7 e 11 de julho de 2004 |
7/7/2004 |
A organizadora da Flip, Liz Calder |
A
FLIP, em sua 2ª edição, homenageou Guimarães
Rosa, cuja obra, aliás, tem interessado
editoras internacionais, que marcaram presença no evento.
Além
de Guimarães Rosa, as editoras estrangeiras têm se mostrado interessadas em
publicar autores brasileiros contemporâneos que têm grande público, como Luís
Fernando Veríssimo. Os demais autores que participaram da programação oficial
foram: Ziraldo, Caetano Veloso, Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar, Sérgio
SantAnna, Milton Hatoum, além dos novatos Adriana Lisboa, Joca Terron,
Marcelino Freire e Daniel Galera. João Ubaldo Ribeiro, que seria mediador de
uma das mesas, retirou sua participação alegando discriminação por parte da
organização por não ser um autor da Cia das Letras.
Quarta-feira,
7 de julho
18h
18h
1.
A travessia do Grande Sertão: uma introdução a Guimarães Rosa
Davi
Arrigucci Jr.
O
único romance de João Guimarães Rosa (1908-1967), Grande Sertão: Veredas é
considerado o mais importante da literatura brasileira do século xx.
É
dessa assombrosa obra que vai tratar Davi Arrigucci Jr., ensaísta, crítico e
professor de literatura, nesta palestra que abre a FLIP e dá a partida ao
tributo que a Festa presta em 2004.
TENDA DOS AUTORES R$ 15
TENDA DA MATRIZ (TELÃO) R$ 5
20h30
TENDA DOS AUTORES R$ 15
TENDA DA MATRIZ (TELÃO) R$ 5
20h30
Show
de abertura: Homenagem a Guimarães Rosa
Com
direção e participação de José Miguel Wisnik, o show de abertura da FLIP 2004
homenageia a obra de Guimarães Rosa.
A
prosa rosiana, de alta densidade poética e profunda sintonia com a música, é
evocada por convidados especiais como Caetano Veloso, Mônica Salmaso, Arnaldo
Antunes, o grupo Uakti e o americano Arto Lindsay.
Guimarães Rosa une Minas Gerais a Parati na FLIP
8 de
julho de 2004
Redação Terra
O sertão ficou mais próximo do mar na quarta-feira,
dia em que as Minas Gerais se uniram em música, verso e prosa ao Rio de Janeiro
no show-homenagem ao escritor João Guimarães Rosa. O espetáculo deu início à 2ª
Festa Literária Internacional de Parati, que acontecerá até domingo.
Mais de 1.000 pessoas compareceram à praça da Matriz, no centro histórico da cidade, para assistir à festa e ver o cantor Caetano Veloso, que fez uma apresentação-relâmpago de apenas duas músicas.
"Eu vim aqui para ver uma palhinha dessas, mas achei que ele ia cantar mais", disse a microempresária paratiense Fátima Santos, com um tom de decepção na voz, após o cantor encerrar a noite com a leitura de uma carta de Manuel Bandeira a Rosa, com comentários sobre a obra Grande Sertão: Veredas, seguido da canção A Terceira Margem do Rio.
Ele saiu rapidamente do palco, para decepção do público, que já tinha conferido o show da cantora Mônica Salmaso e do grupo Uatki. Ao final da apresentação, depois de manifestações ruidosas por um bis, os artistas voltaram ao palco para Caetano entoar Cajuína.
Durante todo o espetáculo, as músicas foram pontuadas por intervenções dos músicos Arnaldo Antunes e Arto Lindsay, que leram trechos da obra de Guimarães Rosa para a platéia, trazendo os personagens do sertão das Minas Gerais que povoam os livros do autor, como o menino míope Miguilin e "a" jagunço Diadorim.
O mestre de cerimônias, o músico e professor de literatura José Miguel Wisnik, foi o responsável pelo clima "papo cabeça" que imperou na amarração da leitura de trechos dos livros com as músicas da MPB.
"Para um festival de literatura, teve texto no ponto certo. O legal é que mesclaram com muita música", disse o administrador de empresas Eloy Azzali, que está de férias na cidade.
A paratiense Fátima elogiou a organização do festival, melhor e mais estruturada que na primeira edição, mas preferiu o show do ano passado, que relembrou Vinicius de Moraes e teve show de Gilberto Gil. "Foi mais agitado", disse.
