Caetano Veloso
" ...Acho
que foi o artista que
mais fotografei." [Thereza Eugênia]
ULTIMA HORA
1972 - Maria Bethânia e Sandra Gadelha |
1979 - Caetano Veloso |
1977 - Ney Matogrosso |
Fafá de Belém |
Angela Ro Ro |
Revista TRIP
#263 Mar 2017
Fotógrafa
que registrou a MPB dos anos 70 e 80, Thereza Eugênia elege suas imagens mais
marcantes à Trip
por Bruna
Bittencourt
28.3.2017
28.3.2017
Thereza
Eugênia Paes da Silva, 77, é um
denominador comum da MPB. Desde o fim da década de 60, clicou de Roberto Carlos a Caetano Veloso, Maysa a Maria Bethânia. A
baiana de Serrinha chegou ao Rio de Janeiro em 1964, para "cortar o cordão
umbilical" e trabalhar como enfermeira -- profissão que ela conciliou com
a fotografia e exerceu até a década de 90. Em meio ao frenesi de Blow Up (1966), filme
de Michelangelo Antonioni protagonizado por um fotógrafo, comprou uma câmera.
Thereza começou clicando a irmã, sua primeira modelo. "Ela tinha uma certa
pose, bem interessante", lembra à Trip. "E as pessoas foram me chamando."
Em 1970, foi convidada a fotografar Roberto Carlos no palco. Como não tinha o equipamento apropriado, pegou uma câmera emprestada do Canecão (onde o cantor se apresentaria). O gerente da casa gralhou: "Como vocês chamam uma garota que mal sabe pegar no equipamento?". Mas Roberto gostou e escolheu uma das imagens para estampar seu disco de 1970, uma das capas preferidas que Thereza clicou.
"Sempre usei muita luz ambiente e de palco. Minhas fotos têm um certo senso de intimidade, entrava na casa dos artistas. Na memória dos meus fotografados, fiquei como uma pessoa que nunca fez imagens comprometedoras ou polêmicas deles", diz.
Amiga de Caetano, era a única com um câmera no aniversário de 40 anos do cantor. "São dois prazeres: ouvir e fotografar música."
Hoje, ela clica muito pelas praias do Rio com um iPhone 6 e outro 7, que alimentam parte das fotos de seu perfil no Instagram. "Sou uma ótima dona de rua. Moro na zona sul, saio andando." Thereza segue fotografando artistas. "No ano passado, Marina me ligou para clicar o show dela [No Osso]. Alcione quis que eu fotografasse seu aniversário, Fafá [de Belém] me chamou para o Círio de Nazaré." A pedido da Trip, ela relembra histórias por trás de algumas de suas fotos mais marcantes:
Caetano
Veloso: "Quando
ele chegou de Londres, em 1972, fez três apresentações no teatro João Caetano.
Só se falava disso, era o grande evento do Rio de Janeiro. Houve um derrame de
xerox de convites na praia. Quando alguém entrou com o ingresso falso,
Guilherme gritou: 'Deixe entrar, o cara é amigo de Caetano'. Fui com Marina
Lima. Era a primeira vez que estava vendo o artista no palco, no
seu primeiro show no Rio após o exílio. Impressionada com seus movimentos ao
cantar 'O Que é Que a Baiana tem?', fiz uma dupla exposição no mesmo negativo. Acho
que foi o artista que mais fotografei."
Maria Bethânia: "Esta foto é a melhor que fiz de Bethânia no palco durante o espetáculo Drama-Luz da Noite [início da década de 1970], que assisti várias vezes. Comecei a fazer fotos dela na sua casa. Até a década de 80, fotografa palco e plateia dos seus shows. Ela nunca criou nenhuma restrição ao meu trabalho. Há pelo menos 50 fotos de Bethânia no livro de Bia Lessa [a fotobiografia Então Maria Bethânia, lançada no fim de 2016]."
Guilherme Araújo: "Guilherme (1936-2007) foi um grande empresário, trabalhou por 15 anos com Caetano e Gal. Tinha uma relação de amizade com os artistas. Adorava ser fotografado e eu era como se fosse sua selfie. Fiquei muito amiga dele, era como um irmão, me incluiu no testamento dele. Esta foto sintetiza como percebia a relação dele com Gal: o criador e a criatura. A máscara com o rosto dela foi uma invenção dele para o show Fantasia [1981]. Mãe de Gal, Dona Mariah Costa ao ver a foto, disse: 'A boca dela na máscara é semelhante a de Guilherme'."
