“Coitado de meu filho,
ele sofre muito quando fala da prisão e do exílio”
[Dona Canô, 8/11/2010]
O Projeto Música Falada leva para o palco, artistas consagrados da música brasileira que, de maneira simples, interagem com os apresentadores.
Tribuna
da Bahia
da Bahia
Caetano Veloso apresenta
projeto Música Falada hoje no TCA
8/11/2010
Hoje às 21h, será a vez de Caetano Veloso contar as histórias da vida,
da carreira, de Santo Amaro, da família e da Bahia como inspiração para sua
obra, no projeto Música Falada que em formato de um talk show reúne artistas de
vários segmentos que, de forma descontraída, dão depoimentos, contam histórias
e revelam diferentes aspectos do seu talento, no Teatro Castro Alves, Campo
Grande.
Sempre surpreendente Caetano Veloso promete uma apresentação emocionada. O cantor e compositor irá apresentar alguns dos sucessos mais marcantes de sua carreira. Além disso, falará sobre suas composições, discos, novos projetos e também estará aberto a perguntas da plateia presente.
Sempre surpreendente Caetano Veloso promete uma apresentação emocionada. O cantor e compositor irá apresentar alguns dos sucessos mais marcantes de sua carreira. Além disso, falará sobre suas composições, discos, novos projetos e também estará aberto a perguntas da plateia presente.
Traçar a trajetória de Caetano Veloso, em um roteiro de duas horas e
meia de duração, não será tarefa fácil para o trio condutor do Projeto Música
Falada. “Difícil resumir Caetano”, confessa André Simões, diretor geral do
projeto e um dos responsáveis pelo roteiro. O desafio de trazer para o
palco a história e a obra de um dos maiores gênios da MPB despertou a
curiosidade do público, que transformou o show de encerramento da temporada
2010 do Música Falada no mais disputado. Os ingressos esgotaram uma hora e meia
depois de aberta a bilheteria.
Criado em 2007 pelos apresentadores do Roda Baiana – André Simões,
Jonga Cunha e Fernando Guerreiro - O Música Falada une música, teatro e
comunicação. Segue o formato do rádio e é conduzido no palco do TCA com a meia
dose de curiosidade e muito bom humor. Qualquer que seja a dificuldade de
resumir a longa trajetória do artista genial e polêmico, a riqueza da obra e a
trajetória de vida do filho de Dona Canô já garantem uma apresentação histórica
e sem amarras. “Não vai haver assunto proibido”, afirma Caetano.
O roteiro do espetáculo prevê 16 canções que traduzam a cronologia de
vida e obra do artista. Da infância em Santo Amaro, o início da carreira, os
festivais de música pelo Brasil, o movimento tropicalista, o exílio e,
sobretudo, a música e as composições. Mas quem conhece um pouco da trajetória
de Caetano sabe que o melhor de tudo é deixá-lo à vontade. Nada como deixar o
pensamento fluir para explorá-lo. E o público quer mesmo saber o que pensa Caetano,
exatamente por suas declarações polêmicas e pela sua liberdade de pensamento.
Entre histórias e curiosidades o melhor presente é, sem dúvida, sua
obra. As composições do final dos 1960 como “Alegria Alegria”, “Soy Loco Por Ti
América”, “Tropicália”, “Baby” e “Atrás do Trio Elétrico”. As canções
feitas no exílio de três anos em Londres – “London London”, “A Tua Presença”,
“Quero Voltar Pra Bahia” e “Irene”. A fase anos 1970/1980, recheada de
sucessos como “Tigresa”, “Índio”, “Gente”, “Leãozinho”, “Odara”, “Terra”,
“Sampa”, “Muito Romântico”, “Lua de São Jorge”, “Beleza Pura”, “Menino do Rio”.
Da imensa lista de belas canções o público vai se identificar com algumas
delas. Impossível ficar indiferente a arte de Caetano.
O sucesso no Brasil e fora dele, as discussões políticas e culturais,
sempre deixaram o artista sob a mira da mídia. É bom repercutir Caetano,
e o que ele fala, principalmente sobre política é sempre amplamente
divulgado. Eleitor declarado de Brizola e Lula chegou a ser procurado por
Fernando Collor para um encontro. Em 94 foi citado por Fernando Henrique
Cardoso em seus discursos como presidente, dizendo que o pensamento de Caetano
sobre o Brasil deveria ser seguido.
