8 jan, 2018
Caetano Veloso vai dirigir shows de Teresa Cristina em
homenagem a Noel Rosa
O
ídolo Caetano Veloso adicionou mais uma experiência ao seu vasto e
impressionante currículo artístico. O cantor e compositor foi confirmado como o
diretor musical do novo projeto de homenagem a mestres da música da cantora
Teresa Cristina. O show “Teresa Cristina canta Noel – Batuque É um Privilégio” vai
estrear ainda neste primeiro semestre.
Outro
trabalho com essa pegada da intérprete carioca foi “Teresa Cristina canta
Cartola – Um poeta de Mangueira”, que teve início em 2015. As apresentações
renderam um disco ao vivo, lançado em 2016. Será que “Teresa canta Noel” vai
trilhar o mesmo caminho e ganhará registro? Com Caetano Veloso na direção
artística, tudo indica que sim. Vamos aguardar e torcer!
13/11/2017 - Estúdio |
Fotos: Reprodução / Facebook
Foto: Fernando Young |
“Escolhi gravar Noel porque tenho essa ligação com samba de
terreiro, que é o que mais gosto de cantar. E Noel vai pra outros lugares. Eu
queria ver como ia me sair cantando Noel”.
[Teresa Cristina]
Teresa Cristina
homenageia Noel Rosa em 2º disco de trilogía
Do
UOL, em São Paulo
05/03/2018
Capa
de "Teresa canta Noel", novo disco de Teresa Cristina
Imagem:
Fernando Young (foto) e Rodrigo Araujo (arte de capa)
"Teresa
Canta Noel", segundo álbum da trilogia da cantora Teresa Cristina em
homenagem a grandes sambistas, chega às plataformas digitais na sexta (9/3).
O
disco em homenagem a Noel Rosa --que tem sua capa revelada com exclusividade ao
UOL -conta com direção musical de
Caetano Veloso, com quem Teresa saiu em turnê mundial. "Teresa Canta
Noel" é lançado dois anos depois de "Teresa Cristina Canta
Cartola". Um tributo a Nelson Cavaquinho fechará a trilogía.
O
trabalho completo conta com 14 faixas. "Conversa de Botequim", a
primeira delas, foi lançada há um mês. "Noel é o elo entre o samba do
morro e o samba do asfalto. A cara do Rio de Janeiro" comenta Teresa sobre
o homenageado.
Acompanhada
do violão de Carlinhos Sete Cordas a cantora carioca ainda entoa faixas como
"Feitio de Oração", "Gago Apaixonado", "O X do
Problema", e "Minha Viola", essa com participação especial do
cantor Mosquito.
O
projeto ainda inclui o show "Teresa canta Noel - Batuque é um
privilégio", que estreia no Rio de Janeiro nos dias 21 e 22 de março no
Theatro Net Rio e segue para Campinas (28/3), São Paulo (29/3), Porto Alegre
(15/4), Recife (20/4), Natal (21/4) e Fortaleza (22/4).
"O
Batuque é um privilégio sim, e fez com que a música brasileira tenha o viés de
hoje. Esse verso traduz muito sobre a importância de suas letras para o samba.
Essa influência ancestral misturada à melodia e a poesia de seus versos, isso
faz total diferença na construção da sua identidade", explica a
artista sobre o nome da turnê.
O
GLOBO
Caetano e
Teresa Cristina conversam sobre as contradições de Noel Rosa
Compositor da Vila é tema do disco que
ela lança nesta sexta, com direção do baiano
Palpite feliz. Caetano diz que Noel soa “refrescado”
na voz de Teresa Cristina
Foto: Guito
Moreto / Agência O Globo
|
Por LEONARDO LICHOTE
9/3/2018
RIO — Depois de se
dedicar a Cartola em disco e show ao lado de Carlinhos Sete Cordas, Teresa
Cristina agora volta a se juntar ao violonista para um mergulho em outro
mestre. Com direção musical de Caetano Veloso, “Teresa Cristina canta Noel”
(Uns/Altafonte) -que ela lança nesta sexta-feira em formato digital, e que
chega aos palcos nos dias 21 e 22, no Teatro Net Rio- representa, porém, mais
do que simplesmente um novo repertório.
Compositor
branco, de classe média, com olhar de cronista afiado que cruzava as vivências
das ruas e dos meios intelectuais, Noel explicitou em sua música tensões de um
país que se dividia entre atraso e modernidade. E nem sempre se concordava
sobre o que era cada um, como mostra a polêmica do “bacharel” Noel com o
“malandro” Wilson Baptista — uma troca de canções nas quais eles se provocavam
mutuamente.
Abaixo,
uma conversa franca de Teresa com Caetano sobre a genialidade e as contradições
de Noel. Conversa que começa com a lembrança dos comentários de Caetano, no
show “Obra em progresso” (2008), sobre o que identifica como teor racista de
“Feitiço da Vila” — que Teresa não gravou exatamente por isso.
