martes, 17 de enero de 2017

1982 - TABU
























Data de lançamento: 10/3/1983


Ficha Técnica:

DIREÇÃO, ROTEIRO E PRODUÇÃO

JÚLIO BRESSANE

FOTOGRAFIA

MURILO SALLES

THANK TO WALY SALOMÃO

FIGURINOS

VERA BARRETO LEITE

MAQUIAGEM

JACQUES MONTEIRO

PROPS POÉTICOS

LUCIANO FIGUEIREDO

ASSISTENCIA DE DIREÇÃO

            LUCIANO FIGUEIREDO

GUARACI RODRIGUES

ASSISTENCIA DE FOTOGRAFIA

            CESAR ELIAS

LUIS CARLOS VELHO

MONTAGEM

            LEOVIGILDO CORDEIRO [Radar]

PRODUÇÃO

            SILVIO LANNA

            ADRIANA COSTA SANTOS

DORA AZEVEDO MARQUES

SOM

GUARACI RODRIGUES [Guará] E DUDI GUPPER

FOTOS DE CENA

            LITA CERQUEIRA

ANA LUCIA SETTE

APRESENTAÇÃO LETREIROS, PIPA

            OSCAR RAMOS

FOTOGRAFIA DA APRESENTAÇÃO

         CESAR ELIAS

COMPANHIA PRODUTORA

            JÚLIO BRESSANE PRODUÇÕES CINEMATOGRÁFICAS




CAETANO VELOSO / Lamartine Babo

JOSÉ LEWGOY / João do Rio

COLÉ SANTANA / Oswald de Andrade



COM

NORMA BENGELL / Madame Xavier

CLÁUDIA O'REILLY / Isadora Duncan

DEDÉ VELOSO / Colombina

MÁRIO GOMES / Francisco Alves

SÔNIA DIAS

ARNALDO BRANDÃO

DANIELA MONTEIRO

SANDRO SOLVIATI SIQUEIRA / Ator

GEORGIANA DE MORAIS

SUZANA DE MORAIS

LUCIANA DE MORAIS

TANDE BRESSANE

MARCO BRESSANE

MARCOS SOARES / Mário Reis

ROSA DIAS

ALDIRA ALVES DOS SANTOS

ARMANDINHO MACEDO

MARIANA DE MORAIS

ANTÔNIO CICERO

MARIA MONTEIRO

URSULA WESTMACOTT

CHRISTOPHER CROCKER

SHIRLEY ALVES / Marlene

LIGIA DURAND / Pirata

ETHEL ALVARENGA

GUILHERME ARAÚJO






Com caráter experimental, o filme propõe uma abordagem original do encontro poético e imaginário de Oswald de Andrade e Lamartine Babo, promovido pelo cronista João do Rio. De quebra, a presença de Isadora Duncan, Jacob do Bandolim, Manuel Bandeira, Chico Alves, Mário Reis.

Na pauta, os encontros da poesia, o carnaval, as charadas. Conversas, músicas e passeios pelo Rio, intercaladas à cenas do “Tabu” original (Murnau, 1930) e de antigos filmes pornográficos.

Como princípio narrativo, o longa dirigido por Julio Bressane parte da junção de três elementos: imagem, fala e música. No elenco, a trama reúne nome como Jose Lewgoy e Caetano Veloso. O cantor vive o compositor Lamartine Babo.

O drama conquistou os prêmios de Melhor filme, Melhor fotografia (Murilo Salles) e Melhor técnico de som (Guaracy Rodrigues e Dudi Gupper) no 15° Festival de Brasília. O diretor Julio Bressane recebeu o Prêmio APCA de Melhor argumento.

A Associação Mineira dos Críticos Cinematográficos concedeu ao filme o Prêmio Especial da Crítica, Prêmio de Melhor Fotografia (Murilo Salles), Prêmio de Melhor Trilha Sonora e Prêmio de Melhor Montagem (Leovigildo Cordeiro).






 






Caetano Veloso e Antônio Cícero - Foto: Marta Braga


Dedé Veloso





 










Contracampo
revista de cinema

[Edição 45 da revista eletrônica de cinema]

Tabu, um disco de vinil visual


Estevão Garcia






Um índio anuncia com uma trombeta mágica (no Tabu de Murnau) o caos que tomará conta da Terra, ou da tela. Árvores balançam solenemente ao som de canários. Sentimos a união do movimento com o cantar dos pássaros até que da banda sonora surge a música de Lamartine Babo simultaneamente com o aumento da velocidade das imagens. A imagem torna-se irreconhecível, as árvores se fundiram em uma coisa só, o começo do começo foi implantado através da vertigem do mundo. O mundo está confuso e desconexo, percebemos o ritmo da tontura e do desequilíbrio. Tudo está torto e prestes a cair. Um céu abstrato rodopia entre copas de árvores e depois se dirige ao caule e à um emaranhado de pontos assanhados, uma imagem que lembra os mitos de origem, a origem de tudo, o começo dos tempos e assim se inicia Tabu. 

