2018
LE MONDE diplomatique
Janeiro 2018
Edição 126
Os
trópicos de Caetano Veloso - Le Monde Diplomatique
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PRÉVIA DE JANEIRO
Os trópicos de Caetano Veloso
por Guilherme Henrique
dezembro
11, 2017
Imagem
por Fernando Young
Leia
um trecho da conversa com o compositor. Íntegra da entrevista estará na edição
de janeiro de 2018 do Le Monde Diplomatique Brasil
Caetano Veloso diz em Sobre as Letras (2003), livro no qual explica o
contexto e o significado de algumas de suas canções, que Nine Out Of Ten, do álbum
Transa, de 1971, é uma das únicas músicas composta por ele em inglês de que
gosta. A canção feita no exílio em Londres é um misto de tudo que o cercou na
capital inglesa, como o reggae jamaicano e os incontáveis filmes assistidos no
Eletric Cinema.
Caetano usa parte da letra para dizer repetidamente que está vivo. Vivo,
muito vivo, vocifera, como se quisesse reafirmar seu desejo de seguir organizando
o movimento, orientando o carnaval e influenciando a cultura do Brasil, esse
“esboço monstruoso de país”, como o próprio definiu em entrevista ao Le Monde
Diplomatique Brasil.
Aos 75 anos, o baiano de Santo Amaro da Purificação mostrou no último domingo
(10), no Largo da Batata, que não está apenas vivo, mas pulsante. Ao lado de
Criolo, Maria Gadu e Péricles, foi o anfitrião de um show que comemorou os 20
anos do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e serviu para apoiar a
ocupação da frente Povo Sem Medo, localizada no Jardim Planalto, em São
Bernardo do Campo, em um terreno de quase 70 mil m² e que acolhe cerca de
oito mil famílias desde setembro.
Em entrevista que será publicada na primeira edição de 2018 do Le Monde
Diplomatique Brasil, Caetano Veloso exercitou o mesmo olhar reflexivo e crítico
que fez do Tropicalismo um dos movimentos culturais mais celebrados do mundo.
Política, música, literatura e outros temas foram esmiuçados pelo artista nessa
conversa.
Abaixo, trechos da entrevista:
Le Monde Diplomatique: Em Fora de Ordem você diz
que “Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”. Em recente
entrevista ressaltou o fato de o Brasil ter algo meio ‘’desafinado’’. Ainda que
essas frases tenham sido construídas em momentos diferentes, isso sugere um
Brasil caminhando para a melancolia e descrença?
Caetano Veloso: A frase de
Fora da Ordem vem de Lévi-Strauss, um autor que me impressionou desde o final
dos anos 60. Em Tristes Trópicos ele apresenta alguns retratos pessimistas do
Brasil e essa fórmula de construções em estado de ruínas é algo que a gente
pode reconhecer em mil lugares e momentos do país. O “desafinado” tem algo a
ver com isso. É a óbvia inadequação dos talentos, o desperdício de
possibilidades. Visões como a descrita por Lévi-Strauss são melancólicas. Mas
não sinto o Brasil caminhando para a melancolia. Em muitos momentos vejo que o
grande inventor do estruturalismo não tinha sensibilidade para apreciar as
energias históricas de países vira-latas como o Brasil.
Você já disse que o funk carioca e o sertanejo eram
“a nova Tropicália”. Esses dois estilos, no entanto, não utilizam referências
como o Cinema Novo, a obra de Glauber Rocha ou um romance de José de Alencar.
Como essas duas estéticas se encontram e criam similaridade?
Claro
que era uma provocação. É como o escritor José Agrippino de Paula dizer, em
1966, que Chacrinha, o apresentador grosseiro de um programa de massas
televisivo da segunda metade do século 20, era a maior personalidade teatral do
Brasil. José Celso, aliás, dedicou sua montagem do Rei da Vela a esse
apresentador. Que de fato era um fenômeno cultural e estético importante e
fascinante. O funk carioca e as duplas sertanejas são importantes de
fascinantes. Mas esses gêneros não são produzidos por artistas que citem
cineastas ou escritores. Os grandes criadores do funk vêm das favelas; os
sertanejos, das áreas rurais enriquecidas. Mas eles criam ritmos, melodias,
frases e modos de comunicação com vastas plateias que por vezes são inventividade
pura. Agora, se você quiser ouvir um músico jovem brasileiro capaz de citar
filmes e livros (fazendo música caprichadíssima e sofisticada), ouça Thiago
Amud.
* Guilherme Henrique é jornalista
ENTREVISTA
Os
trópicos de Caetano Veloso
Edição - 126 | Brasil
por Guilherme Henrique
janeiro 8, 2018
Imagem por Denny Chang
O cantor e
compositor falou ao Le Monde Diplomatique Brasil sobre política, cultura, a
onda conservadora e Tropicalismo: “Eu, um rebelde dos anos 1960, observo a
confusão atual com apreensão, mas também com descrença na firmeza dos valores
defendidos pelos conservadores. E com um desejo de agir para criar esperança”
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