sábado, 17 de septiembre de 2016

2014 - COISA BOA

Rio de Janeiro, 7/7/2014


“Tanta coisa boa
 nada é de ninguém
 fica aí à toa
vou ficar também”
 [Domenico Lancellotti e Moreno Veloso]

O GLOBO
19/5/2014 
Moreno Veloso lança primeiro álbum solo de estúdio
O disco ‘Coisa boa’, feito pelo filho de Caetano, traz a atmosfera de uma Bahia com toques de calmaria oriental.

por Leonardo Lichote
 

RIO - O baiano Moreno Veloso e a japonesa Takako Minekawa cantam em dueto, na língua dela, versos sobre o céu, na canção que fecha “Coisa boa” (Maravilha 8/Pommelo). Juntos, percussão tranquila, caixinha de música, acordes soando longos na guitarra, eles dizem coisas como “As pessoas parecem as mesmas mas são diferentes/ O céu também parece o mesmo mas está mudando continuamente/ Como agora”. A vida (e o céu) em movimento calmo da música refletem as luzes de pôr do sol e as gentes da capa do disco, uma foto da praia do Porto da Barra, em Salvador, vista a partir do mar. Bahia ecoando Japão e vice-versa, num movimento de maré que atravessa o álbum — o primeiro solo de Moreno Veloso em solo nacional, já que o registro ao vivo “Solo in Tokyo” (2011) foi lançado apenas... no Japão, juntando-se a uma discografia que tem quatro álbuns gravados com o trio +2 (ele, Domenico Lancellotti e Kassin) e outros dois com a Orquestra Imperial.

— Estava morando na Bahia enquanto fazia o disco. Isso aparece evidente para mim de diversas formas. A Bahia trouxe mais espaço para a cabeça, para o coração, para a temporalidade. Um outro ritmo, que não é preguiça — explica o compositor que levou três anos no processo de produção de “Coisa boa”. — Existe esse vínculo, que aparece claro em Gil, Caymmi e muitos, desse ritmo com o budismo zen. É uma tranquilidade que não está calcada em nada material, não vem de uma sensação de “estou bem, estou protegido, por isso posso ficar tranquilo”. É uma tranquilidade apoiada apenas em si mesma. Uma pausa, um hiato de espera que não é agressivo, não é tenso. É só uma espera. E isso vai para a música como uma sensação rítmica. Porque a forma como você espera alguém falar influencia a música que você faz. Kassin diz que aprendeu a tocar baixo quando um professor disse para ele que o mais importante não é a hora em que você toca a nota, mas a hora em que tem que fazê-la parar de soar. Isso tudo seria quase filosófico se não fosse tão gostoso (risos).

O disco carrega esse espírito de tempo dilatado, ralentado, nipo-soteropolitano, mesmo quando convida à dança, como no samba de roda “Um passo à frente” (parceria de Moreno e Quito Ribeiro, gravada por Gal Costa em “Hoje”), de versos como “Ela sorri com a barriga” e “Pega na barra da saia/ Tomara que caia/ A barra da saia/ Tomara que saia/ Sambando eu vou”. Afinado com essa postura, o álbum soa contemplativo e espaçado como sugere a imagem do pôr do sol do Porto da Barra e sintetizam os versos “Tanta coisa boa/ Nada é de ninguém”, que abrem a faixa-título:
— Essa música é o começo espiritual, o nascimento do álbum — diz Moreno. — Tinha essa melodia que cantava para meus filhos dormirem. Um dia mostrei para Domenico, que na mesma hora pegou um papel e escreveu esses versos lindos.
A gravação de “Coisa boa” que aparece no disco traz os mesmos voz e violão gravados em maio de 2011, nos três dias que Moreno passou no estúdio de Dado Villa Lobos, o Rockit!. A seu lado, músicos amigos como Alberto Continentino, os colegas de +2, Mauricio Pacheco, Rubinho Jacobina, Rafael Rocha, Davi Moraes e Rodrigo Amarante — cujo álbum “Cavalo”, lançado em 2012, dialoga diretamente, na sonoridade rarefeita, com “Coisa boa” (“Quando ouvi ‘Cavalo’, perguntei a ele: ‘Estamos na mesma ideia?’”, conta Moreno). Produtor do disco ao lado de Moreno, Pedro Sá também participou das gravações. O guitarrista foi quem primeiro incentivou Moreno a fazer o disco que se tornaria “Coisa boa”.

