viernes, 18 de enero de 2013

2002 - CAETANO, 60 años



Cuidando dos discos do artista há 35 anos, a Universal Music batizou 2002 como o "ano Caetano”.



Setiembre: Caja HOMEM COMUM     -    Diciembre: Caja TODO CAETANO



CD single, promocional



Quarta-Feira, 07 de Agosto de 2002

Caetano ano 60 

Caetano Veloso completa hoje 60 anos, com missa em Santo Amaro, às 18h.








CAETANO VELOSO, 60 ANOS DE PURO CHARME
Mariana Trindade

O cantor comemora a nova idade em Santo Amaro da Purificação, sua cidade natal.
Ele também participou de uma missa e foi homenageado pelo Coral Miguel Lima, no Teatro Dona Canô
Dona Canô preparou um almoço especial a pedido do filho, que foi a Santo Amaro da Purificação comemorar o aniversário de 60 anos

Na entrada da cidade, que fica a 80 km de Salvador, faixas com mensagens e trechos de músicas do cantor. A rotina da pacata Santo Amaro da Purificação foi alterada com o aniversário de seu filho mais ilustre, que completou 60 anos na quarta-feira, 7. Familiares e amigos de infância o aguardavam com um almoço preparado pela mãe, dona Canô, de 94 anos. Caetano chegou no fim da tarde acompanhado da mulher Paula Lavigne, 33, e dos filhos Zeca, 10, e Tom, 5.

No cardápio sugerido pelo aniversariante, além de frigideira de maturi, prato preferido de Caetano, teve moqueca de tainha, vatapá e ensopado de camarão. Como sobremesa, doces de goiaba, de leite e de laranja da terra. 'Quando era pequeno não gostava de comer, mas depois que cresci, acabei gostando de tudo', disse Caetano diante dos mimos da mãe. Dos setes irmãos de Caetano, apenas Maria Bethânia, 56, e Roberto, 63, não puderam participar por já terem compromissos agendados.

Logo depois do almoço, todos seguiram para a igreja. A Paróquia de Nossa Senhora da Purificação foi decorada com copos-de-leite, rosas brancas e liziantos especialmente para a missa, que começou com o coral Miguel Lima entoando a Ave Maria. Caetano sentou-se na segunda fila ao lado de Paula e dos filhos, enquanto sua mãe cantava no coral.

Ao final, todos seguiram para mais uma homenagem prestada pelo Coral, agora no Teatro Dona Canô. A irmã Mabel levou um bolo em forma de violão, coberto de glacê natural e com recheio de ameixa com coco e maçã com baba de moça. No palco, mais uma vez o cantor recebeu os parabéns, surpreendido por uma gravação de quando tinha 11 anos, onde cantava Parabéns pra Você com a irmã Nicinha ao piano. 'Agradeço à minha mãe, aos meus irmãos, às minhas mulheres, aos meus namorados e a todos que estão aqui', retribui, como sempre, um irreverente Caetano.







Foto: Thereza Eugênia










Teatro Dona Canô en Santo Amaro, inagurado en setiembre de 2001.













Foto: Thereza Eugênia













Julio 2002
Revista Marie Claire nº 136

Caetano, 60 anos:
“Cabelo branco
é bonito, mas é triste”


Entrevista: Caetano Veloso acha que seu maior defeito é falar demais.



As idades de Caetano

Mês que vem, Caetano Veloso completa 60 anos, mas o mais controverso gênio da MPB tem todas as idades bem vivas dentro dele.

Na infância, Caetano não vê a menor graça: 'Ser criança é uma chatice, você se aborrece o dia inteiro'. Bom mesmo é ser adolescente. Contra todos os clichês que definem esse período da vida como difícil e doloroso, ele vê a saída da infância como uma explosão de felicidade. 'Eu me identifico, gostei de ser adolescente.' Tanto gosta que tem amigos com um terço de sua idade -amigos que, talvez entusiasmados com a jovialidade de Caetano, às vezes se esquecem que ele hoje é um senhor. 'Eu preciso lembrá-los disso.' A juventude parece ser a fase da vida que mais combina com sua personalidade, e a pouca euforia com que ele fala do senhor Caetano é mostra disso. Quando dizem que o cabelo branco ficou bonito, ele responde: 'É bonito, mas é triste'. Debaixo dos caracóis grisalhos, no entanto, parece que sempre vai existir o Caetano menino, cuja grande imperfeição, segundo ele mesmo, é ser meio tagarela. 'Acho que meu maior defeito é que eu falo muito.'

Marie Claire Como você está encarando a idéia de fazer 60 anos?
Caetano Veloso Vou fazer 60 anos em agosto. Não é ideal: é real. Eu já venho com as questões de maturidade, de envelhecimento há muito tempo. É o símbolo do número redondo...

