jueves, 18 de mayo de 2017

2017 - CAETANO - uma biografia [2]



“Se a obra não polemiza, ela também não é chapa branca”
[Manoel Lauand]






iG / Lu Lacerda
 
“Caetano – Uma biografia”: mesmo não autorizada a livraria ficou cheia
04/05/2017 

Marcio Nolasco e Carlos Eduardo Drummond: autores lançam biografia sobre Caetano Veloso, que não apreciou o texto, mas encheu a livraria / Foto: Daniel Delmiro

Depois de 11 anos engavetado, o livro “Caetano – Uma biografia“, de Carlos Eduardo Drummond e Márcio Nolasco, foi lançado nessa quarta-feira (03/05), na livraria da Travessa do Shopping Leblon. O cantor preferiu não se envolver com o projeto, por isso a biografia sai com o status de “não autorizada”, mas o próprio escritório, que tem à frente a mulher do artista, Paula Lavigne, permitiu o uso de fotos, como a da capa.

Os autores se dedicaram de 1997 a 2004, com pesquisas e histórias que vão a partir da infância. Quando Caetano leu o texto, não apreciou pelo uso repetitivo de chavões, mas “ele não quer fazer propaganda contra”, segundo Paula. A livraria encheu para conhecer o novo trabalho sobre o rei da Tropicália.



3/5/2017 - Rio de Janeiro


13/5/2017 - São Paulo, os autores com Manoel Lauand e Luciana Frateschi




O GLOBO
Coluna
Parada Obrigatória
Christovam de Chevalier
13/4/2017
Um personagem superbacana
Biografia de Caetano Veloso vai fundo na história da família do cantor e sua infância na Bahia. ‘Livro não é chapa branca’, garante editor 

Sai em maio a biografia de Caetano Veloso, escrita por Carlos Eduardo Drummond e por Marcio Nolasco. As pesquisas para “Caetano — Uma biografia” (Seoman) começaram em 2004, e o resultado é rico em informações sobre a história dos Veloso e a infância do artista. Mãe do cantor, Dona Canô, que morreu em 2012, foi uma das fontes ouvidas em Santo Amaro da Purificação, cidade natal de Caetano, onde também foram entrevistados ex-colegas de colégio do compositor. “Se a obra não polemiza, ela também não é chapa branca”, analisa o editor Manoel Lauand. 

E TEM MAIS...

Mesmo sem conhecer o resultado do livro (o cantor só receberá seu exemplar nos próximos dias), Caetano autorizou o uso de sua imagem na capa (foto), em clique de Thereza Eugênia, e nas do miolo. O artista pediu somente para saber em quais contextos as imagens estariam inseridas e, para tanto, teve acesso a resumos dos capítulos. O lançamento no Rio é dia 3 de maio na Travessa do Shopping Leblon.
 




Correio Braziliense

7/5/2017



Biografia de Caetano Veloso detalha a trajetória de um astro da MPB


Livro 'Caetano - Uma biografia', de Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, impressiona pelos detalhes

Irlam Rocha Lima 


Obra demorou 20 anos para ter a publicação autorizada - Phono 73 (Foto: Thereza Eugênia)

O que mais impressiona em Caetano — Uma biografia, escrita por Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, é a riqueza de detalhes sobre a vida e a carreira artística de um dos nomes mais icônicos da cultura brasileira. A aprofundada pesquisa, feita pelos dois, os levou a entrevistar mais de 100 pessoas ligadas direta ou indiretamente ao cantor e compositor baiano, em diferentes cidades brasileiras — de Santo Amaro da Purificação, terra natal, ao Rio de Janeiro, que o acolheu nos anos 1970.


Do processo de criação, iniciado em 1997, até o lançamento recente pelo selo Seoman, do Grupo Editorial Pensamento, passaram-se duas décadas. 

Explica-se: quando ficou pronta, há 14 anos, não houve a autorização para que ela chegasse às lojas. A possibilidade para que isso ocorresse surgiu com a decisão do Supremo Tribunal Federal, em 2015, ao derrubar a questão da defesa de autorização prévia para a publicação de biografias. Mesmo assim, a obra saiu como biografia não autorizada — “mas não desautorizada”, segundo os autores. Aliás, Caetano e Paula Lavigne, mulher e empresária do artista, consentiram o uso das fotos, como a da capa.


Na biografia, que traz como subtítulo A vida de Caetano Veloso, o mais doce bárbaro dos trópicos, Drummond e Nolasco não se propõem a fazer análise do legado do tropicalista. A competência de ambos aflora na descrição, ao contar, com minúcias, as histórias — algumas, pouco ou nada conhecidas — desse rico personagem.


É perceptível o rigor que eles se impuseram ao transpor para o livro a trajetória artística de Caetano, desde quando, ainda criança, subiu ao palco pela primeira vez, abrindo um show do então ídolo seresteiro Sílvio Caldas, no Cine Teatro Subaé, em Santo Amaro; até a participação na cerimônia de entrega do Oscar, em 2003. A convite do ator Gael García Bernal, cantou os versos iniciais de Burn it blue (Eliot Goldenthal), canção da trilha sonora do filme Frida, de Julia Taymor.


Personagens que povoam o universo do artista também estão presentes. Dos pais, Zezinho e Canô, e a irmã — também famosa — Maria Bethânia a cineastas como Federico Fellini, Ingmar Bergman, Pedro Almodóvar e Glauber Rocha; passando por companheiros da Tropicália, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e José Carlos Capinam. São lembrados ainda os emblemáticos festivais da TV Record; e a prisão e o consequente exílio, determinados pela ditadura militar.


A biografia vai até 2003. O que ocorreu depois é relatado, de forma sucinta, no posfácio. Com esse adendo, os autores buscam deixar claro que, “no decorrer do novo milênio, a obra de Caetano Veloso continua em progresso”.