— Montamos o show Parque 72 (apenas os dois, em 2010) e, quando nos apresentamos em Salvador, ele ficou lá em casa. A certa altura, ele disse: “Vamos juntar músicas para seu disco, tem essa, essa, essa...”. Lembrou umas dez, entre elas “De tentar voltar”, que tinha feito com Domenico e nem lembrava. Fizemos esses três dias de gravação em maio de 2011 e saímos dali com nove das 11 faixas de “Coisa boa” — conta Moreno.
A demora para concluir um disco que a princípio estaria quase pronto em 2011 tem a ver com o entendimento “zen Salvador” do tempo. Mas também porque nesse período Moreno participou de diversos trabalhos, sobretudo como produtor (CD e DVD de “Abraçaço”, de seu pai, Caetano Veloso, e “Recanto", de sua madrinha Gal Costa, além dos discos de Iara Rennó e de Rubinho Jacobina, ainda não lançado, entre outros). E ele quis convocar outros amigos para o disco, sem pressa. Como os japoneses Hiroshi Takano e Takako Minekawa e os americanos Melvin Gibbs e Arto Lindsay.

A presença de amigos, a Bahia natal (“Morando em Salvador, toquei com percussionistas incríveis. Eles acabaram não participando, mas isso chega no disco, porque quando mostrava as músicas para Domenico, Rafael, eles ouviam ecos da minha Bahia, e levaram isso”), as canções de atmosfera infantil (além de “Coisa boa”, há “Não acorda o neném” e “Jacaré coruja”, que Quito começou a compor para os filhos), a escolha de uma música esquecida, quase um segredo dos Veloso (“Ninguém conhecia ‘Num galho de acácias’, canção francesa que nos anos 1930 ganhou letra em português de J. Carlos, mas lá em casa todo mundo cantava”). A atmosfera familiar marca o disco, que traz na capa, não por acaso, a imagem da praia onde Moreno aprendeu a nadar, criança.

— Imaginei aquela foto da capa e chamei Arthur Nobre, que foi meu colega de escola, para fazer. Quando vi as imagens, vi que tinha esse menino sozinho, pequeno, na beira do mar. Sou eu ali, olhando o horizonte.





16/6/2014
Moreno Veloso lança seu primeiro álbum solo, "Coisa Boa"
Marcos Dias



Moreno Veloso tem feito um caminho muito particular  na música brasileira. O gosto pelo trabalho coletivo e, simultaneamente, a construção da própria  identidade,  é apenas uma das formas com que ele transcende polaridades. E não à toa fala muito "a gente" e não "eu".
O disco "Coisa Boa",  primeiro de sua carreira solo - considerando que "Máquina de Fazer Música", de 2000, assinado Moreno +2 é um projeto coletivo - tem a amplidão que ele se permite e  sua música é capaz.

Ainda estão com ele Pedro Sá (que coproduz o CD), Domenico Lancellotti e Kassin (os +2), e outros artistas da mesma geração. Com eles, se aventurou em projetos como a Orquestra Imperial, o Parque 72  ou na trilogia que o pai, Caetano Veloso, fez com a Banda Cê.
"A gente trabalha em grupo há muito tempo,  gosta disso e  tem prazer com o que os nossos outros amigos têm para contribuir", diz o músico.

Foram assim, de acordo com ele,  as participações de Rafael Rocha, Alberto Continentino e Davi Moraes, entre outros, que aparecem neste disco, além de Arto Lindasay e Melvin Gibbs. Mas também há momentos em que o arranjo é explicito, como na bela Num Galho de Acácias, feito por Rubinho Jacobina.