CAETANO: A crítica à bossa
nova liderada pelo (crítico José Ramos) Tinhorão era de que ela era uma
apropriação indébita de uma criação do povo, o samba, pela classe média. Noel
era isso. E não tinha vergonha de dizer. Aquela coisa de bacharel, bairro com
nome de princesa, que transformou o samba num feitiço decente, diferentemente
do feitiços dos pretos (referências à letra de “Feitiço da Vila”)... E ainda
tem aquele “na Vila não tem ladrão”. É muito explícito.
TERESA: Não gravei
“Feitiço da Vila” porque preciso de mais tempo pra lidar com isso que Caetano
falou no “Obra em progresso”. Quando ouvi aquilo, lembrei que a gente fazia
sambas na casa da Memélia, mãe do Chico (Buarque). Uma vez, começamos “O teu
cabelo não nega”, e ela: “essa não, essa música é racista”. Me deu uma vergonha
por nunca ter pensado naquilo.
CAETANO: Já ouvi muitas
vezes reclamarem de “O teu cabelo não nega”, mas “Feitiço da Vila” não só não
reclamam como não querem que eu observe isso. E é uma observação histórica. Não
é que Noel fosse um indivíduo especialmente racista. Mas é que a cultura
mediana era, e até hoje é, racista. Tem um lado racista e classista no respeito
a Noel. Ele marcou a entrada da classe média no samba, e documentou isso nessa
música e em outras. Ele diz que a discussão se o samba vem do morro ou da
cidade não importa, porque o samba nasce do coração. O que é uma opinião bem
classe média. Muito boa, mas bem classe média.
TERESA: O show se chama
“Batuque é um privilégio” porque esse verso redime Noel nesse sentido. Tem dois
versos dele que queria usar em camisetas. Um é esse. O outro é “Feche a porta
da direita com muito cuidado” (risos).
CAETANO: Noel era uma
figura muito venerada na minha casa. Não existia long-play, mas tinha essa
caixa da Aracy com capa de Di Cavalcanti, e dentro tinha uns 78 rotações com
canções de Noel. Meu pai tinha admiração enorme por ele, dizia que “Três
apitos” era a música mais bonita que existia. Eu ficava prestando atenção,
porque a letra de “Três apitos” é muito bem bolada. Eu menino ficava muito
impressionado. Porém, minha grande virada foi João Gilberto. E logo no primeiro
disco ele vai em Ary, Marino Pinto, Dorival. E assim nos seguintes. E Noel
nunca estava. Aquilo pra mim era instigante. Wilson Baptista ele cantava.
Porque a briga de Noel com Wilson vinha de um lado playba do Noel. Ele era
contra os sinais do malandro, fica querendo um mundo mais respeitável pro
samba. Eu achava que João insinuava uma afinidade maior com Wilson. Depois vim
a conhecer João, e ele falava: “Caetas, em Juazeiro não se conhecia Noel Rosa,
isso foi inventado aqui no Rio”. Porque de fato foi um gesto de Lúcio Rangel.
Ele que fez esse negócio de revalorizar o Noel. O que foi muito merecido,
porque só Chico escreve como ele letra de música. É sempre a sílaba caindo no
lugar certo. Depois João gravou “Palpite infeliz”, gravação que é uma
maravilha. E é uma canção que resolve o problema do “Feitiço da Vila”, supera.
Aí falei: “Agora sim, João”. “É, Caetas, mas é porque é Vadico” (risos). Pior
que não é!
TERESA: “Palpite infeliz”
faz parte da polêmica com Wilson Baptista. Canto no show.
CAETANO: Você não gravou
“Feitiço da Vila” e gravou a parceria de Noel e Wilson (“Deixa de ser
convencida”). Muito politica você (risos).
TERESA: Quis fazer isso
porque de algo ruim saiu um tesouro. A música original (”Terra de cego”, da
qual Noel pegou a melodia para escrever a letra de “Deixa de ser convencida”)
era ofensiva ao Noel. Ele pegou a melodia, e botou uma letra linda. Mas queria
dizer que tô amando ver esse Noel que você tá falando, um olhar diferente do
meu. Noel pra mim entrou por Monarco, que tem uma admiração imensa por ele, e
por Bethânia, primeira cantora que ouvi cantando Noel.
CAETANO: Ela gravou um
compacto duplo só de Noel. Isso veio do meu pai.
TERESA: Quando comecei,
era um deleite cantar Noel. Mas havia umas canções que não me deixavam à
vontade, como “Mulher indigesta”, que nunca cantei. Mas me alegrava no Semente
cantando Noel. Ele tem um feitiço. Mesmo na noite mais caótica, muitas vezes
com pessoas que não gostavam de samba mas que achavam que o Semente era um
lugar onde eles tinham que estar. Mesmo nessas noites, quando se jogava Noel, o
clima se resolvia. Mas nunca persegui Noel, tipo “vou gravar”. Mas esse momento
com Carlinhos, o show do Cartola, me mostrou um lugar onde gostei de me ver. No
teatro, cantando samba com as pessoas sentadas. Tem quem fale: “Por que você
parou de cantar no bar?. É como se o samba não merecesse estar ali. Nessa turnê
que fiz com Caetano, cantando Cartola, tocamos em lugares que eu pensava: “tô
aqui cantando samba nesse lugar”. Aquele palco de Barcelona...