Gal Costa no show Gal Tropical: "Em 1979, Guilherme quis dar uma virada na imagem dela, mostrar Gal elegante, vestida por Guilherme Guimarães. Ela entrava no palco descendo uma escada com todo esplendor, como se dissesse ao que veio. Este espetáculo foi ovacionado pela crítica e ficou um ano em cartaz. Estrelas de cinema como Liza Minnelli e Ursula Andress vinham para o Carnaval do Rio e assitiam ao show de Gal, iam ao camarim. Retrata muito bem uma fase muito importante na vida dela."
Wanderléa
no espelho: "Influenciada
pela pintura pontilhista, tentei com um filme granulado um efeito parecido.
Esta foi minha melhor foto neste estilo. Fui inspirada por uma capa de Miro da Rita Lee [o disco homônimo da cantora, de 1980], era uma
experiência. Wanderléa é uma pessoa adorável, carinhosa."
Música
30.3.2017
Fotógrafa revela em redes sociais imagens "secretas" de astros da MPB
Fotógrafa revela em redes sociais imagens "secretas" de astros da MPB
Felipe Branco Cruz
Do UOL, em São Paulo
Artistas
fotografados por Thereza Eugênia entre os anos 70 e 80 no Rio de Janeiro - Imagem:
Thereza Eugênia
|
Quem vê Thereza Eugênia, 77, pela praia de Ipanema ou do Arpoador com um celular na mão, registrando o cotidiano de quem passa por ali, talvez nem imagine a história por trás de toda uma vida na fotografia. Junto às imagens de seus principais alvos hoje --mulheres de biquíni, banhistas jogando frescobol, vendedores ambulantes e surfistas--, ela guarda uma infinidade de registros de Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Nara Leão, Gilberto Gil.
A estreia de Thereza no mundo musical aconteceu por acaso, em 1970, e quase deu errado. Ela só tinha trabalhos amadores quando foi chamada para registrar o show de Roberto Carlos no Canecão, no Rio de Janeiro. Não tinha sequer câmera profissional. A solução foi pedir uma máquina emprestada ao gerente da casa de shows. "As imagens ficaram escuras, mas o Roberto Carlos adorou e escolheu uma delas para ser usada na capa de seu disco em 1970", lembra ela. "É até hoje uma das capas mais lembradas do artista", diz, orgulhosa, ao UOL.
Capa do
disco de Roberto Carlos de 1970 com foto de Thereza Eugênia - Imagem: Thereza
Eugênia/Divulgação
|
Desde então, o relacionamento com os principais
artistas da MPB só se fortaleceu, a ponto de Thereza frequentar a casa de
muitos deles. Como o foco dos trabalhos de Thereza era publicitário, as cenas
de bastidores e da intimidade que a fotógrafa capturava de maneira
despretensiosa nunca foram reveladas em público.
Entusiasta das redes sociais, Thereza viu no Instagram a chance de divulgar essas imagens. Seu perfil, @therezaeugenia, é um prato cheio para os fãs da MPB que agora têm à disposição imagens como a de Chico Buarque fumando despretensiosamente um cigarro em casa, de Maria Bethânia tomando banho na piscina, de Caetano com o filho Moreno e de Ferreira Gullar só de bermuda.
"Sou de uma época em que o registro da intimidade dos artistas não era tão divulgado e compartilhado quanto hoje. Eu ia para a casa deles, fazia as fotos e guardava para mim", conta. Para a fotógrafa, com os celulares as pessoas passaram a compartilhar naturalmente sua intimidade. "Era difícil conquistar a confiança de um artista para entrarmos em sua casa. Hoje em dia, você saca o celular e faz uma selfie".
A foto de Chico Buarque, por exemplo, feita em 1982, mostra o cantor em sua casa na Gávea, no Rio de Janeiro, durante uma entrevista para a gravadora. "Ele chegou usando uma bermuda, fumando e tomando um cafezinho. Nem se preocupou em se arrumar, ele estava completamente à vontade".
Quem também ficou muito a vontade com Thereza foi o escritor Ferreira Gullar. "Fui fazer a foto da capa para um CD de poesias. Ele chegou com uma bermuda larga que aparecia a cueca. Mas o Ferreira Gullar era um gênio. Eu nunca diria para ele botar uma calça. Me lembro que tivemos um papo extremamente interessante sem nenhum esnobismo cultural".