Os quase 15 anos que separam as duas produções de Moreno, na verdade, são unidos por  experiências musical e existencial intensas. São muitos shows, produção de discos  e nova configuração familiar.

Cotidiano
"Coisa Boa" começou a ser gravado em 2011, ainda na temporada de dois anos e meio que Moreno passou em Salvador com os filhos e a mulher, até depois do carnaval de 2012.

Acabou tendo muito da Bahia - como se ouve em "Um Passo à Frente" ou "Não Acorde o Neném" - mas  também da experiência da paternidade.  Nesta década e meia, ele e os amigos foram pais. Estão lá "Coisa boa", originalmente uma canção de ninar,  e as encantatórias "Jacaré Coruja" e "Verso Simples". Algo vibra feliz ao ouvi-las ou cantá-las.
E se a foto da capa do CD explicita um fragmento do cotidiano do Porto da Barra, em Salvador,  a dinâmica  da cidade em que ele nasceu  revela-se delicadamente na sonoridade.

Para ele, o tempo que passou na cidade foi muito bom tanto por poder apresentar o cotidiano da Bahia para  os filhos,  estar junto da família e de Santo Amaro, e  poder experimentar a música local e tocar com amigos,.
"Essa sensação estética de paz e tranquilidade  vem um pouco também de uma certa alegria de estar na Bahia, que eu sinto muito, e de uma alegria que  sinto que a Bahia tem mesmo,   independente da minha alegria de estar na Bahia. Mas é claro que não pode generalizar, porque a Bahia tem muitas coisas, e eu  tenho pessoalmente essa tranquilidade, não só por ser baiano e filho de baianos".

Ao mesmo tempo, esse  universo sonoro de Moreno  se adensa em faixas como "Hoje", "De Tentar Voltar" e "Não Acorde o Neném". A primeira ele compôs só, num quarto de hotel; a segunda fez junto com Domenico durante uma viagem. E em "Não Acorde o Neném" ele criou a melodia e Domenico depois fez a letra. Não ter um padrão  faz a múltipla beleza de "Coisa Boa".

O disco foi feito em brechas que ele encontrava entre outros compromissos. Além dos discos com a banda Cê, ele coproduziu com o pai Recanto, da madrinha Gal Costa.

"A gente tem trabalhado muito, e mesmo no meu disco ele me ajudou. No primeiro também. A gente está sempre junto desde sempre. É muito bom trabalhar com meu pai. Todos nós que trabalhamos com ele sabemos que, profissionalmente, é incrível a dedicação, o respeito e o apoio constante durante todo o trabalho".

Sucessão
Moreno também foi parceiro do filho de Gilberto Gil, Bem, na produção de Gilbertos Samba. "Que trabalho feliz, que coisa boa de fazer, ficar no estúdio junto com eles. Trabalhar com Bem foi tão produtivo, tão bom", diz Moreno, que já havia composto com Gil  a música Nova, do disco Quanta (1997).

Mas tira dos ombros a responsabilidade de uma declaração de Gil, quando disse que ao convidá-los era para que entrassem na "roda da sucessão", já que eles são filhos de discípulos de João Gilberto.

"Graças a Deus eu não me vejo assim, senão eu ia ficar apavorado. Já pensou me ver na roda de sucessão de Dorival Caymmi, João Gilberto e Gilberto Gil? Onde é que eu vou me colocar aí, meu Deus? Eu não, estava ajudando a produzir o disco, feliz da vida".

Noutra brecha em que pôde se dedicar ao próprio trabalho,  gravou  com  Takako Minekawa, no Japão, a música Onaji Sora (O Mesmo Céu). Tem muito ali do que Coisa Boa é feito: individual/coletivo, oriente/ocidente e cruzamento de gerações.

