“... Em dezembro de 1994, quando o escritor peruano
Mario Vargas Llosa esteve no Brasil, o editor Luiz Schwarcz fez um jantar em
sua casa, com a presença do então presidente eleito Fernando Henrique Cardoso.
Schwarcz convidou Caetano para o jantar e, nele, o compositor revelou ao editor
o projeto da editora americana e, como havia uma espécie de convite permanente
da Companhia das Letras, perguntou a Schwarcz se ele se interessaria em editar
o livro no Brasil....” [Matinas Suzuki, Folha de S.Paulo, 21/4/1996]
Luiz Schwarcz pilota sarau literário domingo (04/12) em torno de Mario Vargas Llosa.
Com presença confirmada de Fernando Henrique
Cardoso, Jô Soares e Caetano Veloso –entre outros stars.
São Paulo, terça-feira, 6 de dezembro de 1994
Na noite do domingo, o poder voltou à praça
Morungaba, a mesma onde morava a ministra Zélia Cardoso de Mello, no Jardim
Europa, zona oeste de São Paulo.
A agradável rua habitada pela alta classe média paulistana foi o endereço de um dos jantares mais disputados da pré-temporada do novo governo e uma espécie de "première" de como será o estilo dos anos Fernando Henrique Cardoso.
Pouco abaixo da casa de Zélia, o editor Luiz Schwarcz recebia políticos, escritores, artistas e empresários para uma homenagem a Mário e Patrícia Vargas Llosa.
Às 21h50, FHC e a futura primeira-dama, Ruth (sem óculos, de preto, muito elegante), juntos com Mário e Patrícia, chegaram ao jantar onde já se encontrava a grande maioria dos cerca de 60 convidados para o sarau dos novos tempos.
FHC e MVL são muito parecidos. Brilhantes intelectuais latino-americanos, homens grisalhos e de muito sucesso entre as mulheres. Os dois se deixaram cair na tentação da vida política –e aí começam algumas as diferenças.
FHC vestia um terno cinza, camisa branca, com a gravata no mesmo tom enlaçada por um nó um pouco menos apertado –digamos, um nó social-democrata.
MVL preferiu o azul e o paletó de quatro botões, sobre camisa do mesmo tom, riscada de amarelo. A gravata, combinando com a camisa, expunha um impecável laço liberal.
A julgar pelo bom humor e pela disposição de ambos, fica difícil saber o que é melhor: ganhar ou perder uma eleição presidencial.
Os tucanos eram maioria absoluta. Três ministeriáveis da Cultura dividiam as atenções do presidente eleito: Roberto Muylaert, Arnaldo Jabor e Jorge da Cunha Lima.
O último, que veio de helicóptero do litoral especialmente para o jantar, recebeu dez minutos de conversa, a sós com FHC, na sala de televisão da casa. Foram os dez minutos de maior suspense do jantar.
Em compensação, Jorge da Cunha Lima foi o autor da melhor frase da noite, recolhida perspicazmente pelo editor Jorge Zahar. Ao ver, em uma roda de tucanos, um assento desocupado ao lado de FHC, Cunha Lima exclamou: "Puxa, uma cadeira vazia ao lado do Presidente!" E, rapidamente, ocupou o espaço vazio.
O sucesso do jantar preparado por Charlô Whately foram as alcachofras de entrada. Aliás, as alcachofras são, desde já um item necessário da pré-temporada, pois também foram servidas como entrada do jantar de 90 anos de Roberto Marinho, no sábado, no Rio.
Ao ver FHC jantando, Jô Soares perguntou se ele estava comendo buchada. Depois, ao se despedir do presidente eleito, Jô disse que manifestaria seu desejo de que tudo corresse bem no governo usando a maneira com que os artistas de teatro desejam boa sorte uns aos outros: "Merda para o senhor", disse Jô.
FHC lembrou-se então de que, no Chile, onde viveu exilado, é comum se dizer "Viva Chile, mierda!" Sempre fazendo piadas, o presidente eleito brincou bastante com as idéias mais à esquerda de seu amigo e colega Roberto Schwarz –um dos raros petistas da noite.
Por seu lado, MVL encontrou um interlocutor no economista Eduardo Giannetti da Fonseca, com quem conversou, entre outras coisas, sobre Adam Smith. Uma conversa um pouco "liberada" –como brincava Caetano Veloso, que, com Gilberto Gil, chegou mais tarde, após o show no Palace– demais para os tucanos.