MC E nada funciona mais como antes.
CV Com 45 anos comecei a usar óculos, e até então minha visão tinha sido sempre maravilhosa. Eu me acostumei aos óculos, me afeiçoei, mas foram uns anos para me habituar a isso. Eu me queixava muito, mas tenho uma grande dose de resignação, porque sei que não tem jeito. Mas evidentemente há um entristecimento, um luto no fato de se começar a perder o foco. Quando dizem que meu cabelo é bonito grisalho, eu digo: é bonito, mas é triste.

MC Você já pensou em tingir o cabelo?
CV Não, tingir talvez fique mais triste, só por isso que eu não tinjo. Certa vez eu tingi, por causa das pessoas mais ingênuas. Quando não te conhecem de perto e vêem cabelos brancos, as pessoas têm uma tendência a achar que a gente é velho, a chamar a gente de senhor. E se a pessoa não tem cabelos brancos não fazem isso.

MC É novidade te chamarem de senhor?
CV Não é muito freqüente, mas hoje acontece muito mais do que acontecia. Tem gente que fala assim: 'Caetano, eu queria que o senhor me desse um autógrafo'. E tenho também amigos muito jovens que parecem nem se lembrar que não sou da idade deles. Às vezes me tratam como se eu fosse igual, e eu digo: 'Espera aí gente, tenho idade e responsabilidades, não tenho a mesma disponibilidade de vocês'.

MC Você sempre teve muita afinidade com a garotada. Continua tendo?
CV Hoje em dia já não tenho mais tanta ligação com adolescentes como eu tinha até uns 45, 50 anos, mas ainda tenho.

MC O que te interessa na adolescência?
CV Eu me identifico, gosto de adolescentes, gostei de ser adolescente. Quando a pessoa se torna um adolescente fica muito mais alegre. Sinto isso em todas as pessoas, na maioria esmagadora, por mais que digam o contrário. Uma das coisas melhores que podem acontecer ao ser humano é sair da infância. A adolescência é uma festa. A infância é uma chatice, a criança sofre, se aborrece o dia inteiro. Quantas vezes uma criança chora por dia? Quantas vezes tem que fazer uma coisa que não quer?

MC Você considera a saída da infância uma conquista, então?
CV Claro. A melhor coisa do mundo é a liberdade, é você crescer. Quando a gente é criança, ficamos olhando para os adultos com inveja, sabendo que eles é que têm o poder e a gente está ali ainda numa situação de desvantagem muito grande. Quando vão ficando adolescentes, você vê logo sorrisos, isso é regra. Esse clichê do adolescente problemático... é claro que, se você vai passar a ter uma vida mais verdadeira, vai ter mais questões. Isso é riqueza de vida. Mas a maioria deles apresenta uma grande alegria, você vê grupos de adolescentes explodindo de alegria, de vitalidade, de desejo, de curiosidade, de tudo o que interessa.

MC E no geral são muito bonitos também.
CV Sim, são muito bonitos. Há o mito de que os adolescentes não são bonitos porque a pessoa está desengonçada, o menino tem espinhas, a menina está meio grande para o corpo, o tamanho dos seios, ainda não sabe se mexer, ainda não é uma mulher, e muitas ficam angustiadas porque não querem mais ser vistas como crianças. Tudo isso se fala, mas o que conta mesmo é a alegria de sair da infância. Isso eu gosto. Por outro lado, gosto também de lidar com gente variada, não só a respeito de faixa etária, mas em todas as questões, classe, raça, nacionalidade.

MC E as crianças?
CV Crianças? Quando Moreno [seu filho mais velho, do casamento com Dedé Gadelha] nasceu, eu não gostava de criança, não. Eu achava criança chatíssima. Tinha nojo de criança, via um anúncio da Johnson na televisão e falava: 'Bah, tenho nojo de bebê, cheiro de bebê, é tudo um horror'. Mas quando Moreno nasceu fiquei apaixonado por ele e por cheiro de bebê em geral. Aí passei a aprender como é bom conviver com crianças.

MC Não te encanta nem um pouquinho a irresponsabilidade da infância, brincar o dia inteiro?
CV Eu tenho a vaga impressão de que as pessoas se iludem. Quando a pessoa passa a ter responsabilidades, que era o que ela tanto desejava quando criança e não podia ter -vou tomar banho na hora que eu quiser, vou deitar na hora que eu quiser-, aí a pessoa fica com muita responsabilidade e tem saudade de um tempo em que ela era boba e não aproveitou. Só que ela não podia aproveitar porque era criança e estava na dependência de ordens chatas.

