Jards Macalé].
Episódio: A Obra E Os Pioneiros
Da construção do píer ao primeiro campeonato de
surf sediado no local, o episódio resgata a história do surgimento das dunas de
Ipanema e a chegada dos seus primeiros frequentadores.
"— O
píer foi mais um dos grandes projetos do governo militar, que apostava em
grandes obras para impressionar, como a Transamazônica (rodovia inaugurada em
1972, durante o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici) —" destaca o
diretor.
Episódio: A Arte Faz a Moda
O episódio destaca como as artes plásticas ganharam
espaço na década de 1970, influenciando o vestuário dos frequentadores de Ipanema
e se tornando referência de moda jovem.
Episódio: Explosão Cênica
O episódio destaca a expansão do cinema e teatro na
cena cultural carioca dos anos 1970. Da liberdade audiovisual ao engajamento
dos grupos teatrais, a juventude influenciou diversas formas de expressão.
Episódio: O Som e O Fim
O episódio resgata a explosão criativa vivida no
cenário musical após a efetivação da censura. Os entrevistados relembram o
último verão no píer e falam sobre os frutos dessa geração.
Elenco:
André de Biase
Dadi Carvalho
Evandro Mesquita
Gal Costa
Jards Macalé
Patrícia Travassos
Antônio Carlos da
Fontoura
Bernardo Vilhena
Carlo Vergara
Cecília Conde
Chacal
Charles Peixoto
David Pinheiro
Heloísa Buarque de
Hollanda
Ivan Cardoso
Jorge Mautner
Jorge Salomão
José Wilker
Moraes Moreira
Neville de Almeida
Oswaldo Caldeira
Regina Martelli
Rico de Souza
Ronaldo Santos
Zuenir Ventura
Por Ancelmo Gois
12/11/2022
Eduardo Paes vai batizar oficialmente de “Dunas de Gal” o pedaço da Praia de Ipanema que em 1972 ganhou este nome em homenagem à artista baiana.
O lugar era ponto de encontro de artistas, intelectuais , surfistas e outras tribos.
No hay comentarios:
Publicar un comentario