À saída, alguns convidados ganharam um volume autografado dos "Contos Reunidos", de Fonseca. FHC e MVL ganharam os primeiros exemplares do belíssimo "Saudades do Brasil", de Lévi-Strauss.
Os anos FHC começam assim: sem surpresas, com muitos sorrisos à esquerda e aos liberais e –se possível– com muito verniz cultural.
A agradável rua habitada pela alta classe média paulistana foi o endereço de um dos jantares mais disputados da pré-temporada do novo governo e uma espécie de "première" de como será o estilo dos anos Fernando Henrique Cardoso.
Pouco abaixo da casa de Zélia, o editor Luiz Schwarcz recebia políticos, escritores, artistas e empresários para uma homenagem a Mário e Patrícia Vargas Llosa.
Às 21h50, FHC e a futura primeira-dama, Ruth (sem óculos, de preto, muito elegante), juntos com Mário e Patrícia, chegaram ao jantar onde já se encontrava a grande maioria dos cerca de 60 convidados para o sarau dos novos tempos.
FHC e MVL são muito parecidos. Brilhantes intelectuais latino-americanos, homens grisalhos e de muito sucesso entre as mulheres. Os dois se deixaram cair na tentação da vida política –e aí começam algumas as diferenças.
FHC vestia um terno cinza, camisa branca, com a gravata no mesmo tom enlaçada por um nó um pouco menos apertado –digamos, um nó social-democrata.
MVL preferiu o azul e o paletó de quatro botões, sobre camisa do mesmo tom, riscada de amarelo. A gravata, combinando com a camisa, expunha um impecável laço liberal.
A julgar pelo bom humor e pela disposição de ambos, fica difícil saber o que é melhor: ganhar ou perder uma eleição presidencial.
Os tucanos eram maioria absoluta. Três ministeriáveis da Cultura dividiam as atenções do presidente eleito: Roberto Muylaert, Arnaldo Jabor e Jorge da Cunha Lima.
O último, que veio de helicóptero do litoral especialmente para o jantar, recebeu dez minutos de conversa, a sós com FHC, na sala de televisão da casa. Foram os dez minutos de maior suspense do jantar.
Em compensação, Jorge da Cunha Lima foi o autor da melhor frase da noite, recolhida perspicazmente pelo editor Jorge Zahar. Ao ver, em uma roda de tucanos, um assento desocupado ao lado de FHC, Cunha Lima exclamou: "Puxa, uma cadeira vazia ao lado do Presidente!" E, rapidamente, ocupou o espaço vazio.
O sucesso do jantar preparado por Charlô Whately foram as alcachofras de entrada. Aliás, as alcachofras são, desde já um item necessário da pré-temporada, pois também foram servidas como entrada do jantar de 90 anos de Roberto Marinho, no sábado, no Rio.
Ao ver FHC jantando, Jô Soares perguntou se ele estava comendo buchada. Depois, ao se despedir do presidente eleito, Jô disse que manifestaria seu desejo de que tudo corresse bem no governo usando a maneira com que os artistas de teatro desejam boa sorte uns aos outros: "Merda para o senhor", disse Jô.
FHC lembrou-se então de que, no Chile, onde viveu exilado, é comum se dizer "Viva Chile, mierda!" Sempre fazendo piadas, o presidente eleito brincou bastante com as idéias mais à esquerda de seu amigo e colega Roberto Schwarz –um dos raros petistas da noite.
Por seu lado, MVL encontrou um interlocutor no economista Eduardo Giannetti da Fonseca, com quem conversou, entre outras coisas, sobre Adam Smith. Uma conversa um pouco "liberada" –como brincava Caetano Veloso, que, com Gilberto Gil, chegou mais tarde, após o show no Palace– demais para os tucanos.
À saída, alguns convidados ganharam um volume autografado dos "Contos Reunidos", de Fonseca. FHC e MVL ganharam os primeiros exemplares do belíssimo "Saudades do Brasil", de Lévi-Strauss.
Os anos FHC começam assim: sem surpresas, com muitos sorrisos à esquerda e aos liberais e –se possível– com muito verniz cultural.
5/12/1994 - Folha de S.Paulo |
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