MC Você fez análise muito tempo?
CV Fiz um bocado e depois parei, fiquei anos sem fazer. Agora estou fazendo.

MC Você gosta?
CV Acho psicanálise um negócio meio estranho, de difícil defesa teórica. Tem muita conversa complicada e pouca clareza científica a respeito do que é aquilo. Mas simpatizo com o movimento de Freud.

MC Você já disse que teve vontade de ser mulher.
CV Não me lembro de ter dito isso. Quando eu era menino, dava graças a Deus por ter nascido homem, porque as mulheres não saíam à noite, não andavam sozinhas, e eu adoro andar na rua. Ia achar o mundo horrível se eu fosse mulher nos anos 50. Elas não podiam ter vida sexual a não ser que quisessem cair num grande desrespeito social. Achava tudo isso muito ruim para a mulher. E nunca tive essa inveja da gravidez, nunca tive vontade de parir uma criança, ter menstruação todo mês. Tenho horror, não queria não. Por outro lado, minha casa era cheia de mulheres, cresci no meio delas, então tenho uma identificação feminina muito forte.

MC Como definiria sua identificação com as mulheres?
CV Por exemplo, quando eu conheci a Regina Casé, ela me disse assim: 'Eu adoro você, porque a gente pode falar com você sobre qualquer coisa. Você gosta de conversa fiada, às vezes é como se estivesse conversando com uma amiga minha, e ao mesmo tempo você é homem'. A identificação era no sentido de eu estar acostumado a conviver com mulheres e ver o mundo de uma perspectiva feminina, de ver como elas falam, como são.

MC Você se sente confortável com mulheres?
CV Me sinto. Na verdade tenho mais amizades masculinas do que femininas, mas tenho amizades femininas importantes e me sinto à vontade com as mulheres no sentido da amizade.

MC Você sempre teve uma vida totalmente heterossexual?
CV É, a base da minha vida tem sido essa. Eu tive ligações muito importantes com mulheres, pelo menos duas: a Dedé primeiro, depois a Paulinha. Fui casado com Dedé durante 20 anos. Me ligo muito à mulher, tenho necessidade da proteção feminina, do companheirismo feminino, de ser acolhido por uma mulher. Mas é assim, foi acontecendo, fez parte da constituição da minha personalidade e por outro lado foi também o que o acaso criou.

MC Acaso?
CV Eu disse primeiro que é a constituição da minha personalidade, mas o acaso também contribuiu para isso, é claro.

MC Se você tivesse arranjado um namorado superbacana, teria ficado com ele?
CV Está no meu livro 'Verdade Tropical'. Está lá com todas as letras, tem a idade, tem tudo, e eu ainda digo que os meus pais teriam aprovado e acolhido com carinho se eu tivesse me casado com um homem, está escrito. Eu acho graça, li naquela 'Suigêneris', aquela revista de homossexuais dizendo que eu fazia uma conversa meio confusa. Acho que eles querem que todo mundo seja um militante gay, ou então não é nada. Achei aquilo uma burrice. Nasci em Santo Amaro, cresci em Santo Amaro, saí de lá quando tinha 18 anos e me sinto profundamente identificado com a cultura da região, que adoro, mas ao mesmo tempo freqüentemente digo que sou um sueco.

MC Por que sueco?
CV Por causa daquela civilidade da Suécia, das notícias que vinham de lá, a liberdade sexual. A revolução sexual dos anos 60 já estava rolando na Suécia desde os anos 30. Eles já tinham fama de ser assim, as mulheres eram bi, as namoradas podiam transar com os namorados, os pais sabiam, não só os homens eram infiéis nos casamentos, mas também as mulheres. Isso lá era uma coisa admissível, compreensível. Então a vontade de ser diferente era mais no sentido de ser diferente do que era opressivo. Mas eu também me identificava muito com a minha cidade, eu não queria sair de Santo Amaro. Eu saí de lá sem vontade.

MC Um tempo depois de sair de Santo Amaro, você foi viver em São Paulo. Moraria lá hoje?
CV Olhe, eu já vivi lá, primeiro achando muito ruim porque não tinha dinheiro nenhum, estava acompanhando Bethânia, estava nos hotéis baratos e a cidade era inóspita, como eu conto em 'Sampa'. Mas depois, quando me casei com Dedé, a primeira casa que eu tive foi em São Paulo. Eu só saí porque fui preso e aqueles militares me arrancaram de dentro de minha casa, de madrugada, e me trouxeram para uma prisão no Rio de Janeiro. Nunca mais revi aquele apartamento. Era minha primeira morada, minha e de Dedé, que a gente arrumou, onde fui muito feliz, então tenho um afeto muito grande por São Paulo. Era na avenida São Luís, quase esquina com a avenida Ipiranga, no coração de São Paulo. Um prédio bonito, daqueles antigos. Agora, acho uma cidade difícil de, por exemplo, entender fotograficamente, não é o caso do Rio ou de Salvador, que têm a orla. Em São Paulo não tem essa colher de chá, é em cima de um planalto, toda espalhada. E uma coisa que eu acho terrível em São Paulo é o engarrafamento, é de chorar. Acho que tem que se dar um jeito nisso. Outra coisa em São Paulo que para mim dói muito é que no Rio as populações das favelas e as populações da alta classe média compartilham uma cidade, e lá não.

