domingo, 8 de septiembre de 2019

2019 - MAJUR / HIRAN




O GLOBO

Cultura

Música

Hiran e Majur, revelações da Bahia, cantam no Rio
Apadrinhados por Caetano Veloso, rapper e cantora mostram seus trabalhos 'Tem mana no rap' e 'Colorir'

Leonardo Lichote
19/03/2019


Hiran e Majur fazem show nesta terça na Audio Rebel
Foto: Raphael Vilela / Divulgação


RIO — Em sua última temporada na Bahia, Caetano Veloso se encantou com o rapper Hiran e a cantora (ou cantor, já que se identifica como não binário, ou seja, não se fecha num gênero específico) Majur. Em seu perfil no Instagram, o compositor postou uma foto entre os dois, com a benção na legenda: "eu recomendo". Nesta terça-feira, Hiran e Majur (agora empresariados por Paula Lavigne, mulher e empresária de Caetano) levam seus shows à Audio Rebel — ele apresenta seu álbum de estreia, "Tem mana no rap", e ela seu primeiro EP, "Colorir".

— Entre tantas coisas instigantes que vimos durante o verão na Bahia, o show de Hiran e Majur se impôs como algo que devia ser visto logo por gente do Brasil todo — diz Caetano. — Hiran é jovem rapper gay preto que conheci no trio do Baiana System no ano passado. Gostei logo. Majur apareceu neste verão. Um preto de 1,93m, incrivelmente elegante e agindo como modelo/estrela ou R&B-diva. Quando cantou, a voz causou estupefação.

“Hiran cresce no palco: a clareza da emissão, a economia entre palavras e programações. Seu refrão já é palavra-de-ordem na Bahia: 'Burrice pega mas não vai pegar em mim'. Majur, bem, Majur é voz. E certeza de si. É beleza baiana demais para eu não me abalar.”
CAETANO VELOSO
Cantor

Gay no ambiente machista do rap

Aos 23 anos, natural de Alagoinhas (interior da Bahia), Hiran é desde criança um amante do rap ("Minha mãe via comigo muita MTV, e o primeiro clipe que vi foi de Jay-Z", conta). O rapper não via no hip hop, porém, um caminho possível para ele e para as questões das quais queria tratar.

— Sou gay e sempre soube disso. Não conseguia me ver dentro do rap falando sobre meus problemas. E o rap é um ambiente tradicionalmente machista, com termos pejorativos pras minas, pras gays. Não tinha ninguém na minha cidade fazendo isso, nem no meu estado, nem no meu país. Só vi que podia depois de ver e ouvir (o rapper gay) Rico Dalasam, que foi fundamental pra todo mundo que veio depois.

Com 16 anos, Hiran começou a cantar em bares — em casa, escrevia rimas, mas as mantinha guardadas. Até que, numa pequena turnê que faria como backing vocal de uma banda por Rio, São Paulo e Espírito Santo, identificou uma oportunidade. Pegou um beat gratuito na internet, escreveu uma letra, gravou um clipe ("usando roupa da produtora da viagem") e lançou o single "Choque de bass", que chegou aos ouvidos de Tiago Simões, que depois produziu seu disco de estreia, lançado em março de 2018. Desde então, já se apresentou com artistas como BaianaSystem e Larissa Luz

— Gosto de ter meu pé no rap, mas também de levar pra outros lugares. Meu disco tem funk com flautinha e pagodão com guitarrinha baiana. Tô aberto a experimentar musicalidades dentro do hip hop.

Cantando desde os cinco anos

Majur começou ainda mais cedo. Bem mais cedo: aos 5 anos, cantava no coro da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador, e com ele se apresentou na Janelinha do Natal — tradição no Pelourinho. Chegou a estudar violino e a participar (e avançar até a etapa nacional) do festival FACE (Festival Anual da Canção Estudantil), além de cantar no coral de alunos do colégio da Polícia Militar. Mas, como Hiran, não via a música como uma possibilidade e foi estudar Design:

— No terceiro período, fui morar na Barra, bairro superboêmio de Salvador. Montei uma banda e cantei em todos os barzinhos de lá — lembra Majur, que diz que a faculdade a ajudou muito em seu trabalho de composição. — Estudei muita Semiótica, as maneiras de falar das coisas. Uso isso em minhas letras.



