viernes, 14 de septiembre de 2018

1989 - CAETANO EM LASER


O CD [Compact Disc] foi criado pelo holandês Kees Immink, da Philips, e pelo japonês Toshí Tada Doi, da Sony, em 1979. 

O primeiro CD lançado no Brasil foi o álbum Garota de Ipanema, de Nara Leão, no dia 9 de abril de 1986.




JORNAL DO BRASIL
21/1/1990












1988 - CAETANO E CHICO JUNTOS E AO VIVO CD 812 522-2


1989 - UNS CD 812 747-2



1989 - VELÔ CD 824 024-2


1988 - MUITO [Dentro da estrela azulada] CD 836 012-2




1989 - CINEMA TRANSCENDENTAL CD 838 289-2




1989 - ESTRANGEIRO CD 838 297-2



1989 - CORES, NOMES CD 838 464-2



1989 - OUTRAS PALAVRAS CD 838 465-2






1989 - TRANSA CD 838 511-2




1989 - DOMINGO CD 838 555-2





1989 - BICHO CD 838 562-2 





1989 - CAETANO... muitos carnavais... CD 838 563-2


COLETÂNEAS



1989 - CAETANEAR CD 826 193-2 





1987 - PERSONALIDADE CD 832 219-2






1988 - A ARTE DE CAETANO VELOSO CD 836 238-2




1989 - O MELHOR DE CAETANO VELOSO CD 836 528-2 









































Jornal do Brasil
16/05/1991

Marcia Cezimbra

Primeiro artista brasileiro a ter todos os discos em laser faz balanço de seu trabalho

Só uma guerra nuclear poderá destruir a obra do compositor Caetano Veloso. Toda a criação do baiano de 48 anos que lançou no país a estética tropicalista, o reggae e a juju music foi literalmente imortalizada em 32 indestrutíveis Cds lançados na praça pela gravadora Polygram (dentro de dois meses, a coleção fica completa com o lançamento do 33º disco, gravado em 1969, e único que ainda falta na série). Caetano tornou-se, assim, o primeiro artista brasileiro a ter a obra completa em CD, um trabalho facilitado por ele ter construído toda a sua carreira em uma única gravadora, desde o lançamento de Domingo, em 1967. Na véspera de uma excursão pela Europa em junho, Caetano Veloso se disse "honrado", por ter iniciado "essa nova onda, de tudo em CD" com um trabalho, na sua opinião, "tão confuso".

A honra vem de uma certa adoração que Caetano Veloso diz sentir pelo som do compact disc. "Eu adoro CD. Tem uma pureza, um silêncio... Com o CD você pode ouvir uma faixa só. Não precisa ir lá longe com o braço da agulha procurar uma canção no LP. Isso dava um trabalhão. Da fita cassete nem se fala. Você anda pra frente, anda pra trás, não acha a música e aí desiste", comenta. Dos 32 Cds lançados, dos quais 12 são compilações de vários Lps, Caetano Veloso só reouviu um de seus preferidos, Jóia. Recomendou depois à Polygram que trocasse a capa já pronta do CD pela capa original do disco, censurada por estampar uma foto de Caetano, da ex-mulher Dedé e do filho Moreno, todos nus.

Ouvir por inteiro um disco antigo é tarefa para ele desagradável demais. "Dá mais trabalho do que fazer um novo", diz. O tempo pode de fato deixar uma canção mais bonita. O duro é se aproximar "de limitações psicológicas, da incapacidade de dizer não, da timidez" de cada época. "É mais útil do que bom", revela. Caetano Veloso gostou de sentir "viva" a sua Tropicália, de 1969, na voz de Gal Costa durante o show Plural e ri da "modernidade" da crítica à ganância em Beleza Pura, de 1979. "Ficou anti-yuppie, não é? Hoje chega a ser óbvia."