MC Você gosta de moda, você é fashion?
CV Não, eu não compro roupa.

MC Quem compra roupa para você?
CV São as mulheres. Minha mãe comprava, depois Dedé passou a comprar e hoje é Paulinha. Detesto fazer compras, sou zero consumidor, não gosto de entrar em loja que vende roupa, acho chato.

MC E outros tipos de loja?
CV Se eu for comprar CD ou livro ainda vá lá, sendo que o livro eu tenho um pouquinho de timidez, mas vou. Depois que faço uma certa amizade na livraria, vou só naquela livraria e compro livro. E o resto, coisas para casa, não compro nada, nem presente. Quando eu fumava não gostava nem de comprar o cigarro.

MC Parou de fumar faz tempo?
CV Faz muito tempo, foi no dia em que Paulinha fez 18 anos [Paula tem 32 anos hoje].

MC Olhando sua vida retrospectivamente, você gosta dela?
CV Gosto.

MC Muito, pouco, médio?
CV Varia, depende do dia, quando estou de bom humor acho bacana, me sinto legal, tenho uma vida assim rica, interessante.

MC O que você gostaria de ter feito que não fez?
CV Não sei, mas não é propriamente essa questão que me aparece. A questão é como saber o que é que se deve fazer, e que sentido aquilo tem. Mas são momentos raros, esses mais pessimistas. E tem momentos leves, em que eu simplesmente vou tocando sem pensar, não fico medindo minha vida, olhando para trás e vendo se está certo, isso é chato pra caramba. Na maior parte do tempo vou agindo, fazendo o que tem que ser feito, na ordem, tocando para frente.

MC Você tem uma obra que é reconhecida, fez conquistas importantes. Isso não é satisfatório?
CV Às vezes satisfaz. Mas não tenho uma aprovação tão completa assim do que consegui produzir, ao contrário. Mas é assim mesmo, faz parte.

MC Três músicas suas que você gosta mais?
CV 'Coração Vagabundo', 'Baby' e 'Terra'. São de três épocas diferentes. 'Coração Vagabundo' é bem antitropicalismo, 'Baby' é tropicalista e 'Terra' é bem depois de tropicalismo.

MC Qual música que você fez, tem vergonha de ter feito e preferia ter esquecido?
CV Acho que tem várias.

MC Uma que te horroriza.
CV Não sei. Tem umas que não são tão boas, mesmo essas que eu disse que gosto, eu gosto, mas não acho muito boas. São interessantes, cada uma tem uma razão de ser bonita para mim.

MC Você ainda continua com problemas para dormir de noite? [Ele dorme tarde e acorda no fim do dia. A entrevista foi feita no início da noite.]
CV Eu durmo tarde, não é muito rítmico. O que acontece é que desde criança eu não gostava de dormir cedo, não queria dormir. Mas eu já me acostumei, gosto de ver a noite, de trabalhar à noite.

MC A que horas você dorme, normalmente?
CV Às 5h.

MC E lá pelas quatro da tarde você acorda.
CV Não é que eu durmo às cinco da manhã e acordo às quatro da tarde. Se eu dormir às cinco e acordar ao meio-dia, está bom, é pouco mas dá para agüentar. Mas se eu acordar às 10h30, 11h, como acontece às vezes, aí eu tomo um suco, vejo um pouco de televisão, volto a ler, leio jornais e deito novamente. Então aí é que está, eu levanto pela segunda vez às quatro da tarde, mas aí já li os jornais, já conversei com meus filhos, já brinquei com um, conversei com outro, falei com Paulinha. Mas para o social, para sair, para marcar entrevista, marco depois das 16h.

MC Você gosta muito de dormir, então?
CV Não, eu não gosto muito de dormir, acho chato ficar perdendo tempo. Na verdade eu preciso dormir para me sentir bem. Se eu dormir pouco fico me sentindo estranho.

MC Você é mal-humorado de manhã, quando acorda?
CV Não, nunca fui. O que eu atualmente tenho tido, às vezes, é um despertar um pouco assim... não mal-humorado, mas um pouco assustado. Demoro para ficar alegre.

