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São
Paulo, sábado, 10 de dezembro de 1994
Caetano e Gil prestam homenagem a Jobim
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REPORTAGEM LOCAL
"É... É difícil... Não
sei... Envelheci 150 anos." Foi assim, engasgando nas frases, que o compositor
Caetano Veloso tentou explicar o quanto a morte de Tom Jobim o abalou.
"Tudo isso me pegou de surpresa. Sabia que o Tom estava doente, mas..." O cantor falou sobre o "maestro soberano" ontem de madrugada, depois do show "Tropicália Duo", que faz em parceria com Gilberto Gil no Palace, zona sul de São Paulo.
"Somos todos muito menores do que Tom. E eu sou ainda menor. O curioso é que ele não nos esmaga. Ele nos ilumina", disse, repetindo com outras palavras o que escrevera recentemente no "press release" de "Antonio Brasileiro", décimo e último disco solo de Jobim.
Logo no primeiro parágrafo do texto, Caetano afirma: "A exuberância esmagadora do seu talento tem sido, para os que crescemos à sua luz, mais estimulante do que inibidora".
Sem citar nem mesmo uma vez o nome de Tom e sem jamais usar a palavra morte, Caetano homenageou o músico durante o show de quinta-feira à noite. Cerca de 1.700 pessoas lotavam o Palace.
Por volta das 22h30, quando ficou sozinho no palco, dispensou o roteiro original do espetáculo e cantou "Eu Sei que Vou te Amar", de Jobim e Vinicius de Moraes. O público interrompeu com aplausos.
Caetano mostrou, então, outros dois clássicos de Tom e Vinicius: "Chega de Saudade" e "A Felicidade". A platéia o acompanhou verso por verso.
Emocionado, Caetano começou a tocar "Sem Você", também de Tom e Vinicius. O público se calou e o cantor não conseguiu ir adiante. Chorou enquanto balbuciava: "Você é o que resiste ao desespero e à solidão / Nada existe e o tempo é triste sem você / Meu amor, meu amor, nunca te ausentes de mim / Para que eu viva em paz / Para que eu não sofra mais".
Enxugando as lágrimas, prometeu: "Vai sair. Tem que sair." Tomou fôlego e recomeçou. Chorou de novo.
Gil voltou ao palco e deu um lenço para o parceiro. O público insistiu: "Ajuda o Caetano."
Gilberto Gil acariciou a cabeça do amigo e pegou o violão. Caetano finalmente se acalmou e, na quinta tentativa, conseguiu terminar a canção.
Gilberto
Gil diz que morte não o deprimiu
DA
REPORTAGEM LOCAL
Bem mais tranquilo que Caetano, Gilberto Gil
também homenageou Tom durante o show de quinta-feira à noite.
Sozinho no palco com o violão, cantou "Desafinado", música de Jobim e
Newton Mendonça que o tempo acabou transformando em manifesto informal da bossa
nova.
Quando começou a dedilhar "Aquele Abraço", Gil anunciou: "Este
samba vai para Dorival Caymmi, Caetano Veloso e hoje, pela saudade dele... Este
samba de amor por sua terra, o Rio, terra de Antonio Carlos Brasileiro
Jobim."
No finalzinho do espetáculo, à 0h10, tocou outro sucesso de Tom, "Samba do
Avião". Desta vez, Caetano Veloso o acompanhou.
"Sua morte não me deprimiu. Fiquei apenas com aquele fio suave de emoção.
Não sei explicar o porquê", comentou Gil logo depois do espetáculo.
"A morte do Senna me deixou mais triste, me deu maior pesar."
O cantor revelou que tinha dificuldade para reconhecer a "grandeza
planetária" de Tom Jobim. "Ele era um gênio, um mestre. Mas também
era muito próximo da gente, muito afetivo. Falava com todo mundo. Era um homem
de bar, um homem de boteco. Ficava difícil encará-lo como um daqueles ídolos
internacionais."
Tanto Caetano quanto Gil disseram que deverão manter "Samba do Avião"
nas próximas apresentações de "Tropicália Duo".
Nenhuma música de Tom fazia parte do espetáculo. "Talvez volte a tocar
'Sem Você"', cogitou Caetano. "Quero ver se sou capaz de cantá-la com
mais calma."
SÁNCHEZ, José Luis. Tom Jobim - a simplicidade do gênio. Rio de Janeiro: Editora Record,
1995. Pág. 239.
SÁNCHEZ, José Luis. Antonio Carlos Jobim – La sencillez
del genio. Barcelona : Leqtor Universal,
2014. 280 pág.
"Me sorprendió la generosidad de Caetano
Veloso –con quien pasé tres días inolvidables en Salvador–, Ana Lontra Jobim,
Paulo Jobim, Edu Lobo, Kabinha, Ophelia, Leila Pinheiro y Toquinho. Todos ellos
me recibieron en sus casas y me dedicaron muchas horas, sin duda en homenaje al
maestro Jobim."
(José Luis Sánchez)
José Luis Sánchez e Tom Jobim |
José Luis Sánchez, Gilberto Gil e Caetano Veloso |
ÍNDICE
Prólogo 13
Paulinho Jobim. Instantes 17
Helena Jobim. Toda una vida 21
Billy Blanco y Aloysio de Oliveira.
El principio del éxito 43
Vidas paralelas 53
Historias de amor 59
El descubrimiento de la naturaleza 69
Carlos Lyra: al otro lado del disco.
Ambiente de bossa nova 75
De Carlos a Carlos 83
La arquitectura de los sonidos 85
Edu Lobo y un cometa universal 99
Simplemente dos amigos 117
Toquinho, Vinícius y Tom.
Veladas fructíferas
125
Caetano Veloso.
Amigo, admirador, admirado . 137
La familia Buarque de Hollanda 151
Ana y Luiza Jobim 165
Los amigos, la familia y las giras
por el mundo 177
Vinícius y Jobim 213
Tom ha vuelto 237
Djavan 245
Songbooks 249
Leila Pinheiro 255
Beth Jobim y Paulo Jobim. Instantes 265
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