Apesar de "adorar" os Lps Transa, Jóia, Uns e Caetano e de desqualificar o seu recorde de vendas, Totalmente Demais, único disco de platina de um autor de venda média de 100.000 cópias por título, Caetano Veloso considera "insatisfatória" a obra, carente ainda de uma justificação. "É insatisfatória To Justify My Love. Tenho que justificar o meu amor por esta profissão, que me caiu casualmente e a qual eu terminei me aferrando. Não fiz alguma coisa que é. O que é mesmo está por fazer. Vou fazer, com fé em Deus", promete.

Talvez o que é esteja no próximo LP, que ele começa a gravar em agosto, com produção dos ambicious lovers Arto Lindsay e Peter Scherer. Leia nestas duas páginas o comentário de Caetano Veloso sobre cada um de seus Cds, no qual mantém bem viva a raiva pela crítica negativa ao LP Muito e por programadores "burros" de rádios que não executam Terra ou Eu sou neguinha.


1 - DOMINGO (1967)
"Foi o Dori Caymmi quem produziu. Tem arranjos lindos. Ele toca um violão lindo. A gente botava a voz de manhã, veja só. Tinha outros artistas mais famosos que ocupavam os estúdios à noite. Gosto muito de "Coração Vagabundo" e de Gal cantando "Candeias" (Edu Lobo). Foi uma documentação do que eu já tinha feito e que não correspondia ao que eu fazia na época. Já estava com o germe do tropicalismo na cabeça. O João Araújo, que era o diretor da gravadora na época, foi um amor. Aceitou fazer essa experiência. Não dava para fazer um LP de cada um, aí ele juntou eu e a Gal num só. Adoro quando começo a cantar "Um Dia". A voz estava linda."

2 - CAETANO VELOSO (1968)
"Esse é histórico. É o primeiro LP tropicalista. Pensei que só tinha valor histórico, mas quando ouvi a Gal cantar "Tropicália" (no show Plural), achei que a canção é viva. Tem muitas idéias, muitas sugestões. O uso de conjunto de rock com guitarra elétrica, as paródias, uma certa violência nas imagens das letras. O início da faixa "Onde Andarás", uma parceria minha com Ferreira Gullar, parece com o Chet Baker. Depois imito o Orlando Silva e o Nelson Gonçalves. Em "Paisagem Útil", eu imito também o Orlando Silva. A única música que o produtor Manuel Barembeim me indicou foi "Clarice". Eu queria gravar "Dora", de Dorival Caymmi. Aí o Gianfrancesco Guarnieri me disse que o disco todo era um golpe publicitário para lançar "Clarice". O nome é bonito, o refrão é bonito, mas a canção é monstra. Um pedaço não tem nada a ver com outro. Eu mesmo não sei mais cantar "Clarice". E a capa desse tamaninho ficou muito mais bonita."

3 - CAETANO VELOSO (1969)
"Gravei só com Gilberto Gil ao violão, quando estava confinado, sem poder sair de Salvador. Até ir para o exílio em Londres, era impensável eu tocar violão num LP. Todo mundo achava meu violão abaixo do nível profissional. É um disco da minha situação na prisão. Tem "Irene", que fiz na cadeia, sem violão, uma coisa portuguesa, que adoro. Gosto muito de sermos portugueses. Adorei a canção "Portuga", do último disco do Cazuza. Tem "Os Argonautas", que me foi sugerida por Bethânia. Tem "Carolina", que é muito deprimida e tinha a ver com o disco. Fiz o disco confinado, gravamos eu e Gil lá em casa, num gravador de quatro canais. Tem "Atrás do Trio Elétrico", que é histórica. É o momento inaugural de toda a fase nova da música baiana. Tenho orgulho. Desencadeou o incremento dos trios elétricos. Fez Dodô e Osmar voltarem às ruas. A complementação dela veio com o Gil, na música "Filhos de Gandhi". Foi o estopim para a onda de novos blocos. Resultou em tudo isso, na música da Bahia."

