02/06/2001
Moreno + 2
KUNIHIRO
OTSUKA
Tokyo
Foto: Trio carioca conquista sucesso internacional com sua sonoridade singular
Crédito: Kunihiro Otsuka/IP
|
Sem ter de se expor muito
na mídia para promover sua estréia, Moreno Veloso, 28, o filho de Caetano,
começou bem sua carreira como líder do trio Moreno + 2. Em vez de uma turnê
nacional, ele e os dois amigos que integram a banda, o baixista Kassim e o
baterista Domenico, partiram direto para excursão mundial com seu primeiro CD, Máquina de Escrever Música, lançado em
outubro do ano passado.
O grupo foi formado no
final de 1998, quando Moreno recebeu convite para fazer show na sala de
concerto do Museu de Arte Moderna de São Paulo. “Liguei para Kassim e Domenico para tocar comigo nesse show. Na mesma
noite, a gente foi ensaiar e a banda estava pronta em poucas horas”, lembra
Moreno durante a entrevista concedida ao International Press em Tokyo, onde se
apresentou nos dias 18 e 19 de maio no TLG (Tribute to Love Generation) em
Odaiba.
No palco, os três tocam sem
músicos acompanhantes, basicamente com violão e voz aguda (uma das heranças do
pai) de Moreno, bateria eletrônica de Domenico e baixo de Kassim. Nessa
formação, eles executam um som enxuto mas bem variado para interpretar seu
repertório eclético, que tem desde o antigo samba-canção Só Vendo Que Beleza, de
Henricão e Rubens Campos, Deusa de Amor, da banda Olodum, numa
versão intimista, até Cerol na Mão, hit contagiante da
banda de funk carioca Bonde do Tigrão.
Longe de pretensões, Moreno
não pensava em se tornar músico, nem ter banda própria, mas acabou como uma das
principais revelações no cenário de música popular brasileira, junto com outros
artistas da nova geração, entre eles Lucas Santana, Simoninha, Max de Castro e
Otto. Mesmo gozando dessa reputação, Moreno não muda sua atitude de um simples
amante de música, que curte ensaios com amigos no estúdio caseiro, experimentando
vários instrumentos, nem quer deixar sua outra profissão: a de físico. “Eu costumo dizer que a física é uma coisa
que tenho que procurar. Quanto à música, eu nasci no meio dela, e não só pelo
meu pai, como pelos meus amigos. Mesmo que eu não queira, eles vão correr atrás
de mim e vão me levar para a música. Mas se eu não for atrás da física, nunca
mais vou encontrá-la por aí (risos). Se tiver bastante sorte, pretendo voltar a
trabalhar no laboratório de física da faculdade depois dessa excursão”, afirma
o artista.
Entrevista
INTERNATIONAL
PRESS: Antes desse grupo, você atuava mais como instrumentista mas não como
vocalista.
Moreno Veloso: Eu era mais instrumentista, percussionista, guitarrista, tecladista, baterista - qualquer coisa menos cantor. Cantava de vez em quando, como nos shows da banda Mulheres Que Dizem Sim, e na turnê do meu pai. Mas realmente não costumava cantar. Não gosto muito dessa vida de cantor, que é muito complicada.
Moreno Veloso: Eu era mais instrumentista, percussionista, guitarrista, tecladista, baterista - qualquer coisa menos cantor. Cantava de vez em quando, como nos shows da banda Mulheres Que Dizem Sim, e na turnê do meu pai. Mas realmente não costumava cantar. Não gosto muito dessa vida de cantor, que é muito complicada.
IP:
Por que então resolveu cantar nesse grupo?
MV: Porque que não tinha o que fazer (risos). Estava pensando em casa quem ia cantar. E só tinha eu.
MV: Porque que não tinha o que fazer (risos). Estava pensando em casa quem ia cantar. E só tinha eu.
IP:
Já se acostumou com a vida de cantor? Pelo menos no palco, você parece estar à
vontade.
MV: Estou quase acostumando. Na verdade, essas músicas que estão no disco ou no show são aquelas que eu canto em casa para mim mesmo. Quando eu toco no palco, é como se fosse uma extensão do meu quarto. Realmente estou me sentindo em casa quando estou tocando as músicas que eu sei e tenho intimidade.
MV: Estou quase acostumando. Na verdade, essas músicas que estão no disco ou no show são aquelas que eu canto em casa para mim mesmo. Quando eu toco no palco, é como se fosse uma extensão do meu quarto. Realmente estou me sentindo em casa quando estou tocando as músicas que eu sei e tenho intimidade.