MC Qual seu grande defeito?
CV Meu grande defeito... não sei, acho que é falar muito.

MC Por que isso é defeito?
CV
Porque eu falo muito, não tenho muita capacidade de saber uma coisa, pensar uma coisa e não dizer. Sempre aparece a oportunidade de eu falar e termino dizendo o que estou pensando naquele período. Na hora isso me parece que não tem conseqüência, não tem problema. Não sei fazer economia da minha comunicação com as pessoas. Eu não consigo guardar uma coisa comigo para poder ser mais efetivo na hora que eu tiver que dizer uma coisa. Sou muito leonino, vivo muito para fora. Eu considero isso um defeito.

MC Quando as pessoas ficam bravas com você e querem te machucar, te chamam do quê?
CV
Sei lá! Não sei, eu vejo várias maneiras de as pessoas tentarem me ofender, me machucar.

MC Por exemplo, há quem considere você vaidoso.
CV
Não me lembro, nunca vi isso escrito sobre mim.

MC Isso de ser leonino, centro das atenções...
CV
Bem, pode ser devido ao fato de ser leonino, centro das atenções, mas vaidoso não me lembro de ter visto. Alguém escreveu assim, Caetano é vaidoso? Vaidade, eu não me lembro de ver essa palavra vinculada a mim.

MC Mas você concordaria?
CV
Não sei o que dizer quanto a isso, porque não vejo essa palavra aplicada a mim. Vejo dizerem que eu quero dominar o ambiente da música popular, o ambiente intelectual brasileiro. É sempre nessa direção. E eu acho improcedente, não é minha intenção, nem eu faço isso, porque o que não falta no Brasil é gente fazendo coisas na minha área. Na verdade, quando comecei a trabalhar, muito menos gente tinha a oportunidade de se manifestar. A idéia de pluralidade, de um número grande de pessoas diferentes ocupando posições primeiras era impossível. E justamente uma das conquistas do tropicalismo e um dos desejos nossos, grandemente liderado por mim, era que isso se acabasse. Que acabasse a época em que havia um grande nome.

MC Você nunca vai voltar a fazer cinema? [Caetano fez o filme 'Cinema Falado'.]
CV
Eu tinha muita vontade, mas é muito difícil.

MC Difícil como?
CV
Difícil de grana, produção e em relação às pessoas. É muita coisa, é um épico fazer um filme. Para fazer uma música eu sento no meu quarto, pego o violão e faço. E com o cinema as pessoas sofrem tanto, quando eu fiz um filme xingaram tanto que fiquei assustado.

MC Você se assusta com o que os críticos falam?
CV
Não eram críticos, não. Eram as pessoas que fazem cinema. Não é que eles criticaram, eles xingaram na hora, gritando em voz alta dentro do cinema, na estréia. Tinha um cara que gritava, xingava, no início do filme. Ele não esperou para ver se o filme era bom ou ruim, xingava gritando meu nome, coisas horríveis. E depois umas mulheres que dirigem cinema foram para o jornal em São Paulo esculhambar comigo, duas disseram que não tinham visto o filme e que não iriam ver, mas assim mesmo esculhambaram comigo.

MC Você acredita em Deus? CV Não.
MC Nem um pouquinho? Nem no desespero?
CV
Um pouquinho às vezes, não é tanto pelo desespero não, às vezes por causa do pensamento mesmo. Eu fui criado num ambiente muito místico, eu tenho um espírito, uma mente muito mística, mas eu não gosto desse negócio de Deus, de religião.

MC Mas nem a religião desorganizada?
CV
Não, eu não gosto, isso é conversa fiada. Eu não gosto desse negócio não, não acredito em Deus, não gosto dessa conversa de outro mundo.

MC Você perdeu a fé em que momento, quando você fez a primeira comunhão?
CV
É, poucos anos depois. Fui vendo os padres, a mentira, todo mundo atrás de uma coisa. E hoje em dia tem muito Deus na parada. Vejo uns entrando pelos prédios americanos com aviões em nome de Deus, outros na Índia se matando e explodindo ônibus e palácios governamentais por causa de Deus. Acho chato todo mundo falar que acredita em Deus também. Tem uma coisa desonesta, uma certa ingratidão com o que foi conseguido justamente pela anti-religiosidade da vida ocidental. A gente não pode usufruir de tudo isso e depois vir dizer: eu acredito em Deus! Uma conversa fiada, meio covarde. Eu tenho medo de estar diante do mistério, a gente não sabe de nada, mas eu não vou dizer que acredito em Deus, porque seria uma desonestidade.

