miércoles, 10 de agosto de 2016

2010 - MÚSICA FALADA


“Coitado de meu filho, ele sofre muito quando fala da prisão e do exílio”

[Dona Canô, 8/11/2010]




O Projeto Música Falada leva para o palco, artistas consagrados da música brasileira que, de maneira simples, interagem com os apresentadores.






Tribuna  
      da Bahia
Caetano Veloso apresenta projeto Música Falada hoje no TCA
8/11/2010

Hoje às 21h, será a vez de Caetano Veloso contar as histórias da vida, da carreira, de Santo Amaro, da família e da Bahia como inspiração para sua obra, no projeto Música Falada que em formato de um talk show reúne artistas de vários segmentos que, de forma descontraída, dão depoimentos, contam histórias e revelam diferentes aspectos do seu talento, no Teatro Castro Alves, Campo Grande.
Sempre surpreendente Caetano Veloso promete uma apresentação emocionada. O cantor e compositor irá apresentar alguns dos sucessos mais marcantes de sua carreira. Além disso, falará sobre suas composições, discos, novos projetos e também estará aberto a perguntas da plateia presente.
Traçar a trajetória de Caetano Veloso, em um roteiro de duas horas e meia de duração, não será tarefa fácil para o trio condutor do Projeto Música Falada. “Difícil resumir Caetano”, confessa André Simões, diretor geral do projeto e um dos responsáveis pelo roteiro.  O desafio de trazer para o palco a história e a obra de um dos maiores gênios da MPB despertou a curiosidade do público, que transformou o show de encerramento da temporada 2010 do Música Falada no mais disputado. Os ingressos esgotaram uma hora e meia depois de aberta a bilheteria.
Criado em 2007 pelos apresentadores do Roda Baiana – André Simões, Jonga Cunha e Fernando Guerreiro - O Música Falada une música, teatro e comunicação. Segue o formato do rádio e é conduzido no palco do TCA com a meia dose de curiosidade e muito bom humor. Qualquer que seja a dificuldade de resumir a longa trajetória do artista genial e polêmico, a riqueza da obra e a trajetória de vida do filho de Dona Canô já garantem uma apresentação histórica e sem amarras. “Não vai haver assunto proibido”, afirma Caetano.
O roteiro do espetáculo prevê 16 canções que traduzam a cronologia de vida e obra do artista. Da infância em Santo Amaro, o início da carreira, os festivais de música pelo Brasil, o movimento tropicalista, o exílio e, sobretudo, a música e as composições. Mas quem conhece um pouco da trajetória de Caetano sabe que o melhor de tudo é deixá-lo à vontade. Nada como deixar o pensamento fluir para explorá-lo. E o público quer mesmo saber o que pensa Caetano, exatamente por suas declarações polêmicas e pela sua liberdade de pensamento.
Entre histórias e curiosidades o melhor presente é, sem dúvida, sua obra. As composições do final dos 1960 como “Alegria Alegria”, “Soy Loco Por Ti América”, “Tropicália”, “Baby” e “Atrás do Trio Elétrico”.  As canções feitas no exílio de três anos em Londres – “London London”, “A Tua Presença”, “Quero Voltar Pra Bahia” e “Irene”.  A fase anos 1970/1980, recheada de sucessos como “Tigresa”, “Índio”, “Gente”, “Leãozinho”, “Odara”, “Terra”, “Sampa”, “Muito Romântico”, “Lua de São Jorge”, “Beleza Pura”, “Menino do Rio”. Da imensa lista de belas canções o público vai se identificar com algumas delas. Impossível ficar indiferente a arte de Caetano.
O sucesso no Brasil e fora dele, as discussões políticas e culturais, sempre deixaram o artista sob a mira da mídia.  É bom repercutir Caetano, e o que ele fala, principalmente sobre política é sempre amplamente divulgado.  Eleitor declarado de Brizola e Lula chegou a ser procurado por Fernando Collor para um encontro. Em 94 foi citado por Fernando Henrique Cardoso em seus discursos como presidente, dizendo que o pensamento de Caetano sobre o Brasil deveria ser seguido.
Um artista com o olhar no futuro, que se renova, que dialoga e produz com o novo.  Que experimenta no CD Onqotô (2005), que busca novidades sonoras em Cê (2006) e que adere a novas linguagens em Obra Em Progresso, série de shows realizados no Rio de Janeiro, durante todo o ano de 2008, para escolha de composições que fariam parte do CD Zii e Zie. Em paralelo à produção do CD surgiu também o blog Obra em Progresso, uma versão online do projeto, que acabou com o lançamento de Zii e Zie.