IP: Esse disco é dedicado a seu pai e mais dois
músicos da sua geração, Lucas Santana e Pedro Sá. Qual é a importância deles
para sua carreira?
MV: É absoluta, total. Se não fossem esses dois em especial, e muitos outros amigos como Kassim e Domenico, eu não estaria trabalhando como músico. Pedro Sá e Lucas, de maneiras bem diferentes, me incentivaram a vida inteira a continuar fazendo música, montar estúdio, ir aos shows. Pedro Sá me ensinou a tocar o violão e a guitarra de outras maneiras. E Lucas me ensinou ouvir músicas variadas e também me convidou a compor. Eles me deixaram realmente dentro da música. Sem eles, eu estaria na faculdade de física estudando sozinho, feliz da vida (risos).
MV: É absoluta, total. Se não fossem esses dois em especial, e muitos outros amigos como Kassim e Domenico, eu não estaria trabalhando como músico. Pedro Sá e Lucas, de maneiras bem diferentes, me incentivaram a vida inteira a continuar fazendo música, montar estúdio, ir aos shows. Pedro Sá me ensinou a tocar o violão e a guitarra de outras maneiras. E Lucas me ensinou ouvir músicas variadas e também me convidou a compor. Eles me deixaram realmente dentro da música. Sem eles, eu estaria na faculdade de física estudando sozinho, feliz da vida (risos).
IP: Neste CD, vocês usam som de vários
instrumentos, desde pianinho de brinquedo, pá de ferro, bateria eletrônica, até
theremin. Mas o disco tem uma sonoridade bem acústica e simples, que enfoca
mais a voz do que outros elementos.
MV: Nós temos essa mania experimentalista de tocar vários instrumentos, mas tivemos o tempo suficiente para enxugar o nossso trabalho e deixá-lo o mais simples possível. A nossa meta era de fazer um disco simples como é o nosso show, que só tem nós três fazendo tudo sem produção muito grande. O disco era independente, não tinha nenhuma gravadora, nem selo. A gente fez esse disco do jeito que queria, dentro de casa, dos nossos próprios estúdios, com os amigos, sem dinheiro. Tudo isso era um ideal de simplicidade que a gente levou inclusive na estética sonora. Aliás tem uma música no disco, I’m Wishing, do filme A Branca de Neve, que é uma das paradigmas da simplicidade que a gente sempre buscou. Essa música só tem três notas e a quarta só entra no final, mas é uma música tão cativante. Ela é uma representação do que procuramos fazer neste disco.
MV: Nós temos essa mania experimentalista de tocar vários instrumentos, mas tivemos o tempo suficiente para enxugar o nossso trabalho e deixá-lo o mais simples possível. A nossa meta era de fazer um disco simples como é o nosso show, que só tem nós três fazendo tudo sem produção muito grande. O disco era independente, não tinha nenhuma gravadora, nem selo. A gente fez esse disco do jeito que queria, dentro de casa, dos nossos próprios estúdios, com os amigos, sem dinheiro. Tudo isso era um ideal de simplicidade que a gente levou inclusive na estética sonora. Aliás tem uma música no disco, I’m Wishing, do filme A Branca de Neve, que é uma das paradigmas da simplicidade que a gente sempre buscou. Essa música só tem três notas e a quarta só entra no final, mas é uma música tão cativante. Ela é uma representação do que procuramos fazer neste disco.
IP: O que você quis dizer com esse título Máquina
de Escrever Música?
MV: É uma junção de vários elementos. Primeiro, o disco foi todo gravado digitalmente em computadores caseiros. E essa é uma frase de Tom Jobim. Uma vez ele se referiu ao seu computador como uma “máquina de escrever música”. É uma maneira de chamar o computador pela junção de duas coisas antigas: música e máquina de escrever. Então ela já faz essa mistura entre o velho e o contemporâneo no próprio título. Também faz uma analogia com o que Domenico toca no show. É uma bateria eletrônica, mas ele toca ao vivo e parece estar datilografando.
MV: É uma junção de vários elementos. Primeiro, o disco foi todo gravado digitalmente em computadores caseiros. E essa é uma frase de Tom Jobim. Uma vez ele se referiu ao seu computador como uma “máquina de escrever música”. É uma maneira de chamar o computador pela junção de duas coisas antigas: música e máquina de escrever. Então ela já faz essa mistura entre o velho e o contemporâneo no próprio título. Também faz uma analogia com o que Domenico toca no show. É uma bateria eletrônica, mas ele toca ao vivo e parece estar datilografando.