Como surgiu a ideia da biografia?

Carlos Eduardo Drummond: a paixão em comum pela arte despertou o desejo de realizar um projeto em conjunto que nos desse orgulho de fazer. Naquele tempo, ousamos ao sonhar escrever a história de um ícone da cultura nacional, que ainda não possuía um livro abrangente sobre sua vida e carreira. Pensamos em alguns nomes e, no fim, chegamos a Caetano Veloso.

Vocês, antes de se aterem ao livro, acompanhavam a carreira do Caetano?

Márcio Nolasco: sim, mas apenas como admiradores de música em geral. Naquele momento, não tínhamos a real dimensão do alcance desse artista multifacetado, de vanguarda, e, até hoje, em profunda sintonia com a linha evolutiva da música popular brasileira.

Para escrevê-lo, foram movidos pela admiração pela obra do artista?

Carlos Eduardo Drummond: gostávamos das músicas dele, mas longe de sermos fãs incondicionais, tietes, etc. Acreditamos que essa característica permitiu o grau de distanciamento suficiente para não escorregar em uma idolatria desnecessária.

Efetivamente, a partir de quando passaram a trabalhar em cima desse projeto?

Carlos Eduardo Drummond: tudo começou em 1997.

Quais foram os passos iniciais?

Márcio Nolasco: definido que escreveríamos sobre Caetano, a minha mãe (dona Ana Marlene) foi fundamental, pois estudou na adolescência com Rodrigo Velloso, irmão do personagem. A amizade entre eles propiciou que iniciássemos os contatos para que o projeto tomasse forma. Assim, conseguimos entrevistar familiares e amigos, bem como ter acesso a todo o acervo oficial do artista, sob a guarda da fotógrafa baiana Maria Sampaio. Além disso, contamos também com a ajuda de outro grande nome da música brasileira, Roberto Menescal, com quem fizemos a primeira das entrevistas dos artistas, o que nos abriu portas para vários dos nomes com quem conversamos.

Impressiona a profundidade da pesquisa feita por vocês. Têm noção de quantas pessoas ligadas — direta ou indiretamente — ao Caetano serviram de fontes para esse trabalho?

Márcio Nolasco: entrevistamos mais de 100 pessoas com algum tipo de ligação. Também tivemos a colaboração de várias outras, como diretoras de instituições em que ele estudou, agentes que nos ajudaram a encontrar artistas, pessoas que nos forneceram documentação, telefones, endereços, apenas para citar alguns exemplos.

Que tipo de dificuldades enfrentaram no processo de apuração?

Carlos Eduardo Drummond: realizar um projeto como esse não é tarefa simples. Não tínhamos noção do quão complicado seria quando começamos. E olha que tivemos manifestações de que algo desse gênero em um país como o nosso seria impossível. Passamos por inúmeras dificuldades, mas todas ajudaram em muito para ganharmos experiência com o processo. Teve desde carro quebrado em Santo Amaro até pessoas que se negaram a falar conosco. Justiça seja feita, esses casos foram poucos e raros. Dividíamos o tempo de pesquisa com as nossas outras atividades profissionais e o resultado foram incontáveis fins de semana trabalhando no interior de bibliotecas e arquivos. E também viajamos com recursos próprios. De tão complexa, a história de vida do Caetano exigiu de nós uma pesquisa que, em dado momento, nos pareceu não ter fim.

Houve algo que quiseram saber, que ficou sem resposta?

Márcio Nolasco: a visão e a opinião das pessoas que não conseguimos entrevistar. Certamente, essas pessoas teriam muito a acrescentar à obra. Mas, de um modo geral, o que tínhamos em mente como meta em termos de abrangência foi concretizado. E, como optamos por realizar uma biografia descritiva e não analítica, procuramos abordar todas as principais passagens relevantes para a formação de Caetano, seja como pessoa ou como artista. Uma vez que a vida dele é riquíssima em episódios e interpretações, uma só biografia não é suficiente. Esperamos que agora se inicie uma nova era, que outras obras sejam lançadas e a nossa possa contribuir como fonte.

Algum aspecto da vida e da trajetória artística  tropicalista deixou de ser abordado?

Carlos Eduardo Drummond: procuramos fazer do modo mais completo possível, detalhando “onde”, “quando” e “como” os fatos aconteceram, sem nos apegar mos a análises críticas da obra e da postura do artista. Para alguém que está em plena produção no alto de seus quase 75 anos, vale dizer que, se abordássemos analiticamente cada canção, cada disco, cada gesto do artista, acabaríamos por gerar um livro que, de tão extenso, traria dificuldades até para sua manipulação.

O Verdade Tropical, livro escrito pelo Caetano, foi usado como fonte?

Márcio Nolasco: verdade tropical foi tão importante que, bem no início, chegamos a pensar em dar ao nosso o título de Outras verdades. Já que poderia soar pretensioso, como uma possível continuação do livro dele, que, aliás, ele já indicou ter intenção de fazer, buscamos outras opções até chegarmos ao título definitivo.

Incomodam os reparos feitos à obra por Caetano, Paula Lavigne e colegas da imprensa?

Márcio Nolasco: de forma alguma. Vivemos em uma democracia. O debate é natural, mesmo que muitas vezes polarizados em discussões quentes. Até quando há algum toque preconceituoso ou que transmita um gosto particular de determinado crítico, que gostaria de ver mais disso ou daquilo, ou gostaria que fôssemos mais específicos numa passagem, tudo isso tem de ser tomado como crescimento. Temos o nosso estilo e fomos fiéis a isso.




Caetano – Uma biografia (A vida de Caetano Veloso, o mais doce bárbaro dos trópicos)

De Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco. 
Lançamento da Editora Seoman. 
Preço: 59,90.





