Bernardo
Bertolucci [Parma, 16 de março de 1941 – Roma, 26 de novembro de 2018]. Cineasta
e roteirista italiano.
"Tenho orgulho de
ter tido proximidade, mesmo amizade, com Bertolucci.
Uma das maiores figuras do cinema italiano de todos os tempos e uma pessoa que
transmitia muita alegria no trato pessoal. Vi "O Conformista" em
Londres, na BBC2. O filme ainda era novo. Como todo mundo que gosta de cinema,
fiquei impressionado. Depois entrei de volta num Brasil em que "O último
tango em Paris" estava proibido e assim ficou por mais de ano. Vi quando
liberaram. Nem gostei tanto do filme. Tinha muito lençol sobre os móveis. Mas a
presença de
Marlon Brando era forte. Especial. Maria Schneider, apaixonante. E o filme furou a superfície
da bolha que blindava o erótico contra o pornô. O Imperador que ganhou o Oscar
é bacana. Mas meu filme preferido do Bertolucci maduro é "Assédio",
que, além de ter aquele roteiro lindo de Clair, mulher de Bernardo, tem uma
construção visual divina que leva a gente de um buraco num sobrado e aos poucos
vai deixando ver que estamos na margem da escadaria da Praça de Espanha. Roma
vai se revelando das tripas para fora. E o negro africano que toca um
instrumento nativo sob uma árvore. Uma vez, na casa de Bernardo e Clair em
Notting Hill Gate, Londres, ele me disse que a língua italiana não era boa para
o cinema. O inglês seria mais congenial. Discordei aos berros: para mim, eu
disse, basta que os personagens falem italiano para as imagens se valorizarem
visualmente. Ele riu. No meu preferido "Assédio", as pessoas falam
inglês e italiano. As duas línguas com que nos comunicávamos. Aprendi com ele
que a palavra "viado" passara a significar travesti em italiano
popular por causa da alta frequência de travestis brasileiros em Milão.
Bertolucci me apareceu ainda jovem, no teatro Teresa Rachel, apresentado por
amigos comuns, e tornou-se uma referência pessoal na minha Europa. Sinto
saudade dele."
Caetano
Veloso
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