23/2/2019 - Caetano entre Hiran e Majur, revelações da música da Bahia
Foto Raphael Vilela

A grande virada de sua carreira veio quando teve a oportunidade de conhecer Liniker — Majur já cantava suas músicas na noite. A cantora paulista esteve em Salvador e precisava de um violão para gravar um programa de TV, ela emprestou e puderam conversar ("Peguei três ônibus, dois Uber e um metrô pra levar esse violão pra ela, cheguei em cima da hora", conta). De noite, no show de Liniker, Maju foi convidada de surpresa ao palco para esquentar a plateia e, mais surpresa ainda, para um dueto com a ídola, em "Tua".

Majur aproveitou a curiosidade gerada sobre seu nome e lançou, na sequência, um clipe e seu EP — com participação de Hiran em "Náufrago", o disco une ritmos afro, soul e eletrônica. Em pouco tempo, se aproximou de Maria Gadú, Caetano e foi convidada para os trios de Daniela Mercury e Marcio Victor (Psirico).

— Canto o amor entre pessoas, tento fugir ao máximo da relação de gêneros nas minhas músicas. Minha representatividade já tá clara no visual. Não quero restringir nas letras, minha intenção é atingir diversos públicos de diversas idades.




Apadrinhada por Caetano Veloso: conheça Majur, a nova voz da música brasileira



Baiana, negra e de gênero não binário, artista fala de representatividade, comenta o rápido crescimento de sua carreira e se emociona ao falar do apoio da mãe: 'Devo tudo a ela'

Por Juliana Hippertt, Gshow — Rio de Janeiro
21/08/2019 




Majur, nova voz da música brasileira, tem rápida ascensão em sua carreira 
Foto Lucas Nogueira


A voz, o talento e a presença de uma cantora baiana têm chamado atenção no cenário musical brasileiro. Majur é o nome dela. A artista de 1,95 m de altura, negra e identificada de gênero não binário - não se importa de se referirem a ela como menino ou menina - conheceu a música em um projeto social aos cinco anos e ali percebeu o que queria fazer para o resto da vida. Em suas composições, ela abraça a responsabilidade de representar e empoderar parcelas da sociedade que sofrem preconceito diariamente. Em pouco tempo, Majur viu sua carreira dar uma reviravolta e despontar após o destino a levar para as pessoas certas.

"Venho de uma cidade que mais mata LGBT no país e consegui alcançar o lugar onde estou por um desbravamento desde os meus cinco anos, quando comecei a estudar música. Fui uma resistente, nunca desisti e conseguir chegar até aqui é uma vitória muito grande. Mais do que isso, é ser reconhecido pelo o que você faz de melhor e com amor. Não há felicidade maior."



Majur é baiana, tem 1,95m de altura, é negra e de gênero não binário — Foto: Lucas Nogueira/Divulgação

Tudo começou com uma participação improvisada no show do seu ídolo Liniker, em agosto de 2018, que alavancou sua carreira às vésperas de lançar o seu primeiro EP "Colorir". Maria Gadú e a esposa Lua Leça curtiram a cantora, trocaram mensagens e a levaram na casa de Caetano Veloso. Pronto, Majur foi apadrinhada pelo baiano. A partir daí, a artista não parou mais. Um de seus trabalhos mais conhecidos foi a participação no single Amarelo, de Emicida, ao lado de Pabllo Vittar.


"Até hoje não consegui descrever o quão rápido foi. Não vi as coisas acontecerem, só fui exposta a Caetano por Gadú e Lua. A gente se encontrou de coração e alma.