Com cabelos soltos, vestido vermelho e gestos contidos, Mônica Salmaso interpretou canções como Correnteza, de Tom Jobim e Luiz Bonfá, e Assentamento, de Chico Buarque.
Na letra dessa última, apareceram os neologismos de Rosa: "Zanza daqui / Zanza pra acolá / Fim de feira, periferia afora / A cidade não mora mais em mim/ Francisco, Serafim / Vamos Embora / Embora / Ver capim, ver o baobá / Vamos ver campina quando flora / A piracema, rios contravim / Binho, Bel, Bia, Quim Vamos embora."
Na mesma tenda onde aconteceu o show-homenagem, fãs de literatura menos afoitos poderão conferir, por meio de telões, palestras de escritores como Paul Auster, conhecido do público pelo roteiro de filmes como Cortina de Fumaça, e Ian McEwan, ganhador do Booker Prize, principal prêmio literário do Reino Unido.
Os 500 fãs dedicados compraram ingressos para se acomodar na Tenda dos Autores, mais perto de seus escritores favoritos, pagando R$ 15 por cada das 19 mesas literárias, das quais participarão 36 palestrantes, entre eles Chico Buarque, Lygia Fagundes Telles e Luis Fernando Veríssimo.
A primeira conferência da quarta-feira aconteceu horas mais cedo, durante a tarde, quando a filha de Guimarães Rosa, a escritora Vilma Guimarães Rosa, contou reminiscências da vida com o pai médico, diplomata e escritor, que viveu entre 1908 e 1967. Em seguida, foi a vez do crítico literário e professor da USP Davi Arriguci Jr. falar sobre a obra do autor.
Entre as atividades desta quinta-feira estão as mesas "A lírica exata: três vozes", com Arnaldo Antunes, Antonio Cícero e Francisco Alvim, e "África e Brasil: verdades tropicais", com Caetano Veloso e o angolano José Eduardo Agualusa. Cerca de 10 mil visitantes são aguardados para acompanhar o festival e os ingressos para as palestras mais concorridas já se esgotaram.
Fotos:
Walter Craveiro/Flip/Divulgação
Mônica Salmaso interpretou Assentamento,
de Chico Buarque, que faz referência a Manuelzão e Miguilim, ambos personagens
de Rosa
Mônica Salmaso também cantou Casinha
Feliz, de Gilberto Gil
|
FOLHA DE S.PAULO
Ilustrada
São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004
LITERATURA
Palestra de Arrigucci Jr. e show dirigido por José Miguel
Wisnick abrem a Festa Literária Internacional de Parati
Abertura da Flip
destaca sonoridade de Guimarães Rosa
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A segunda
edição da Festa Literária Internacional de Parati, que tem dois grandes nomes
da música (Chico Buarque e Caetano Veloso) entre seus destaques, começa hoje ao
som de Guimarães Rosa. A musicalidade da prosa do escritor mineiro estará
presente na palestra do crítico Davi Arrigucci Jr., às 18h, e no show/recital
dirigido por José Miguel Wisnik, às 20h30. Os encontros literários começam
amanhã.
"Faremos um show de
literatura, no qual a música participará com canções que se entrelaçam com
textos. É a música a serviço da literatura", conta Wisnik, que, com esse
entrelaçamento, procura reforçar como a música faz parte da obra de Guimarães
Rosa. "Além de ser musical como
linguagem, a prosa dele continuamente se refere à música, com canções, estribilhos."
Um
exemplo é a "Canção de
Siruiz", que acompanha Riobaldo ao longo da narrativa de "Grande
Sertão: Veredas". Wisnik extraiu sua melodia de um disco de leituras de
trechos do romance. Nele, o crítico Antonio Candido veste a canção de uma "melodia imemorial do mundo
mineiro", segundo Wisnik.
Mônica
Salmaso interpretará a "Canção de
Siruiz" e também "Assentamento"
(Chico Buarque), "Casinha
Feliz" (Gilberto Gil, do disco "Dia Dorim Noite Néon") e "Assum Branco", ao lado do
autor, Wisnik. "São músicas que
conversam com a obra de Rosa", diz o diretor da noite.
Caetano
Veloso cantará "A Terceira Margem
do Rio", parceria com Milton Nascimento inspirada diretamente num
conto de Rosa. Ele poderá ainda ler algum texto, como farão Arnaldo Antunes e
Arto Lindsay, que não deverão cantar. Todos os números terão arranjos e
acompanhamento do grupo mineiro Uakti,
que também mostrará temas instrumentais próprios.