MC Você tem um prato predileto, gosta de comer?
CV
Gosto. Quando eu era menino não gostava, mas depois da adolescência comecei a gostar. Gosto de comida italiana, sobretudo na própria Itália. Gosto de sashimi de salmão, de atum rosa. Mas não gosto de sushi, porque aquele tamanho acho mal bolado. Não dá para morder, cabe inteiro na boca, não me sinto bem com aquele negócio na minha boca. E o arroz tem uma textura muito diferente do pedaço do peixe, é uma complicação, aquilo é horrível! Mas do sashimi eu gosto, e gosto de muqueca de tainha miudinha. Das comidas que minha mãe faz gosto de maturi. Maturi é a castanha de caju verde.

MC O que você detesta comer?
CV
Hambúrguer. Tudo o que é do MC Donald's eu tenho horror, e hambúrguer qualquer um, mesmo os bons. Não gosto de carne moída, não gosto daquele cheiro.

MC Você deixava sua mãe desesperada com a sua magreza, ela fazia aviãozinho para você comer?
CV
É, quando eu era pequeno sim, mas não adianta. A Bethânia come muito e sempre foi magra, meu pai e minha mãe também, sempre.

MC Você sempre foi magro?
CV
Eu engordei 10 kg em relação ao que eu era antigamente, 20 anos atrás. Dos 18 aos 40 anos eu pesei 48 kg, agora peso 57kg, 58 kg. A única coisa que realmente melhorou em mim foi isso.



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Os 60 anos de Caetano na TV










07/08/2002



Caetano comemora 60 anos com homenagens na TV e lançamentos



da REuters, em São Paulo

Caetano Veloso comemora nesta quarta-feira seu aniversário de 60 anos ao lado da família em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, cidade onde nasceu.

Mas enquanto ele celebra a data íntima e tranquilamente com a mãe, dona Canô, sua vida e carreira são festejadas por diversos programas de TV e lançamentos preparados para este mês pela gravadora Universal.

A emissora a cabo Multishow leva ao ar nesta quarta-feira uma edição especial do programa "Ensaio Geral", no qual Caetano concede uma entrevista à apresentadora Lorena Calábria.

O canal Mundo, também por assinatura, exibirá no dia 18 o documentário "Prenda Minha", enquanto o People + Arts transmitirá no próximo dia 24 o especial "Caetano Veloso - Uma Verdade Tropical".

Até a MTV se rendeu à importância do mentor do Tropicalismo e exibirá tributos nos programas "Supernova", "Nação" e "Álbum".

Cuidando dos discos do artista há 35 anos, a Universal Music batizou 2002 como o "Ano Caetano Veloso".

Além do próximo álbum inédito, "Eu Não Peço Desculpa", que Caetano gravou juntamente com o músico e produtor Jorge Mautner e cujo lançamento está previsto para o próximo dia 22, a gravadora vai soltar a caixa "Homem Comum" com quatro CDs contendo os maiores sucessos do músico baiano.

Caetano Emanuel Vianna Telles Veloso nasceu em 7 de agosto de 1942 filho de Claudionor Vianna Veloso, "dona Canô", e José Telles Veloso.

Seu interesse por música começou desde cedo, mas só em 1960 ele pegou gosto pela bossa nova ao se mudar para Salvador. Foi nessa época que começou a aprender violão e fez amizades com ícones importantes da MPB como Tom Zé e Gal Costa.

Seu primeiro trabalho aconteceu em 1963 ao fazer a trilha sonora da peça "O Boca de Ouro", baseada na obra de Nelson Rodrigues e dirigida por Álvaro Guimarães.

A partir de 1968 o artista começou a se destacar com irreverência e opiniões políticas fortes por conta da gravação de seu primeiro álbum, "Caetano Veloso"- contendo músicas como "Alegria, Alegria"-, e do lançamento do disco "Tropicália ou Panis et Circensis", com os amigos Gilberto Gil, Gal Costa, os Mutantes e Tom Zé.

Em 1969, após ser preso pelo AI-5, ele se mudou para Londres onde viveu exilado até 1972. De volta ao Brasil naquele ano, fez uma série de shows e montou o grupo Doces Bárbaros com sua irmã, a cantora Maria Bethânia.

Nos anos 1980 Caetano se apresentou no exterior e ganhou o reconhecimento de jornais estrangeiros do porte do New York Times, se tornando um dos principais ícones da MPB fora do Brasil.

Em 1993 ele reacendeu o Tropicalismo com o disco "Tropicália 2", que também celebrava a longa amizade com Gil. Em 2000 foi novamente reconhecido pela comunidade internacional e recebeu um Grammy de melhor artista de world music pelo álbum "Livro".