09/11/10
Caetano Veloso se apresenta em Salvador com a mãe na plateia
Dona Cano assistiu ao show do filho dentro do projeto Música Falada.
Do EGO, no Rio
Caetano Veloso se apresentou em Salvador, na Bahia, com a mãe na plateia. Nesta terça-feira, 9, Dona Canô assistiu ao show do filho dentro do projeto Música Falada.









Do iBahia, com informações da Contigo!

Dona Canô prestigia Caetano Veloso no Musica Falada

Cantor revelou segredos de carreira no TCA
10/11/2010


 

Na segunda-feira, 08, Caetano Veloso encerrou a temporada do Música Falada 2010. Emocionado com a recepção do TCA lotado e aplaudindo de pé, Caetano começou cantando "Coração Vagabundo" e abrindo a alma sobre a saída de Santo Amaro em 1960 para Salvador. "Eu não pedi pra sair de Santo Amaro, mas com a Bossa Nova de João Gilberto e com o movimento cultural que acontecia naquela época a partir da Escola de Teatro da UFBA, eu sentia que dava pra mudar o mundo a partir dali", revelou Caetano, que confessou a resistência em fazer música até o sucesso de "É de Manhã", gravado por Maria Bethânia e por Wilson Simonal. "Eu queria fazer cinema, mas logo descobri que era muito caro. Três anos pra conseguir um patrocínio e cinco pra começar a filmar. Os atores já estão cansados de esperar", contou.


 

Na plateia montada no palco estava a mãe, Dona Canô, ouvindo atenta as histórias do filho. Chegou até mesmo a reclamar quando ele disse que os irmãos Veloso iam à missa, mais que os pais, que eram muito religiosos. A longa trajetória do artista genial e polêmico, a riqueza da obra e a trajetória de vida do filho de Dona Canô, não cabiam no espaço de tempo da apresentação do Música Falada, mas importantes e até difíceis momentos vividos pelo artista foram contados com leveza por Caetano. A prisão em 1968, sem nenhum fato que justificasse a perda da liberdade dele e de Gil. O desespero de se ver preso: "Enlouqueci com a prisão. Sou narcisista pelo fato de ser brasileiro, e o Brasil ficar contra mim foi muito difícil de metabolizar", disse Caetano.
Ao sair do palco foi direto a abraçar a mãe e o filho Moreno. Não voltou para o bis e embarcou na terça-feira, 09, para Los Angeles.








