lunes, 8 de enero de 2018

2001 - MORENO +2




02/06/2001
Moreno + 2
KUNIHIRO OTSUKA
Tokyo


Foto: Trio carioca conquista sucesso internacional com sua sonoridade singular
Crédito: Kunihiro Otsuka/IP


Sem ter de se expor muito na mídia para promover sua estréia, Moreno Veloso, 28, o filho de Caetano, começou bem sua carreira como líder do trio Moreno + 2. Em vez de uma turnê nacional, ele e os dois amigos que integram a banda, o baixista Kassim e o baterista Domenico, partiram direto para excursão mundial com seu primeiro CD, Máquina de Escrever Música, lançado em outubro do ano passado.

O grupo foi formado no final de 1998, quando Moreno recebeu convite para fazer show na sala de concerto do Museu de Arte Moderna de São Paulo. “Liguei para Kassim e Domenico para tocar comigo nesse show. Na mesma noite, a gente foi ensaiar e a banda estava pronta em poucas horas”, lembra Moreno durante a entrevista concedida ao International Press em Tokyo, onde se apresentou nos dias 18 e 19 de maio no TLG (Tribute to Love Generation) em Odaiba.

No palco, os três tocam sem músicos acompanhantes, basicamente com violão e voz aguda (uma das heranças do pai) de Moreno, bateria eletrônica de Domenico e baixo de Kassim. Nessa formação, eles executam um som enxuto mas bem variado para interpretar seu repertório eclético, que tem desde o antigo samba-canção Só Vendo Que Beleza, de Henricão e Rubens Campos, Deusa de Amor, da banda Olodum, numa versão intimista, até Cerol na Mão, hit contagiante da banda de funk carioca Bonde do Tigrão.

Longe de pretensões, Moreno não pensava em se tornar músico, nem ter banda própria, mas acabou como uma das principais revelações no cenário de música popular brasileira, junto com outros artistas da nova geração, entre eles Lucas Santana, Simoninha, Max de Castro e Otto. Mesmo gozando dessa reputação, Moreno não muda sua atitude de um simples amante de música, que curte ensaios com amigos no estúdio caseiro, experimentando vários instrumentos, nem quer deixar sua outra profissão: a de físico. “Eu costumo dizer que a física é uma coisa que tenho que procurar. Quanto à música, eu nasci no meio dela, e não só pelo meu pai, como pelos meus amigos. Mesmo que eu não queira, eles vão correr atrás de mim e vão me levar para a música. Mas se eu não for atrás da física, nunca mais vou encontrá-la por aí (risos). Se tiver bastante sorte, pretendo voltar a trabalhar no laboratório de física da faculdade depois dessa excursão”, afirma o artista.



Entrevista

INTERNATIONAL PRESS: Antes desse grupo, você atuava mais como instrumentista mas não como vocalista.
Moreno Veloso
: Eu era mais instrumentista, percussionista, guitarrista, tecladista, baterista - qualquer coisa menos cantor. Cantava de vez em quando, como nos shows da banda Mulheres Que Dizem Sim, e na turnê do meu pai. Mas realmente não costumava cantar. Não gosto muito dessa vida de cantor, que é muito complicada.

IP: Por que então resolveu cantar nesse grupo?
MV
: Porque que não tinha o que fazer (risos). Estava pensando em casa quem ia cantar. E só tinha eu.

IP: Já se acostumou com a vida de cantor? Pelo menos no palco, você parece estar à vontade.
MV: Estou quase acostumando. Na verdade, essas músicas que estão no disco ou no show são aquelas que eu canto em casa para mim mesmo. Quando eu toco no palco, é como se fosse uma extensão do meu quarto. Realmente estou me sentindo em casa quando estou tocando as músicas que eu sei e tenho intimidade.

IP: Esse disco é dedicado a seu pai e mais dois músicos da sua geração, Lucas Santana e Pedro Sá. Qual é a importância deles para sua carreira?
MV
: É absoluta, total. Se não fossem esses dois em especial, e muitos outros amigos como Kassim e Domenico, eu não estaria trabalhando como músico. Pedro Sá e Lucas, de maneiras bem diferentes, me incentivaram a vida inteira a continuar fazendo música, montar estúdio, ir aos shows. Pedro Sá me ensinou a tocar o violão e a guitarra de outras maneiras. E Lucas me ensinou ouvir músicas variadas e também me convidou a compor. Eles me deixaram realmente dentro da música. Sem eles, eu estaria na faculdade de física estudando sozinho, feliz da vida (risos).