Quando vi, já estava vindo para o Rio de Janeiro e começando a minha carreira a convite da Paula Lavigne, esposa dele [que virou sua empresária]. Ainda estou sentindo na pele. Nunca vou conseguir me acostumar, sempre vai ter aquele friozinho na barriga", revelou.


Majur ao lado do rapper Hiran e da cantora Maria Gadú
Foto: Reprodução/Instagram

Majur, Maria Bethânia e Teresa Cristina na casa de Caetano Veloso
Foto: Reprodução/Instagram

E foi através de Caetano que Majur colocou os pés pela primeira vez nos Estúdios Globo. A artista cantou no Altas Horas ao vivo, que rolou no último sábado, dia 17/8, no Rio de Janeiro. Nos bastidores, ela conversou com o Gshow sobre sua carreira e brincou que tentava manter a pose e disfarçar a alegria por estar pela primeira vez em um programa de TV.

Majur ao lado de Hiran e Caetano Veloso no 'Altas Horas'
Foto: Reprodução/Instagram

Depois de sua rápida ascensão, Majur deixou Salvador, sua cidade natal, e veio morar no Rio de Janeiro. Lá na Bahia deixou a mãe, sua fã número um e principal apoiadora. Com lágrimas de saudade - Majur está na cidade maravilhosa há quatro meses -, a cantora contou que, hoje, paga o aluguel da matriarca.

"Minha mãe me ensinou a escrever com cinco anos, catou materiais recicláveis comigo e com a minha irmã pra gente sobreviver, vendeu picolé na praia, vendeu brinco e me ensinou a ler de verdade, por isso tenho essa abertura literária para escrever música. Devo tudo a ela", disse Majur, que prometeu trazer a mãe para o Rio até o final do ano.

"Hoje pago o aluguel da minha mãe e ela está feliz, manda mensagem dizendo: 'recebo mesada do meu filho'. A gente nunca imaginou que poderia chegar nesse lugar. Sonhar é uma possibilidade que a gente tem que agarrar com força."



Majur e sua mãe, dona Luziane — Foto: Reprodução/Instagram


Representatividade

Majur usa a música para expressar a diversidade que está dentro dela. A artista acabou se tornando uma porta-voz de uma parte da população que quer ser ouvida.

"Já tenho um corpo político por ser negro e LGBT. Isso já me coloca em caixas da sociedade. Comecei a receber mensagens de pessoas dizendo o quanto estavam felizes de me ver chegando nesse lugar, porque eu chegar significa que eles também podem chegar. Representar essas pessoas é ser um privilegiado. Agora, tenho uma responsabilidade muito grande de me colocar no lugar de outras pessoas e entender o que está acontecendo para tentar ajudar da melhor forma, já que estou num lugar de visibilidade", declarou.

Antes de viver da música

Antes de conseguir viver da sua arte, Majur estudava Design na faculdade e chegou a trabalhar com telemarketing. No quarto período do curso, a cantora decidiu levar a carreira musical como sua principal atividade.

"Quando se é pobre, a única escolha que você tem é trabalhar para se sustentar. Eu tinha a música como primeira opção, porém, a minha condição me fazia acreditar que tinha que trabalhar primeiro para depois pensar no que amava, que era a música. Escolhi Design que é minha habilidade mais próxima depois da música. Estudei, fiz estágios e meu primeiro emprego foi de telemarketing."

Primeiro Álbum

O trabalho só está começando. Após lançar o primeiro EP, há seis meses, Majur promete o primeiro álbum para 2020. Na última quarta-feira, 14/8, ela lançou uma nova canção, "20ver": "Ano que vem estarei lançando um álbum, mas não posso falar muita coisa. Vai ser uma surpresinha. Sempre vou falar de uma forma plural, abrangendo todos os tipos de pessoas."



Majur pretende lançar o primeiro álbum em 2020 — Foto: Reprodução/Instagram




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