"Na Flip do ano passado, com
Vinicius de Moraes como tema, a música já estava pronta. Com Guimarães Rosa
temos que desentranhá-la", diz Wisnik. O elenco da abertura ainda terá o
Grupo Miguilim, contadores de histórias de Cordisburgo, cidade natal de Rosa.
Crítica
Há mais de 20 anos estudando "Grande Sertão: Veredas", Davi Arrigucci Jr. abrirá sua palestra lendo o primeiro parágrafo do romance. A idéia é envolver logo a platéia com a exaltada musicalidade do escritor e começar a imprimir o tom "informal e ameno" que quer dar à sua análise do livro. "Vou comentar a linguagem, as formas de caracterização e, sobretudo, as diversas modalidades de narração que se integram e se aliam ao romance de formação em Guimarães Rosa", antecipa o crítico.
A base de Arrigucci será o ensaio com que participou, em 1995, do volume "Palavra, Literatura e Cultura", "O Mundo Misturado: Romance e Experiência em Guimarães Rosa". A expressão "mundo misturado", dita por Riobaldo, traduz a dificuldade do personagem em lidar com todas as mesclas da vida -entre elas a do masculino com o feminino em Diadorim- e o estilo de Rosa. Ele escrevia, como é dito no livro, "ponteando opostos".
"Vou tratar um pouco da educação sentimental do jagunço", diz Arrigucci, lembrando que essa educação sentimental nada tem a ver com a que intitula um famoso livro de Flaubert. "O romance de Flaubert está na tradição do mais escrito que há. No caso de Guimarães Rosa, o que muda a estrutura do romance é a incorporação das formas orais. Ele está mais perto do Alfred Dublin de "Berlin Alexanderplatz"."
O gênio mineiro começa a ser lembrado hoje em Parati já às 15h, quando a prefeitura da cidade homenageará sua família, e Vilma Guimarães Rosa fará a palestra "Guimarães Rosa, Meu Pai".
Amanhã, às 21h, haverá sessão do filme "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", adaptação da história de Rosa feita por Roberto Santos em 1965. E no domingo, às 11h30, Wisnik volta à cena dissecando o conto "O Recado do Morro".
Ainda há referência ao escritor na oficina "Veredas da Literatura", em que, de amanhã até sábado, na Casa de Cultura de Parati, Milton Hatoum trabalhará com 50 jovens autores de várias partes do país. Os 35 nem tão jovens escritores que formam a nata da Flip estarão se revezando, de manhã até a noite, na Tenda dos Autores.
Há mais de 20 anos estudando "Grande Sertão: Veredas", Davi Arrigucci Jr. abrirá sua palestra lendo o primeiro parágrafo do romance. A idéia é envolver logo a platéia com a exaltada musicalidade do escritor e começar a imprimir o tom "informal e ameno" que quer dar à sua análise do livro. "Vou comentar a linguagem, as formas de caracterização e, sobretudo, as diversas modalidades de narração que se integram e se aliam ao romance de formação em Guimarães Rosa", antecipa o crítico.
A base de Arrigucci será o ensaio com que participou, em 1995, do volume "Palavra, Literatura e Cultura", "O Mundo Misturado: Romance e Experiência em Guimarães Rosa". A expressão "mundo misturado", dita por Riobaldo, traduz a dificuldade do personagem em lidar com todas as mesclas da vida -entre elas a do masculino com o feminino em Diadorim- e o estilo de Rosa. Ele escrevia, como é dito no livro, "ponteando opostos".
"Vou tratar um pouco da educação sentimental do jagunço", diz Arrigucci, lembrando que essa educação sentimental nada tem a ver com a que intitula um famoso livro de Flaubert. "O romance de Flaubert está na tradição do mais escrito que há. No caso de Guimarães Rosa, o que muda a estrutura do romance é a incorporação das formas orais. Ele está mais perto do Alfred Dublin de "Berlin Alexanderplatz"."
O gênio mineiro começa a ser lembrado hoje em Parati já às 15h, quando a prefeitura da cidade homenageará sua família, e Vilma Guimarães Rosa fará a palestra "Guimarães Rosa, Meu Pai".
Amanhã, às 21h, haverá sessão do filme "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", adaptação da história de Rosa feita por Roberto Santos em 1965. E no domingo, às 11h30, Wisnik volta à cena dissecando o conto "O Recado do Morro".