IP: Sua primeira composição é Um Canto De Afoxé Para O Bloco do Ilê (gravada no disco Cores Nomes
de Caetano)?
MV: Foi. Eu tinha nove anos, e escrevi a letra. O meu pai fez a música já com o mote do Ilê Alê e me pediu para que botasse uma letra. E eu escrevi num papelzinho, dei para ele e pronto. A minha primeira composição foi assim (risos).
MV: Foi. Eu tinha nove anos, e escrevi a letra. O meu pai fez a música já com o mote do Ilê Alê e me pediu para que botasse uma letra. E eu escrevi num papelzinho, dei para ele e pronto. A minha primeira composição foi assim (risos).
IP: Você compõe desde então?
MV: Não. Eu componho muito pouco. A minha segunda composição foi sete anos depois, aos 16 anos, quando escrevi Nenhuma, que gravei nesse disco.
MV: Não. Eu componho muito pouco. A minha segunda composição foi sete anos depois, aos 16 anos, quando escrevi Nenhuma, que gravei nesse disco.
IP: Nessa época, você já pensava em continuar
trabalhando com a música?
MV: Eu não pensava não. Mas eu já tocava percussão para o meu pai junto com Carlinhos Brown, participando na excursão. Eu não pensava em trabalhar profissionalmente com música nessa época, mas já conhecia Kassim, Domenico, Pedro Sá e Lucas. Eu não pensava em ter uma banda minha, nem ser músico, mas ao mesmo tempo não parava de tocar com os meus amigos. E compor, eu não componho muito não. A maioria das músicas que eu tenho na vida está nesse disco. Tirando essas sete, tenho mais quatro ou cinco e acabou (risos).
MV: Eu não pensava não. Mas eu já tocava percussão para o meu pai junto com Carlinhos Brown, participando na excursão. Eu não pensava em trabalhar profissionalmente com música nessa época, mas já conhecia Kassim, Domenico, Pedro Sá e Lucas. Eu não pensava em ter uma banda minha, nem ser músico, mas ao mesmo tempo não parava de tocar com os meus amigos. E compor, eu não componho muito não. A maioria das músicas que eu tenho na vida está nesse disco. Tirando essas sete, tenho mais quatro ou cinco e acabou (risos).
IP: O que achou do público daqui?
MV: É muito diferente da gente e de tudo que a gente conhece (risos). É difícil porque os japoneses têm problemas de expressar os sentimentos. Sabendo um pouco da língua japonesa, você vê que eles têm muito poucas palavras para dizer se você gosta de alguma coisa ou de alguém. Tem umas três, no máximo, em toda a língua (risos). Então, o relacionamento sentimental é muito difícil. Mas como a mulher do Kassim é japonesa, a gente já veio aqui antes, e eu toquei aqui com Arto Lindsay e conheço um pouco da língua, inclusive essa pobreza linguística de sentimentos (risos), a gente sabe que em algum lugar alguma coisa deve estar acontecendo. A gente tem a fé. Não parece muito, mas pode ser que eles estejam apreciando.
MV: É muito diferente da gente e de tudo que a gente conhece (risos). É difícil porque os japoneses têm problemas de expressar os sentimentos. Sabendo um pouco da língua japonesa, você vê que eles têm muito poucas palavras para dizer se você gosta de alguma coisa ou de alguém. Tem umas três, no máximo, em toda a língua (risos). Então, o relacionamento sentimental é muito difícil. Mas como a mulher do Kassim é japonesa, a gente já veio aqui antes, e eu toquei aqui com Arto Lindsay e conheço um pouco da língua, inclusive essa pobreza linguística de sentimentos (risos), a gente sabe que em algum lugar alguma coisa deve estar acontecendo. A gente tem a fé. Não parece muito, mas pode ser que eles estejam apreciando.
IP: Kassim tocou até sanshin (instrumento de corda
japonês) no show. Foi uma coisa especial para apresentação no Japão?
MV: Não, não, não. A gente toca sempre. Kassim casou-se com uma japonesa que morava em Hong Kong, e lá ele comprou esse instrumento. Nos ensaios na casa de Kassim, ele ficava tocando o sanshin e resolveu levar para o show. Kassim estava receoso de tocá-lo no Japão, porque aqui eles tocam aquilo de verdade. Mas foi boa a coragem dele. Porque acho que ficou bonito.
MV: Não, não, não. A gente toca sempre. Kassim casou-se com uma japonesa que morava em Hong Kong, e lá ele comprou esse instrumento. Nos ensaios na casa de Kassim, ele ficava tocando o sanshin e resolveu levar para o show. Kassim estava receoso de tocá-lo no Japão, porque aqui eles tocam aquilo de verdade. Mas foi boa a coragem dele. Porque acho que ficou bonito.