CAETANO: O Palau de la
Música. É lindo mesmo.
TERESA: Carlos Cachaça e
Cartola falam: “conseguiu penetrar no Municipal” (“Tempos idos”). Para eles era
importante.
CAETANO: O mais interessante
nisso tudo é Teresa. Porque ela tem um histórico no samba que não passa por
Noel.
TERESA: Escolhi gravar
Noel porque tenho essa ligação com samba de terreiro, que é o que mais gosto de
cantar. E Noel vai pra outros lugares. Eu queria ver como ia me sair cantando
Noel.
CAETANO: Pra mim ficou
assim como refrescado. Porque como a base dela é outra, o samba de terreiro,
ela refresca Noel todo. E o violão de Carlinhos é incrível.
TERESA: E tem a coisa de
a obra de Noel ser atualíssima. “Cidade mulher”, ver o Rio como uma cidade
mulher. Porque o Rio nunca foi tão maltratado pelos governantes. Sempre morei
no subúrbio, já vi situações críticas de violência, mas agora tá mais que
ultraviolento. Tá o esculacho. E tem canções de Noel que me representam hoje.
“Seja breve” pra mim Noel fez pro Temer. Em “Onde está a honestidade?”, quando
ele fala: “O seu dinheiro nasce de repente”... Isso já o incomodava. A forma
como falava do almofadinha, da coisa de o Rio querer ser francês... Ele era de
classe média, isso devia ser algo que ele via, que o incomodava. Quis trazer
esse olhar atual. Gosto muito de fazer roteiro. Tem músicas que tô cantando só
no show, como “Três apitos”. Essa tá num lugar muito alto. A maneira como ele
se deleita com aquela mulher que vai pro trabalho... Tem a ver com aquela
música do Caetano, “Dama do cassino”, que fala de uma mulher livre. Quando Noel
fala da mulher que “Sem meias vai pro trabalho / Não faz fé com agasalho / Nem
no frio você crê”, é um jeito de falar dessa independência da mulher desejada,
uma mulher que não obedece a ninguém, nem ao frio. Essa e “Cidade mulher”
redimem Noel dessas outras que eu não gosto.
CAETANO: Como a do tijolo
(“Mulher indigesta”, do verso “Mas que mulher indigesta/ Merece um tijolo na
testa”), que citei em “Funk melódico”. Não lembro mais a motivação pra essa
canção. Mas me lembro que “Dom de iludir” fiz respondendo a Noel. Dizia que era
uma canção transfeminista, porque a mulher dizia: como é que você vai querer
que a mulher vá viver sem mentir? (risos). Lembrei de uma coisa curiosa. Uma
vez eu e Chico fomos cantar juntos e propus “O X do problema”. Quando cantei
“Você pode crer / Que palmeira do mangue / Não vive na areia de Copacabana”, ele
disse: “Não é, é ‘pode ver’”. Depois descobrimos que Aracy canta “pode crer”,
mas tem uma gravação dela com “pode ver”. E você agora canta “ver”, Teresa.
TERESA: Eu gravei “pode
ver”? Fiquei na dúvida. Se gravei “pode ver” vou falar que foi influência do
Chico (risos).
CAETANO: É, essa parte não
foi Caetano, foi Chico! (risos)
|
25/4/2018 - Theatro Net Rio - Fotos: Fred Pontes |
26.04.2018
Caetano Veloso, Debora Bloch e mais em plateia de show no Rio
Teresa Cristina, Caetano Veloso e Paula Lavigne || Foto: Fred Pontes/ Divulgação |
Estava lotada a plateia do show Teresa Cristina
canta Noel Rosa, essa quarta-feira (25/4) no Teatro Net, em Copacabana, no Rio.
Caetano Veloso, Monique Gardenberg, Debora Bloch, Lucinha Araújo e Gregorio
Duvivier eram alguns dos presentes.
Foi Caetano que escreveu a apresentação do CD que
deu origem à apresentação.
“Depois da antologia de Cartola, Teresa Cristina
decidiu encarar Noel. Isso é um grande acontecimento na trajetória história do
samba. Uma cantora negra, tornada referência do samba carioca na virada do
milênio, claramente vinculada ao samba de terreiro, canta canções daquele que foi
não apenas um dos maiores autores que a canção popular brasileira produziu, mas
também quem trouxe a forma desenvolvida no Estácio a partir das casas das tias
baianas para o ambiente letrado da classe média”.
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