Ainda há referência ao escritor na oficina "Veredas da Literatura", em que, de amanhã até sábado, na Casa de Cultura de Parati, Milton Hatoum trabalhará com 50 jovens autores de várias partes do país. Os 35 nem tão jovens escritores que formam a nata da Flip estarão se revezando, de manhã até a noite, na Tenda dos Autores.
A TRAVESSIA DO GRANDE SERTÃO: UMA INTRODUÇÃO A
GUIMARÃES ROSA / SHOW DE ABERTURA: HOMENAGEM A GUIMARÃES ROSA. Quando: hoje, às 18h e às 20h30 (show). Onde: Tenda dos Autores e Tenda
da Matriz (show), em Parati, RJ. Quanto: R$ 15
EL PAÍS [España]
* Este
artículo apareció en la edición impresa del Viernes, 9 de julio de 2004
La música de la obra de
João Guimarães Rosa vuelve a vibrar en las calles de Parati
El festival internacional de literatura se abre con
un homenaje al gran clásico de las letras brasileñas
José
Andrés Rojo
Parati 9
JUL 2004
Caetano Veloso, durante el homenaje a João Guimarães Rosa
celebrado el miércoles en Parati. MARCOS
TRISTÃO / O GLOBO
|
El
miércoles por la noche, en una gran tienda instalada en una de las plazas de la
pequeña ciudad colonial, se inició la Festa Literaria Internacional de Parati
(FLIP). Fue con un atípico homenaje a João Guimarães Rosa, en el que la cultura
brasileña desplegó durante poco más de hora y media todo el abanico de sus
múltiples encantos. Música y poesía, tradiciones populares y miradas
contemporáneas, viejos sonidos que proceden de los rincones más lejanos
servidos en un escenario equipado con la tecnología más moderna, y todo ello
para celebrar la belleza de la literatura del gran clásico de Brasil.
Uno detrás de otro
flotaban los
versos en los
labios de Caetano
Veloso
y el público
seguía así la
melodía secreta de
la literatura
Todo está
contenido en Gran Sertón: Veredas. La vida y la muerte, la lucha por la
supervivencia y los pequeños placeres que surgen de manera gratuita, el amor y
el dolor, la complicidad, la amistad, la batalla permanente entre los instintos
y la necesidad de convivir, el profundo misterio de la naturaleza. Y está allí,
además, con la vibrante energía que un médico nacido en Minas Gerais le impuso
a su prosa cuando decidió dedicarse a la literatura. João Guimarães Rosa, que
nació en 1908 y murió en 1967, no se puso a escribir poemas hasta la década de
los treinta, cuando ya había decidido abandonar la medicina para dedicarse a la
carrera diplomática, y publicó sus primeras narraciones en 1946. La
transformación decisiva, de su obra y de su propia vida, llegó sin embargo en
1952, cuando recorrió y conoció el sertón, ese paisaje casi desnudo que
transformó en su obra en un territorio literario que resume y condensa y revela
los más íntimos conflictos y alegrías de cualquiera de las criaturas que
habitan este planeta.
Alrededor
de unas 2.000 personas se reunieron dentro de la Tenda da Matriz en una de las
plazas de Parati el pasado miércoles cuando ya había oscurecido. Fuera, otro
centenar de curiosos siguieron el desarrollo del homenaje a través de una
pantalla gigante. Fue un acto muy poco convencional y en el que todo se puso al
servicio de la obra de Guimarães. El gran maestro de ceremonias fue el cantante
José Miguel Wisnik, que tomó las riendas de un espectáculo que, tal como
explicó, es cada vez más corriente en Brasil. Música y poesía están en nuestra
tradición muy unidas, vino a decir. Así que nadie tenía que extrañarse de que
de lo que se tratara fuera, sí, de cantar canciones, pero también de dedicarse
a leer, página a página, narración a narración, pequeños fragmentos de la gran obra
de Guimarães. El ambiente era distendido y no hubo solemnidad de ninguna clase,
aunque se tratara de un clásico, pero se palpaba la enorme atención con que los
brasileños seguían cada una de las palabras que se decían en el escenario.
Caetano
Veloso sólo apareció al final. Subió al escenario su delgada y menuda figura,
buscó sus lentes y abrió una página que empezó a cantar para que, una vez más,
fuera la música que tienen las palabras de Guimarães la que las pusiera a
bailar. Uno detrás de otro flotaban los versos en los labios de Caetano y el
público seguía así la melodía secreta de la literatura.