A propósito, em 2011 saiu apenas no Japão o disco Moreno Veloso Solo in Tokyo.  Esse episódio - para ele foi um "acidente de percurso" - se deu porque num dia em que ele iria se apresentar com o projeto +2 no Japão, o atraso nas obras de um museu em que  fariam o show de inauguração, a impossibilidade dos parceiros estarem lá na nova data fez com que  se apresentasse sozinho.

"De uma certa maneira, tocar de cabeça pra baixo, do lado oposto do planeta tirou um pouco do medo porque é tão diferente", diz Moreno. Na volta, fez o show em Salvador e no Rio. "Apresentei pra mostrar que a gente aprendeu também a fazer alguma coisa". A gente, neste caso, é ele mesmo. E alguma coisa, como o "Coisa Boa", é uma coisa e tanto.


Jornal Estado de Minas
25/5/2014

Moreno Veloso lança CD com faixas que o artista vem colecionando ao longo da carreira

Show de estreia do disco 'Coisa boa', que tem a presença de parceiros constantes, será em São Paulo

Por MARIANA PEIXOTO

Foto: Caroline Bittencourt / Divulgação

O pai é Caetano, a madrinha é Gal. Mas é sobre Tom Jobim que Moreno Veloso prefere falar: “Num disco do Tom em Minas Gerais (Ao vivo em Minas, de 2008, resultado de um show realizado em 1981 no Palácio das Artes), em que ele está sozinho ao piano, ele começa (a apresentação) falando um texto bonito... Diz que quando a gente está amparado pelos amigos é mais fácil, principalmente para quem é tímido. Que a gente tem que se doar, e não pode ser aquele garoto tímido a vida inteira.” Aos 41 anos e com uma carreira que caminha para a segunda década, Moreno diz que as palavras de Tom não o largam. No entanto, é hora de seguir em frente. Sozinho, mas com a ajuda dos amigos.


Coisa boa é o primeiro álbum de Moreno Veloso. Na verdade, é o primeiro que ele assina sozinho. Sua estreia discográfica, por assim dizer, ocorreu quase 15 anos atrás, quando se reuniu aos amigos de colégio Kassin e Domenico para lançar Máquina de escrever música (2000), trabalho que também marcou o início do projeto +2. Ao longo da década passada houve outros dois registros do projeto, o de Kassin +2 e o de Domenico +2, sempre com o trio como protagonista, além de músicos convidados. Moreno ainda lançou dois discos com a Orquestra Imperial. Nesse meio tempo, criou com os amigos a trilha de Imã, espetáculo do grupo Corpo. Houve outros trabalhos, produções, participações, até mesmos os discos solo dos antigos companheiros de +2.


Até que chegou a sua vez. Produzido pelo próprio Moreno, em parceria com Pedro Sá (outro da turma que vem produzindo e tocando com Caetano Veloso na fase mais recente, da banda Cê), Coisa boa traz 11 faixas. “São coisas que vim colecionando ao longo dos anos. Quem me ajudou a montar o repertório foi o Pedro Sá. Ele se sentou comigo e começamos a lembrar das músicas que gostaria de ter gravado”, comenta. Entre o material inédito, há canções registradas na voz de outrem. O disco, por exemplo, é aberto com Lá e cá, que Nina Becker (mais uma da turma, é uma das crooners da Orquestra Imperial) gravou duas vezes, em diferentes versões, para os álbuns Azul e Vermelho. Hoje e Um passo à frente foram conhecidas primeiro na voz de Gal Costa. Da seleção, há somente uma canção não autoral, Num galho de acácias, versão de J. Carlos para a francesa Un peu d’amour.

A turma carioca não deixou Moreno de lado em momento algum. Kassin, Domenico e boa parte da Orquestra Imperial se fizeram presentes nas gravações. Mas como o disco teve um tempo longo de gestação – não custa nada lembrar que Moreno vem produzido os discos e DVDs de Caetano desde Cê, como também Recanto, de Gal, e o Partimpim, de Adriana Calcanhotto – houve espaço para que outras turmas se aproximassem. Entre 2010 e 2012, por causa do trabalho da mulher, Clara, Moreno se mudou com ela e os dois filhos para Salvador. O primogênito de Caetano e Dedé Gadelha é soteropolitano, mas já aos 3 anos mudou-se para o Rio, onde fez toda sua formação. Dessa maneira, esse retorno a Salvador apresentou uma nova cidade a ele.