9/5/2017

Glamurama entrega foto inédita de Caetano cantando aos 18 anos

[Joyce Pascowitch]
Foto exclusiva mostra Caetano cantando em uma rádio em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, em julho de 1960 e a capa do livro “Caetano, uma biografia” || Créditos: Divulgação
 
Vinte anos depois de começar a pesquisa em Santo Amaro da Purificação, onde Caetano nasceu, saiu do forno o livro “Caetano, uma Biografia”, de Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco. Foi lá que eles entrevistaram a mãe, os irmãos, os primos, os amigos de infância e os professores do músico. Depois, colegas da escola, da faculdade e de profissão. Anônimos, famosos, celebridades, todos foram ouvidos com o mesmo cuidado e no total 103 pessoas servem de fontes para o livro que conta com 150 entrevistas.



Glamurama recebeu com exclusividade uma foto que deveria não só estar na publicação, como teria grandes chances de ser a foto de capa, mas, como chegou em cima da hora, infelizmente não pôde entrar. Trata-se de um retrato inédito de Caetano cantando na inauguração de uma rádio em Santo Amaro da Purificação, datada de julho de 1960 – quando ele tinha apenas 18 anos –, tirada por um fotógrafo não identificado. A imagem veio do acervo das primas Mariinha e Margarida e, na dedicatória à prima Mariinha, Caetano começa com a seguinte frase: Minha Inha, Eis uma foto do seu filho “cantor” (…)



O livro conta a origem de uma infinidade de canções e os bastidores das suas gravações, mas também fala da relação de Caetano com o cinema, com as artes plásticas, com o teatro e com a literatura. Aborda ainda as críticas, as polêmicas, as musas, os amores, os casamentos, os filhos e as grandes turnês internacionais. Vale lembrar que “Caetano, Uma Biografia”, é o primeiro livro biográfico não autorizado a ser publicado após alterações na Lei de Direitos Autorais e abrange a história completa do artista, passando por suas diferentes fases.



Aos fãs e curiosos, um booktour do livro com noite de autógrafos será armado em São Paulo. Tudo acontece neste sábado, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, a partir das 16h, com direito a pocket show da cantora Gil em “Tributo a Caetano”. O lançamento acontece também em Salvador, nesta quarta-feira, no Salvador Shopping.


 




ENTREVISTA COM O AUTOR
Editora lança biografia que Caetano Veloso vetou
Publicada:10/05/2017 16:20:00
Gustavo Gobbi, Redação/RedeTV!




Sabe-se que o processo de escrita de um livro, qualquer que seja o livro, nunca é simples. Passada a fase inicial, abre-se um universo de possibilidades com revisões, novas pesquisas e até mesmo opiniões de outros avaliadores. Dito isso, até mesmo o lento processo da escrita parece curioso se aplicado a "Caetano - Uma Biografia: A Vida de Caetano Veloso, o Mais Doce Bárbaro dos Trópicos", de autoria de Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, lançado no início de maio pelo selo Seoman.


O livro não se provou uma 'luta' apenas para ser escrito - foram anos de pesquisas reunindo periódicos, livros, ensaios e entrevistas com mais de 100 pessoas -, mas também para ser lançado. Caetano barrou sua publicação e a obra só chegou ao mercado após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), quem em 2015 liberou o lançamento de biografias sem a necessidade de autorização dos biografados.


Para entender melhor o processo de pesquisa e produção de um material tão extenso a respeito de um dos artistas brasileiros mais importantes da história, o RedeTV Geek conversou com Carlos Eduardo Drummond, que falou sobre método, como o livro mudou aos longo dos anos e o impacto de Caetano na vida de dois homens que passaram tantos anos debruçados sobre a história do artista.


"Caetano" surgiu em 1997, do desejo dos autores em fazer "uma biografia de um grande músico da MPB que ainda não tivesse sido explorado". "Conhecíamos o Caetano, mas não profundamente. Tínhamos uma admiração, mas não éramos tietes", explica Drummond. A dupla optou por uma metodologia semelhante à usada por Ruy Castro e Fernando Morais em trabalhos como "Garrincha - A Estrela Solitária" e "Chatô - O Rei do Brasil".

"Foram seis anos de pesquisa de campo, coleta de periódicos e levantamento de bibliografias. A partir daí, iniciamos a fase das entrevistas - ao todo, 103 entrevistados -, toda baseada no alicerce desse estudo feito anteriormente." Uma palestra de Castro, no ano em que deram início ao trabalho, ajudou a clarear a metodologia a ser seguida: "Todo mundo sabe que o Caetano é um artista multifacetado, é um cara que atira para todo o lado. Com isso, se nós fôssemos conversar com todas as pessoas que conviveram com ele, que foram testemunhas, esse livro ia demorar 50 anos para ficar pronto. 

Elencamos cada fase de sua vida e colocamos peso igual em todas as fases, aí começamos a identificar essas pessoas."


Geraldo Vandré, notório recluso, por exemplo, custou a ser encontrado. Ele e Caetano possuem uma história conturbada: de acordo com relato do segundo no livro "Verdade Tropical", Vandré teria brigado com o baiano e com Gal Costa por conta da música "Baby". Vandré, em entrevista de 2000, ainda com o espírito polêmico intacto, disse que continua achando a música "uma mer**". Drummond descobriu um restaurante em São Paulo onde a presença de Vandré constante. Fez amizade com o garçom do local e foi atendido pelo cantor de "Para Dizer Que Não Falei das Flores" após duas outras tentativas frustadas de trazê-lo ao telefone. "Foi um diálogo um pouco surreal, ele me passou o celular de uma secretária e ainda se passou mais um ano e meio desde aquele contato para a gente fazer a entrevista. Em termos de conteúdo, ela [a entrevista] foi uma 'porcaria', mas valeu a pena por ter um diálogo com ele."


