"…
O
melhor lugar do mundo é aqui
E
agora
…”
[Gilberto
Gil, Aqui e agora, 1977]
Bem Gil, idealizador e diretor artístico-musical do
projeto em comemoração aos 40 anos de Refavela criou um show com novas leituras
das dez faixas do disco, além de canções que fizeram parte do show original,
que terá a luxuosa participação da Céu, Moreno Veloso, Maíra Freitas, além de
Gilberto Gil, acompanhados de uma banda com músicos que beberam desta fonte, o
antológico disco Refavela.
Os shows acontecerão no Rio de Janeiro dia 01 de
setembro no Circo Voador, São Paulo dias 07, 08, 09 e 10 de setembro em
unidades do Sesc, em Salvador dia 23 de setembro na Concha Acústica do TCA e em
Belo Horizonte no dia 29 de setembro no Palácio das Artes.
Música
O Gilberto Gil
da diáspora africana revive em 'Refavela 40'
Filho
do cantor lidera banda e recebe Gil, Céu, Moreno Veloso e Maíra Freitas em show
que comemora 40 anos do disco do pai
Bem
e Gil (ao centro) e a família estendida de ‘Refavela 40’: revivendo a influente
música de 1977 - Leo Martins / Agência O Globo
|
Por SILVIO ESSINGER
01/09/2017
RIO
- Em 1977, Gilberto Gil fez uma viagem a Lagos, na Nigéria, para participar do
II Festival Mundial de Artes e Cultura Negra (Festac), onde travou contato com
o afrobeat de Fela Kuti e com toda uma vibrante nova música africana. Por outro
lado, via no Rio a emergência do funk americano nos bailes de subúrbio e, em
Salvador, o fenômeno da reafricanização do Carnaval com blocos como o Ilê
Aiyê. E, paralelamente, acompanhava o êxodo de moradores de favelas para
conjuntos habitacionais bem longe do centro das cidades. Tudo isso fermentou em
sua cabeça e deu em “Refavela”, seu disco mais simbólico de uma herança
cultural da diáspora africana. Um disco que completa 40 anos com um
show-tributo, que estreia nesta sexta no Circo Voador e depois passa por São
Paulo (dias 7 a 10), Salvador (23), Belo Horizonte (29) e Porto Alegre (em
10/12).
—
“Refavela” nem soa como um disco feito há 40 anos, poderia ser do ano passado —
observa Bem, filho de Gil, guitarrista e mentor da homenagem, que montou para o
projeto uma banda com Bruno Di Lullo (baixo), Domenico Lancellotti e Thomas
Harres (bateria e percussão), Thiagô de Oliveira e Mateus Aleluia (sopros), Nara
Gil e Ana Cláudia Lomelino (vocais), mais as vozes convidadas de Maíra Freitas,
Moreno Veloso e Céu. — Esperei os 40 anos do disco para fazer esse show, que
nasceu de uma ideia do Thomas e do Thiagô. Há uns quatro anos, eles pensaram em
comemorar o Fela Day (dia 15
de outubro, aniversário de Fela Kuti) com o meu pai cantando o
“Refavela”. Não deu para fazer na época, mas fiquei com aquela ideia.
Envolvido
em shows com o Trinca de Ases (ao lado de Gal Costa e Nando Reis), a
finalização de um disco de inéditas (produzido por Bem) e ideias novas de
reviver nos palcos o lado mais rock do sua produção, Gilberto Gil não
participou diretamente da criação do “Refavela 40”. Ele faz a sua parte
cantando as músicas do disco que resistiram em seu repertório dos shows:
“Refavela” e “Babá Alapalá” (“a primeira vez em que eu me aventurei pela
pletora das entidades africanas”, conta). Em “Refavela 40”, Gil é um convidado
muito especial de sua família estendida, onde estão filhos de fato (Bem e
Nara), um filho adotivo(Moreno)
e uma nora (Ana), além de velhos e novos amigos.
—
O “Refavela” se inseria num território específico que é o da música negra, num
momento em que ela se tornava planetária, com as influências do jazz, da música
cubana, dos sambas e dos batuques brasileiros e da música africana que pela
primeira vez chegava ao mundo com Fela Kuti, King Sunny Adé e da ju ju music —
explana Gil, para quem havia ali “tendências muito nítidas, e muitas delas com
a perspectiva da irreversibilidade”. — Eu estava agora na Croácia e nos vários
lugares ouvia música. E era predominantemente batuque negro. Com as
conformações eletrônicas dos DJs, mas tudo batuque.
Segundo
Bem, “Refavela 40” parte do disco do seu pai para ir “a todos os lugares
possíveis”:
—
O LP tem dez faixas, aí eu resolvi recolher coisas que fazem parte daquela
época: músicas que estavam no show do “Refavela”; o “Bicho”, que é um
disco-irmão (Caetano Veloso
o gravou logo depois de voltar da viagem a Nigéria com Gil); e
“Exodus” (álbum de 1977 de Bob Marley), uma vez que “Norte da saudade” e
“Sandra” (faixas de
“Refavela”), são os primeiros reggaes na obra do meu pai.
Quando
convidado por Bem, Moreno Veloso sabia exatamente o que cantar. E não era nem o
“Two Naira Fifty Kobo”, reggae do disco do pai, Caetano, incluído no show.
—
O “Refavela” tem uma das músicas de amor mais bonitas que eu conheço, “Sandra”,
que foi feita para para a minha tia (Sandra Gadelha, então mulher de Gil), irmã da minha
mãe (Dedé Gadelha).
Canto essa feliz da vida — conta Moreno, que também presta serviços de
percussionista em “Refavela 40”. — Soldado no quartel tá querendo trabalhar. E
o “Refavela” é um disco em que a percussão é muito bem-vinda, tô lá pra
engrossar o caldo.
Além
do show, o projeto “Refavela 40” chega com um volume da coleção “O Livro do
disco”, da editora Cobogó, dedicado ao LP de 1977 (assinado por Maurício Barros
de Castro) e a reedição em vinil do disco. Até o fim do mês, será lançada como
single nas plataformas digitais uma nova versão de “É”, faixa que Gil chegou a gravar
para o “Refavela”, mas deixou de fora por não considerou satisfatória:
—
Aquela versão para o disco era muito Mutantes, essa de agora passa pelas outras
versões do rock no Brasil.
Céu,
que mata a perene vontade de cantar com o ídolo Gil, diz se se sentir em casa
em “Refavela”:
—
Eu dei muita sorte, porque o Bem escolheu as que queria cantar, “O norte da
saudade”, “Gaivota” e “Nova era”. São aquelas mais downtempo, que eu
amo. E vamos fazer uma versão do Marley, o “Jamming”.
Já
para Maíra Freitas, filha de Martinho da Vila e novata no campo de Gil, o
“Refavela” é “presente, passado e futuro, tudo ao mesmo tempo”: — Eu canto “Ilê
Ayê”, “Samba do avião” e “Two Naira Fifty Kobo”. Estou aqui mais curtindo o som
que outra coisa.
1977 - Nigeria |
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