De Salvador a Tóquio

A capa de Coisa boa traz fotografia de Arthur Nobre feita na praia do Porto da Barra, no pôr do sol. Em primeiro plano há um menino olhando para o mar. Mais acima, um grupo de pessoas, Moreno e amigos baianos entre elas. “(Depois da temporada) Fiquei muito mais próximo culturalmente da Bahia. Quando a gente está longe, só escuta uns ecos distantes. Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, além deles, tem muito mais. Ronei Jorge, meu primo Jota (Veloso), Márcio Melo, Gabi Guedes, um percussionista que tocou com Peter Tosh e hoje é figura central da Orquestra Rumpilezz.”

De Salvador ele fez uma ponte até Tóquio. Presenças recorrentes em Coisa boa são a cantora japonesa Takako Minekawa e o músico e produtor Hiroshi Takano. Para falar sobre eles, Moreno volta alguns anos atrás, quando ainda estava com o +2. Convidado para shows no Japão, o então trio teve as datas da apresentação modificadas. Resultado: quando conseguiram uma nova data, somente Moreno tinha disponibilidade para viajar. Foi sozinho encarar os japoneses – até então nunca havia feito um show solo. Apesar do nervosismo, as duas apresentações no interior do Japão deram tão certo que ele foi convidado para mais duas em Tóquio. Os shows foram gravados, e resultaram num álbum ao vivo lançado somente no mercado japonês (daí a analogia à experiência mineira de Tom Jobim).

Como uma coisa leva a outra, depois dessa houve outras temporadas do outro lado do mundo. Conversa daqui, conhece dali, se aproximou da cantora Takako Minekawa, que com Hiroshi e outros tantos, tem uma turma não muito diferente da de Moreno no Rio. Assim que começou a trabalhar em seu próprio disco, ele fez o convite para uma participação. “Poderia ser qualquer coisa: um barulho eletrônico, acústico, alguma coisa experimental”, relembra ele. Mandou o que tinha até então e recebeu a seguinte resposta de Takako: “Vou gravar Num galho de acácias junto com você, só que com uma oitava acima e em português!” Diante dessa proposta inusitada, Moreno resolveu fazer o mesmo, só que ao contrário. Takako escreveu a letra de Onaji sora (O mesmo céu, em bom português) que foi cantada em japonês pelos dois. A gravação foi realizada num estúdio em Tóquio, em mais uma viagem que Moreno fez àquele país. Aproveitando a oportunidade, os dois japoneses fizeram pequenas participações em canções, fazendo algumas interferências.

Coisa boa estreia em palco em 26 de junho, no Sesc Pompeia, em São Paulo. A seu lado Moreno vai ter Pedro Sá (violão, guitarra), Bruno Di Lullo (baixo) e Rafael Rocha (bateria), os dois últimos integrantes da banda Tono, de Bem, filho de Gilberto Gil. Ainda que assine sozinho seu primeiro disco, Moreno nunca está só. E continua lembrando-se de Tom Jobim nessa nova fase da carreira: “Com a ajuda dos amigos aprendi a caminhar, ganhei força para ficar em pé sozinho. Como disse o Tom, tem uma hora que o artista tem que chegar mais perto do público sem aquela armadura toda.”

Para descortinar, sem pressa

É o próprio Moreno quem escreve o release (texto de divulgação enviado à imprensa) de Coisa boa. Há um adendo assinado por Rodrigo Amarante, colega de geração, de Orquestra Imperial, e que tem uma participação no trabalho. “Seu disco me olha calmo porque sabe quem eu sou, tem esse ar, me reconhece e me faz lembrar quem eu gostaria de ser”, escreveu o hermano.

