Programa ABERTURA
O Abertura estreou em 4 de fevereiro de 1979, na rede Tupi de Televisão.
Sob a direção geral de Fernando Barbosa Lima, reunia um grupo de intelectuais, como Antônio Callado, Ziraldo, Fernando Sabino, Sérgio Cabral, Antônio Guerreiro. Do Cinema Novo, participaram a atriz Norma Bengel e o cineasta Glauber Rocha.
O momento era de abertura política,
com a Ditadura Militar perdendo poder com a volta dos anistiados e com a
chamada transição lenta e gradual dos governos Geisel e Figueiredo. Barbosa Lima,
compreendendo o espírito do tempo, propõe, então, criar o que pode ser chamado
de uma “metalinguagem televisual da abertura democrática” (Mota, 2001, p. 81).
Pela primeira vez, depois do longo
período de censura, um programa
televisivo abordava explicitamente
aspectos políticos da realidade brasileira.
Glauber participou do programa durante
quatro meses, com uma média de dois quadros por semana. Desse material, apenas
16 quadros foram resgatados e estão disponíveis. Barbosa Lima, o diretor,
dizia que tinha uma combinação com Glauber: ele cedia a equipe, a câmera e todo
o material de que precisava, e Glauber filmava o que queria, mas Barbosa Lima editava o
que queria. De acordo com o diretor, essa combinação funcionou durante todo o
tempo em que Glauber ficou no Abertura, sem a necessidade de concessões por nenhuma
das partes.
O espaço reservado ao cineasta foi
chamado de “antiprograma” por sua colega Mira Zaramella: “Alvoroçando qualquer
esquema que se tente estabelecer durante a gravação, Glauber Rocha faz e
desfaz, grita, faz caretas, inventa, improvisa, manda que cortem a cena, dirige
o movimento das câmeras e daqueles que participam com ele dos minutos em que estão no ar,
gravando” (Mota, 2001, p. 91).
Se o cinema, aos poucos, já se assumia
como um veículo de criação, com experimentações de linguagem de vários tipos já
sendo feitas desde o neorrealismo, a televisão continuava sendo Hollywood, para
ficar na comparação cinematográfica. Para alguém como Glauber, não existía terreno
melhor para subverter que a Hollywood televisiva.
MOTA,
Regina. 2001. A épica eletrônica de Glauber. Belo Horizonte, Ed.
UFMG, 226 p.
O
cineasta brasileiro Glauber Rocha em seu quadro no Programa Abertura, da TV
Tupi, entrevistou rápidamente Caetano Veloso que fala
sobre o show de Gal Costa, "Gal Tropical", dirigido pelo Guilherme
Araújo, e também sobre a "A Banda do Zé Pretinho".
No estúdio: Nara Leão, Carlos Diegues, Nelson Motta…
“Pra mim é o siguiente, só tem dois aspectos atualmente da realidade. Um, é ‘A Banda do Zé Pretinho’. E o outro é ‘A Outra Banda da Terra’.
[Para
mí hoy la realidad tiene solo dos aspectos: uno ‘A Banda de Zé Pretinho’, otro ‘A
Outra Banda da Terra’.]
O resto é o que, o
brilho de Gal Costa, quer dizer, a beleza total da Bahia, entendeu?. Quando
chega na hora da segunda parte do show de Gal Costa tudo fica bem,
entendeu, e a primeira parte porque Guilherme Araújo é um gênio e Gal Costa é
um gênio que fizeram para enganhar os cariocas.
[El
resto, Gal Costa que brilla, la belleza total de Bahía, En la segunda parte de
su show todo se ponen bien. En la primera parte Guilherme Araújo es un genio y
Gal también, que hicieron para confundir a los cariocas.]
Isso é só para
brigar com Nelson Motta, falo mal do Rio, ai falo mal do Rio.
Mas eu adoro Rio.
Eu morei no Rio aos 13 anos de idade, 13, 14 anos, morei em Guadalupe, entendeu,
quase ninguém morou em Guadalupe. Ninguém que eu conheço do Rio de Janeiro são
meus parentes.
Então eu falo assim
porque eu só do dentro da terra, entendeu.
Eu estou imitando a
Glauber, eu estou aquí, imitando Glauber, bicho..
[Estoy
imitando a Glauber, estoy aquí imitando a Glauber]
Mais eu e o Chico
estava bonito, né, os dos calhadinhos, eu e o Chico Buarque
Glauber Rocha:
"abaixo os
fascistas, viva os estudantes e viva Cacilda Becker", "A maior
manifestação política da TV brasileira".
[“Yo me acuerdo que en el 65 tu gritabas abajo los fascistas,
abajo los estudiante los estudiantes y viva Cacilda Becker era la mayor
manifestación política de la TV brasileña”]
¿Soy yo hablando?
Glauber
Rocha:
Você falando é tao
genial quanto cantando
[Hablando eres tan genial como cantando]
Por isso é que eu quería assim, que você falasse, mas tudo bem…
[Por eso es que yo quería que tu hablases]
[Hablando eres tan genial como cantando]
Por isso é que eu quería assim, que você falasse, mas tudo bem…
[Por eso es que yo quería que tu hablases]
Caetano
Veloso:
“Pois é eu falo, já falei…, boa noite senhores telespectadores, felizes novidades, mudança de governo, mudança de Presidente da República, novos tempos, alegrias para todos…”
[Bueno, yo hablo, ya hablé..., buenas noches señores telespectadores, buenas noticias: cambio de gobierno, cambio de presidente de la República, tiempos nuevos, alegrías para todos…”]
“Pois é eu falo, já falei…, boa noite senhores telespectadores, felizes novidades, mudança de governo, mudança de Presidente da República, novos tempos, alegrias para todos…”
[Bueno, yo hablo, ya hablé..., buenas noches señores telespectadores, buenas noticias: cambio de gobierno, cambio de presidente de la República, tiempos nuevos, alegrías para todos…”]
11/5/1979 - O cineasta Glauber Rocha (à esq.) durante o programa "Abertura", no Rio de Janeiro - Foto: Manoel Pires / Folhapress |
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