IP: Neste CD, vocês usam som de vários instrumentos, desde pianinho de brinquedo, pá de ferro, bateria eletrônica, até theremin. Mas o disco tem uma sonoridade bem acústica e simples, que enfoca mais a voz do que outros elementos.
MV
: Nós temos essa mania experimentalista de tocar vários instrumentos, mas tivemos o tempo suficiente para enxugar o nossso trabalho e deixá-lo o mais simples possível. A nossa meta era de fazer um disco simples como é o nosso show, que só tem nós três fazendo tudo sem produção muito grande. O disco era independente, não tinha nenhuma gravadora, nem selo. A gente fez esse disco do jeito que queria, dentro de casa, dos nossos próprios estúdios, com os amigos, sem dinheiro. Tudo isso era um ideal de simplicidade que a gente levou inclusive na estética sonora. Aliás tem uma música no disco, I’m Wishing, do filme A Branca de Neve, que é uma das paradigmas da simplicidade que a gente sempre buscou. Essa música só tem três notas e a quarta só entra no final, mas é uma música tão cativante. Ela é uma representação do que procuramos fazer neste disco.

IP: O que você quis dizer com esse título Máquina de Escrever Música?
MV
: É uma junção de vários elementos. Primeiro, o disco foi todo gravado digitalmente em computadores caseiros. E essa é uma frase de Tom Jobim. Uma vez ele se referiu ao seu computador como uma “máquina de escrever música”. É uma maneira de chamar o computador pela junção de duas coisas antigas: música e máquina de escrever. Então ela já faz essa mistura entre o velho e o contemporâneo no próprio título. Também faz uma analogia com o que Domenico toca no show. É uma bateria eletrônica, mas ele toca ao vivo e parece estar datilografando.

IP: Sua primeira composição é Um Canto De Afoxé Para O Bloco do Ilê (gravada no disco Cores Nomes de Caetano)?
MV
: Foi. Eu tinha nove anos, e escrevi a letra. O meu pai fez a música já com o mote do Ilê Alê e me pediu para que botasse uma letra. E eu escrevi num papelzinho, dei para ele e pronto. A minha primeira composição foi assim (risos).

IP: Você compõe desde então?
MV
: Não. Eu componho muito pouco. A minha segunda composição foi sete anos depois, aos 16 anos, quando escrevi Nenhuma, que gravei nesse disco.

IP: Nessa época, você já pensava em continuar trabalhando com a música?
MV
: Eu não pensava não. Mas eu já tocava percussão para o meu pai junto com Carlinhos Brown, participando na excursão. Eu não pensava em trabalhar profissionalmente com música nessa época, mas já conhecia Kassim, Domenico, Pedro Sá e Lucas. Eu não pensava em ter uma banda minha, nem ser músico, mas ao mesmo tempo não parava de tocar com os meus amigos. E compor, eu não componho muito não. A maioria das músicas que eu tenho na vida está nesse disco. Tirando essas sete, tenho mais quatro ou cinco e acabou (risos).

IP: O que achou do público daqui?
MV
: É muito diferente da gente e de tudo que a gente conhece (risos). É difícil porque os japoneses têm problemas de expressar os sentimentos. Sabendo um pouco da língua japonesa, você vê que eles têm muito poucas palavras para dizer se você gosta de alguma coisa ou de alguém. Tem umas três, no máximo, em toda a língua (risos). Então, o relacionamento sentimental é muito difícil. Mas como a mulher do Kassim é japonesa, a gente já veio aqui antes, e eu toquei aqui com Arto Lindsay e conheço um pouco da língua, inclusive essa pobreza linguística de sentimentos (risos), a gente sabe que em algum lugar alguma coisa deve estar acontecendo. A gente tem a fé. Não parece muito, mas pode ser que eles estejam apreciando.