4 - CAETANO VELOSO (1971)
"Esse é deprimidérrimo. É o primeiro do exílio em Londres. Eu estou horrível na foto da capa. Tinha até barba e eu não suporto barba. Nunca consegui gostar de "London, London". Gosto só de um verso: "green grass, blues eyes, gray ski, God bless." A música deveria ser London e ter só este verso. Outro dia fui convidado para jantar com os principes ingleses e me botaram à mesa do lado da princesa Diana. Ela riu quando eu disse que tive a coragem de fazer uma canção em inglês que se chama London, London. Essa situação de pensar naquilo me deu uma tristeza enorme. Voltei daquele jantar bem triste. Me senti entre os humilhados da Terra. Em Londres eu me sentia pior do que isso. Não por Londres. Por ter sido preso e expulso do país. A canção "Maria Bethânia" tem um refrão legal, quando digo Beta, Beta... Mas não tenho facilidade de me aproximar deste disco. Agora é histórico. É o primeiro disco em que toco violão. Os ingleses me liberaram para o violão. Achavam lindo o meu jeito de tocar e os brasileiros achavam horrível. Se eu não tivesse sido preso e exilado, talvez nunca tocasse violão num disco."

5 - TRANSA (1972)
"Chamei os amigos para gravar em Londres. Os arranjos são de Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa. Não saíram na ficha técnica e eu tive a maior briga com meu amigo que fez a capa. Como é que bota essa bobagem de dobra e desdobra, parece que vai fazer um abajur com a capa, e não bota a ficha técnica? Era importantíssimo. Era um trabalho orgânico, espontâneo, e meu primeiro disco de grupo, gravado quase como um show ao vivo. Foi Transa que que me deu coragem de fazer os trabalhos com A Outra Banda da Terra. Tem a "Nine out of Ten", a minha melhor música em inglês. É histórica. É a primeira vez que uma música brasileira toca alguns compassos de reggae, uma vinheta no começo e no fim. Muito antes de John Lennon, de Mick Jagger e até de Paul McCartner. Eu e o Péricles Cavalcanti descobrimos o reggae em Portobelo Road e me encantou logo. Bob Markey e The Wailers foram a melhor coisa dos anos 70. Gosto do disco todo. Como gravação, a melhor é "Triste Bahia". Tem o "Mora na Filosofia", que é um grande samba, uma grande letra e o Monsueto é um gênio. Me orgulho imensamente deste som que a gente tirou em grupo."

6 - CAETANO E CHICO JUNTOS E AO VIVO (1972)
"Este foi tudo rápido. A idéia foi de um cara, Roni, dono de uma loja de discos em Salvador onde a Gal Costa trabalhava como vendedora. Ele arranjou tudo. Aí eu disse para o Chico que ele deveria cantar "Com Açúcar e com Afeto", que era uma coisa de mulher. Ele disse que tinha uma melhor, uma história homossexual de duas mulheres e cada um faria uma, "Bárbara". Tem uma obra prima, "Deus Dará", um sucesso nacional. Tem "Você Não Entende Nada" junto com "Cotidiano", que ficou lindo. O disco fez o maior sucesso."

