Ausente
dos palcos desde 2012, Chico
Buarque inicia em dezembro de 2017 (Belo Horizonte), a turnê nacional de Caravanas, título homônimo de
seu último álbum, lançado em agosto pela Biscoito Fino.
27/1/2012 - Caetano Veloso vai ao show de Chico Buarque |
13/12/2017 - Chico Buarque
durante estreia da turnê 'Caravanas', em Belo Horizonte – Foto: Leo Aversa / Divulgação
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Caetano é só elogios a
Chico após assistir a show no Rio: "Artista imenso"
Do UOL, em São Paulo
27/01/2018
Caetano Veloso usou sua conta oficial no Instagram
para fazer uma bonita homenagem a seu contemporâneo Chico Buarque, após
assistir à estreia de “Caravanas”, novo show do cantor, compositor e escritor
no Rio.
“Fiquei extasiado, não somente porque estávamos
diante de um artista imenso que nos deixa esperando anos para vê-lo atuar; nem
apenas porque os lindos versos de Caravanas' trazem ‘suburbanos como muçulmanos
do Jacarezinho a caminho do Jardim de Alá’”, escreveu o baiano, que também
elogiou o cenário de Hélio Eichbauer, o mesmo artista que criou o da sua atual
turnê com os filhos.
Caetano também menciona “a rica música que habita o
coração de Chico Brown” em “Massarandupió”, parceria de Chico com o neto, filho
de Carlinhos Brown, e o fato de que muitas das canções cantadas pelo público
sejam posteriores aos grandes clássicos de Chico.
“Não há "Quem te viu, quem te vê",
"Carolina", "Januária", "Samba do grande amor" ou
"Noite dos mascarados" - nem pensar em "Pedro Pedreiro" ou
"Olê olá": para um cara da geração de Chico, o repertório é todo de
coisas novas”, observa.
O cantor e compositor faz críticas ainda a um
jornalista que disse que não ouviria mais os discos de Chico por já saber o que
iria encontrar – “um erro perfeito” – e à “acústica difícil” do local do show,
compensada, afirma, pelos sons “econômicos e profundos, equilibrados e
misteriosos” da apresentação –“finalmente um show que não rompe nossos
tímpanos”.
“É a vitória da bossa nova verdadeira, sua
vingança, sua definitiva consagração, desmentindo a sensação de que o Brasil
não se respeita: ao contrário, ali parece que o Brasil chega finalmente a
merecer a bossa nova. E nada disso seria possível sem a lealdade de Chico à
prosódia irretocável”, escreve Caetano.
27/1/2018
“Fui ontem à noite ver o show de Chico Buarque. Fiquei extasiado, não somente
porque estávamos diante de um artista imenso que nos deixa esperando anos para
vê-lo atuar; nem apenas porque os lindos versos de "Caravanas" trazem
"suburbanos como muçulmanos do Jacarezinho a caminho do Jardim de
Alá"; nem só porque o cenário de Hélio Eichbauer, com esfera armilar
esboçando assimetrias a partir do sistema concêntrico, estende suas cordas de
assinatura a uma complexidade de rede de ondas, movimento e poesia; nem mesmo
porque "Massarandupió" traz a rica música que habita o coração de
Chico Brown. Ou porque o repertório contenha sucessos cantados pela multidão e
que estes sejam todos posteriores aos clássicos que fincaram Chico no lugar que
ocupa em nossas vidas: não há "Quem te viu, quem te vê",
"Carolina", "Januária", "Samba do grande amor" ou
"Noite dos mascarados" - nem pensar em "Pedro Pedreiro" ou
"Olê olá": para um cara da geração de Chico, o repertório é todo de
coisas novas, a maioria datando de quando ele entortou seus caminhos
harmônico-melódicos, toreou suas rimas (justo quando um idiota da imprensa
disse que não ouviria seu novo disco por já saber o que iria encontrar: era um
erro perfeito). É uma exuberância. Os arranjos de Luiz Claudio levam ao máximo
a elegância musical que ele sempre apresenta. Mas a força vem de como tudo isso
foi estruturado dentro da concepção bossa nova. Um homem de voz pequena e
anasalada domina o universo, rodeado por sons econômicos e profundos,
equilibrados e misteriosos. Da forma dos arranjos (que contam com o canto
perfeito de Bia Paes Leme) à política de volumes da amplificação (finalmente um
show que não rompe nossos tímpanos toma toda a grande sala de difícil
acústica!), tudo funciona para expor a realização da bossa nova, do seu
essencial. É a vitória da bossa nova verdadeira, sua vingança, sua definitiva
consagração, desmentindo a sensação de que o Brasil não se respeita: ao
contrário, ali parece que o Brasil chega finalmente a merecer a bossa nova. E
nada disso seria possível sem a lealdade de Chico à prosódia irretocável, à
rima que vem com a ideia, à melodia que homenageia a tradição e amadurece para
quase se desmelodizar. Ouvindo Chico assim, somos obrigados a crer no povo
brasileiro.”
Caetano Veloso
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