IP: Kassim tocou até sanshin (instrumento de corda japonês) no show. Foi uma coisa especial para apresentação no Japão?
MV
: Não, não, não. A gente toca sempre. Kassim casou-se com uma japonesa que morava em Hong Kong, e lá ele comprou esse instrumento. Nos ensaios na casa de Kassim, ele ficava tocando o sanshin e resolveu levar para o show. Kassim estava receoso de tocá-lo no Japão, porque aqui eles tocam aquilo de verdade. Mas foi boa a coragem dele. Porque acho que ficou bonito.

IP: E aquela música do Bonde do Tigrão, vocês a tocaram sabendo que eles também estavam aqui?
MV
: A gente vem tocando essa música já há um tempo. Foi uma coincidência incrível. A gente até queria ir assistir ao show deles. Essa moda do funk é uma coisa relativamente nova que estourou no Brasil nos últimos meses. Então foi engraçado, porque a gente estava cantando por aí essa música, achando que era novidade aqui, mas quando a gente chegou em Tokyo, eles também já estavam aqui. Mas é muito bom. A gente gosta muito do Bonde do Tigrão.

IP: Depois daqui e Osaka, essa turnê ainda vai continuar?
MV
: Ainda vamos voltar à Europa, e depois para Argentina, Uruguai e Venezuela, e voltaremos para o Brasil em julho para tocar mais lá também. Essa banda ainda vai continuar mais um tempinho. Quem sabe, a gente ainda volta para cá no ano que vem ou como Domenico + 2 ou Moreno + 2 de novo (risos).

IP: Já estão com projeto para um próximo disco?
MV
: Então, vai ser Domenico + 2, e depois Kassim + 2. É um projeto real que a gente pretende levar a cabo. Aliás, o Domenico + 2 já está gravado e só falta mixar, e pretendemos lançá-lo no ano que vem. 






MÚSICA

15/11/2004

O som de MORENO VELOSO



MORENO VELOSO vem se destacando ao lado de Alexandre Kassin e Domenico Lancelotti - Foto: Laécio Ricardo


Diz o dito popular: “Filho de peixe, peixinho é”. No caso de Moreno, filho do cantor e compositor baiano Caetano Veloso, bem que o provérbio poderia ser diferente: Moreno Veloso é um peixão. Um dos mais respeitados e competentes profissionais da nova safra da música brasileira, Moreno esteve em Fortaleza no último dia 6, quando acompanhou a líder do grupo Pretenders, Chrissie Hynde, em show acústico no Mucuripe Club.



Moreno e Chrissie Hynde Foto: Maxie Amena - Fortaleza

Foto: Maxie Amena - Fortaleza


Em 2000, quando lançou seu disco de estréia, “Máquina de Escrever Música” (Rock It!), Moreno mostrou a que veio ao misturar bases eletrônicas com samba e bossa nova. Início de um projeto coletivo que também envolvia o baixista Alexandre Kassin e o percussionista Domenico Lancelotti - mas sem deixar de lado o trabalho autoral -, o álbum do trio “Moreno +2” é, com certeza, uma das melhores surpresas que apareceram na última década. Por meio de sua veia experimentalista, Moreno alia tradição e contemporaneidade quando apresenta desde pianinho de brinquedo e pá de ferro (!) até bateria eletrônica e theremin russo - muito utilizado pelos tropicalistas Mutantes - em seu début musical.

Em 2003, foi lançado “Sincerely Hot” (Ping Pong), novo álbum do trio, agora rebatizado como “Domenico +2”. A criatividade e o experimentalismo se mantêm como característica dos músicos. O público já espera ansioso o “Kassin +2”.

Nesta rápida e informal conversa, Moreno fala sobre a relação com o pai ilustre, o parceiro Pedro Sá - que recebeu uma música em homenagem em “Máquina...”, a delicada “Para Xó” -, e os trabalhos do Domenico +2 com outros artistas, como Adriana Calcanhotto. Confira o bate-papo.