Porque en
definitiva de eso fue de lo que se trató en la primera noche de la FLIP, de la
íntima relación que tienen las palabras y los sonidos, de la música que late
escondida en los renglones de la prosa y la poesía. Wisnik lo explicó rápido,
al principio de todo: hay que aprender a escuchar. Entonces invitó al poeta
Arnaldo Antunes, que subió al escenario para leer a Guimarães. Y empezó a
notarse que la prosa de ese escritor, que convirtió sus libros en una
fascinante mezcla de estilos y registros, de tonos y modalidades, de recursos y
de sorprendentes hallazgos para narrar la infinita variedad de historias del
sertón, está llena de minúsculas repeticiones, de sonidos sorprendentes y de
ruidos, de fascinantes palabras -suasurana- y de puro ritmo.
Todo el
mundo se sumergió en Guimarães. Todo el mundo que comprendía palmo a palmo la
lengua del escritor. Menos gratificante fue la experiencia para los que
desconocen el portugués. Se perdían todos esos matices que conseguían tener al
público atrapado, rendido al poder de la literatura, que explotaba de risa a
veces y que, otras, parecía transido por una extraña (y jovial) melancolía. Los
brasileños transmiten una manera de estar en el mundo que tiene mucho que ver
con lo que ocurría el miércoles en el escenario de la FLIP. Hay en ellos una
infinita atención por los matices y una delicada mezcla entre la inmediata
querencia por la alegría y el placer y la presencia escondida de una
advertencia que les susurra que el mundo está también lleno de sufrimientos.
Wisnik
organizó el tráfico sobre el escenario. Cantó Mônica Salmaso, que con su
bellísima voz encontró en los sones populares muchos de los secretos de
Guimarães. Una jovencita narró un fragmento de Gran Sertón: Veredas
como si fuera la cronista que cuenta viejas historias en la plaza del lugar. Se
recordó a Jobim, que tanto le debe al autor de Mina Gerais. Luego
estuvieron los instrumentistas del grupo Uakti, con la magia de unos sonidos
que proceden de instrumentos casi inverosímiles, e incluso apareció el
guitarrista Arto Lindsay. Pero el guitarrista no tocó ni una sola nota. Se
sentó delante de una mesa en mitad del escenario y se puso a leer. Primero en
inglés y luego en portugués.
No leyó este texto, pero leyó alguno que tenía
también el sello único del gran João Guimarães Rosa, ese monstruo de la
literatura, ese sabio conocedor de la fragilidad humana que cuenta en estas
líneas de un hombre mayor que habla de su padre: "Yo sufría ya el comienzo
de la vejez -la vida era sólo la morosidad-. Yo mismo tenía achaques, bascas,
aquí en los bajos, flojeras, pachorras de reumas. ¿Y él? ¿Por qué? Habría de
padecer mucho muy seguido. De tan anciano, días más o días menos, que iba a
flaquear del vigor, y dejar que la canoa se volteara, o que errara al garete,
en la llevada del río, para despeñarse horas abajo, en el catarateo y en el
tumbo del torrente, bravo, con el hervor y muerte. De apretar el corazón. Él
estaba allá, sin la tranquilidad mía".
¿Falsos amigos?
Portugueses
y brasileños son viejos vecinos y conocidos de españoles e hispanoamericanos,
respectivamente, pero se parecen muy poco. Hablan lenguas diferentes. A la
playa le dicen praia y a las iglesias las llaman igrejas. Cuando
se ponen a hablar rápido, no hay dios que los entienda. Pero si se leen los
periódicos con un poco de detenimiento, lo que allí escriben parece diáfano y
cristalino. El miércoles, durante el homenaje a Guimarães Rosa, resultaba
irritante no enterarse de nada. Daba la impresión de que los que allí
escuchaban las palabras del clásico lo hacían con la misma felicidad que les
produce a los españoles escuchar diversos episodios del Quijote. Una
risa amable, una sonrisa cómplice, un poco de tristeza y un dolor extraño e
incómodo. Eso que desencadena el Quijote también parece desencadenarlo
el autor de Gran Sertón: Veredas. Luego los mismos brasileños se buscan
sus propios problemas. Parati, ¿se escribe con i o con y? He ahí
un tema. Para los que vienen en autobús desde Río de Janeiro, Paraty está
escrito con y en todos los carteles. Para los que consultan la página web
del festival, Parati se escribe con i. En esa misma página web,
al inicio de la programación oficial del festival se habla de "quarta-feira",
pero hay que tener cuidado para no equivocarse. No es la cuarta feria la que
aquí tiene lugar, sino la segunda edición del festival. Cuando hablaban de
"quarta-feira" se referían simplemente al miércoles.