Todo começo é absoluto e pode ocorrer arbitrariamente. O começo é como um parto, involuntário.Tabu investiga, examina e especula a luz. A luz poética e criadora. A luz, tida como fundamento do cinema, coexiste com a luz como princípio da vida. Aliás, vida e cinema são para Bressane indissociáveis pois como ele mesmo afirma, o cinema é uma potente ferramenta para a busca da autotransformação. Ele é um precioso instrumento que o possibilita se afastar da tendência natural à mediocridade.Não que o homem carregue em seu código genético o gérmen da mediocridade mas sim que o sistema onde ele está inserido faz de tudo através de seus terríveis mecanismos para que ele seja medíocre.

Assim como a luz, a sombra também é importante e fundamental. As primeiras imagens do filme são sombras de um par de mãos. Uma delas aponta para a sombra de uma bananeira. Vemos a atuação dessas sombras ouvindo um barulho semelhante ao som emitido por um projetor antigo.O cinema também é um jogo de sombras. A última sombra-mão acaricia um chão-penumbra ambíguo, que pode ser um corpo nu de uma mulher. A luz seria o sublime êxtase e a sombra,os seres que estão aqui para desfruta-lo.

A última sombra da entrada do filme reproduz decorações de Carnaval, o que anuncia a temática da obra: as manifestações culturais e as raízes brasileiras. Como um químico, Bressane selecionou substâncias distintas e agrupou-as em um mesmo tubo de ensaio para transformá-las em uma só. Ao mesclar imagens cinematografadas pelo Major Reis com imagens do Tabu de Murnau, o autor proporcionou uma só idéia, uma só construção e conseqüentemente uma só imagem.Os índios pulam, dançam, tocam percussão, tomam banho de cachoeira e promovem um carnaval antropofágico. Sentimos o embalo do rebolar das lindas índias ouvindo as alegres canções de Lamartine Babo.

O autor além de ser um cine-químico também se revelou ser um cine-cicerone ao promover o encontro imaginário de dois signos da cultura brasileira. O encontro de Oswald de Andrade com Lamartine Babo promovido por João do Rio. A mistura sensorial do imaginário desses dois símbolos provoca a atmosfera desse filme- album. Outras figuras da época são também reunidas para formar o grupo de andarilhos que circulam pelas escadarias da Lapa. São chamados Chico Alves e Mário Reis. Manuel Bandeira é citado por João do Rio quando este declama: " Meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá" e aparece depois na cena do botequim. Ouvindo chorinho e tomando cerveja ele expõe a sua teoria do poeta sórdido. João do Rio também conta para Oswald a trajetória de Lima Barreto (alusão a Lima Barreto,uma trajetória, primeiro filme de Bressane).

Essas figuras estão entrelaçadas porque fazem parte do mesmo album : a cultura brasileira. A nossa cultura se relaciona com as outras, Oswald compara o nosso carnaval com a Grécia e cita o nome de alguns poetas na conversa com Lamartine."Lamartine, você é melhor que o Breton e muito melhor que o Aragon, você é mais experimental que Apollinaire".Nota-se que o popular Larmatine é comparado à autores de vanguarda. Em uma outra situação, Oswald diz "você é o James Joyce brasileiro, que tal, achas pouco?" e Larmatine numa atitude de escracho se auto esculacha respondendo"James joça".

A resposta do cantor apresenta um procedimento similar aos das chanchadas quando essas se relacionavam com a cultura do chamado primeiro mundo através de parodias. Se o nosso cinema nunca poderá se igualar ao norte-americano em níveis técnicos econômicos só nos resta utilizar essa "inferioridade" a nosso favor pela via da avacalhação. Pegando exemplares norte-americanos e passando-os pelo filtro do escracho a chanchada carioca produziu filmes que ressaltaram essa diferença. A diferença econômica que os colocam na condição de colonizadores culturais e nós na de colonizados. Se lá o protagonista de Sanssão e Dalila transita por um suntuoso cenário Hollywoodiano, aqui Oscarito em Nem Sanssão nem Dalila faz a festa em um castelo de papelão em Jacarepaguá.

Bressane penetra nesse universo metacriticamente como fez em O rei do baralho utilizando o próprio Grande Otelo como protagonista e filmando nos mesmos estúdios da cinédia. Otelo contracenava com Marta Anderson que encarnava um outro símbolo do período: a vedete. Para completar surgia de dentro dos toscos cenários o memorável Wilson Gray. Aqui outros dois grandes ícones da chanchada são utilizados, Jose Lewgoy e Cole nos papeis de João do Rio e Oswald de Andrade respectivamente. Pecas-chaves juntamente com Caetano Veloso que significa Larmatine Babo nesse álbum, nesse grande disco de vinil visual que é Tabu. 