Caderno 3 - Primeiramente, por que o filho de Caetano Veloso, que tem como madrinha a cantora Gal Costa, foi fazer faculdade de Física na UFRJ?
Moreno Veloso - (risos) É porque ninguém conhece a minha mãe. Você conhece meu pai, você conhece a minha madrinha, mas você esqueceu de falar da minha mãe. Minha mãe, a Dedé (Gadelha), gosta muito de matemática, sempre gostou. E é uma coisa dela que desde criança eu gostei, sempre adorei matemática. E não é que eu fosse bom aluno não, eu não era um “nerd” daqueles que gostavam de ficar estudando, resolvendo tudo. Nada disso. Eu nem tirava notas boas, até fiquei de recuperação em matemática, física e tudo mais... Mas eu gostava, adorava. Simplesmente desde pequeno, desde o primário até o final do segundo grau, eu gostava. Então quando eu terminei o segundo grau, eu pensei: “Pô...”, porque se eu não fosse mais estudar, nunca mais eu ia abrir um livro pra ficar lendo, fazendo contas, então falei: “Então eu vou continuar. Eu vou entrar na faculdade pra continuar estudando uma coisa que eu gosto, né?”. Eu quase fui fazer filosofia, porque todos os meus amigos foram pra faculdade de filosofia. Aí nesse caso eu teria seguido os passos do meu pai, que foi fazer filosofia. Quase fui, cheguei até a quase me inscrever, mas a física me levou, foi mais forte, e eu resolvi estudar mesmo física. O que é a mesma coisa, só que do ponto de vista matemático. Aliás, o livro do Newton chama-se “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”. Então, é tudo ligado.

- Como foi - e é - trabalhar com o próprio pai? A relação entre pai e filho vai pra música de uma maneira diferente?
Moreno - É sempre muito bom trabalhar com o meu pai. Além de ele ser uma pessoa ótima, quando você está trabalhando com ele, musicalmente, você percebe que ele está querendo o melhor de todo mundo, sabe? Ele se esforça pra que todo mundo dê o melhor de si. E isso dentro de uma banda é muito bom, porque todo mundo acaba não só gostando do que está fazendo, como realmente dando o melhor de si. Ele é uma pessoa muito decidida nesse lado profissional, no jeito que ele quer trabalhar. Então é muito bom.

- Existe algum projeto de vocês dois em vista?
Moreno- Eu não sei... Ele sempre me convida pra fazer alguma coisa. Nos últimos dois discos, ele sempre me deu uma faixa pra produzir. Mas nesse último disco eu nem produzi exatamente a faixa que a gente tocou, eu e o Pedro Sá. Foi mais o Pedro Sá que participou da produção de “Come as you are” (hit maior do clássico álbum “Nevermind”, do Nirvana). Ele fez o arranjo, a produção, fez tudo, me convidou e é claro que nós juntos acabamos realizando a faixa com o meu pai. Eu gostei muito do resultado. Mas nos discos autorais dele, ele me convidou pra produzir uma faixa, no penúltimo ele até me chamou pra mixar o disco todo. São coisas que ele vai continuar fazendo, me convidando. Mesmo no disco dele com o Jorge Mautner, eu participei tocando alguma coisa. O próprio Kassin, que é da minha galera, produziu o disco junto com ele. São em coisas assim que a gente está realmente interligado. Não tem nenhum projeto em vista, mas eu acho que qualquer coisa que aconteça, eu vou estar participando, ou o Kassin, o Domenico ou o Pedro Sá, que está tocando com ele nesta turnê internacional.

- Por que o Pedro Sá não entrou junto no projeto com você, o Domenico e o Kassin, já que ele está tão presente em todos os trabalhos do trio?
Moreno - Às vezes ele prefere fazer outras coisas, como, por exemplo, tocar com o meu pai. A gente o convidou agora, fizemos duas ou três turnês esse ano, mas ele preferiu tocar com o meu pai, o que é uma coisa sensata, inclusive (risos). Mas ele está sempre presente quando a gente grava, qualquer coisa a gente pede pra ele dar opinião. Foi ele quem me apresentou ao Domenico, ao Kassin. Ele é o centro intelectual e espiritual dessa banda. Ele só não está tocando com a gente o tempo todo porque ele tem as coisas dele pra fazer também.