Coisa boa vem a público meses depois de Cavalo, também o primeiro álbum solo assinado por Amarante. Além da proximidade que os une, Coisa boa e Cavalo encontram semelhanças na sonoridade. Ambos são álbuns baseados na canção, cheio de barulhinhos e efeitos.

A música-título nasceu como uma canção de ninar, melodia que Moreno entoava para os filhos Rosa e José. Seus versos, com um clima infantil (“Nossa brincadeira agora/ Pode ser também dormir”), encontram pares em outras canções, Jacaré coruja e Não acorda o neném. O restante do repertório tem outros temas tangíveis – a praia, o mar, a terra – e intangíveis – a noite, a saudade, o amor.

De tentar voltar é marcada pelos cellos executados pelo próprio Moreno (que também assina boa parte dos violões e percussões do álbum); o choro Não acorde o neném tem um cavaquinho de Davi Moraes que é colorido por palmas de amigos em tom saudosista; Um passo à frente carrega no clima festivo; enquanto Em todo lugar já se aproxima do rock.

Lento e cheio de silêncios, Coisa boa se encontra com Cavalo também nessas características. Só que o resultado do trabalho de Amarante é um tanto monocórdio, enquanto o de Moreno vai ganhando diferentes tonalidades e camadas, para serem descortinadas sem pressa, a partir de cada nova audição.
 


23 junho 2014

Tárik de Souza é jornalista e crítico musical, produz e apresenta o programa MPBambas, e assina pesquisa e pauta de O Som do Vinil, apresentado por Charles Gavin, ambos no Canal Brasil.

# Depois de participar do inovador trio rotativo + 2, com Kassin e Domenico Lancellotti, Moreno Veloso, o primogênito de Caetano Veloso (antecipado na canção “Julia/Moreno”, de “Araçá azul”, de 1972) finalmente estréia solo aqui, aos 41 anos, em “Coisa boa” (Independente), produzido por ele e o guitarrista Pedro Sá. O título saiu de uma valsinha de ninar os filhos, Rosa e José (“Tanta coisa boa/ nada é de ninguém/ fica aí à toa/ vou ficar também”). Ganhou letra de Domenico, também co-autor de outro acalanto, “Não acorde o neném”. Em tom minimalista, como a própria voz delicada de Moreno, o disco mistura atmosferas de sua natal Salvador, Bahia, e a conexão oriental, responsável por ele ter lançado seu primeiro disco no Japão (“Solo in Tokyo”, 2011) ainda não editado no Brasil. A cantora Takako Minekawa é sua parceira em “O mesmo céu” (“Onaji sora”), gravada na capital japonesa pelos dois, no idioma local. O disco também tem o samba de roda “Um passo à frente”, parceria com Quito Ribeiro, inaugurado por Gal Costa, o pop rock “Em todo lugar” (“Levei minhas roupas embora/ levei algumas suas também/ passei a chave embaixo da porta”) e a canção desiludida “Hoje” (“é só não pensar em nós como a melhor parte de mim/ eu quero chegar/ a um dia dizer/ de tanto ficar só/ vivo bem sem você”). Relíquia do repertório, ressurge ralentado, pontuado por fagote, o fox-trot “Num galho de acácias”, versão de J. Carlos para “Um peu d’amour” (L. Silesu/A. Nilson Fyscher), gravada pelo cantor Roberto Paiva, em 1945, na outra face do 78 rotações “Oh, Minas Gerais”, hino do estado adaptado da canção italiana “Vieni sul mar”.





26/6/2014

Moreno Veloso faz a estreia nacional do show de lançamento de seu novo disco Coisa Boa. Ao lado de Pedro Sá (guitarra), Bruno di Lullo (baixo) e Rafael Rocha (bateria e percussão), Moreno (voz, violão e percussão) toca todas as 11 músicas de seu novo trabalho, como a faixa-título, "Lá e cá", "Jacaré coruja" e "Hoje", além de "Das Partes" e "Arrivederci", canções de seu primeiro disco Máquina de Escrever Música, lançado em 2000 como Moreno+2.