André Simões, Jonga Cunha e Fernando Guerreiro









Blog do Noblat
13.11.2010 9
Segredos dolorosos
Vitor Hugo Soares é jornalista .
Os principais diários de Salvador e os grandes jornais do País - com seus estranhos e incompreensíveis cadernos B e suplementos culturais cada vez mais grudados no que acontece ou vem de fora, alheios ou indiferentes ao que se passa diante do nariz -, praticamente ignoraram o principal fato da música e da cultura esta semana no Brasil. Um caso acontecido na capital baiana, é verdade, mas bem emblemático da confusão nestes dias de faz de conta na mídia em geral, na cultura, na política e no poder.
Segunda-feira (08/11) Caetano Veloso saiu do histórico palco do Teatro Castro Alves visivelmente extenuado. Os sinais de tensão e emoção ainda permaneciam à flor da pele do artista, como se ele tivesse acabado de participar de uma experiência semelhante a da maratona enfrentada pela atriz Jane Fonda, no demolidor filme de Sidney Lumet, “A Noite dos Desesperados" (Não se matam mais Cavalos?), jóia premiada do cinema político e social dos anos 70.
Pode parecer exagero, mas esta é a primeira imagem comparativa que vem à cabeça do jornalista diante do espetáculo protagonizado pelo filho querido de Santo Amaro da Purificação, na cidade que o projetou para o País e o mundo. Agora, beirando os 70 anos de idade, Caetano havia acabado de vencer com a mesma garra e brilho (mesmo despedaçado física e intimamente) um teste demolidor.
Quase três horas de música e conversa sobre a vida, a poesia, a juventude e a velhice, os colegas e amigos, a profissão, a família, a religião, a política, a prisão, o exílio, a volta e a permanência. Uma catarse pessoal diante da platéia que ocupava todos os lugares do TCA em festa, como em suas noites mais memoráveis.
Por exemplo, aquela do reencontro (também na incrível década dos 70) de Chico Buarque de Holanda com Caetano na volta do compositor baiano do exílio em Londres, imposto pela censura e o tacape da ditadura que então imperavam por aqui.
Na época, repórter do Jornal do Brasil na sucursal de Salvador, lembro de ter permanecido praticamente o tempo inteiro ajoelhado atrás daquela balaustrada de madeira que separa as partes inferior e superior da platéia do TCA. Isso para não atrapalhar a visão da turma de cima e, ao mesmo tempo, não perder nenhum detalhe, por mínimo que fosse, daquele momento inigualável que meu amor pela profissão e minha paixão pela música me permitiam presenciar tão de perto.
No mesmo lugar de permanente acolhimento “da verdadeira Bahia”, como disse João Gilberto certa vez no mesmo palco, Caetano Veloso encerrou esta semana a temporada 2010 do projeto “Musica Falada”. Trata-se, na verdade, de uma experiência baiana de sucesso – infelizmente ainda pouco divulgada na própria Bahia e no resto do país- que reúne no palco e na platéia interativamente, música, comunicação e teatro.
O projeto surgiu em 2007. Foi idealizado pelos apresentadores do programa Roda Baiana, na Rádio Metrópole de Salvador – André Simões, Jonga Cunha e Fernando Guerreiro, este último um autor e diretor teatral de reconhecimento nacional. Um dos principais responsáveis pela notável transformação da cena baiana nas últimas décadas, em termos de integração palco e platéia. O que ajuda a explicar em boa parte o fato de Salvador ter se transformado em verdadeira usina de produção de espetáculos premiados e atores. Wagner Moura, Lázaro Ramos, Wladimir Britcha – entre muitos outros atores e atrizes – que o digam.
“Teatro Falado” segue o formato do programa radiofônico da também inovadora Radio Metrópole, de Mario Kertész. “Roda Baiana” tem sido levado ao palco do TCA em edições períódicas e quase sempre antológicas e com a mesma química que alia inteligência, criatividade, irreverência e bom humor do programa diário no estúdio da rádio. Foi assim também na última segunda-feira, só que com muito mais intensidade.
Principalmente quando o artista foi levado a falar sobre sua prisão e posterior exílio ao lado do amigo e colega Gilberto Gil. "Enlouqueci com a prisão. Sou narcisista pelo fato de ser brasileiro, e o Brasil ficar contra mim foi muito difícil de metabolizar", disse Caetano num dos momentos mais pungentes do espetáculo. Mas tudo regado, diga-se, com doses generosas de humor, a exemplo das lembranças de vivências com Chico Buarque, em especial do que os dois aprontaram no programa que apresentavam juntos na TV Globo.
Caetano começou o espetáculo cantando “Coração Vagabundo”, sentado num banquinho com seu violão e cercado no palco pela família e muitos amigos. Quase três horas depois deixou a cena interpretando “Tenda dos Milagres”, aplaudido e mais emocionado ainda do que entrou. Foi abraçado e confortado ainda no palco pela mãe, Dona Canô, que acaba de completar 102 anos.
Foi dona Canô quem deu o magnífico toque final de uma noite para não esquecer. Cumprimentada ainda no palco do TCA pelos realizadores do “Música Falada”, em agradecimento pela presença ilustre, a matriarca dos Veloso disse a Fernando Guerreiro, voltando-se para a principal figura da noite: “Coitado de meu filho, ele sofre muito quando fala da prisão e do exílio”. E ela decidiu na hora: “A partir de hoje vou proibir Caetano de falar dos sofrimentos na prisão e do período que foi forçado a passar longe da família e fora do Brasil”.
Grande Dona Canô! Pena que uma noite como a de segunda-feira em Salvador tenha passado praticamente incólume do olhar da imprensa local e nacional. Saudades do Caderno no B do falecido Jornal do Brasil, que seguramente não deixaria um fato como este passar sem informação aos seus leitores.
À exceção – registre-se a bem da verdade - dos belos registros do site da revista “Contigo” (editora Abril) e do portal da Metópole, cuja TV transmitiu tudo via web. Quem sabe daí não sairá mais tarde um vídeo tão sensacional quando o disco ao vivo, gravado durante o encontro histórico de Caetano e Chico Buarque, também no TCA.
A conferir

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