7 - ARAÇÁ AZUL (1973)
"Outro dia, quando ia estrear o filme novo do Godard, li nos jornais as pessoas dizendo bobagens para justificar a própria preguiça em relação ao experiementalismo, defendendo um conservadorismo medíocre. Eles todos falam de defesa da emoção contra o cerebralismo. E eu, que choro de emoção vendo 50 vezes "Pierrot, le Fou" e "Je Vous Salue Marie", morro de rir vendo "Paris, Texas", que é ridículo. Tenho por isso o maior orgulho de ter feito um disco como Araçá Azul. Não acho que o trabalho tenha saído com limpidez. Fiz o disco sozinho num estúdio e não sabia usar bem o estúdio. Acho maravilhosa uma faixa como "De Conversa", uma peça que não tem propriamente música nem letra. Só uma superposição de vozes e grunhidos, com sugestão de música. Apenas no final tem uma citação de "Cravo e Canela", que era uma homenagem a Milton Nascimento, uma oração para que ele ficasse alegre, porque Milton era muito triste. Graças a Deus, a oração foi atendida e que Deus o conserve assim. Tem "Tu Me Acostumbrastes", bacana, cantada em falsete, um clima tão gay... "Julia Moreno" ganhou um solo de piano de Perna Fróes que é um deslumbramento. Ganhou um grande elogio do Tarik de Souza (crítico do Jornal do Brasil) e fui até ingrato com ele, porque achava que eu não merecia aquele elogio. O problema é que o público comprava e devolvia o Araçá Azul. E outro fato histórico: o maior recorde de devolução de discos da MPB. Nessa época já estavam comprando Caetano e Chico em caminhão. Vai ver que foi por isso mesmo que houve tanta devolução: houve muita procura."

8 - TEMPORADA DE VERÃO (1974)
"É um disco coletivo de shows que a gente fazia no Teatro Vilha Velha da Bahia. A capa é linda. Das minhas coisas, "De Noite na Cama" é uma maravilha. Tem o Gil cantando "O Relógio Quebrou" e tem "Felicidade", do Lupicínio Rodrigues, um sucesso nacional. Parece uma coisa folclórica do Sul e o Lupicínio nunca soa assim. Perinho Albuquerque era o produtor, arranjador e orientador desta fase. Alguma coisa a gente gravou na minha casa, por que no Vila Velha não tinha ficado boa. A gente usava o som dos aplausos no final pra ficar ao vivo."

9 e 10 JÓIA E QUALQUER COISA (1975)
"Ia ser um álbum duplo, porque eu tinha muito material. Aí resolvi fazer dois discos, cada um com um título. O Jóia era a minha relação com o trabalho limpo, pequenas peças bem acabadas, com a liberdade de Araçá Azul. Não tem nem bateria no Jóia, um instrumento do qual eu não gostava. Cada faixa era uma jóia. Qualquer coisa era o vale tudo, bateria, confusão. O manifesto do Jóia e o manifesto do Qualquer Coisa, lidos juntos, tem um batimento engraçado. O Jóia foi o único que reouvi em CD. Soa tão bonito... Adoro o silêncio do CD. Gosto de "Na Asa do Vento" e em "Minha Mulher" é maravilhoso o relaxamento meu e de Gil ao violão, que não encontro em outra faixa de Jóia. Qualquer Coisa é que era relaxado. Gosto da faixa "Qualquer Coisa", mas na gravação a canção ficou presa. O Roberto Carlos reclamou que eu não tinha dado pra ele "Qualquer Coisa". Devia ter dado. Ia cantar tão lindo, tão profissional. É curioso. A letra mais abstrata do Brasil, cheia de referências, um título de filme de Rogério Sganzerla, todo mundo cantou. Qualquer Coisa vendeu muito mais que Jóia. Uma coisa assim de 60.000 contra 30.000."

11 - DOCES BÁRBAROS (1976, álbum duplo com Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia)
"A sugestão foi de Bethânia, e partindo dela, era uma convocação. Ela teve um sonho, não sei o quê, Gil largou uma excursão no meio. Bethânia falou e ele parou tudo. Fizemos o repertório, divino, em duas semanas, mas a gravação ao vivo saiu suja. A gente queria gravar tudo bonitinho em estúdio, mas as mulheres não quiseram. Coisa de mulher. O Festival de Montreaux quer reunir novamente os Doces Bárbaros. Só depende da Bethânia. Se ela convocar... O show ficou muito bonito, romântico, baiano, colorido, sensual, extrovertido. É preto. É baiano."