IP:
E aquela música do Bonde do Tigrão, vocês a tocaram sabendo que eles também
estavam aqui?
MV: A gente vem tocando essa música já há um tempo. Foi uma coincidência incrível. A gente até queria ir assistir ao show deles. Essa moda do funk é uma coisa relativamente nova que estourou no Brasil nos últimos meses. Então foi engraçado, porque a gente estava cantando por aí essa música, achando que era novidade aqui, mas quando a gente chegou em Tokyo, eles também já estavam aqui. Mas é muito bom. A gente gosta muito do Bonde do Tigrão.
MV: A gente vem tocando essa música já há um tempo. Foi uma coincidência incrível. A gente até queria ir assistir ao show deles. Essa moda do funk é uma coisa relativamente nova que estourou no Brasil nos últimos meses. Então foi engraçado, porque a gente estava cantando por aí essa música, achando que era novidade aqui, mas quando a gente chegou em Tokyo, eles também já estavam aqui. Mas é muito bom. A gente gosta muito do Bonde do Tigrão.
IP: Depois daqui e Osaka, essa turnê ainda vai
continuar?
MV: Ainda vamos voltar à Europa, e depois para Argentina, Uruguai e Venezuela, e voltaremos para o Brasil em julho para tocar mais lá também. Essa banda ainda vai continuar mais um tempinho. Quem sabe, a gente ainda volta para cá no ano que vem ou como Domenico + 2 ou Moreno + 2 de novo (risos).
MV: Ainda vamos voltar à Europa, e depois para Argentina, Uruguai e Venezuela, e voltaremos para o Brasil em julho para tocar mais lá também. Essa banda ainda vai continuar mais um tempinho. Quem sabe, a gente ainda volta para cá no ano que vem ou como Domenico + 2 ou Moreno + 2 de novo (risos).
IP: Já estão com projeto para um próximo disco?
MV: Então, vai ser Domenico + 2, e depois Kassim + 2. É um projeto real que a gente pretende levar a cabo. Aliás, o Domenico + 2 já está gravado e só falta mixar, e pretendemos lançá-lo no ano que vem.
MV: Então, vai ser Domenico + 2, e depois Kassim + 2. É um projeto real que a gente pretende levar a cabo. Aliás, o Domenico + 2 já está gravado e só falta mixar, e pretendemos lançá-lo no ano que vem.
MÚSICA
15/11/2004
O som de MORENO VELOSO
MORENO VELOSO vem se destacando ao lado de Alexandre Kassin e Domenico Lancelotti - Foto: Laécio Ricardo
|
Diz o
dito popular: “Filho de peixe, peixinho é”. No caso de Moreno, filho do cantor
e compositor baiano Caetano Veloso, bem que o provérbio poderia ser diferente:
Moreno Veloso é um peixão. Um dos mais respeitados e competentes profissionais
da nova safra da música brasileira, Moreno esteve em Fortaleza no último dia 6,
quando acompanhou a líder do grupo Pretenders, Chrissie Hynde, em show acústico
no Mucuripe Club.
Moreno e Chrissie Hynde - Foto: Maxie Amena - Fortaleza |
Foto: Maxie Amena - Fortaleza |
Em 2000, quando lançou seu disco de estréia, “Máquina de
Escrever Música” (Rock It!), Moreno mostrou a que veio ao misturar bases
eletrônicas com samba e bossa nova. Início de um projeto coletivo que também
envolvia o baixista Alexandre Kassin e o percussionista Domenico Lancelotti -
mas sem deixar de lado o trabalho autoral -, o álbum do trio “Moreno +2” é, com
certeza, uma das melhores surpresas que apareceram na última década. Por meio
de sua veia experimentalista, Moreno alia tradição e contemporaneidade quando
apresenta desde pianinho de brinquedo e pá de ferro (!) até bateria eletrônica
e theremin russo - muito utilizado pelos tropicalistas Mutantes - em seu début
musical.
Em 2003, foi lançado “Sincerely Hot” (Ping Pong), novo álbum do trio, agora rebatizado como “Domenico +2”. A criatividade e o experimentalismo se mantêm como característica dos músicos. O público já espera ansioso o “Kassin +2”.
Nesta rápida e informal conversa, Moreno fala sobre a relação com o pai ilustre, o parceiro Pedro Sá - que recebeu uma música em homenagem em “Máquina...”, a delicada “Para Xó” -, e os trabalhos do Domenico +2 com outros artistas, como Adriana Calcanhotto. Confira o bate-papo.