- Qual a sua avaliação das parcerias que você, o Domenico e o Kassin andam fazendo com outros artistas, a exemplo do que aconteceu no último disco da Adriana Calcanhotto?
Moreno - Algumas pessoas gostam do que a gente faz. A Adriana gosta, a Chrissie gosta. E essas pessoas convidam a gente pra participar. A gente fica feliz, sabe? Eu, particularmente fico muito feliz. É claro que a gente fez um disco sem muito sucesso, ele não é um disco popular, ele não vendeu quase nada, mas essas poucas pessoas que gostam nos deixam muito feliz.

- De onde vem o nome do disco, “Máquina de Escrever Música?
Moreno - Não tem muito o que saber não. É uma piada que o Tom Jobim fez com um cara da alfândega. Ele estava trazendo um computador, que era um equipamento ilegal, e ele simplesmente falou: “Olha, isso não é ilegal, é apenas uma máquina de escrever música” (risos).



LA NACION

Sábado 13 de noviembre de 2004

Espectáculos


Moreno Veloso y Chrissie Hynde: intercambio de músicas 

La cantante de The Pretenders y el hijo de Caetano Veloso hablan de cómo se cruzaron sus caminos creativos y del show que darán esta noche en el Luna Park

Gabriel Plaza

FORTALEZA (Brasil).- Moreno Veloso, hijo de Caetano, no para de cantar melodías en inglés y clásicos del samba al oído de Chrissie Hynde. El carioca que hace tres años sorprendió al Brasil con su disco "Máquina de escribir" no se separa de un minidisc en el que dispara música de todo el mundo, se mueve con la parsimonia de los nativos a la hora de la siesta y lleva puesta la camiseta de su tía María Bethânia y unos soquetes amarillos que le dan un look desprejuiciado y freak.

La cantante, voz de The Pretenders y hacedora de éxitos mundiales de los ochenta como "Don´t Get Me Wrong", "Back on The Chaib Gang" o "I´ll Stand By You", se deja envolver por la suave atmósfera del atardecer y desanda las calles de la ciudad nordestina con cierta electricidad y el porte de una princesa punk que está en un viaje sin retorno en busca de otras músicas, otras culturas y otra vida, lejos del star system.

El destino cruzó sus vidas extrañamente. Hasta hace unos meses, ninguno sabía nada del otro, y ahora están tocando juntos en un proyecto tan asombroso como su encuentro. La reunión de la dama americana, ícono del pop, y el músico carioca dio como resultado el sorpresivo proyecto sonoro "Chrissie + 4", con el que la cantante estuvo tocando por varias ciudades de Brasil, junto al guitarrista Adam Seymour, de The Pretenders, y los brasileños Moreno Veloso, Domenico y Kassin.

El combo anglo-portugués arribará esta noche al Luna Park para mostrar una de las combinaciones más impensadas y atractivas del último tiempo. Nadie se podría haber imaginado una mezcla musical de esta naturaleza. Chrissie, la cautivadora y punzante voz de los éxitos que hicieron bailar al planeta en los años ochenta, en la cápsula hipnótica de la bossa, el bolero y el samba.

La reunión está rodeada de anécdotas y casualidades que animan el diálogo de Chrissie Hynde y Moreno Veloso, durante su parada en Fortaleza. Después de salir al ruedo por varias ciudades de Brasil no están interesados en hacer planes a largo plazo, sino en disfrutar de esta amistad musical. Se entusiasman, sobre todo, cuando reviven la historia del extraño encuentro.

Hynde, de gira por San Pablo, asistió a un show de Caetano Veloso. Allí, escuchó a Moreno, que tocaba el chelo. Chrissie andaba en busca de un cuarteto de cuerdas para una serie de conciertos acústicos en Brasil.

"Cuando lo vi dije: «Este es el músico que tiene que estar en mi grupo» -afirma Chrissie Hynde-. Le pedí a mi productora que lo contactara, pero después alguien me pasó un disco suyo [«Máquina de escribir música»] y me di cuenta de lo maravilloso que era. Entonces, me dio una vergüenza terrible invitarlo a participar como sesionista de segunda línea. La productora ya había hecho el contacto y Moreno estaba encantado con la invitación. Me fui a Londres y comencé a pensar en otra propuesta en la que Moreno y su grupo se integrara a nosotros."