12 - BICHO (1977)
"Ele levou muitas anedotas. Tinha "Odara", criticada por gente de outras profissões, humoristas, sociólogos, psicanalistas que queriam ser de esquerda, que queriam ser bonitos como gente de esquerda. O Henfil até me agrediu. No show Transversal do Tempo, a Elis Regina, o Aldir Blanc e o Maurício Tapajós faziam uma piada, de gosto duvidoso, com a letra de "Gente". Depois ela escreveu me dizendo que não queria me agredir, que a culpa era do diretor do show. Até joguei fora a carta. "Odara" é uma confissão de namoro com as discotecas. Eu me sentia bem em me aproximar do movimento Black Rio que surgia na época, quando começaram os grandes bailes funk. Tinha voltado de uma excursão à África com Gil, onde tive contato com a juju music da Nigéria. É um disco histórico, porque traz pela primeira vez a juju music para o Brasil em Two naira fifty kobo, que era o preço que a gente mais ouvia na Nigéria e o apelido do motorista que nos acompanhava. Fiz a música pensando no motorista. Tem "Um Índio", com uma levada reggae. Tem "Leãozinho", deslumbrante. Uma vez fui cantar numa assembléia não sei de quê da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Ia fazer um número para animar as pessoas, igual ao dessas cantoras que cantam para soldados na guerra, e recebi um bilhete que levaria um porrada se cantesse "Leãozinho". Na hora ia cantar, mas fiquei com medo. Não sabia direito que manifestação era aquela. Foi um amigo que me pediu pra ir. Tem "Tigresa", que cita na letra a discoteca Dancin’Days, uma boate do Nélson Motta que eu adorava. Aliás, eu encontrava muitos desses críticos de esquerda dançando nas discotecas."

13 - MUITO (1978)
"Foi o disco mais pichado pela crítica, o maior fracasso de vendas. E tem "Terra" e "Sampa". Se existe essa fama de que eu brigo muito com a crítica, ela surgiu em Muito. Eu fiquei irado. Fazia nos shows comícios contra a crítica. Nem queria citar o nome dessas pessoas que não tem nada. Uma mistura de Sílvio Lancelotti com Maria Helena Dutra e mais aquele Geraldo Mayrink, que torciam para a pasteurização de Los Angeles, sentiram-se agredidos. O Geraldo Mayrink foi tão idiota, que escolheu dois versos pra provar que minha capacidade poética tinha se esgotado, um de "São João Xangô Menino", que era uma citação de Luiz Gonzaga, outro de "Eu Te Amo", que era de Ary Barroso. O disco não vendeu nada, uns 30.000, numa época que Bethânia vendia 700.000 e Chico, 500.000. O rádio nunca tocou e a PolyGram é cúmplice disso. Uma canção como "Terra" nunca tocar no rádio? Os programadores de rádio são burros, reacionários e só servem ao que há de mais medíocre. Gente colonizada, pequena, merece ser humilhada. O brasileiro é merecedor dessa humilhação. Jamais perdoei. Diziam que a canção era longa, de sete minutos, e eu estou por aqui de ouvir uma porcaria de dez minutos do Dire Straits. O povo canta "Terra". Eu ouvi no show da Praia de Botafogo 50.000 pessoas cantanto a letra toda de "Terra". É isto que me interessa. Se tem alguma coisa que vale no meu trabalho é por causa disso. Se não vendeu, o Brasil não presta. Se fico assim agora, imagine na época."

14 - MARIA BETHÂNIA E CAETANO VELOSO AO VIVO (1978)
"Outra idéia de Bethânia. Adoro a canção "Número Um" e adoro eu cantando "Número Um"."

15 - CINEMA TRANSCENDENTAL (1979)
"O show fez muito sucesso e já havia um culto ao próprio show com A Outra Banda da Terra. "Tem Cajuína", que é linda. As pessoas gostam muito desse disco. Houve uma virada nas vendas. Aí eu comecei a vender grande. Eu gosto mais de Uns, de Caetano, de Transa, e de Jóia."