Houveram encontros memoráveis também com Jorge Mautner, que resultou em um incidente com um gato particularmente 'genioso' do músico, Maria Bethânia e Jards Macalé.


É dessa diferença de vozes que surge a personalidade de Caetano e aponta um caminho para sua vida. "No início, não conhecíamos ele profundamente. Uns poucos anos antes de iniciar a pesquisa, aos 21 anos, me assustei ao descobrir que Bethânia era irmã de Caetano. Depois de mergulhar na história dele, passei a admirá-lo principalmente por um Caetano que se desdobra em mais de uma pessoa. Ele é um artista que não tem preconceitos com relação à arte. Ele tem uma interlocução constante, com isso ele se enriqueze constantemente. Nesse sentido, ele leva vantagem com relação a outros artistas; um cara que fica focado em um único ritmo e não se mantém aberto a novas experiências, ele vai perder a oportunidade de se enriquecer culturalmente. Nesse sentido o Caetano nunca parou, ele tá sempre se reinventando. Ele é realmente a síntese da antroprofagia", explica Drummond.


No livro "Verdade Tropical", lançado por Caetano e que funciona como uma tentativa de explicar o movimento da Tropicália, que mexeu com o ambiente cultural do Brasil entre 1967 e 1968, anos em que obteve enorme força. O coletivo de artistas, entre eles Caetano, Gil, Mutantes, o maestro Rogério Duprat, buscou inserir elementos da música mundial na linguagem da MPB, numa tentativa de 'universalizá-la'.


O processo de pesquisa extenso permitiu, como já falamos, uma reavaliação da obra do artista sob os olhos de seus biógrafos, mas o que da carreira plural de Caetano surpreendeu Drummond? "O Caetano como artista plástico é extremamente interessante. Me surpreenderam suas habilidades. O livro apresenta um autorretrato feito por ele entre 1960/1961 que é muito bonito. 


Página 1: Autorretrato de Caetano Veloso feito em aquarela, no início dos anos 1960. Imagem cedida aos autores por Fernando Barros

No final, temos uma outra pintura excelente dele. Acho que Caetano poderia seguir muito bem o campo das artes plásticas. E também poderia ser um cara ligada ao cinema, um cineasta, como se provou com produções como 'O Cinema Falado'". A produção de 1986, única vez que Caetano dirigiu um filme, mescla experimentalismo e documentário com uma narrativa focada na palavra: prosa, poesia, filosofia e outras maneiras diversas da escrita.


No campo musical, Drummond elenca a fase com a A Outra Banda da Terra, que rendeu discos como "Bicho" e "Cinema Tropical" [nota do Blog: Cinema Transcendental], como a que mais lhe agrada. "Eles [a banda] incentivavam Caetano musicalmente. Ele sempre gostou muito musicalmente de Gil, Jorge Ben, e a A Outra Banda da Terra deixava ele muito à vontade. É uma produção muito intensa, variada, ensolarada, e curiosamente a partir desse período ele começou a vender mais discos."

Segundo consta, Caetano vetou o livro pois julgou texto de baixo valor literário. Chegou a convocar a ajuda do poeta Eucanaã Ferraz para auxiliar na produção, mas o escritor preferiu não se intrometer. Decidiu-se, então, pelo veto.


Passado tanto tempo de pesquisa e de trabalho, o trabalho não ia ser publicado se, em 2015, o STF não tivesse resolvido julgar a legalidade de biografias não autorizadas. A decisão pela autorização das publicações agradou Drummond: "Estávamos acompanhando o debate, especialmente para ouvir todos os lados. É importante pois, quando aconteceu a situação em 2004 [o veto de Caetano], não havia nenhum debate sobre o direito a liberdade de expressão e o direito de intimidade e privacidade. Isso me permitiu formar uma opinião sobre o assunto, ouvi todos os lados e nutria uma esperança de que houvesse uma mudança de lei no país. Não podia ser diferente. Se continuássemos do jeito que estávamos, a memória do país ia ficar nas gavetas, o livro jamais sairia sem isso."


Concluída uma empreitada que durou 20 anos, Drummond diz que tem "algumas coisas na cabeça", mas que ainda não fez planos mais específicos para o futuro. "Tenho muita resistência a me lançar a um projeto semelhante a esse, uma biografia de pessoa viva, por exemplo. Você percebe que passamos 20 anos nela. Se eu precisar desse tempo todo para escrever um livro, é algo que se torna inviável.  Tenho uma ideia específica de um livro, que eu nem sei se vou fazer com o Marcio, mas também devo seguir com projetos."









 Doce bárbaro

Biografia ilumina a trajetória rica e complexa de Caetano Veloso
Livro reúne mais de cem entrevistados destaca passagens como o protagonismo do artistas no Tropicalismo e a temporada no exílio
Por: Marcelo Perrone


19/06/2017

Foto: Thereza Eugênia / Divulgação 

Aos 74 anos — completa 75 em 7 de agosto — e em plena forma física e artística, Caetano Veloso é personagem onipresente na vida cultural do Brasil e figura pública que vira notícia até mesmo por banalidades como a folclórica estacionada de carro no Leblon. A dimensão artística de Caetano e sua inter-relação com nomes, movimentos estéticos e episódios históricos tão relevantes quanto ele já foram iluminadas em diferentes publicações, inclusive na autobiografía Verdade Tropical, que lançou em 1997. Nesta mesma época, Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco deram início a um projeto de pesquisa ambicioso, que somente 20 anos depois conseguiram apresentar: Caetano, Uma Biografia: A Vida do Mais Doce Bárbaro dos Trópicos passa em revista vida e obra do cantor e compositor baiano ao longo de 544 páginas. Sua publicação é resultado da decisão do Supremo Tribunal Federal, em 2015, que derrubou a restrição que condicionava trabalhos biográficos à autorização dos biografados ou seus familiares.

