A segunda apresentação em Nova Iorque, nos dias 24 e 25 de setembro.
A primeira, -show "Uns"- foi no Public Theater em julho de 1983.
Na agenda, a gravação de un disco destinado ao mercado americano.
Show "Velô" - Foto: Claudia Thompson |
FOLHA DE S.PAULO
ILUSTRADA – Quinta-feira, 26
de setembro de 1985.
Coluna Ruy Castro
Caetano en NY
Não
é verdade que o show de Caetano Veloso, terça-feira no Carnegie Hall, em Nova
York, tenha sido cancelado por falta de público, como foi noticiado ontem por
uma coluna carioca.
A
pesar dos esforços de Guilherme Araújo, o espetáculo não aconteceu por pura
desorganização dos agentes americanos. Mesmo porque, com Sarney sobrevoando a
cidade, não faltariam brasileiros para prestigiá-lo, mesmo à exorbitante
quantia de 27 dólares por cabeça.
O
show de Caetano, ontem, no mesmo local, foi mantido.
1985 - Foto: Joel Meyerowitz |
O DISCO AMERICANO
DO CAETANO
Por
Fabio Gomes
Caetano
Veloso não tinha como saber, mas os versos com que abriu seu disco americano
(Caetano Veloso, Nonesuch, 1986) de certa forma previam o que aconteceria com a
gravação: ficou escondida longe, muito longe do público brasileiro, que só pôde
conhecê-la quando a PolyGram (hoje Universal) se dignou a lançá-la aqui, em
novembro de 1990.
Este
disco foi gravado em dois dias, direto, sem playback nem nada, numa sala
alugada especialmente, depois de uma apresentação em Nova York que Caetano considerou
péssima mas arrancou elogios dos críticos americanos. Apesar da rapidez, é um
bom disco. O baiano selecionou um repertório de composições suas que vão do
começo da carreira (“Coração Vagabundo”, uma das melhores faixas, é de 1967) a
canções do seu LP anterior de estúdio, Velô (1984) (“O Homem Velho” e “Pulsar”,
esta uma parceria com o poeta Augusto de Campos). Aliás, em “Pulsar” Caetano
não tocou violão, o único acompanhamento é o bater de um sino, além da
participação do guitarrista Toni Costa fazendo eco em uma palavra (justamente
“eco”!). Há alguma percussão em várias canções, mas sempre discretamente. Mais
discreto ainda, é possível detectar um teclado em “Nega Maluca” (Fernando Lobo
– Ewaldo Rui)/“Billie Jean” (Michael Jackson)/“Eleanor Rigby” (John Lennon –
Paul McCartney).
Aliás,
a propósito do medley (tá assim no encarte!), ressalte-se a versatilidade do
repertório de Caetano, pois em três LPs lançados em 1986 – este nos EUA,
Totalmente Demais (PolyGram) e Melhores Momentos de Chico e Caetano (Som
Livre), ambos ao vivo, só uma faixa se repete: justamente esta colagem, embora
no disco do programa Chico e Caetano não estivesse presente “Eleanor Rigby”
(John Lennon – Paul McCartney).
É
louvável a preocupação que Caetano teve, variando o estilo de acompanhamento ao
violão ao longo do disco. Também lançou mão de alguns recursos vocais, como o
assobio na excelente “Trilhos Urbanos” e a bocca chiusa em “O Homem Velho” e
“Odara”. Já em “Terra”, os malabarismos no começo da faixa, antes de começar a tocar,
deixaram a desejar, num dia em que ele não interpretou bem esta que é uma de
suas mais belas criações. Outro momento não muito feliz é “Eu Sei que Vou te
Amar” (Tom Jobim – Vinicius de Moraes), com leve citação de “Dindi” (Tom Jobim
– Aloysio de Oliveira) - a voz de Caetano está irregular, em geral não
alcançando o tom nesse clássico da bossa nova.
A
bossa nova, aliás, está presente em um dos grandes momentos do disco: “Get Out
of Town” (Cole Porter), a única inédita do LP, é feita numa levada de bossa
muito boa, com respeitável solo de violão.
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