Um artista com o olhar no futuro, que se renova, que dialoga e produz com
o novo. Que experimenta no CD Onqotô (2005), que busca novidades sonoras
em Cê (2006) e que adere a novas linguagens em Obra Em Progresso, série de
shows realizados no Rio de Janeiro, durante todo o ano de 2008, para escolha de
composições que fariam parte do CD Zii e Zie. Em paralelo à produção do CD
surgiu também o blog Obra em Progresso, uma versão online do projeto, que
acabou com o lançamento de Zii e Zie.
09/11/10
Caetano Veloso se apresenta em Salvador com a mãe na plateia
Dona Cano assistiu ao
show do filho dentro do projeto Música Falada.
Do EGO, no Rio
Caetano Veloso se apresentou em Salvador, na Bahia,
com a mãe na plateia. Nesta terça-feira, 9, Dona Canô assistiu ao show do filho
dentro do projeto Música Falada.
Do iBahia, com
informações da Contigo!
Dona Canô prestigia Caetano
Veloso no Musica Falada
Cantor revelou segredos de carreira no TCA
10/11/2010
Na segunda-feira, 08, Caetano Veloso encerrou
a temporada do Música Falada 2010. Emocionado com a recepção do TCA lotado e
aplaudindo de pé, Caetano começou cantando "Coração Vagabundo" e
abrindo a alma sobre a saída de Santo Amaro em 1960 para Salvador. "Eu não
pedi pra sair de Santo Amaro, mas com a Bossa Nova de João Gilberto e com o
movimento cultural que acontecia naquela época a partir da Escola de Teatro da
UFBA, eu sentia que dava pra mudar o mundo a partir dali", revelou
Caetano, que confessou a resistência em fazer música até o sucesso de "É
de Manhã", gravado por Maria Bethânia e por Wilson Simonal. "Eu
queria fazer cinema, mas logo descobri que era muito caro. Três anos pra
conseguir um patrocínio e cinco pra começar a filmar. Os atores já estão
cansados de esperar", contou.
Na plateia montada
no palco estava a mãe, Dona Canô, ouvindo atenta as histórias do filho. Chegou
até mesmo a reclamar quando ele disse que os irmãos Veloso iam à missa, mais
que os pais, que eram muito religiosos. A longa trajetória do artista genial e
polêmico, a riqueza da obra e a trajetória de vida do filho de Dona Canô, não
cabiam no espaço de tempo da apresentação do Música Falada, mas importantes e
até difíceis momentos vividos pelo artista foram contados com leveza por
Caetano. A prisão em 1968, sem nenhum fato que justificasse a perda da
liberdade dele e de Gil. O desespero de se ver preso: "Enlouqueci com a
prisão. Sou narcisista pelo fato de ser brasileiro, e o Brasil ficar contra mim
foi muito difícil de metabolizar", disse Caetano.
Ao sair do palco foi
direto a abraçar a mãe e o filho Moreno. Não voltou para o bis e embarcou na
terça-feira, 09, para Los Angeles.
André Simões, Jonga Cunha e Fernando Guerreiro |
Blog do Noblat
13.11.2010 9
Segredos dolorosos
Vitor
Hugo Soares é
jornalista .
Os
principais diários de Salvador e os grandes jornais do País - com seus
estranhos e incompreensíveis cadernos B e suplementos culturais cada vez mais
grudados no que acontece ou vem de fora, alheios ou indiferentes ao que se
passa diante do nariz -, praticamente ignoraram o principal fato da música e da
cultura esta semana no Brasil. Um caso acontecido na capital baiana, é verdade,
mas bem emblemático da confusão nestes dias de faz de conta na mídia em geral,
na cultura, na política e no poder.
Segunda-feira
(08/11) Caetano Veloso saiu do histórico palco do Teatro Castro Alves
visivelmente extenuado. Os sinais de tensão e emoção ainda permaneciam à flor
da pele do artista, como se ele tivesse acabado de participar de uma
experiência semelhante a da maratona enfrentada pela atriz Jane Fonda, no
demolidor filme de Sidney Lumet, “A Noite dos Desesperados" (Não se matam
mais Cavalos?), jóia premiada do cinema político e social dos anos 70.
Pode
parecer exagero, mas esta é a primeira imagem comparativa que vem à cabeça do
jornalista diante do espetáculo protagonizado pelo filho querido de Santo Amaro
da Purificação, na cidade que o projetou para o País e o mundo. Agora, beirando
os 70 anos de idade, Caetano havia acabado de vencer com a mesma garra e brilho
(mesmo despedaçado física e intimamente) um teste demolidor.
Quase
três horas de música e conversa sobre a vida, a poesia, a juventude e a
velhice, os colegas e amigos, a profissão, a família, a religião, a política, a
prisão, o exílio, a volta e a permanência. Uma catarse pessoal diante da
platéia que ocupava todos os lugares do TCA em festa, como em suas noites mais
memoráveis.