Brasil,
09/07/2004
O
cineasta Cacá Diegues foi o mediador da conversa entre Caetano e Agualusa
Caetano elogia José Eduardo Agualusa na Flip
09 de julho de 2004
Terra
Caetano
Veloso se desmanchou em elogios ao escritor angolano José Eduardo Agualusa
Foto: Walter Craveiro/Flip/Divulgação
Foto: Walter Craveiro/Flip/Divulgação
Caetano
Veloso se desmanchou em elogios ao escritor angolano José Eduardo Agualusa
durante encontro com o público, na quinta-feira, na 2ª Festa Literária
Internacional de Parati, litoral do Rio de Janeiro.
A mesa, mediada pelo cineasta
Cacá Diegues, tinha como nome "África e Brasil: verdades tropicais",
alusão a Verdade Tropical, livro publicado por Caetano em 1997.
Depois de defender
exaustivamente que o Brasil "tem a oportunidade e a responsabilidade de
resolver a África negra e os negros da diáspora", o músico brasileiro se
viu em uma saia justa quando perguntado sobre o que achava das cotas raciais,
sistema em estudo que reserva vagas para negros em instituições públicas de
ensino.
"Alguma coisa tem que ser feita. Por um lado não posso ser contra,
mas o Brasil é tão complicado", disse Caetano. "Em princípio
você já está concordando com a idéia de raça, o que é uma estupidez."
"A injustiça com a população descendente de escravos se perpetua na
sociedade muito suspeitamente", continuou o músico e compositor. "Acho que tem de se acompanhar caso a
caso, dentro das instituições."
O escritor angolano, que
respondeu à pergunta antes, foi mais incisivo: "É um sistema injusto, não sou a favor ... Você não consegue
legislar sobre raça, já está mais do que comprovado."
Agualusa, que não vive mais em
Angola e escreveu alguns livros em Berlim, citou diversos casos, nunca sem
perder o bom humor, sobre a confusão que presenciou de pessoas tentando definir
suas raças e causando polêmica.
Também perguntaram a Caetano
como o preconceito racial poderia ser extinto, ao que o músico respondeu: "Tempo, a gente precisa de tempo para
digerir a questão. O organismo social brasileiro vai ter de ir metabolizando
isso bem." "E olha que estou
sendo otimista. Às vezes acho que não vai dar nada certo", disse
Caetano, que disse ter ficado deprimido depois de visitar alguns países da
África pela primeira vez.
Nesse momento, Agualusa
demonstrou confiança no governo Lula e no ministro Gilberto Gil. "Creio que eles têm a noção de que essa
guerra precisa ser resolvida. Os africanos precisam ser resgatados."
No início do encontro,
Agualusa, que tem tios e avós cariocas, leu um trecho de seu novo livro, O
Vendedor de Passados, e escutou em silêncio as impressões de Caetano sobre
seu romance "O ano em que Zumbi tomou o Rio" (2002), onde faz
diversas referências à cultura popular e erudita brasileira. Ele também
publicou Nação Crioula (1998) e Estação das Chuvas (1997).
"É um livro dolorosamente atual. São referências tão recentes e tão
vivas de acontecimentos. Parece que foi escrito aqui, neste ano", disse Caetano.
A trama do romance, escrito
quando o autor morava em Berlim, leva às últimas consequências a hipótese de
que haveria nas favelas do Rio imigrantes angolanos infiltrados, radicalizando
a luta armada entre traficantes e polícia.
Para o brasileiro, o livro faz
a seguinte pergunta aos negros que moram no Brasil: "Este país foi descolonizado? Nós consideramos que sim, mas não
deveríamos!"
Sobre a relação entre os dois
países, o autor angolano disse que a música brasileira nunca deixou de entrar
no país, mesmo quando, na década de 1950, cessou a enxurrada de literatura e
outras influências constantes desde o século 19.
"Todos os músicos que vão tocar lá são brasileiros. Não têm
praticamente outros da América Latina. É o que o público quer ver", contou Agualusa.
Sobre literatura, o escritor,
que participa do júri do Prêmio Saramago para jovens autores em língua
portuguesa, comentou que os africanos têm em comum com os brasileiros o
otimismo, apesar dos paulistas demonstrarem um pessimismo muito
parecido com o dos romances
sombrios dos jovens portugueses.