Em 2003, foi lançado “Sincerely Hot” (Ping Pong), novo álbum do trio, agora rebatizado como “Domenico +2”. A criatividade e o experimentalismo se mantêm como característica dos músicos. O público já espera ansioso o “Kassin +2”.
Nesta rápida e informal conversa, Moreno fala sobre a relação com o pai ilustre, o parceiro Pedro Sá - que recebeu uma música em homenagem em “Máquina...”, a delicada “Para Xó” -, e os trabalhos do Domenico +2 com outros artistas, como Adriana Calcanhotto. Confira o bate-papo.
Caderno
3 - Primeiramente, por que o filho de Caetano Veloso, que tem como madrinha a
cantora Gal Costa, foi fazer faculdade de Física na UFRJ?
Moreno Veloso - (risos) É porque ninguém conhece a minha
mãe. Você conhece meu pai, você conhece a minha madrinha, mas você esqueceu de
falar da minha mãe. Minha mãe, a Dedé (Gadelha), gosta muito de matemática,
sempre gostou. E é uma coisa dela que desde criança eu gostei, sempre adorei
matemática. E não é que eu fosse bom aluno não, eu não era um “nerd” daqueles
que gostavam de ficar estudando, resolvendo tudo. Nada disso. Eu nem tirava
notas boas, até fiquei de recuperação em matemática, física e tudo mais... Mas
eu gostava, adorava. Simplesmente desde pequeno, desde o primário até o final
do segundo grau, eu gostava. Então quando eu terminei o segundo grau, eu
pensei: “Pô...”, porque se eu não fosse mais estudar, nunca mais eu ia abrir um
livro pra ficar lendo, fazendo contas, então falei: “Então eu vou continuar. Eu
vou entrar na faculdade pra continuar estudando uma coisa que eu gosto, né?”.
Eu quase fui fazer filosofia, porque todos os meus amigos foram pra faculdade
de filosofia. Aí nesse caso eu teria seguido os passos do meu pai, que foi
fazer filosofia. Quase fui, cheguei até a quase me inscrever, mas a física me
levou, foi mais forte, e eu resolvi estudar mesmo física. O que é a mesma
coisa, só que do ponto de vista matemático. Aliás, o livro do Newton chama-se
“Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”. Então, é tudo ligado.
- Como
foi - e é - trabalhar com o próprio pai? A relação entre pai e filho vai pra
música de uma maneira diferente?
Moreno - É sempre muito bom trabalhar com o meu pai.
Além de ele ser uma pessoa ótima, quando você está trabalhando com ele,
musicalmente, você percebe que ele está querendo o melhor de todo mundo, sabe?
Ele se esforça pra que todo mundo dê o melhor de si. E isso dentro de uma banda
é muito bom, porque todo mundo acaba não só gostando do que está fazendo, como
realmente dando o melhor de si. Ele é uma pessoa muito decidida nesse lado
profissional, no jeito que ele quer trabalhar. Então é muito bom.
- Existe
algum projeto de vocês dois em vista?
Moreno- Eu não sei... Ele sempre me convida pra fazer alguma
coisa. Nos últimos dois discos, ele sempre me deu uma faixa pra produzir. Mas
nesse último disco eu nem produzi exatamente a faixa que a gente tocou, eu e o
Pedro Sá. Foi mais o Pedro Sá que participou da produção de “Come as you are” (hit
maior do clássico álbum “Nevermind”, do Nirvana). Ele fez o arranjo, a produção, fez tudo, me convidou e
é claro que nós juntos acabamos realizando a faixa com o meu pai. Eu gostei
muito do resultado. Mas nos discos autorais dele, ele me convidou pra produzir
uma faixa, no penúltimo ele até me chamou pra mixar o disco todo. São coisas
que ele vai continuar fazendo, me convidando. Mesmo no disco dele com o Jorge
Mautner, eu participei tocando alguma coisa. O próprio Kassin, que é da minha
galera, produziu o disco junto com ele. São em coisas assim que a gente está
realmente interligado. Não tem nenhum projeto em vista, mas eu acho que
qualquer coisa que aconteça, eu vou estar participando, ou o Kassin, o Domenico
ou o Pedro Sá, que está tocando com ele nesta turnê internacional.
- Por
que o Pedro Sá não entrou junto no projeto com você, o Domenico e o Kassin, já
que ele está tão presente em todos os trabalhos do trio?