No começo deste ano, mais uma prova de sua respeitabilidade foi concedida pelo governo francês, que elegeu Caetano como Cavalheiro da Ordem das Artes e das Letras, prêmio oferecido pelo Ministério da Cultura e da Comunicação da França a personalidades que contribuem à cultura francesa e do mundo.
 


Os 60 anos do jovem Caetano

O cantor será homenageado pelos canais Multishow, Brasil, Mundo e People + Arts

Caetano Veloso faz 60 anos em 7 de agosto e vai festejar em Santo Amaro da Purificação, onde nasceu, cercado pela família. Os fãs, porém, têm a chance de celebrar a data a seu modo, isto é, sintonizando os canais pagos. Quatro deles homenagearão o cantor e compositor.

A maior celebração será no Multishow. No próprio dia 7, às 22h15, haverá um Ensaio Geral dedicado ao baiano. Ao longo de quase uma hora de entrevista, ele fala do nervosismo que sentiu ao conhecer João Gilberto, lembra os tempos do Tropicalismo e o exílio em Londres e comenta episódios polêmicos:
– Um juiz tentou me tirar a guarda de Moreno (seu filho mais velho) devido à capa de Jóia, diz Caetano, referindo-se ao álbum de 1975, que estampava o cantor, Dedé (sua mulher na época) e Moreno, então com 3 anos, seminus.
O programa é recheado de imagens de festivais e programas de TV dos quais Caetano participou, incluindo Divino Maravilhoso, exibido pela Rede Globo em 1968.

Além do Ensaio Geral, haverá um TVZ Especial no dia 9, às 19 horas, que privilegiará tanto o Caetano compositor quanto o Caetano intérprete. Há desde o baiano cantando Manhã de carnaval com o tenor Luciano Pavarotti até Gal Costa entoando A luz de Tieta. Quatro dias antes, será a vez de o Multishow em Revista, exibido às 21h45, prestigiá-lo.

Já o Canal Brasil exibirá Tabu (dia 23, às 23h30) e Onda nova (24, à 1h30), longas em que Caetano fez participação, e Orfeu (30, às 23h30), que traz sua assinatura na direção musical.

– Estamos tentando também adquirir os direitos de Cinema falado, que o Caetano dirigiu nos anos 80 e reúne suas impressões sobre cinema, diz Wilson Cunha, diretor do Multishow e do Canal Brasil.

O canal internacional People+Arts também investiu no aniversário do brasileiro e exibirá Caetano Veloso - Uma Verdade Tropical dia 24 (sábado), às 21 horas, em toda a América Latina. Uma equipe da produtora Pólo de Imagens, supervisionada pela italiana Michella Giorelli, produtora-executiva do canal, gravou 11 horas de entrevista com o compositor, no Rio e na Bahia.

Há entrevistas também de Gilberto Gil, Dona Canô, Maria Bethânia e David Byrne. Ilustram o programa trechos de clipes e shows, imagens antigas e fotos.
– Além de ser um artista reconhecido internacionalmente, o Caetano representa as transformações sociais e políticas ocorridas no Brasil nas últimas décadas, diz Beth Carmona, diretora de programação e marketing dos canais do grupo Discovery na América Latina e na Península Ibérica.

Estava faltando um show nesta homenagem, e o Mundo preencheu a lacuna. No dia 18 (domingo), às 22 horas, o canal apresenta Prenda minha, gravado em 1999, no Rio.






60 ANOS ESTE ANO, CAETANO VELOSO
 
Doce bárbaro


Caetano Veloso é o convidado de Lorena Calábria no programa "Ensaio Geral". Ele conversa com a apresentadora sobre o lançamento do seu DVD "Noites do Norte", onde mesmo as imperfeições do show foram registradas, sem nenhuma edição. O show, que contou com o retorno da canção "Trem das Cores", tem a participação de Lulu Santos, com quem o baiano canta "Como uma Onda".

O especial apresenta ainda uma participação de Marina Lima, que interpreta "Nosso Estranho Amor". São exibidas também antigas parcerias de Caetano com Paulinho da Viola, Bebel Gilberto e seu filho Moreno Veloso.
 

Multishow/Net/22h15

Foto: Cléber Bonato



São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

Multishow celebra o sexagenário Caetano
DA REPORTAGEM LOCAL



"60 Anos Este Ano - Caetano Veloso" é o nome da série, composta por três programas.

O primeiro deles é "Multishow em Revista", apresentado por Simone Zuccolotto, que leva ao ar hoje, às 21h45, uma colagem de imagens de arquivo recontando a história da vida de Caetano.
A sequência se baseia em um crônica biográfica, escrita com versos de suas próprias músicas.

O "Ensaio Geral", que vai ao ar às 22h15 de quarta-feira, é o segundo especial de aniversário.

