jueves, 20 de septiembre de 2018

2018 - CAMINHANDO CONTRA O VENTO




27/7/2018 - Noemi Jaffe (mediadora) e os escritores Igiaba Scego e Fábio Pusterla
Foto: Walter Craveiro / Flip / Divulgação / Correio do Povo


CAETANO VELOSO 

Livro escrito por autora italiana será lançado na FLIP 2018 

[16ª Festa Literária Internacional de Paraty (RJ)]


A Buzz Editora, em parceria com a Editora Nós, lança "Caminhando contra o vento", misto de ensaio e depoimento afetivo sobre Caetano Veloso. A autora é a italiana com ascendência somali Igiaba Scego

"Este homem salvou a minha vida", diz ela na apresentação da obra. Nem sempre é fácil emprestar o que é nosso. E Caetano Veloso é um tesouro do Brasil. Por que então uma italiana escreve sobre Caetano? Porque já é o momento: é preciso olhá-lo de fora. É possível que Igiaba Scego não saiba, ou talvez saiba tanto a ponto de não se importar: a biografia de Caetano está distante de ser festiva. Em retrospecto, Caetano se defendeu desde o início da carreira. Houve a forte reação ao movimento tropicalista, houve a vaia história no Festival Internacional da Canção de 1968 (e o pito igualmente histórico do próprio Caetano), a prisão, o exílio, a violenta crítica ao experimental "Araçá Azul", a capa censurada de "Joia", os intempestivos debates nos programas de TV, nos artigos de jornal, o rompimento com alguns veículos de comunicação, a nova repulsa dos doutos quando Caetano, no começo dos anos 2000, abraçou o funk, certa invasão de sua vida pessoal, as críticas às opiniões, opiniões, opiniões. Caetano é tão amado porque ele é quem é mas, sem dúvida, porque ele se propôs a interceder pelo próprio destino, respondendo a tudo e a todos uma vida inteira.

E aqui os olhos se voltam a Igiaba Scego. Uma mulher italiana, nascida em Roma em 1974 – quase a tempo de pisar o mesmo solo de Caetano no exílio europeu –, alheia a todas essas polêmicas, ou muito desinteressada nessas polêmicas, que escreve um livro, às vezes uma carta, uma pulsão amorosa explicando por que Caetano salvou a sua vida. Quando, em "Reconvexo", Caetano anuncia "Eu sou a chuva que lança areia do Saara / Sobre os automóveis de Roma", ele entende, diz Igiaba Scego, a vida dos imigrantes e da família dela na Itália; apesar de não serem dali, há um "profundo sentido de pertencimento". No livro não há nenhum porém, não há mas nem talvez. O Caetano de Igiaba Scego já é cânone, mito, um Joyce, um Pessoa, um Picasso. Ele está vivo, mas é como se já fosse, há muito, atemporal. Embrenhando-se nas músicas, a autora mistura sua biografia romana e somaliana à do baiano brasileiro, reflete-se em Santo Amaro, coloca-se à mesa de almoço dos Velosos, como se puxasse a cadeira e fosse mais uma convidada daquilo que – imagina ou leu – era um momento especial para a família. Quem pode contar essas histórias, algumas delas talvez já conhecidas, quem pode contá-las com o fulgor da primeira vez senão alguém de fora? "Isso é o que peço que façam comigo: uma peregrinação. Não daquelas clássicas com bastão e túnica. Não esse tipo de peregrinação. Como no Caminho de Santiago, não prometo percorrer todas as etapas, todas as canções, cada anedota. Não vou ser exaustiva, não posso sê-lo. O que vou lhes contar é um percurso, falaz e incompleto, pela música de Caetano Veloso. Um itinerário meu. O meu Caminho de Caetano pessoal." O pedido de Igiaba Scego já é também senha de como encarar seu guia sentimental: por meio de uma nova voz, é hora de ouvir velhas e novas histórias de quem conhecemos tão bem, guiados pela escrita ora lírica, ora certeira da italiana. E cabe o questionamento: será que conhecemos tão bem Caetano? Sob que ponto de vista? Afinal, não foi o próprio Caetano, falando de dentro a fora, de fora a dentro, de Santo Amaro ao mundo e depois sempre de volta a Santo Amaro, não foi Caetano, num giro antropofágico difícil de acompanhar, um daqueles que criaram um Brasil para o mundo e um mundo para o Brasil? "Ouça-me daqui de fora", parece gentilmente pedir Igiaba Scego. Ela traduz, ela explica todas as belezas de novo: uma amiga que lembra, quantas vezes forem necessárias, por que o Sol é bonito, por que "o Sol é tão bonito

Igiaba Scego nasceu em Roma, em 1974. Formada em Literatura Moderna na Universidade La Sapienza, é doutora em Estudos Pós-coloniais. Trabalhou como jornalista em veículos como Il Manifesto e Internazionale. Entrou para o mundo literário em 2003, depois de vencer o Prêmio Eks&tra com o conto "Salsicce", em que uma garota muçulmana somali decide comer salsichas pela primeira vez. Editou a antologia Italiani per vocazione e o livro de entrevistas Quando nasci è una roulette: Giovani figli di migranti si raccontano, dedicados a registrar novas vozes de autores de diversas origens radicados na Itália. Escreve contos e romances cuja linguagem absorve fábulas, memórias e tradições africanas.

Durante a Flip 2018, lançará os livros "Adua" e "Minha casa é onde estou", pela Nós, e "Caminhando contra o vento", numa parceria Nós e Buzz Editora.

Fonte: Buzz Editora (via press-release)



Italiana filha de africanos lança livro em homenagem a Caetano Veloso
“Esse homem salvou a minha vida”, afirma a autora, que apresentará a obra Caminhando contra o Vento na Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP)
29 de junho de 2018
Por Daniela Pessoa/Veja Rio



Foto: Daryan Dornelles / Divulgação

Escritora italiana filha de imigrantes da Somália, Igiaba Scego promete surpreender na Feira Literária Internacional de Paraty, a Flip, que ganha nova edição a partir do dia 25/7. Conhecida por escrever a respeito de colonialismo e imigração, ela vai apresentar novo livro sobre… Caetano Veloso. Fã inveterada, que não perde um show do ídolo na Europa, Igiaba escreveu depoimentos afetivos em homenagem ao cantor brasileiro. A obra Caminhando contra o Vento traz uma revelação: “Esse homem salvou a minha vida”, afirma a autora, que conheceu o som do artista quando trabalhava em uma loja de discos em Roma. “Já vivi muitas situações de racismo na Europa e as canções dele sempre foram como um afago. Elas falam de um povo mesclado, diverso. A minha sensação era de pertencimento”, conta, emocionada. “Para mim, Caetano é como uma religião. Ele é sagrado.”



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