Moreno - Às vezes ele prefere fazer outras coisas,
como, por exemplo, tocar com o meu pai. A gente o convidou agora, fizemos duas
ou três turnês esse ano, mas ele preferiu tocar com o meu pai, o que é uma
coisa sensata, inclusive (risos). Mas ele está sempre presente quando a gente
grava, qualquer coisa a gente pede pra ele dar opinião. Foi ele quem me
apresentou ao Domenico, ao Kassin. Ele é o centro intelectual e espiritual
dessa banda. Ele só não está tocando com a gente o tempo todo porque ele tem as
coisas dele pra fazer também.
- Qual a
sua avaliação das parcerias que você, o Domenico e o Kassin andam fazendo com
outros artistas, a exemplo do que aconteceu no último disco da Adriana
Calcanhotto?
Moreno - Algumas
pessoas gostam do que a gente faz. A Adriana gosta, a Chrissie gosta. E essas
pessoas convidam a gente pra participar. A gente fica feliz, sabe? Eu,
particularmente fico muito feliz. É claro que a gente fez um disco sem muito
sucesso, ele não é um disco popular, ele não vendeu quase nada, mas essas
poucas pessoas que gostam nos deixam muito feliz.
- De onde vem o nome do disco, “Máquina de Escrever Música”?
Moreno - Não tem muito o que saber não. É uma piada
que o Tom Jobim fez com um cara da alfândega. Ele estava trazendo um
computador, que era um equipamento ilegal, e ele simplesmente falou: “Olha,
isso não é ilegal, é apenas uma máquina de escrever música” (risos).
LA
NACION
Sábado 13 de noviembre de 2004
Espectáculos
Moreno Veloso y Chrissie Hynde: intercambio de
músicas
La cantante de The
Pretenders y el hijo de Caetano Veloso hablan de cómo se cruzaron sus caminos
creativos y del show que darán esta noche en el Luna Park
Gabriel Plaza
FORTALEZA (Brasil).- Moreno Veloso, hijo de
Caetano, no para de cantar melodías en inglés y clásicos del samba al oído de
Chrissie Hynde. El carioca que hace tres años sorprendió al Brasil con su disco
"Máquina de escribir" no se separa de un minidisc en el que dispara
música de todo el mundo, se mueve con la parsimonia de los nativos a la hora de
la siesta y lleva puesta la camiseta de su tía María Bethânia y unos soquetes
amarillos que le dan un look desprejuiciado y freak.
La cantante, voz de The Pretenders y hacedora de
éxitos mundiales de los ochenta como "Don´t Get Me Wrong", "Back
on The Chaib Gang" o "I´ll Stand By You", se deja envolver por
la suave atmósfera del atardecer y desanda las calles de la ciudad nordestina
con cierta electricidad y el porte de una princesa punk que está en un viaje
sin retorno en busca de otras músicas, otras culturas y otra vida, lejos del
star system.
El destino cruzó sus vidas extrañamente. Hasta hace
unos meses, ninguno sabía nada del otro, y ahora están tocando juntos en un
proyecto tan asombroso como su encuentro. La reunión de la dama americana,
ícono del pop, y el músico carioca dio como resultado el sorpresivo proyecto
sonoro "Chrissie + 4", con el que la cantante estuvo tocando por
varias ciudades de Brasil, junto al guitarrista Adam Seymour, de The
Pretenders, y los brasileños Moreno Veloso, Domenico y Kassin.
El combo anglo-portugués arribará esta noche al
Luna Park para mostrar una de las combinaciones más impensadas y atractivas del
último tiempo. Nadie se podría haber imaginado una mezcla musical de esta
naturaleza. Chrissie, la cautivadora y punzante voz de los éxitos que hicieron
bailar al planeta en los años ochenta, en la cápsula hipnótica de la bossa, el
bolero y el samba.
La reunión está rodeada de anécdotas y casualidades
que animan el diálogo de Chrissie Hynde y Moreno Veloso, durante su parada en Fortaleza.
Después de salir al ruedo por varias ciudades de Brasil no están interesados en
hacer planes a largo plazo, sino en disfrutar de esta amistad musical. Se
entusiasman, sobre todo, cuando reviven la historia del extraño encuentro.
Hynde, de gira por San Pablo, asistió a un show de
Caetano Veloso. Allí, escuchó a Moreno, que tocaba el chelo. Chrissie andaba en
busca de un cuarteto de cuerdas para una serie de conciertos acústicos en
Brasil.