Entusiasta das redes sociais, Thereza viu no Instagram a chance de divulgar essas imagens. Seu perfil, @therezaeugenia, é um prato cheio para os fãs da MPB que agora têm à disposição imagens como a de Chico Buarque fumando despretensiosamente um cigarro em casa, de Maria Bethânia tomando banho na piscina, de Caetano com o filho Moreno e de Ferreira Gullar só de bermuda.
"Sou de uma época em que o registro da intimidade dos artistas não era tão divulgado e compartilhado quanto hoje. Eu ia para a casa deles, fazia as fotos e guardava para mim", conta. Para a fotógrafa, com os celulares as pessoas passaram a compartilhar naturalmente sua intimidade. "Era difícil conquistar a confiança de um artista para entrarmos em sua casa. Hoje em dia, você saca o celular e faz uma selfie".
A foto de Chico Buarque, por exemplo, feita em 1982, mostra o cantor em sua casa na Gávea, no Rio de Janeiro, durante uma entrevista para a gravadora. "Ele chegou usando uma bermuda, fumando e tomando um cafezinho. Nem se preocupou em se arrumar, ele estava completamente à vontade".
Quem também ficou muito a vontade com Thereza foi o escritor Ferreira Gullar. "Fui fazer a foto da capa para um CD de poesias. Ele chegou com uma bermuda larga que aparecia a cueca. Mas o Ferreira Gullar era um gênio. Eu nunca diria para ele botar uma calça. Me lembro que tivemos um papo extremamente interessante sem nenhum esnobismo cultural".
Caetano Veloso, o fotogênico
O artista mais fácil de fotografar, na opinião de
Thereza, é Caetano Veloso. "Ele
participa da foto, faz poses. Em 1974, eu fiz uma foto dele com o filho Moreno,
que tinha uns 2 anos na época. O Moreno chegou para brincar e Caetano o chamou
para a foto. O resultado foi uma cena linda entre pai e filho".
Pelo menos outras duas fotos de Caetano feitas por
Thereza também ficaram muito conhecidas e só deram certo porque havia entre eles
muita intimidade. "Uma vez pedi para
ele posar com uma pena de pavão e ele topou. No Photoshop eu tomei a liberdade
de esgarçar o seu cabelo, para ficar ainda mais armado. A imagem é reproduzida
até hoje", lembra. "Nesta
mesma ocasião, eu pedi para ele se deitar em cima de vários travesseiros
vestindo apenas uma mortalha".
Uma das fotos mais famosas de Thereza Eugênia mostra
Caetano Veloso segurando contra o rosto uma pluma de pavão
|
Outra foto de Caetano Veloso que ficou muito conhecida,
feita por Thereza Eugênia, mostra o músico deitado em cima de almofadas
|
Baiana da cidade de Serrinha, Thereza sempre se deu
bem com seus conterrâneos. Outra personagem que é fotografada por ela até hoje
é a irmã de Caetano, a cantora Maria Bethânia, que aparece em imagens em seu
Instagram na praia, em casa, tocando violão, largada no sofá. "É uma amiga
querida", diz ela, que hoje é moradora do bairro de Copacabana.
Do passado até os dias atuais, a única diferença
que a fotógrafa percebeu em seu trabalho foi a qualidade das imagens que
melhorou muito, principalmente dos celulares. "Agora evito usar câmeras
profissionais na rua por causa dos assaltos". O seu aparelho favorito é o
iPhone 7 Plus. "A qualidade das
imagens é ótima, mas o que continua valendo numa foto é o olhar do
fotógrafo".
As principais fotos de Thereza Eugênia também estão
expostas no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, em Ipanema, casa onde viveu o
empresário musical e antigo patrão de Thereza. Com curadoria da própria
fotógrafa, as imagens revisitam várias fases da vida do empresário e de seus
artistas.
1968 - Gilberto Gil, Guilherme Araújo, Caetano Veloso - Foto: autor desconhecido |
A casa de Guilherme Araújo, hoje, Gabinete de Leitura inaugurado em 2015.
Direção:
Gilda
Mattoso
Rua Redentor, 157, Ipanema - RJ |
Fotos da exposição de Thereza Eugênia |
Foto de autor desconhecido
|
16/11/2016 |
MUITO OBRIGADA,
Thereza Eugênia, Gilda Mattoso e Marcus Vinicius!!!!!!!!
Thereza Eugênia, Gilda Mattoso e Marcus Vinicius!!!!!!!!
Evangelina Maffei (Buenos Aires, Argentina) Blog "CAETANO VELOSO ... en detalle"