sábado, 1 de septiembre de 2018

2001 - Premio MICHELANGELO ANTONIONI - PER LE ARTI


“Es uno de los músicos que más ayudó a revolucionar el sentido de la música, tornándola una forma de arte moderna y su obra tiene un enorme impacto sobre a cultura del Brasil contemporáneo”.
[2001, Organizadores del premio]


En la agenda, una reseña cinematográfica en el Teatro Clitunno de Trevi:
25/9 - Quattro Giorni a Settembre, de Bruno Barreto
26/9 - Central do Brasil, de Walter Salles
27/9 - Princesa, de Henrique Goldman
28/9 - Professione: reporter, de Michelangelo Antonioni

29/9 - Entrega del Premio Michelangelo Antonioni per le Arti (Escultura “Cubo sin cubo” de Sol Lewitt):

Concierto de Caetano Veloso dedicado a Michelangelo Antonioni en el dia de su cumpleaños y ceremonia de premiación en el Lyrick Theatre en Asís.



BBC Brasil

28 de setembro, 2001

Caetano Veloso recebe prêmio na Itália

Caetano 'revolucionou o sentido da música'

Glaucia da Mata Machado, de Roma

Caetano Veloso recebe neste sábado, dia 29, em Assis, na Itália, o prêmio Michelangelo Antonioni, dedicado às artes.

O prêmio foi criado em 1998, pelo arquiteto Alberto Zanmatti, pela jornalista Marisella Mazzaroli e pela coreógrafa Gisella Johnson, para homenagear a figura e a obra do cineasta italiano Michelangelo Antonioni e como forma de celebrar os artistas que influenciaram os caminhos das artes no mundo.

Em 1999, o prêmio foi concedido a Kazuo Ohno, lenda viva da dança japonesa Butoh. No ano passado, foi a vez do violoncelista Mstislav Rostropovich e da soprano Galina Visnevskaya, ambos russos.

A entrega do prêmio será no Teatro Lírico de Assis. A razão da escolha de Caetano Veloso para receber o prêmio este ano, segundo os organizadores, é que o cantor "é um dos músicos que mais ajudou a revolucionar o sentido da música, tornando-a uma forma de arte moderna" e a sua obra "teve um enorme impacto sobre a cultura do Brasil contemporâneo".

Show

Depois da entrega, Caetano fará um show em homenagem ao cineasta italiano, que neste dia estará fazendo 89 anos.

Antonioni começou a trabalhar como crítico de cinema, função que exerceu por 10 anos. Sua carreira de cineasta só foi iniciada aos 30 anos de idade, em 1942, com um curta metragem intitulado Gente do Pó, que conta a vida dos habitantes da região do rio Pó, no norte da Itália.

Daí em diante sua obra começou a ser aplaudida e vaiada, com igual intensidade e paixão na Itália. Mas foi com Blow Up: Depois Daquele Beijo, feito em 66, que ele se tornou conhecido no mundo inteiro.

Seu último filme, Al di la delle nuvole, foi apresentado no Festival de Veneza em 94.




Caetano cantó canciones suyas y algunos clásicos italianos:

VOCÊ É LINDA
O HOMEN VELHO
GAROTA DE IPANEMA
ONDE ANDARÁS
MICHELANGELO ANTONIONI
TONADA DE LUNA LLENA
SAMPA
TERRA
LUNA ROSSA
COME PRIMA
ESTATE



"Sono troppo onorato"...












MATTOSO, Gilda. Assessora de Encrenca. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. 240 pág.


Pág. 90,91,92 e 93


Antonioni “Visione del silenzio…”

Caetano, como é do conhecimento de muitos, é um apaixonado por cinema em geral e por cinema italiano em especial. Mais particularmente ainda, por Fellini e Antonioni.

Nos anos 1980 teve o privilégio de conhecer Antonioni aqui no Rio, na casa de Júlio Bressane. Encontrou-se novamente com ele em outra ocasião, na casa de Cacá Diegues.

O emblemático diretor correspondeu ao seu carinho e recomendou-lhe que quando fosse a Itália, não deixasse de procura-lo. E assim passamos a fazer: para todos os shows em Roma, Enrica e Michelangelo eram convidados mais que especiais.

Em 2000, para seu CD Noites do Norte, Caetano comôs uma canção com o nome do diretor e escreveu a letra em italiano, que diz:

Visione del silenzio
Angolo vuoto
Pagina senza parola
Una lettera scritta sopra un viso
Di pietra e vapore
Amore
Inutile finestra

[“Visão do silêncio / ângulo vazio / página sem palabra / uma carta escrita sobre um rosto / de pedra e vapor / amor / inútil janela]

É a cara dos filmes de Antonioni. Mandamos logo a gravação para ele soubemos por Enrica que ele ficou profundamente tocado com a homenagem. Pois bem, não por acaso, Caetano foi indicado para receber o prêmio Michelangelo Antonioni, dado por um grupo de intelectuais e artistas italianos, amigos do diretor, que formam uma confraria chamada Kybalion. Na edição anterior, haviam contemplado o coreógrafo japones Kasuo Ohno. A entrega do prêmio acontece sempre em data próxima ao aniversário de Antonioni (29 de Setembro) e o premiado deve fazer uma apresentação, ou uma exposição, de for artista plástico.