"Cuando lo vi dije: «Este es el músico que
tiene que estar en mi grupo» -afirma Chrissie Hynde-. Le pedí a mi productora
que lo contactara, pero después alguien me pasó un disco suyo [«Máquina de
escribir música»] y me di cuenta de lo maravilloso que era. Entonces, me dio
una vergüenza terrible invitarlo a participar como sesionista de segunda línea.
La productora ya había hecho el contacto y Moreno estaba encantado con la
invitación. Me fui a Londres y comencé a pensar en otra propuesta en la que
Moreno y su grupo se integrara a nosotros."
-¿Cómo fue el primer encuentro?
Moreno: -Increíble.
Todavía no lo podemos entender demasiado. Yo no sabía casi nada de ella, pero
cuando empezó a cantar las canciones nos dimos cuenta de quién era. Desde el
principio hubo un aspecto muy humano; a ella le gustaba mucho nuestra música y
además le contamos que los tres éramos vegetarianos; como ella es una activa
militante por los derechos de los animales eso fue muy bueno para iniciar la
relación. Así que cuando fuimos al estudio y nos pusimos a tocar fue todo muy
natural.
Chrissie: -Mis discos
preferidos de los últimos años son el de King of Leon y "Máquina de
escribir música". Yo quería ese sonido, así que le pedí a Moreno que ellos
se encargaran. Durante ese tiempo, Adam fue un santo porque yo casi tenía que
atarle las manos para que no tocara porque quería que Moreno, Domenico y Kassin
dieran su versión de los temas y los desconstruyeran totalmente.
-¿Cómo trabajaron ese sonido?
Moreno: -Todas las ideas
de Kassin, de ella, todo, lo mezclamos con mucha naturalidad. Fue más difícil
para ella porque tenía que estar quietita y más difícil para Adam, que no podía
tocar su guitarra eléctrica. Pero al principio no sabíamos qué hacer porque no
había un concepto o una dirección.
Chrissie: -La mayoría de
los temas que armamos fueron apareciendo ante mí de forma espontánea durante mi
estada en San Pablo. Todo el tiempo nos pasaban cosas extrañas con gente que se
nos acercaba y nos recordaba una canción que habíamos hecho en un show, o que
habíamos grabado en un disco perdido que ya no recordábamos o que escuchábamos
mientras estábamos tomando café con Adam. Yo los anotaba. Cuando nos
encontramos en el estudio, saqué esos papeles y fuimos armando las ideas. Se
podría decir que el concepto del show está basado en la música que escuchamos
en las calles de San Pablo.
Un cambio de vida
La cantante de The Pretenders está en un momento de
cambio sustancial. Todavía no sabe dónde establecerá residencia fija; se
inclina por París o la India "donde ni siquiera tengo que pensar en la
música". Como en los años 70, cuando se fue de Estados Unidos para
Londres, y vivió el nacimiento del punk y el avance de la new wave, ahora está
pensando en vivir una temporada en San Pablo, ciudad de la que se enamoró
instantáneamente y alquiló un departamento.
Moreno cuenta: "Ella quería un sonido más
delicado. Despacito fue entendiendo y descubriendo qué es Brasil, cómo es su
música y qué hacemos acá. Fue una construcción de la cultura musical que
tenemos nosotros. Aprendió mucho, en la convivencia, de las cosas que
cantábamos en el estudio, de lo que ella preguntaba y todo resultó muy rico
porque ella tenía ganas de formar este grupo. Para nosotros es una situación
increíble, totalmente nueva. Casi no sé qué decir, porque no hay una preparación
en mi cabeza para esto".
Chrissie Hynde tiene una relación particular con
América latina desde hace un tiempo. "Mi contacto pasó más por los hombres
que tuve que con un conocimiento de su cultura. Yo tuve un marido colombiano
que se lo pasaba tocando salsa y temas que hablaban de mujeres e infidelidades;
hasta que un día tocó una bonita canción que hablaba de la esperanza, «Rabo de
nube», de Silvio Rodríguez, y la incluí en mi disco «Viva el amor». Pero a
pesar de eso nunca pude aprender español", se lamenta la artista, nacida
en Ohio, en 1951. Para compensar, hace poco grabó con Jarabe de Palo un tema en
inglés por rumba, lo que sigue hablando de su ecléctica búsqueda musical.
Dice que está aburrida de los tiempos de estrella
de rock y de las grandes giras. A pesar del éxito de The Pretenders (cuyos
temas entraron en la lista de los mejores 100 de la historia del rock, según la
Rolling Stone), a los años ochenta los define así: "Drogas, viajes,
funerales, divorcios, tours, nacimientos... Cosas ordinarias que le pasan a la
gente que conocés"; y trae a su memoria recuerdos brutales que avivaron el
fuego de sus canciones. "Siempre canté cosas reales. Si una canción habla
de un hombre que le pegaba a su mujer fue porque a mi me pasó. Por eso una
camarera me entiende. Ese es mi público, no la gente a la que le interesa
acumular más y más."