Local: Teatro Sesc Pompeia



 
Sesc Pompeia (SP)







Na noite de segunda-feira (7/7/2014), o show do cantor Moreno Veloso agitou o Theatro NetRio, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro.








Caetano se apresenta ao lado do filho Moreno Veloso em show no Rio
 














15/9/2014
PROGRAMA DO JÔ 

Filho de Caetano Veloso foi uma das atrações do Programa do Jô

Moreno Veloso falou sobre sua parceria com a japonesa Takako Minekawa

“Confirmando o ditado ‘filho de peixe, peixinho é’, quero chamar o músico Moreno Veloso”, anuncia o Gordo. O segundo convidado da noite é filho de Caetano Veloso, que acabou de lançar o álbum “Coisa Boa”. A última faixa, em parceria com a japonesa Takako Minekawa, foi especial para Moreno. “Eu tinha muita vontade de fazer uma música em japonês. Então mandei um e-mail para a Takako e deu certo”, conta. O compositor também fala sobre as consequências deixadas por uma dengue hemorrágica: “De uma hora para outra, eu esqueci completamente como tocar guitarra. Tive que reaprender tudo”. No telão, uma gravação antiga mostra Moreno e o pai cantando juntos. A canção é “Só Vendo Que Beleza”, de Maria Bethânia, a primeira música que Moreno aprendeu a cantar.




“Eu tenho uma casinha... fica na beira da praia...” Foi a primeira música que aprendi a cantar, inteira. Meus pais fizeram até uma gravação, depois perderam-na. Eu com três anos de idade.
Foto: Zé Paulo Cardeal




CD, Maravilha 8 / Pommelo Distribuições [Brasil]






O cantor e compositor Moreno Veloso no estúdio Maravilha 8, no bairro de Botafogo


LP, Luaka Bop, 9/9/2014 [EE.UU.]




 

Photo: Cole Evelev






22/9/2016

Moreno Veloso: "Mi música es una gran mezcla, pero en la base está mi Bahía natal"

El brasileño se presenta este sábado desde las 20 en el Centro Cultural Kirchner (CCK), sito en Sarmiento 151 de la ciudad de Buenos Aires, en el marco del ciclo Verde Amarelo que celebra la música de ese país vecino.

 “La música de Bahía es una influencia muy profunda, muy honda. Siempre sigo junto a mis raíces y no puedo apartarme de ellas, pero estoy abierto a oír e intentar ritmos nuevos. Creo que mi música es una gran mezcla, pero en la base está mi Bahía natal”, expresó el artista en diálogo con Télam.

Veloso, quien estará acompañado por el guitarrista Pedro Sá, el baterista Rafael Rocha y el bajista Bruno Di Lullo, estará mostrando en esta nueva visita al país los temas de su último disco “Coisa boa”, editado en 2014.


Este trabajó marcó el regreso al disco de Veloso, tras la publicación de la trilogía “+2”, junto a  Domenico Lancellotti y Alexandre Kassin, y de un trabajo registrado en Japón, a pesar de tratarse de un incansable artista que produce, compone y comparte escenarios de manera permanente con diversos colegas.

La nueva visita al país de Veloso se produce un año después de una recordada actuación, precisamente en el CCK, en compañía de la artista argentina Juana Molina.

En diálogo telefónico con Télam, el músico brasileño brindó algunos detalles del concierto que ofrecerá y analizó distintos aspectos de su carrera.

¿Qué puede decirnos del show que ofrecerá este sábado?
Estaremos tocando algunos temas de “Coisa boa”, con mi amigo Pedro Sá, y gente de la Banda Tono, de Brasil, que son Rafael Rocha y Bruno Di Lullo, de quienes también vamos a hacer algunas canciones porque me gustan mucho. Ya toqué en el CCK con Juana Molina y es una sala buenísima. Muy bella, una construcción magnífica. Estoy muy feliz de volver a esa sala porque es un lugar mágico.