Drummond e Nolasco, ambos cariocas, investiram em um trabalho de fôlego. Costuram na narrativa depoimentos de 103 entrevistados, incluindo a mãe do artista, Dona Canô (1907 — 2012), irmãos e amigos que cresceram com Caetano em Santo Amaro da Purificação, além de músicos e produtores que trabalharam com ele.
A reconstituição da juventude de Caetano no interior da Bahia apresenta o menino franzino que se apaixonou cedo pelas grandes vozes do rádio (Vicente Celestino, Noel Rosa e Nelson Gonçalves, entre outros cantores que animavam o casarão da família), enfurnava-se no cinema para ver clássicos italianos, em especial os de Federico Fellini, e precocemente mostrou interesse por poesia e filosofia.
Esse resgate memorialístico, segundo relatam Drummond e Nolasco, emocionou Caetano quando este teve acesso a um rascunho do material, nos anos 2000, e escreveu uma carta reconhecendo a pesquisa e dando aval a sua continuação. Mas o artista nunca deu a autorização formal exigida pelas editoras receosas de futuros processos. O projeto foi engavetado em 2004 e acabou salvo pela resolução do STF 11 anos depois — Caetano, aliás, integra o Procure Saber, movimento de artistas que defende a restrição a publicações de biografias não autorizadas.
Mas não há nada, na biografia, com que Caetano possa se incomodar. O tom é o da celebração a um artista inquieto, multifacetado, transgressor e por vezes polêmico. Episódios da vida privada, como seus relacionamentos amorosos (envolveu-se com sua mulher e empresária, Paula Lavigne, quando tinha 40 anos e ela, apenas 13), já são bem conhecidos. O que teria incomodado Caetano diz respeito à "baixa qualidade literária" do projeto, conforme Paula Lavigne declarou com a chegada da publicação às livrarias. Em entrevista a ZH (veja baixo), Drummond explica que a opinião de Caetano é referente a um esboço do livro que recebeu em 2003:
— Alguns jornalistas abordaram o tema sem apurar com rigor esse fato.
Para leitores mais exigentes da forma aliada ao conteúdo, pode ser mesmo um entrave o passeio por tão aprofundada pesquisa em meio ao tom por vezes laudatório e aos clichês narrativos, que vão de trocadilhos ingênuos com títulos de canções a expressões como "gostinho de quero mais" (usada duas vezes no intervalo de quatro páginas).
Vencido esse quesito, o trabalho mostra-se robusto na reconstituição de momentos emblemáticos do caminho trilhado por Caetano: o primeiro show, aos 12 anos abrindo uma apresentação de Silvio Caldas em Santo Amaro (aos oito já havia cantado na rádio local); o desbunde com o conterrâneo João Gilberto e a bossa nova; a efervescência cultural de Salvador vivida com Glauber Rocha, Torquato Neto e Wally Salomão — e, logo mais, com Gil, Gal e Tom Zé; a ida para o Rio (em 1965, acompanhando Bethânia quando a irmã foi convidada para cantar no espetáculo Opinião); as primeiras gravações, o processo de criação e os bastidores de seus discos mais emblemáticos.


Foto: Thereza Eugênia / Divulgação

O protagonismo de Caetano à frente do Tropicalismo e a temporada do exílio em Londres são também ricamente detalhados, inclusive destacando figuras como Jorge Mautner, guru intelectual da turma de expatriados e artista múltiplo e visionário com suas incursões pela literatura, música, cinema e ciências diversas. São interessantes também as notas de rodapé que indicam a inspiração de Caetano para muitas de suas canções mais conhecidas.

— Não éramos fãs de Caetano — diz Drummond. — Sabíamos da importância de sua obra, mas não de forma aprofundada. O primeiro personagem que pensamos biografar foi Roberto Carlos. Caetano veio como segunda opção. Cada nova entrevista nos trazia histórias e detalhes que nos surpreendiam. Conhecer também a origem de uma infinidade de canções mudou nossa visão e percepção sobre o repertório dele. Mas as surpresas não se resumem a Caetano. No livro há muitas histórias inéditas de Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil e tantos outros. Nesse sentido, são várias biografias dentro da biografia.

Entrevista Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, biógrafos de Caetano Veloso


● Biografar alguém com trajetória que parece ainda distante de um ponto final representou um desafio a mais na empreitada? Está nos planos uma futura atualização do livro?
Drummond — Isso foi um grande desafio. O Caetano sempre produziu muito, em diferentes áreas artísticas. Mapear essa quantidade monumental de informações, ano a ano, se mostrou uma tarefa hercúlea. Esse é também um dos traços de Caetano que o tornavam um personagem muito complexo de biografar. Muitas vezes nos perguntamos: por que ninguém escreveu uma grande biografia dele até hoje? Quantos pesquisadores e jornalistas desejaram se lançar nessa empreitada? No fundo, tínhamos consciência de que tomamos uma decisão corajosa, por todas as dificuldades envolvidas no projeto. E sobre os planos futuros, claro, toda biografia de personagem vivo está sujeita a uma atualização em algum momento. Isso é inerente a esse tipo de livro. No momento adequado, faremos essa atualização.
Nolasco  — O Brasil, apesar de ser uma jovem democracia, ou até mesmo por isso, fez questão de se manter na penumbra cultural ao não permitir a produção regular de livros sobre seus ícones ainda vivos. A censura prévia vigente antes da nova interpretação dos artigos 20 e 21 do Código Civil não favorecia que tivéssemos esse modelo. Temos poucos e valorosos exemplos de autores nessa linha. Se Lance Armstrong, um desportista contestável, possui mais de 30 livros publicados no Exterior, com diversos tipos de abordagem à sua vida e carreira, estranho é que alguém como Caetano, Gil, Chico, apenas para citar alguns poucos nomes dentre outros personagens dignos de reconhecimento, não possuam obras nesse sentido. Num período especialmente importante, onde a desilusão política, social, econômica nos leva a repensar o país como nação, que possamos cada vez mais trazer à luz acontecimentos importantes para nossa constituição como povo. Que seja apenas o primeiro passo em um caminho consciente rumo à liberdade de fato. Que as trevas fiquem para trás e muitas outras obras que prezem pela seriedade, honestidade e profissionalismo possam ganhar vida.