Transportada al presente, la artista goza la
experiencia de estar compartiendo estos conciertos con Moreno Veloso, Domenico
y Kassin. "Ayer me llamó y me dijo que podríamos grabar algo juntos para
tentar a algún sello y me cantó cosas que nunca grabó y que me parecieron
bellísimas", cuenta Moreno. En el lobby del hotel ella devuelve la
gentileza cantándole un par de temas a capella.
Hynde está ansiosa por el concierto en la
Argentina. Moreno la tranquiliza diciéndole que "es el público más educado
e increíble del mundo". Ella habla elogiosamente de "Nueve
reinas" y está fascinada con la idea de circular por un lugar donde no es
tan conocida. "Me gusta la situación de estar en un país donde no entiendo
la lengua y tener que escuchar conversaciones sin importancia. Estoy cansada
del rock. Quiero tocar en clubes, lugares más pequeños y reales, cantando cosas
que me pasaron. Busco un movimiento distinto. Pero estoy abierta a todo lo que
pase y me propongan. No sé qué puede pasar."
Moreno Veloso la mira con una sonrisa iluminada y
espera que esta felicidad no tenga fin.
Pop con el ritmo hipnótico brasileño
Anticipo del recital que presentarán esta noche, a
las 21.30, en el Luna Park
Sábado 13 de noviembre de
2004
Fortaleza
es la ciudad cabecera del nordeste brasileño y, en este momento, el polo
cultural y político más fuerte del PT. Luiziane Lins, una mujer cearense, ganó
las últimas elecciones de la ciudad y ya se proyecta como una
"presidenciable" para las futuras elecciones.
Esta
es la región de los pescadores, los poetas repentistas, la música forró y los
legendarios personajes del desierto nordestino (similar en su sequedad a
Santiago del Estero) y también una de las zonas con difícil acceso al agua
potable y con un crecimiento desmesurado de favelas y torres de lujo.
Es
una de las paradas de la gira de Chrissie Hynde y Moreno Veloso, en un fin de
semana, en el que la agenda cultural de la ciudad arde con distintos eventos
multitudinarios como el proyecto "Sonora Brasil" que rescata música
del siglo XVIII y el proyecto cultural "Sessi bonecos" que aglutina
performances de teatro y música pernambucana en el Centro Cultural Dragon de
Mar.
El
concierto de la cantante de Pretenders y el hijo de Caetano se realiza en el
Mucuripe Club, del barrio Iracema (suerte de San Telmo con bares, carritos,
corredores de alcohol y discos). Con un formato cien por ciento acústico, el grupo
de Chrissie + 4 ofrece un concierto sorprendente donde se mixturan versiones de
temas de Moreno y Caetano Veloso, con clásicos de Bob Marley, Los Beatles,
Radiohead, UB 40 y esos himnos de los ochenta de los Pretenders, en una
exquisita melange de música brasileña con la contundencia melódica del pop.
Pero
no es un viaje nostálgico, sino un concierto con una frescura y una calidez
increíble. La voz de Chrissie, que no perdió un ápice de poderío y sensualidad
en todos estos años, se alterna con la cadencia natural de Moreno, formando por
momentos sugerentes dúos que se completan con la atmósfera templada y calma que
aporta el chelo, la percusión de Domenico (presentador y traductor oficial del
grupo), el bajo de Kassin y la guitarra sensible de Adam Seymour.
El
cuarteto, con un sonido hipnótico comandado por la cadencia de la bossa nova y
el samba, desparrama cautivantes versiones de temas como "Don´t Let Me
Down", la fuerza oscura de "Creep", la inmejorable versión de
"Dont Get Me Wrong" con pandeiros y ritmo de samba, el exquisito
bolero "Pra xo" o la divertida versión de "I Got You Babe",
con batería electrónica incluída.
Para
esta noche, a las 21.30, en el Luna Park, prometieron más canciones de Moreno +
2 y otras perlas. Todavía se guardan un par de ases bajo la manga. Al insólito
combo anglo-portugués le sobra resto para sorprender con cualquier versión que
les pidan, o se les ocurra en el momento.
Luna Park, Buenos Aires (Captura de pantalla) |
Luna Park, Buenos Aires (Captura de pantalla) |
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