Usted fue incluido en un ciclo que celebra la música brasileña, del que ya participaron Egberto Gismonti, Arnaldo Antunes y Jacques Morelenbaum, ¿cómo se siente al respecto?
Muy contento porque ellos son artistas muy grandes. Gismonti es el más grande de nosotros y admiro mucho el trabajo de Arnaldo, así que estar en la misma escena que ellos es una cosa muy buena, muy importante para mí.

A pesar de tener una larga historia musical, tiene pocos discos editados como solista. ¿A qué se debe?
Para mí, siempre es mejor el trabajo en equipo, junto a amigos y con gente que admiro, porque creo que el resultado siempre es mejor, más bonito. Esa es mi filosofía, no me gusta hacer nada solo. A veces tengo que tocar solo o producir un disco solo, pero no es lo que más me gusta. Soy un agradecido de estar con la gente que admiro. Hay músicos y productores muy buenos cerca mío. Incluso, “Coisa boa” fue producido en conjunto con Pedro Sá, así que formalmente figura como disco solista, pero es también un trabajo en equipo.

Tres canciones de ese disco, “Coisa boa”, “Não acorde o neném” y “Em todo lugar” fueron incluidas en la premiada película “Boyhood”. ¿Qué puede decirnos al respecto?
Fue una sorpresa para mí porque no conocía a esa gente. A través de mi discográfica en Estados Unidos, conocieron el disco y el director Richard Linklater escogió esas tres canciones para poner en el film. Me puse muy contento y cuando fui a Estados Unidos pude conocer al director y a los productores. Todo fue muy fuerte porque el filme es buenísimo y le dio un poco de visibilidad a mi disco en Estados Unidos. Fue una sorpresa muy buena.

Usted estudió Física en la universidad, ¿qué conexión encuentra entre el mundo de la física y el de la música?
Hay dos puntos interesantes. Yo trabajé en un laboratorio en donde construíamos equipos de electrónica. Eso me enseñó mucho sobre cómo manejarme en un estudio de grabación. Por otra parte, el estudiar física es muy bueno para el cerebro porque siempre estás pensando cosas nuevas, intentando cosas difíciles, entonces hace que nuestra “máquina de pensar” sea más fuerte y más libre también. Además, es un contrapunto para balancear lo intuitivo en el arte.

Al igual que su padre con “Mano a mano”, hace poco usted también interpretó a Gardel, al participar en el disco “Morocho”, del artista argentino Marcelo Ezquiaga. ¿Cómo resultó esa experiencia?
Al principio me dio un poco de miedo, pero me encantó la experiencia. Fue buenísimo estar junto a Marcelo, que es una gran persona. Fue todo muy bueno, muy gracioso, y me encantó poder cantar a Gardel. Es un gran honor porque para nosotros también es muy importante Gardel.

¿Se sintió alguna vez condicionado como artista al tener tantos grandes músicos en su familia?
Nunca quise separarme artísticamente de mi familia. Los admiro muchísimo. Son grandes artistas y para mí es un honor ser parte de lo que ellos hacen. Compongo cosas que ellos graban, producimos cosas juntos, compartimos escenarios y todo eso me hace muy feliz. Es un honor poder hacer esas cosas con ellos y también ser parte de la cultura brasileña, que es aún más grande que todos nosotros. 



23/9/2016

Moreno Veloso: "Con mi padre somos amigos"

El músico contó cómo fue su rol como productor de varios discos de su padre, el reconocido Caetano, y dió detalles de su show este sábado en el CCK

23/9/2016 - Entrevista LA NACION - Víctor Hugo Ghitta



“Me gusta ser hijo de Caetano”

El artista brasileño, que se presenta hoy en La Ballena Azul del CCK, explica cómo sus canciones llegaron a Hollywood y cómo le cambió la vida haberse convertido en padre.









24/9/2016 - CCK - Sala Sinfónica




2016 - Tour Europa

10/10/2016 - LISBOA 
Con Rafael Rocha, Pedro Sá e Bruno Di Lullo - Foto: Catarina Henriques


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