Fomos para a Itália uma semana antes da entrega do premio e nos instalaram num hotel antiqüíssimo e pitoresco chamado Il Vecchio Molino, localizado entre Assis, onde aconteceriam a entrega e o show de Caetano e Trevi, cidade onde Enrica e Antonioni têm casa de campo. Nossos anfitriões foram Marisella e Alberto Zanmatti, ela jornalista e apresentadora da RAI e ele, arquiteto renomado. O casal também tem casa na região e os 2 são amicíssimos dos Antonioni e fazem parte da tal confraria que escolhe os premiados. O prêmio, uma escultura do artista norte americano Sol Lewitt, também amigo da turma toda.

Mal chegamos ao hotel, Caetano subiu para descansar e eu fiquei conversando um pouco com Marisella que logo me mostrou um plano para nossa estada com eles. Arrepiei-me, pois a programação começava quase todos os dias as 11 h. Delicadamente, expliquei-lhe o problema da insônia de Caetano, sobretudo quando não está em casa, depois de uma viagem de avião, com frio, etc. Que esse problema vinha da infancia, conforme me explicara sua mãe, dona Canô. Enfim, falei-lhe que o dia de Caetano começava – com boa vontade – lá pelas 15/16 h. Ela disse que não tinha problema mas que queria então que eu fosse almoçar na casa deles para conhecer melhor seu marido Alberto. Como de hábito, deixei um bilhete sob a porta do quarto de Caetano com todos os telefones de contato e dizendo meus passos para ele, caso precisasse de mim. Mal saímos do hotel, já na estradinha, tocou o celular de Marisella. Era Caetano dizendo que tinha resolvido não dormir e que queria ir conosco. Fiquei surpresa. Demos meia volta e fomos busca-lo. Lá chegando, pedi a ele que confirmasse o que eu dissera, para ela não pensar que eu era louca ou mentirosa.

Antes de chegarmos à charmosa casa dos Zanmatti, ela passou num dos lugares mais lindos que já vi em minha vida: Le Fonti del Clituno, ume espécie de lago formado pelas águas do rio Clituno, cheio de plantas aquáticas e cercado de salice piangenti (salgueiro chorão, árvore linda de nome igualmente lindo nas duas línguas!). No caminho, Marisella foi logo dizendo que não havia feito nada de especial para o almoço. Disse a ela que isto é o melhor da Itália. Chegamos à casa, que tem uma vista lindíssima da região Umbria. Alberto, o marido, era tão simpatico quanto ela. Instalamo-nos e fui ajudá-la a pôr a mesa. Ela foi ao jardim e recolheu ervas perfumadíssimas que jogou numa panela com o melhor azeite do mundo. Na entrada de Trevi, há um portal de cerca viva feita de oliveiras onde se lê: Trevi, la capitale del olio (Trevi: a capital do azeite). Misturou a massa caseira com os temperos e nos serviu acompanhada de uma salada também feita com produtos do seu quintal. Foi uma refeição simplíssima, mas dos deuses.

No dia seguinte, a programação tinha uma sessão do filme de Antonioni Passageiro, profissão repórter, cópia restaurada, com um magistral Jack Nicholson, que iam passar no Teatro Municipal de Trevi. Caetano assistiu ao filme emocionado, sentado ao lado de Antonioni e Enrica. Depois jantamos num restaurante simples e delicioso a beira do rio Clituno. No dia seguinte seria o almoço de aniversário de Antonioni em casa deles.

Lá chegando, casa simples e linda cercada de muito verde. havia uns barmen no jardim preparando caipirinhas para convidados seletíssimos, entre os quais o impagável Tonino Guerra, roetirista de filmes do diretor e também de Fellini e de outras feras. Tomei a caipirinha e pensei que fosse uma sutil homenagem ao premiado do ano. Mas ao nos sentarmos à mesa (eram 2 mesas de 16 lugares cada uma cabeçeira ocupada por Antonioni e outra por Enrica) havia um menu, impresso, personalizado, com capa dura forrada de seda verde e numerado, um para cada convidado (guardo o meu avaramente). Nele se lia: Pranzo di Gala per Caetano Veloso, a casa de Michelangelo Antonioni, nel giorno del suo compleanno. Trevi, 29 di Settembre, de 2001. (Almoço de gala para Caetano Veloso, na casa de Michelangelo Antonioni, no dia de seu aniversário. Trevi, 29 de setembro de 2001)


29/9/2001 - 89 anos Michelangelo Antonioni
Pranzo di Gala per Caetano Veloso, a casa de Michelangelo Antonioni, nel giorno del suo compleanno. Trevi, 29 di Settembre, de 2001

Portanto, muito mais do que apenas as caipirinhas, o almoço era também todo em homenagem a Caetano. Foi um banquete daqueles!. Depois fomos descansar, pois à noite aconteceria o show em Assis. O espetáculo foi muito emocionante, pois Caetano misturou suas canções com algumas italianas com “Luna Rossa” (clássico napolitano de V. de Crescenzo e Antonio Viscione), “Come Prima”(Domenico Modugno e Tony Dallara), e, naturalmente a sua “Michelangelo Antonioni”. O homenageado foi às lágrimas, bem como quase todos na platéia.

No fim da apresentação, para não forçar Antonioni que estava debilitado por conte de um derrame que afetou também – e sobretudo- a fala, Caetano desceu à platéia para receber o prêmio das mãos dele, de joelhos a seus pés, num gesto de grande elegância e humildade.


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