-¿Cómo fue el primer encuentro?
Moreno: -Increíble. Todavía no lo podemos entender demasiado. Yo no sabía casi nada de ella, pero cuando empezó a cantar las canciones nos dimos cuenta de quién era. Desde el principio hubo un aspecto muy humano; a ella le gustaba mucho nuestra música y además le contamos que los tres éramos vegetarianos; como ella es una activa militante por los derechos de los animales eso fue muy bueno para iniciar la relación. Así que cuando fuimos al estudio y nos pusimos a tocar fue todo muy natural.
Chrissie: -Mis discos preferidos de los últimos años son el de King of Leon y "Máquina de escribir música". Yo quería ese sonido, así que le pedí a Moreno que ellos se encargaran. Durante ese tiempo, Adam fue un santo porque yo casi tenía que atarle las manos para que no tocara porque quería que Moreno, Domenico y Kassin dieran su versión de los temas y los desconstruyeran totalmente.

-¿Cómo trabajaron ese sonido?
Moreno: -Todas las ideas de Kassin, de ella, todo, lo mezclamos con mucha naturalidad. Fue más difícil para ella porque tenía que estar quietita y más difícil para Adam, que no podía tocar su guitarra eléctrica. Pero al principio no sabíamos qué hacer porque no había un concepto o una dirección.
Chrissie: -La mayoría de los temas que armamos fueron apareciendo ante mí de forma espontánea durante mi estada en San Pablo. Todo el tiempo nos pasaban cosas extrañas con gente que se nos acercaba y nos recordaba una canción que habíamos hecho en un show, o que habíamos grabado en un disco perdido que ya no recordábamos o que escuchábamos mientras estábamos tomando café con Adam. Yo los anotaba. Cuando nos encontramos en el estudio, saqué esos papeles y fuimos armando las ideas. Se podría decir que el concepto del show está basado en la música que escuchamos en las calles de San Pablo.

Un cambio de vida
La cantante de The Pretenders está en un momento de cambio sustancial. Todavía no sabe dónde establecerá residencia fija; se inclina por París o la India "donde ni siquiera tengo que pensar en la música". Como en los años 70, cuando se fue de Estados Unidos para Londres, y vivió el nacimiento del punk y el avance de la new wave, ahora está pensando en vivir una temporada en San Pablo, ciudad de la que se enamoró instantáneamente y alquiló un departamento.

Moreno cuenta: "Ella quería un sonido más delicado. Despacito fue entendiendo y descubriendo qué es Brasil, cómo es su música y qué hacemos acá. Fue una construcción de la cultura musical que tenemos nosotros. Aprendió mucho, en la convivencia, de las cosas que cantábamos en el estudio, de lo que ella preguntaba y todo resultó muy rico porque ella tenía ganas de formar este grupo. Para nosotros es una situación increíble, totalmente nueva. Casi no sé qué decir, porque no hay una preparación en mi cabeza para esto".

Chrissie Hynde tiene una relación particular con América latina desde hace un tiempo. "Mi contacto pasó más por los hombres que tuve que con un conocimiento de su cultura. Yo tuve un marido colombiano que se lo pasaba tocando salsa y temas que hablaban de mujeres e infidelidades; hasta que un día tocó una bonita canción que hablaba de la esperanza, «Rabo de nube», de Silvio Rodríguez, y la incluí en mi disco «Viva el amor». Pero a pesar de eso nunca pude aprender español", se lamenta la artista, nacida en Ohio, en 1951. Para compensar, hace poco grabó con Jarabe de Palo un tema en inglés por rumba, lo que sigue hablando de su ecléctica búsqueda musical.
Dice que está aburrida de los tiempos de estrella de rock y de las grandes giras. A pesar del éxito de The Pretenders (cuyos temas entraron en la lista de los mejores 100 de la historia del rock, según la Rolling Stone), a los años ochenta los define así: "Drogas, viajes, funerales, divorcios, tours, nacimientos... Cosas ordinarias que le pasan a la gente que conocés"; y trae a su memoria recuerdos brutales que avivaron el fuego de sus canciones. "Siempre canté cosas reales. Si una canción habla de un hombre que le pegaba a su mujer fue porque a mi me pasó. Por eso una camarera me entiende. Ese es mi público, no la gente a la que le interesa acumular más y más."