Disco de vinil visual porque aqui musica vira imagem e imagem vira música. A musica não é mais um elemento decorativo que floreia e ornamenta a cena, ela é a cena. Ela é o fio narrativo condutor. A musica ultrapassa o seu limite e se entranha na imagem tornando-se imagem. A escolha das musicas-faixas requer uma percepção sensível do tempo musical. Da mesma forma que o olho da câmera executa notas visuais, recortando diferentes detalhes em uma mesma tomada, o evento musical é retomado ao longo do filme em tamanhos diferentes. Existe o plano detalhe e o plano geral musical, ou seja, a musica que focaliza a partícula e o cosmos. A câmera é um instrumento musical.Notas são planos. Escalas são seqüências. A melodia é película. E toda vez que colocamos esse filme-album na vitrola-tela participamos de uma agradável experiência.







LAMARTINE de AZEREDO BABO 
Nasceu no dia 10 de janeiro de 1904, na cidade do Rio de Janeiro e faleceu em 16 de junho de 1963




CAETANO VELOSO CANTA 
MARCHINHAS DE CARNAVAL




 
AURORA 
Compositores: Roberto Roberti e Mário Lago
1940 - Editorial Mangione 
Marcha 

Se você fosse sincera
Ô - ô - ô - ô
Aurora
Veja só que bom que era
Ô - ô - ô - ô
Aurora

Um lindo apartamento
Com porteiro e elevador
E ar refrigerado
Para os dias de calor
Madame antes do nome
Você teria agora

Ô - ô - ô - ô
Aurora






 
MEU BROTINHO 
Compositores: Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira 
Marcha 
1950 

Ai, ai, brotinho
Não cresça meu brotinho
E nem murche como a flor
Ai, ai, brotinho
Que eu sou um galho velho
Mas quero o teu amor

Meu brotinho
Por favor, não cresça
Por favor, não cresça
Já é grande o cipoal
Veja só que galharia seca
Ta pegando fogo neste carnaval
Ai, ai, brotinho

Não cresça meu brotinho
E nem murche como a flor
Ai, ai, brotinho
Que eu sou um galho velho
Mas quero o teu amor








 
LINDA MORENA 
Compositor: Lamartine Babo
1933 

Linda morena, morena
Morena que me faz penar
A lua cheia que tanto brilha
Não brilha tanto quanto o teu olhar

Tu és morena uma ótima pequena
Não há branco que não perca até o juízo
Onde tu passas
Sai às vezes bofetão
Toda gente faz questão
Do teu sorriso

Teu coração é uma espécie de pensão
De pensão familiar à beira-mar
Oh! Moreninha, não alugues tudo não
Deixe ao menos o porão pra eu morar

Por tua causa já se faz revolução
Vai haver transformação na cor da lua
Antigamente a mulata era a rainha
Desta vez, ó moreninha, a taça é tua






UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO
Compositor: João De Barro (Braguinha) e Lamartine Babo

Intérprete: Lamartine Babo

Vem moreninha
Vem tentação
Não andes assim tão sozinha
Que uma andorinha não faz verão

Dizem morena
Que teu olhar
Tem correntes de luz que faz secar
O povo anda dizendo
Que essa luz do teu olhar
A Light vai mandar cortar

Vem moreninha
Vem tentação
Não andes assim tão sozinha
Que uma andorinha não faz verão

Vem, meu amor, deixa de medo
O amor é una espécie de brinquedo
Se acaso terminar o nosso sonho
À luz do dia
Eu rasgo a mina fantasia






ISTO É LÁ COM SANTO ANTÔNIO
Compositor: Lamartine Babo
Marcha
1934

Eu pedi numa oração / Ao querido São João
Que me desse um matrimônio / São João disse que não!
São João disse que não! / Isto é lá com Santo Antônio!
Eu pedi numa oração / Ao querido São João
Que me desse um matrimônio / Matrimônio! Matrimônio!
Isto é lá com Santo Antônio!

Implorei a São João / Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio / São João ficou zangado
São João só dá cartão / Com direito a batizado
Implorei a São João / Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio / Matrimônio! Matrimônio!
Isso é lá com Santo Antônio!

São João não me atendendo / A São Pedro fui correndo
Nos portões do paraíso / Disse o velho num sorriso:
Minha gente, eu sou chaveiro! / Nunca fui casamenteiro!
São João não me atendendo / A São Pedro fui correndo
Nos portões do paraíso / Matrimônio! Matrimônio!
Isso é lá com Santo Antônio








O FIM DO FILME



 



 

O TEU CABELO NÃO NEGA

Compositores: Raul Valença, João Valença e Lamartine Babo

Marchinha
1931

Intérprete: CASTRO BARBOSA (Joaquim Silvério de Castro Barbosa, 1905/1975)

 O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega mulata
Mulata eu quero o teu amor

Tens um sabor bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata mulatinha meu amor
Fui nomeado teu tenente interventor

Quem te inventou meu pancadão
Teve uma consagração
A lua te invejando faz careta
Porque mulata tu não és deste planeta

Quando meu bem vieste à terra
Portugal declarou guerra
A concorrência então foi colossal
Vasco da Gama contra o batalhão naval






1983
Revista CÓDIGO 8
Erthos Albino de Souza [Editor]

Salvador, Bahia
 



Fotos LITA CERQUEIRA

 







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