Jornal
do Commercio
John Dandurand o objeto não identificado do
tropicalismo
Ele
participou do happening na apresentação de É
proibido proibir
Publicado em 13/05/2018
Setembro/68 - John Dandurand no Tuca: objeto não identificado
Foto: Reprodução arquivo pessoal do entrevistado
|
Johnny Dandurand, Caetano Veloso, Sérgio Ricardo e Agostinho dos Santos |
JOSÉ TELES
John Dandurand, hoje com 72 anos, é um pacato pai
de família, morador, há anos, de Denver, no Estado do Colorado. Nesta rara entrevista
ao JC ele relembra sua participação em É
Proibido Proibir, e a relação com os tropicalistas 50 anos atrás.
JORNAL DO COMMERCIO – Como você conseguiu fazer tanto barulho naquela
sua participação na apresentação de É Proibido Proibir, no Tuca?
JOHN DANDURAND – Eu tinha
um microfone pequeno, coloquei parte dele na boca, então gritava e controlava o
feedback no fundo garganta. Para a plateia provavelmente aquilo soava como
berros e uivos.
JC – Você ensaiou com Caetano e os Mutantes antes daquela noite?
John – A gente
tinha gravado a canção juntos, mas minha intervenção não precisava ser ensaiada
para aquela performance lá no Tuca.
JC - Você esperava que o público reagisse daquela maneira?
John – Não tinha a
menor ideia do porquê da plateia reagir tão violentamente. Achava que o público
estava demonstrando seu amor por Caetano de uma maneira estranha, porém quando
começaram a atirar coisas na gente, comecei a temer pela nossa segurança.
JC – Como você conheceu Caetano Veloso?
John – Conheci
Caetano mais ou menos um ano antes da apresentação no Tuca, e ele me convidou
para gravar com ele, em São Paulo, a música É Proibido Proibir. Em seguida, Caetano me convidou para participar
com ele da apresentação no Tuca.
JC – Você se tornou um assunto polêmico nos jornais. Diziam que você era
alemão, que era um travesti, ninguém parecia estar entendendo nada.
John – Como lhe
disse, meu português nunca foi muito fluente, então não consegui entender a
maioria das maluquices que escreveram sobre mim. Mas nem sou alemão, nem
travesti, embora seja totalmente possível que eu tivesse sob efeito de drogas
naquela noite.
JC – Por que você veio para o Brasil?
John – Vim
com uma banda de San Francisco, The
Sound. O grupo nunca foi muito popular e acabamos nos separando. O integrantes
da banda voltaram para os Estados Unidos, porém decidi ficar porque amei o
Brasil.
JC – Você também participou do show de Caetano e Gil na Sucata, logo
depois eles seriam presos. Como foram estes shows?
John - Na Sucata
a plateia queria abraçar nós todos. Ficaram entusiasmados com as performances.
Me lembro de chegar mais perto para apertar as mãos de pessoas na plateia.
JC – E como você se sentiu, quando soube que Caetano e Gil tinham sido
presos?
John – Depois que
o DOPS prendeu Caetano e Gil (por subversão, até onde eu lembre), fiquei com
muito medo, e voltei para os Estados Unidos.
JC – Você manteve algum contato com os dois depois disto?
John – Nunca mais
vi nem Gil, nem Caetano desde então, embora Caetano tenha me aceitado,
recentemente, como amigo dele no Facebook. Gil recusou meu pedido de amizade.
Talvez ele pense que delatei ele às autoridade antes de serem presos. Não fiz
isso de maneira alguma. A embaixada americana inclusive recusou-se a me ajudar
quando a procurei e pedi ajuda. Eles achavam que eu tinha traído os Estado
Unidos por participar do evento no Tuca. Espero voltar ao Brasil e me encontrar
tanto com Caetano quanto com Gil.
JC – E como foi sua vida depois que voltou aos EUA?
John – Depois
disso eu comecei uma carreira solo, e com várias bandas, mas não consegui ser
realmente famoso. Depois me envolvi com organizações não governamentais, que
ajudam pessoas pobres, e é ainda o que faço hoje. Me sinto feliz em ver que o
tropicalismo tornou-se tão importante no mundo. Meu próprio país, com Trump,
está voltando a trilhar mesmos caminhos malignos contra os quais me rebelei na
época de Johnson e Nixon.
GILBERTO SOBRE DANDURAND
Entrevistado para esta série, Gilberto Gil
surpreendeu-se quando tomou conhecimento da declaração de John Dandurand: “Ele era um menino americano que se
aproximou de nós. Era músico, tocava compunha, teve um período de colaboração
conosco, até que veio nossa prisão, nosso exílio, e perdemos contato com ele.
Isso da CIA era uma lenda urbana. A paranoia da época, achar que todo americano
fosse da CIA. Se ele achou que eu tinha este tipo de desconfiança em relação a
ele, tá enganado. John dormia, comia lá em casa, era meu amigo, nunca tive
nenhum tipo de paranoia com ele não. Manda um abraço pra ele”.
Foto: John Abramson (Facebook) |
John Dandurand: n. 9 de junho de 1945.
The Sound: Gregg, John, David, Florence e Danny.
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