Transportada al presente, la artista goza la experiencia de estar compartiendo estos conciertos con Moreno Veloso, Domenico y Kassin. "Ayer me llamó y me dijo que podríamos grabar algo juntos para tentar a algún sello y me cantó cosas que nunca grabó y que me parecieron bellísimas", cuenta Moreno. En el lobby del hotel ella devuelve la gentileza cantándole un par de temas a capella.

Hynde está ansiosa por el concierto en la Argentina. Moreno la tranquiliza diciéndole que "es el público más educado e increíble del mundo". Ella habla elogiosamente de "Nueve reinas" y está fascinada con la idea de circular por un lugar donde no es tan conocida. "Me gusta la situación de estar en un país donde no entiendo la lengua y tener que escuchar conversaciones sin importancia. Estoy cansada del rock. Quiero tocar en clubes, lugares más pequeños y reales, cantando cosas que me pasaron. Busco un movimiento distinto. Pero estoy abierta a todo lo que pase y me propongan. No sé qué puede pasar."

Moreno Veloso la mira con una sonrisa iluminada y espera que esta felicidad no tenga fin.



Pop con el ritmo hipnótico brasileño

Anticipo del recital que presentarán esta noche, a las 21.30, en el Luna Park

Sábado 13 de noviembre de 2004

Fortaleza es la ciudad cabecera del nordeste brasileño y, en este momento, el polo cultural y político más fuerte del PT. Luiziane Lins, una mujer cearense, ganó las últimas elecciones de la ciudad y ya se proyecta como una "presidenciable" para las futuras elecciones.

Esta es la región de los pescadores, los poetas repentistas, la música forró y los legendarios personajes del desierto nordestino (similar en su sequedad a Santiago del Estero) y también una de las zonas con difícil acceso al agua potable y con un crecimiento desmesurado de favelas y torres de lujo.

Es una de las paradas de la gira de Chrissie Hynde y Moreno Veloso, en un fin de semana, en el que la agenda cultural de la ciudad arde con distintos eventos multitudinarios como el proyecto "Sonora Brasil" que rescata música del siglo XVIII y el proyecto cultural "Sessi bonecos" que aglutina performances de teatro y música pernambucana en el Centro Cultural Dragon de Mar.

El concierto de la cantante de Pretenders y el hijo de Caetano se realiza en el Mucuripe Club, del barrio Iracema (suerte de San Telmo con bares, carritos, corredores de alcohol y discos). Con un formato cien por ciento acústico, el grupo de Chrissie + 4 ofrece un concierto sorprendente donde se mixturan versiones de temas de Moreno y Caetano Veloso, con clásicos de Bob Marley, Los Beatles, Radiohead, UB 40 y esos himnos de los ochenta de los Pretenders, en una exquisita melange de música brasileña con la contundencia melódica del pop.

Pero no es un viaje nostálgico, sino un concierto con una frescura y una calidez increíble. La voz de Chrissie, que no perdió un ápice de poderío y sensualidad en todos estos años, se alterna con la cadencia natural de Moreno, formando por momentos sugerentes dúos que se completan con la atmósfera templada y calma que aporta el chelo, la percusión de Domenico (presentador y traductor oficial del grupo), el bajo de Kassin y la guitarra sensible de Adam Seymour.

El cuarteto, con un sonido hipnótico comandado por la cadencia de la bossa nova y el samba, desparrama cautivantes versiones de temas como "Don´t Let Me Down", la fuerza oscura de "Creep", la inmejorable versión de "Dont Get Me Wrong" con pandeiros y ritmo de samba, el exquisito bolero "Pra xo" o la divertida versión de "I Got You Babe", con batería electrónica incluída.

Para esta noche, a las 21.30, en el Luna Park, prometieron más canciones de Moreno + 2 y otras perlas. Todavía se guardan un par de ases bajo la manga. Al insólito combo anglo-portugués le sobra resto para sorprender con cualquier versión que les pidan, o se les ocurra en el momento.







Luna Park, Buenos Aires (Captura de pantalla)

Luna Park, Buenos Aires (Captura de pantalla)




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