● O livro é muito rico na reconstituição da infância e juventude do Caetano em Santa Amaro. Como se deu esse trabalho de mapeamento e contato com as pessoas que ajudam a contar essa história?
Drummond — Esse foi um dos períodos mais gratificantes de toda a pesquisa. Rodrigo Velloso (a grafia do sobrenome do artista ficou com um "l" a menos no registro em cartório), irmão de Caetano, nos recebeu em Salvador e Santo Amaro, e nos colocou em contato com personagens fundamentais na vida de Caetano. Conhecemos amigos de infância, professores, colegas de classe, cenários e locais frequentados por Caetano, ainda menino e adolescente. Também com a ajuda de Rodrigo, passamos tardes agradáveis ao lado de Dona Canô e de outros parentes. Ouvimos histórias inéditas, muito íntimas, e tivemos acesso irrestrito ao acervo documental da família, na época em poder da fotógrafa baiana Maria Sampaio, que também nos apoiou muito. As informações e documentos obtidos durante esse período nos permitiram reconstituir com detalhes essa fase desconhecida, que ajuda o leitor a entender como se deu a formação inicial do artista e conhecer as pessoas que foram importantes para ele nessa fase. Todos os recursos da pesquisa, incluindo passagens, transporte, estada e alimentação, saíram de nosso bolso.
Nolasco — Cabe dizer também que o artista não nasce pronto. Trazer esse período de vida à baila mostra suas influências, sua formação, seus laços de amizade e fraternidade, não pelos olhos do próprio, mas pelas impressões daqueles que estiveram e estão a seu lado até hoje.


● Vocês são profissionais de áreas não diretamente ligadas à pesquisa, à história e ao jornalismo culturais (Drummond é formado em Administração de Empresas e pós-graduado em Relações Internacionais. É poeta, escritor e compositor e trabalha na Funarte, órgão do Ministério da Cultura; Nolasco, é formado em Engenharia de Produção e tem contos publicados em antologias) É. De que forma isso influiu no trabalho?
Drummond — Não somos jornalistas nem historiadores, mas não estamos tão distantes da área cultural e da pesquisa. Sou poeta, escritor e compositor, além de trabalhar na Fundação Nacional de Artes, que apoia, entre outras atividades, a pesquisa e a preservação da memória cultural do nosso país. Nolasco, por sua vez, escreve há bastante tempo, é contista, cinéfilo, fez cursos de roteiro de cinema e televisão. Esse conjunto de experiências também recebeu apoio da nossa capacidade de planejamento e organização. A soma dessas habilidades nos permitiu fazer um trabalho isento, cuidadoso e profissional.

● Como fãs de Caetano, que elementos vocês encontraram na pesquisa que tenham revelado uma grande surpresa (positiva ou negativa) em relação ao conhecimento prévio que tinham dele?
Nolasco — Não éramos e continuamos não sendo fãs. A palavra tem o viés do seguidor, daquele que muitas vezes descamba para uma "cegueira seletiva". Apesar de alguns pensarem que às vezes bajulamos o artista, isso está muito distante da verdade. Reconhecer sua importância é outra coisa. Não reconhecer isso seria esconder o óbvio, gostando-se ou não dele como artista e podendo estender a opinião até ao ser humano, ou não. Sendo ele um personagem que já despertava o ame-o ou odeie-o muito antes do fenômeno das redes sociais, preferimos seguir o caminho do meio.

● Qual foi o critério usado para equilibrar no livro o espaço para recortes históricos que exigiram pesquisa mais aprofundada (por exemplo, até meados dos anos 1980) e as últimas décadas?
Drummond — O livro foi todo pensado e planejado antes de ser construído. É impossível escrever a biografia de um personagem complexo como o Caetano sem fazer um planejamento prévio. Não foi fácil conseguir esse equilíbrio. Todos os períodos ganharam igual peso, o que tornou o livro bem dosado e equilibrado, em número de capítulos e de páginas. As várias fases da carreira do artista certamente geraram diferenças, e esforços maiores ou menores nessa busca pelo equilíbrio. Nos anos 1980, por exemplo, já é o Caetano consagrado, com várias canções nacionalmente conhecidas. O número de shows é muito maior que em outros períodos, e ali começam as turnês internacionais. Por conta desse aumento de atividades, não podíamos esmiuçar uma história ocorrida durante uma turnê, por exemplo, pois corríamos o risco de chegar a 2.000 páginas no final do projeto. Nessa fase, o poder de síntese precisou ser maior, e o resultado nos deixou satisfeitos.

● Que tipo de cuidado tiveram (presumindo que tiveram) para não invadir em demasia a vida íntima do Caetano?
Drummond — Todo biógrafo enfrenta essa difícil tarefa, que é ainda mais difícil para um biógrafo de personagem vivo: encontrar o equilíbrio entre a privacidade e a liberdade de expressão. Se o biógrafo protege demais seu biografado e não expõe aspectos de sua vida pessoal, tem sua biografia taxada de chapa-branca. Se avança além da conta, e de forma sensacionalista, corre o risco de receber processos de herdeiros ou do próprio biografado, não satisfeitos com uma invasão de privacidade ofensiva. Adotamos um critério claro: se a informação pessoal fosse necessária para entender o personagem e sua obra, incluímos, e, claro, narramos com o respeito merecido. Do contrário, descartamos. Nosso livro possui muitas passagens da vida íntima do Caetano, mas nenhuma delas está lá de modo gratuito, todas são necessárias para entender algum aspecto da personalidade do artista ou de sua obra.