"Mesmo passando o maior sufoco, o africano ainda consegue contar
uma piada ... A África salvou o Brasil de Portugal e agora está salvando
Portugal da melancolia", disse Agualusa.
8/7/2004
- Caetano Veloso e o escritor angolano José Eduardo Agualusa durante debate na
Festa Literária de Parati (RJ). - Foto: Ana Carolina Fernandes/Folhapress.
Digital
|
O
ESTADÃO
Agencia
Estado, 08 Julho 2004
Autor angolano fala de
letras com Caetano em Paraty
Eis a estória de um vendedor incomum. Félix Ventura 'cria' passados para novos-ricos em Luanda, Angola. Uma noite recebe a visita
de um misterioso estrangeiro disposto a comprar um passado angolano. Félix
constrói-lhe esse passado e então, de repente, tudo aquilo que tinha imaginado
começa a acontecer. O passado invade o presente. "A ficção apossa-se da
realidade", comenta o escritor José Eduardo Agualusa, autor de O Vendedor
de Passados (Gryphus, 208 págs., R$ 32), livro com o qual vai participar,
convidado pela Portugal Telecom, da Festa Literária Internacional de Paraty, ao
lado de Caetano Veloso e Cacá Diegues.
As ex-colônias de Portugal são nações sem passado?
José Eduardo Agualusa - Passado temos
todos, por curto que seja, podemos é não conhecer esse passado. Em Angola tem
havido nos últimos anos um relativo progresso nas disciplinas ligadas à
história, à memória, com algumas boas surpresas editoriais, ensaios, romances
históricos, biografias, autobiografias, recolhas de correspondência, etc., mas
ainda há imenso por fazer. A história da guerra civil, por exemplo, um tema
vastíssimo, extraordinariamente interessante, porque é essencial para a
compreensão do que foi a guerra fria, do que foi o conflito entre o bloco
socialista e o mundo ocidental, isso está por escrever. Espero que haja
historiadores brasileiros interessados nesse tema. Por outro lado, Angola é um
país com poucos jornais, poucas bibliotecas e arquivos, e com uma esperança de
vida muito reduzida. A memória perde-se rapidamente. É uma vertigem.
A função do escritor seria, portanto, preservar a memória?
Sim, em particular num país como Angola. Noutros
países não existe essa urgência. Em Angola, a sensação que tenho, todos os
dias, é a de que há imensas histórias ao meu redor, histórias
interessantíssimas, que nunca ninguém escreverá. Os novos-ricos sem passado são
comuns em diversos países, mas, em Angola, a situação é mais acentuada? Em
Angola, à semelhança do que aconteceu na extinta União Soviética e noutros
países do leste da Europa, passou-se de um dia para o outro de um regime
comunista, sem propriedade privada, para o mais selvagem e descontrolado
sistema capitalista. Porém, ao contrário do que aconteceu nos países do leste
da Europa, em Angola não houve uma mudança de dirigentes. Os homens que
dirigiam o país durante o regime comunista são hoje fervorosos capitalistas,
estreitamente ligados aos interesses americanos na área do petróleo. Algumas
dessas pessoas acumularam muito dinheiro, têm pois o futuro assegurado, e o que
pretendem agora é um bom passado. Muitos são de origem rural, filhos de
camponeses, e gostariam de ascender ao círculo estreito da velha aristocracia
urbana de Luanda e de Benguela. Esses estariam dispostos a comprar um outro
passado.
Além da homenagem, por que Jorge Luis Borges aparece no romance na
figura de uma osga, que é uma espécie de lagartixa?
Borges disse numa entrevista que não gostaria de
reencarnar, mas que se isso acontecesse, preferiria reencarnar num país
distante. Eu lhe fiz a vontade. Fiz com que reencarnasse num país distante, e
sob uma forma viva também um pouco distante da nossa. No romance, ele
interroga-se sobre as razões por que isso lhe sucedeu. Ainda assim despertou
entre livros, num velho sebo, o que para ele era uma imagem do paraíso.
Você se sente bem nos países de língua portuguesa. O que nos une, além
da língua comum?
A memória comum. Você encontra a memória de Angola
no Brasil, no samba ou na capoeira, na macumba ou no gingar de uma mulata. Mas
também na culinária ou na arte popular. Você encontra a memória do Brasil em
Portugal, no fado. Em Angola, encontra essa memória na atual música urbana.