Por
exemplo, aquela do reencontro (também na incrível década dos 70) de Chico
Buarque de Holanda com Caetano na volta do compositor baiano do exílio em
Londres, imposto pela censura e o tacape da ditadura que então imperavam por
aqui.
Na época,
repórter do Jornal do Brasil na sucursal de Salvador, lembro de ter permanecido
praticamente o tempo inteiro ajoelhado atrás daquela balaustrada de madeira que
separa as partes inferior e superior da platéia do TCA. Isso para não
atrapalhar a visão da turma de cima e, ao mesmo tempo, não perder nenhum
detalhe, por mínimo que fosse, daquele momento inigualável que meu amor pela
profissão e minha paixão pela música me permitiam presenciar tão de perto.
No mesmo
lugar de permanente acolhimento “da verdadeira Bahia”, como disse João Gilberto
certa vez no mesmo palco, Caetano Veloso encerrou esta semana a temporada 2010
do projeto “Musica Falada”. Trata-se, na verdade, de uma experiência baiana de
sucesso – infelizmente ainda pouco divulgada na própria Bahia e no resto do
país- que reúne no palco e na platéia interativamente, música, comunicação e
teatro.
O projeto
surgiu em 2007. Foi idealizado pelos apresentadores do programa Roda Baiana, na
Rádio Metrópole de Salvador – André Simões, Jonga Cunha e Fernando Guerreiro,
este último um autor e diretor teatral de reconhecimento nacional. Um dos
principais responsáveis pela notável transformação da cena baiana nas últimas
décadas, em termos de integração palco e platéia. O que ajuda a explicar em boa
parte o fato de Salvador ter se transformado em verdadeira usina de produção de
espetáculos premiados e atores. Wagner Moura, Lázaro Ramos, Wladimir Britcha –
entre muitos outros atores e atrizes – que o digam.
“Teatro
Falado” segue o formato do programa radiofônico da também inovadora Radio
Metrópole, de Mario Kertész. “Roda Baiana” tem sido levado ao palco do TCA em
edições períódicas e quase sempre antológicas e com a mesma química que alia
inteligência, criatividade, irreverência e bom humor do programa diário no
estúdio da rádio. Foi assim também na última segunda-feira, só que com muito
mais intensidade.
Principalmente
quando o artista foi levado a falar sobre sua prisão e posterior exílio ao lado
do amigo e colega Gilberto Gil. "Enlouqueci com a prisão. Sou narcisista
pelo fato de ser brasileiro, e o Brasil ficar contra mim foi muito difícil de
metabolizar", disse Caetano num dos momentos mais pungentes do espetáculo.
Mas tudo regado, diga-se, com doses generosas de humor, a exemplo das
lembranças de vivências com Chico Buarque, em especial do que os dois
aprontaram no programa que apresentavam juntos na TV Globo.
Caetano
começou o espetáculo cantando “Coração Vagabundo”, sentado num banquinho com
seu violão e cercado no palco pela família e muitos amigos. Quase três horas
depois deixou a cena interpretando “Tenda dos Milagres”, aplaudido e mais
emocionado ainda do que entrou. Foi abraçado e confortado ainda no palco pela
mãe, Dona Canô, que acaba de completar 102 anos.
Foi dona
Canô quem deu o magnífico toque final de uma noite para não esquecer.
Cumprimentada ainda no palco do TCA pelos realizadores do “Música Falada”, em
agradecimento pela presença ilustre, a matriarca dos Veloso disse a Fernando
Guerreiro, voltando-se para a principal figura da noite: “Coitado de meu filho,
ele sofre muito quando fala da prisão e do exílio”. E ela decidiu na hora: “A
partir de hoje vou proibir Caetano de falar dos sofrimentos na prisão e do
período que foi forçado a passar longe da família e fora do Brasil”.
Grande
Dona Canô! Pena que uma noite como a de segunda-feira em Salvador tenha passado
praticamente incólume do olhar da imprensa local e nacional. Saudades do
Caderno no B do falecido Jornal do Brasil, que seguramente não deixaria um fato
como este passar sem informação aos seus leitores.
À exceção
– registre-se a bem da verdade - dos belos registros do site da revista
“Contigo” (editora Abril) e do portal da Metópole, cuja TV transmitiu tudo via
web. Quem sabe daí não sairá mais tarde um vídeo tão sensacional quando o disco
ao vivo, gravado durante o encontro histórico de Caetano e Chico Buarque,
também no TCA.
A
conferir
No hay comentarios:
Publicar un comentario