● Teve algum episódio que, na pesquisa de vocês, mostrou-se diferente ou conflitante em relação ao relatado em outros trabalhos biográficos?
Drummond — Não há outro livro semelhante ao nosso que servisse plenamente de parâmetro. Vale lembrar que nosso livro aborda todos os períodos da vida e da carreira de Caetano Veloso, desde antes de seu nascimento até 2016, isto é, quase um século de história, considerando as passagens envolvendo os antepassados dele. Encontramos muitas dessas passagens em resumos biográficos ou livros com ênfase no Tropicalismo. A exceção é o libro Verdade Tropical, escrito pelo Caetano, que apresenta a visão dele sobre o movimento, com passagens biográficas de outras épocas. Mesmo aí não encontramos versões conflitantes, mas, sim, complementares. Por exemplo, durante a ditadura, enquanto Caetano apresenta a visão dele, de dentro da cadeia, apresentamos a movimentação que ocorreu do lado de fora. Entrevistamos um militar da época, citado por Bethânia, que foi fundamental para nos ajudar a entender todo o protocolo empregado pelo regime militar. Então, além de apresentarmos os fatos ocorridos dentro da prisão, complementamos com o que ocorreu do lado de fora, impossível de ser testemunhado por Caetano. Nesse sentido, nosso livro apresenta uma visão ainda mais abrangente desse período.

● Vocês detalham os bastidores da realização e percalços do projeto ao longo dos anos, inclusive lembrando a reação positiva e emocionada de Caetano diante de alguns trechos prévios. Como estão recebendo as declarações de Caetano (por meio da Paula Lavigne) de que não falaria sobre o livro por considerá-lo "de baixa qualidade literária"?
Drummond — É importante esclarecer que essas opiniões de Caetano são de 2003, quando ele teve acesso ao esboço do livro, que estava em construção, nem metade estava escrita ainda. Alguns jornalistas abordaram o tema sem apurar com rigor esse fato. O assunto foi deslocado no tempo, virou o destaque da notícia e colocou na cabeça das pessoas que o texto final recém lançado desagradou Caetano. Em recente viagem à Europa, Caetano foi questionado por jornalistas portugueses e declarou que não tinha lido a versão final e que o faria quando voltasse ao Brasil. A essa altura, é possível que ele já tenha lido. Ou está lendo aos poucos, pois o livro é grande, e o tempo dele, curtíssimo. Naturalmente ele pode gostar ou não gostar. Mas o fato de ele não gostar (o que ainda não se confirmou na versão final) também não deveria determinar se o livro deve ser lido ou não. Alguns leitores se basearam somente nas matérias iniciais e não compraram o livro, mas muitos leitores não tomaram como verdade absoluta aquelas críticas deturpadas e mergulharam na leitura. O livro está vendendo bem e temos recebido excelentes opiniões dos leitores. Alguns elogiam exatamente a informalidade do texto, porque resgata o Caetano Veloso artista popular, aproximando-o de seus fãs e de leitores do dia a dia. Não seria adequado contar a história de um personagem tão complexo empregando uma linguagem rebuscada, igualmente complexa. O livro tem o mérito de ser simples, sem ser simplório, sem fazer análises filosóficas da obra e da postura do artista. Escolhemos esse estilo e fomos fiéis a ele até o fim.
Nolasco — Caetano gostar ou não é indiferente para o caso. Ele é Flamengo, eu sou Fluminense e nem por isso precisamos brigar. Esse não é um livro que precise pedir suas bênção. Essa não é nossa intenção. Não sendo algo encomendado por ele. O fato de ainda haver alguma exploração em torno do fato de seu gosto pode trazer um sentido de polêmica ao assunto.Qualquer opinião, mesmo que eventualmente negativa, e seja ela de quem quer que seja, serve apenas para apreciação do gosto pessoal de cada um, longe de ser uma definição.


● Que imagem vocês tinham de Caetano quando começaram o livro e qual a que ficou?
Drummond — Como dissemos, não conhecíamos Caetano tão bem, então não tínhamos uma ideia muito abrangente sobre ele. Mas ficamos surpresos com as muitas habilidades artísticas que ele possui. Além de cantar, tocar e compor, Caetano é um grande artista plástico, escreve muito bem, e tem uma relação muito íntima com o cinema, ramo no qual atuou em diferentes papéis ao longo de sua carreira. Mas de tudo que conhecemos de Caetano, o que mais nos impressiona é o fato de se reinventar o tempo inteiro, não ter preconceitos em relação a qualquer manifestação artística, absorver constantemente o que está a sua volta, criando e recriando, com seu jeito particular de ver o mundo. O Tropicalismo acabou, mas Caetano nunca deixou de ser tropicalista.
Nolasco — Caetano foi, é e será de vanguarda. Difícil imaginar outro que com tanto tempo de vida e carreira ainda consiga manter-se com esse nível de atividade. Sua capacidade de absorver o mundo que o cerca, devorar essas sensações, digerir e ainda apresentar algo inovador, faz dele um dos grandes da cultura brasileira. 


Caetano, uma Biografia: A Vida de Caetano Veloso, o mais Doce Bárbaro dos Trópicos
De Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco.
Editora Seoman, 544 páginas, R$ 59,90.




JORNAL OPÇÃO
Edição 2189

Um livro revelador

Biografia revela que Maria Bethânia fez sucesso primeiro do que Caetano Veloso

24/06/2017














Por Euler de França Belém


Livro de Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco não é trabalho meramente de fã; é resultado de uma pesquisa exaustiva

Há uma tendência a se dizer que “Caetano — Uma Biografia” (Seoman, 544 páginas), de Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco, é um “livro de fã”. Mas quem disse que “livro de fã” é necessariamente ruim? Falta, quem sabe, uma avaliação mais precisa da música de Caetano Veloso, mas essa tarefa é menos do biógrafo do que dos críticos de música, que têm interpretado, com relativa precisão, a arte do cantor e compositor baiano. Mas os fatos da vida do artista estão contados, até bem contados, por Drummond e Nolasco.