Luandino Vieira, o nosso maior escritor, é um filho legítimo de Guimarães Rosa.
Eu descendo de Eça de Queirós, mas também de Machado, de Rubem Fonseca, de
Chico Buarque e Caetano Veloso. Estamos ligados de mil formas. Algumas são
evidentes. Outras são invisíveis. Estas são as mais fortes.
Por que você gosta tanto de lidar com a memória?
Nós somos aquilo de que nos lembramos. Um homem sem memória é um
homem sem personalidade. Todavia, muitas das nossas memórias são falsas.
Lembramo-nos de coisas que nunca aconteceram. Vou-lhe dar um exemplo: num dos
meus romances mais conhecidos, Estação das Chuvas, falo da repressão contra os
pequenos partidos de esquerda logo após a independência de Angola. Muitos
amigos meus ligados a uma organização comunista, próxima do PC do B, estiveram
presos, e um dos capítulos do livro passa-se na prisão. Algumas coisas de que
falo aconteceram realmente. Outras são pura ficção. Imaginei a estória de um
preso que para se entreter pinta estrelas, constelações, no teto da sua cela.
Algumas pessoas que leram o livro, e que estiveram presas, me vieram dizer que
se lembram disso. Elas lembram-se de algo que não aconteceu. Lembram-se porque
eu misturei a ficção com fatos reais e a ficção preencheu os espaços vazios na
sua memória. Acho isso extraordinário e ao mesmo tempo muito perturbador. A
idéia que também nós somos uma ficção. O meu livro procura refletir sobre tudo
isso.
Como analisa a literatura que hoje é produzida em língua portuguesa,
desde Portugal até suas ex-colônias?
Portugal está a viver um grande momento. Tem a
melhor seleção. Isso é resultado direto de 30 anos de democracia e de
investimento sério na cultura e na educação. Os portugueses dispõem de
excelentes bibliotecas públicas, muito freqüentadas, sobretudo por crianças e
jovens. O Brasil não tem ainda uma literatura à medida da sua imensidão e da
sua diversidade, mas está a caminho disso. Todos os anos surgem novos
escritores. Os países africanos, e Timor Leste, esses permanecem prisioneiros
do subdesenvolvimento. Tenho esperança de que a situação se altere à medida que
a democracia se afirmar em todos esses países. No geral, temos uma literatura
vigorosa e em crescimento. Estamos em pleno salto.
Que recordações você guarda dos tempos em que morou no Brasil?
Fui muito feliz enquanto vivi no Recife e no Rio de
Janeiro.
Sei que isto é um lugar-comum, mas acho realmente
que a maior virtude dos brasileiros é a cordialidade e a simpatia. O Brasil é,
além disso, um país extremamente acolhedor. Por isso é tão fácil alguém se
fazer brasileiro. Um japonês nasce nos Estados Unidos e continua a ser japonês.
Um japonês nasce no Brasil e é brasileiro. Eu espero um dia reencarnar carioca,
ou pernambucano, embora não na pele de uma osga. Modéstia à parte, eu daria um
bom carioca. Levo jeito.
E o encontro com Caetano Veloso?
Em primeiro lugar, representa uma oportunidade
única de conversar com o Caetano. Já estive com ele várias vezes, é claro,
Caetano no palco, e eu no público, ouvindo-o cantar, mas nunca tive antes a
oportunidade de conversar com ele.
Caetano, além de ser um extraordinário compositor,
é também um homem de pensamento, polêmico, irreverente, com um conhecimento
muito profundo sobre a cultura popular e, em particular, sobre tudo o que diz
respeito à contribuição africana para a construção do Brasil.
Chico Buarque e Paul Auster palestram na FLIP
Fotos: Walter Craveiro/Flip/Divulgação
A
organizadora da Flip, Liz Calder, acompanhou a palestra de Chico Buarque e Paul
Auster
|
2012
Mostra Leitores
10 Anos de Flip, de Walter Craveiro,
relembra os 10 anos do festival literário
2012 - Exposição
de retratos de Walter Craveiro nos 10 anos da Flip.
|
As fotografias, todas em preto e branco, evocam alguns dos
momentos mais marcantes do evento: Chico Buarque, convidado das edições de 2004
e 2009, olha para as próprias mãos espalmadas como quem lê um livro; o angolano
José Eduardo Agualusa e Caetano Veloso, protagonistas de uma das mesas mais
populares de todas as Flips, em 2004, aparecem em retratos lado a lado.
No hay comentarios:
Publicar un comentario