martes, 10 de septiembre de 2019

1970 - PEDRADA NO ESQUEMA







 
 







 
 


 
 









 
 
 












Jornal do Commercio

John Dandurand o objeto não identificado do tropicalismo
Ele participou do happening na apresentação de É proibido proibir

Publicado em 13/05/2018

Setembro/68 - John Dandurand no Tuca: objeto não identificado
Foto: Reprodução arquivo pessoal do entrevistado


JOSÉ TELES

John Dandurand, hoje com 72 anos, é um pacato pai de família, morador, há anos, de Denver, no Estado do Colorado. Nesta rara entrevista ao JC ele relembra sua participação em É Proibido Proibir, e a relação com os tropicalistas 50 anos atrás.

JORNAL DO COMMERCIO – Como você conseguiu fazer tanto barulho naquela sua participação na apresentação de É Proibido Proibir, no Tuca?
JOHN DANDURANDEu tinha um microfone pequeno, coloquei parte dele na boca, então gritava e controlava o feedback no fundo garganta. Para a plateia provavelmente aquilo soava como berros e uivos.

JC – Você ensaiou com Caetano e os Mutantes antes daquela noite?
JohnA gente tinha gravado a canção juntos, mas minha intervenção não precisava ser ensaiada para aquela performance lá no Tuca.

JC - Você esperava que o público reagisse daquela maneira?
John Não tinha a menor ideia do porquê da plateia reagir tão violentamente. Achava que o público estava demonstrando seu amor por Caetano de uma maneira estranha, porém quando começaram a atirar coisas na gente, comecei a temer pela nossa segurança.

JC – Como você conheceu Caetano Veloso?
John Conheci Caetano mais ou menos um ano antes da apresentação no Tuca, e ele me convidou para gravar com ele, em São Paulo, a música É Proibido Proibir. Em seguida, Caetano me convidou para participar com ele da apresentação no Tuca.

JC – Você se tornou um assunto polêmico nos jornais. Diziam que você era alemão, que era um travesti, ninguém parecia estar entendendo nada.
JohnComo lhe disse, meu português nunca foi muito fluente, então não consegui entender a maioria das maluquices que escreveram sobre mim. Mas nem sou alemão, nem travesti, embora seja totalmente possível que eu tivesse sob efeito de drogas naquela noite.

JC – Por que você veio para o Brasil?
John Vim com uma banda de San Francisco, The Sound. O grupo nunca foi muito popular e acabamos nos separando. O integrantes da banda voltaram para os Estados Unidos, porém decidi ficar porque amei o Brasil.

JC – Você também participou do show de Caetano e Gil na Sucata, logo depois eles seriam presos. Como foram estes shows?
John - Na Sucata a plateia queria abraçar nós todos. Ficaram entusiasmados com as performances. Me lembro de chegar mais perto para apertar as mãos de pessoas na plateia.

JC – E como você se sentiu, quando soube que Caetano e Gil tinham sido presos?
JohnDepois que o DOPS prendeu Caetano e Gil (por subversão, até onde eu lembre), fiquei com muito medo, e voltei para os Estados Unidos.

JC – Você manteve algum contato com os dois depois disto?
John – Nunca mais vi nem Gil, nem Caetano desde então, embora Caetano tenha me aceitado, recentemente, como amigo dele no Facebook. Gil recusou meu pedido de amizade. Talvez ele pense que delatei ele às autoridade antes de serem presos. Não fiz isso de maneira alguma. A embaixada americana inclusive recusou-se a me ajudar quando a procurei e pedi ajuda. Eles achavam que eu tinha traído os Estado Unidos por participar do evento no Tuca. Espero voltar ao Brasil e me encontrar tanto com Caetano quanto com Gil.

JC – E como foi sua vida depois que voltou aos EUA?
JohnDepois disso eu comecei uma carreira solo, e com várias bandas, mas não consegui ser realmente famoso. Depois me envolvi com organizações não governamentais, que ajudam pessoas pobres, e é ainda o que faço hoje. Me sinto feliz em ver que o tropicalismo tornou-se tão importante no mundo. Meu próprio país, com Trump, está voltando a trilhar mesmos caminhos malignos contra os quais me rebelei na época de Johnson e Nixon.

GILBERTO SOBRE DANDURAND

Entrevistado para esta série, Gilberto Gil surpreendeu-se quando tomou conhecimento da declaração de John Dandurand: “Ele era um menino americano que se aproximou de nós. Era músico, tocava compunha, teve um período de colaboração conosco, até que veio nossa prisão, nosso exílio, e perdemos contato com ele. Isso da CIA era uma lenda urbana. A paranoia da época, achar que todo americano fosse da CIA. Se ele achou que eu tinha este tipo de desconfiança em relação a ele, tá enganado. John dormia, comia lá em casa, era meu amigo, nunca tive nenhum tipo de paranoia com ele não. Manda um abraço pra ele”.



Foto: John Abramson (Facebook)







John Dandurand: n. 9 de junho de 1945.

The Sound: Gregg, John, David, Florence e Danny.











1968
Revista inTerValo
Ano VI – n° 304









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