Em entrevista de uma hora à apresentadora Lorena Calábria, o cantor recordou algumas passagens importantes de sua carreira, como o dia em que conheceu o ídolo João Gilberto. "Antes de ele entrar na sala, pediu para apagar a luz", contou o cantor. "Depois, com o violão, cantou lindamente "Outra Vez", do Tom Jobim."

Caetano também fala das músicas que compôs no exílio, em Londres, e da visita que recebeu de Roberto Carlos. "Tive um ataque de choro quando ele cantou "Nas Curvas da Estrada de Santos", disse Caetano.

"Ensaio Geral" resgata gravações antigas de shows de Caetano ao lado de Giberto Gil, Gal Costa, Jorge Ben e Chico Buarque.

No programa, o músico de Santo Amaro da Purificação também faz uma análise estética das capas de seus discos e conta histórias curiosas da época em que elas foram produzidas.


A programação especial do Multishow termina com o "TVZ", na próxima sexta-feira. O programa faz apanhado de clipes com músicas compostas por Caetano Veloso. Entre elas, estão canções de trilhas de filmes, como "Orfeu" e "Tieta do Agreste". Há ainda duetos com artistas como Luciano Pavarotti e Marisa Monte.



La Jornada
México D.F.

Domingo, 28 de julio de 2002

Estrenará People + Arts especial sobre la vida de Caetano Veloso

Será transmitido el 24 y 25 de agosto y el 1 de septiembre


DE LA REDACCION

Para los brasileños, Caetano Veloso es mucho más que un cantautor. Su propia vida refleja a la perfección los cambios políticos y sociales que sufrió el país amazónico durante las últimas décadas. En agosto, celebrando el cumpleaños 60 del artista, el canal de televisión de paga People + Arts (canal 36 de Cablevisión) estrenará Caetano Veloso, una verdad tropical, especial que descubre para el televidente el sentir del propio Caetano y su extraordinaria trayectoria profesional. Este programa será transmitido el sábado 24 de agosto de 21 a 22 horas (tiempo de Miami) con repeticiones el domingo 25 de agosto de 1 a 2 de la mañana y el domingo 1 de septiembre de 13 a 14 horas.

El especial Caetano Veloso, una verdad tropical, relata todos los importantes acontecimientos en la vida del artista, considerado por algunos el Bob Dylan de Brasil, utilizando imágenes de archivo, fotografías, clips musicales y declaraciones tanto del propio Caetano como de sus familiares y amigos más allegados. Durante el programa el televidente podrá revivir el primer matrimonio del artista, el nacimiento de su primer hijo, Moreno Veloso, (según el artista el acontecimiento más importante de su vida adulta) y el inicio del movimiento musical Tropicalia.

El programa también incluye entrevistas con importantes artistas como David Byrne, ex vocalista del grupo Talking Heads, el estadunidense Beck Hansen, el maestro del cine italiano Michelangelo Antonioni, y el gran cineasta español Pedro Almodóvar. Entre amigos y también admiradores, los brasileños Nelso Motta, Gal Costa y Gilberto Gil, sus compañeros musicales y amigos que le conocen desde el comienzo, explican el impacto de Caetano en la samba y el bossa nova así como en la nueva generación de músicos brasileños.

Caetano Veloso, una verdad tropical es una producción de la empresa brasileña Polo de Imagen, bajo la supervisión de Michela Giorelli, productora ejecutiva de People + Arts.





FOLHA DE S.PAULO
Ilustrada

São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

Paula veta Caetano cafona

Vai continuar na gaveta o documentário "Em Verdade Tropical", primeira telebiografia de Caetano Veloso. O programa chegou a ser anunciado em jornais, revistas e outdoor. Seria exibido em 24 de agosto do ano passado, quando o músico completou 60 anos, pelo canal pago People+Arts.

Na época, ninguém deu satisfações sobre o cancelamento. Quase um ano depois, a verdade (ou pelo menos parte dela) vem à tona: o programa foi vetado por Paula Lavigne, mulher e empresária de Caetano. "Ficou muito ruim, muito cafona, constrangedor. Caetano viu e morreu de vergonha", diz Paulinha. (DANIEL CASTRO)


Caetano 2 Uma nova edição de "Em Verdade Tropical" foi realizada, por um profissional indicado por Paula Lavigne, para ser exibida em 2003. Caetano adorou, mas o People+Arts vetou, dizendo que não tinha a linguagem do canal.

Caetano 3 A direção do People+Arts, do grupo Discovery, não se pronunciou sobre o cancelamento do documentário de Caetano Veloso, que fazia parte de plano do canal pago de investir em produções no Brasil _aliás, suspensas. 

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