16 - OUTRAS PALAVRAS (1981), primeiro disco de ouro (100.000 cópias vendidas)
"É um trabalho com A Outra Banda da Terra, todo produzido por mim, na contramão das lantejoulas de Los Angeles. Adoro a canção "Outras Palavras". Gosto dessa fase. Era um tempo alegre. Tem "Beleza Pura", inspirada num refrão do Eleomar - "viola, alforria, amor, dinheiro não". É como os pretos da Bahia, tem tudo, dinheiro não. Hoje está na moda. É anti-yuppie, chega a ser óbvia."

17 - CORES NOMES (1982)
"É o mais parecido com o "Outras Palavras". A que eu mais gosto é "Aí Ele Me Deu um Beijo na Boca". Tem "Trem das Cores", tão bonitinha, delicadinha. Queixa é lindo. "Sina" é inesquecível. "Sonhos", do Peninha, que todo mundo adora e eu também adoro. "Queixa" e "Um Canto Afoxé para o Bloco do Ilê" entraram na coletânea de David Byrne, Beleza Tropical."

18 - UNS (1983)
"É o que mais gosto. Entendo que as pessoas gostem de Cinema Trancendental, mas adoro a canção "Uns". Adoro "Peter Gast". A pessoa devia ter vergonha de "Peter Gast" mas eu fiz e foi lindo. É a melhor capa. Eu, Rodrigo e Roberto, meus dois irmãos. E adoro aquele "nosso amor não deu certo", como chama mesmo? "Eclipse Oculto". É o título de LP mais bonito de todos. Adoro "Uns"."

19 - VELÔ (1984)
"Foi muito falado. Foi até escolhido por uma lista dos melhores da década. "O Homem Velho" é a mais bonita. Tem "Língua" e "Podres Poderes". "Quereres" é também muito bonita."

20 - TOTALMENTE DEMAIS (1986)
"É o meu único disco de platina (250.000 cópias vendidas), que aliás, nunca tocou no rádio. Meu recorde de vendas é do disco que eu não gosto. Foi gravado ao vivo, num show meio quebra galho. Em "Kalu" eu erro na letra, em "Calúnia" a música está errada."

21 - CAETANO (1987)
"É um dos meus favoritos. Adoro "Eu Sou Neguinha". Por que não toca no rádio? O início de "José" é um deslumbramento. Nessa época eu não dava entrevistas. Queria descansar de tanta entrevista. Não vendo tanto disco assim pra ser o darling da mídia. O Tarik de Souza considerou o LP um retomada de Cinema Transcendental. Os dois tinham uma foto de praia na capa. Se ele disse que é, é porque é mesmo. É parecido. É deprimido como o de Londres, mas eu gosto. Queria que "Eu Sou Neguinha" tocasse no rádio. Resolveram tocar "Fera Ferida", no meio de um monte de música romântica. Parece que só pode tocar o que já é. "O Ciúme" é lindo."

22 - ESTRANGEIRO (1989)
"É o mais recente, então me incomodo mais com ele. É menos deprimido, já sei. "Estrangeiro" é uma grande canção, "Os Outros Românticos" também. Gosto de Estrangeiro, mas por alguma razão gosto prefiro Caetano. É um grande disco, mas Caetano tem mais verdade, mais clareza."

23 - CAETANO VELOSO (1990)
"Este foi lançado em 1986 nos Estados Unidos, todo acústico. Tem um repertório parecido com de Totalmente Demais, sem os defeitos, porque foi gravado num estúdio maravilhoso de Nova Iorque."

24 - COLETÂNEAS
"Não participo destas compilações, nunca participei, mas queria decidir alguma coisa. Eu reclamei na gravadora, mas me disseram que, se eu opinar na capa, no repertório, é quase um trabalho novo. As compilações são decididas através de pesquisas estatísticas. Nunca parei para ouvir nenhuma."

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