Os não-iniciados, por exemplo, ficam sabendo que Maria Bethânia, embora mais nova, fez sucesso antes de Caetano Veloso. Aliás, a notável cantora arrastou-o para o Rio de Janeiro, praticamente como uma espécie de segurança — ela era menor —, onde substituiu a cantora Nara Leão no Opinião

Sobretudo, o leitor fica sabendo como o baiano de Santo Amaro se tornou um artista de primeira linha, inclusive com incursões como historiador da música, notadamente da Tropicália.

Como Caetano Veloso está vivo e continua produzindo cultura, a biografia é lacunar. Aliás, se há um problema, é que os anos mais recentes do artista foram cobertos com extrema rapidez pelos biógrafos. Talvez valha, na próxima edição, uma atualizada. O fato é que o livro abre espaço para outras pesquisas e biografias. A obra, que cita dezenas de pessoas, merece um índice de nomes.



1965,  Rio de Janeiro,  Maria Bethânia e Caetano Veloso - Foto: Abril








Celebridades

Biografia de Caetano Veloso chega às livrarias

Na pesquisa para o livro ‘Caetano — Uma Biografia’, autores encontraram militar que atuou na prisão do baiano e entrevistaram rivais como Geraldo Vandré
04/07/2017
Ricardo Schott

Rio - Por muito pouco, o primeiro personagem retratado numa biografia pelos amigos Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco não foi Roberto Carlos. A dupla, que acaba de lançar ‘Caetano — Uma Biografia’ (Ed. Seoman, 544 págs, R$ 59,90), quase embarcou nessa canoa (furada). “Mas as dificuldades para se chegar a Roberto eram grandes”, conta Drummond. “O Marcio sugeriu Caetano e decidimos. Sabíamos da importância da obra dele, mas nenhum de nós dois era tiete do Caetano”.
Biografia de Caetano chega às livrarias - Divulgação
O trabalho da dupla — cuja pesquisa começou há duas décadas, e cujo resultado inicial está preso nas gavetas das editoras desde 2003 — tem uma história que, por si só, já daria um livro. “Outro dia, dei palestra numa faculdade e perguntei quem ali tinha 25 anos. Levantaram o braço e falei: imagina você aos 25, vendo uma entrevista do Caetano na TV e resolvendo fazer uma biografia dele, já que não existe nenhuma. Foi assim com a gente!” O livro teve autorização de Caetano, que assinou em 2001 um documento reconhecendo a existência do projeto, e em 2004, foi parar nas mãos da editora Objetiva.
Apesar da animação inicial, nada foi para a frente. Foi noticiado recentemente que Caetano não gostou do texto original (Paula Lavigne, empresária do cantor, disse isso em entrevistas), e que tanto ele quanto a editora sugeriram a entrada de outros escritores para ajudar a dupla. Drummond conta que na época não entenderam o que aconteceu.
“Acho que, por sermos desconhecidos, ninguém teve peito para bancar o projeto”, diz. Em abril, Caetano disse numa entrevista em Portugal que não chegou a ver o livro depois que ficou pronto e que, mesmo assim, autorizou o uso de fotos. “O texto que Caetano leu na época não é o mesmo de hoje. Reescrevemos tudo. Ele pode não gostar também do livro novo. O Caetano já criticou até livro do Ruy Castro! Isso só não poderia determinar se o livro deve ou não ser lido”, conta Drummond.
CARTA PARA A BAHIA
Nolasco e Drummond começaram por vias incomuns. Numa época em que o baiano já era um personagem blindado, mandaram uma carta para Rodrigo, irmão de Caetano, que sinalizou com um OK informal. “Nem havia e-mail!”, espanta-se Drummond. A dupla fez viagens a Santo Amaro da Purificação (BA), onde Caetano nasceu.
ntrevistaram toda a sua família, amigos de infância, descobriram antigos amores do cantor (Aneci Rocha, irmã do cineasta Glauber Rocha e atriz, foi com quem ele teve sua primeira relação sexual), foram nas escolas em que Caetano estudou. E descobriram uma similaridade que ele tem com outro artista bom de música e de autopromoção: o roqueiro David Bowie (1947-2016). Ambos tiveram seus primeiros empregos em agências de publicidade.
VANDRÉ PEDIU PESQUISA
Desafetos que Caetano colecionou ao longo da vida foram entrevistados, como Fagner e Geraldo Vandré. Este último deu trabalho à dupla. “Descobri um restaurante que ele frequentava em São Paulo. O garçom me falou que ele ia aos sábados. Eu liguei todos os sábados até conseguir falar com ele”.
Quando achou o compositor, ganhou o telefone de sua secretária, mas nem assim foi fácil. “Demoramos mais um ano para conseguir marcar. Quando falei com ele, Vandré me pediu: ‘Você é pesquisador, né? Pode achar para mim alguns alunos que se formaram comigo na Universidade Estadual da Guanabara (Uerj, hoje)?’”, diz, rindo. “Achei quinze pessoas e ele me deu uma letra dele, ‘Fabiana’, autografada”.
A dupla também mapeou os destinos de Caetano na época do exílio em Londres, entre 1969 e 1972. Pouco antes, o cantor ficou quase desaparecido da família, quando foi preso pela ditadura militar — um coronel chamado Respício Antonio do Espírito Santo dá detalhes de como os militares viam a situação de Caetano e Gil, ambos encarcerados. “Essa parte foi muito difícil”, conta Drummond. 


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