jueves, 10 de enero de 2013

1999 - ORFEU




























 





1998 - 5° Cine Búzios Festival

 
 



 


 




 
 
















FOLHA DE S.PAULO

São Paulo, Terça-feira, 11 de Maio de 1999 

MÚSICA
Caetano canta "Orfeu" em Vigário Geral

Caetano Veloso e Toni Garrido, na apresentação de antreontem em Vigário Geral
 Foto: Ana Carolina Fernandes / Folha Imagem

RONALD VILLARDO
especial para a Folha 

Caetano Veloso juntou-se ao cantor Toni Garrido, à banda local Afro Reggae e a todo o elenco do filme "Orfeu", de Cacá Diegues, para uma apresentação especial do filme seguida de um show em um Ciep dentro da favela de Vigário Geral, anteontem, na periferia do Rio de Janeiro.

"Minha ligação com esta favela é muito especial, porque sou padrinho da banda deles, o Afro Reggae, desde seu "nascedouro'", conta Veloso. A banda foi criada por músicos e percussionistas locais após a chacina de Vigário Geral, há seis anos.

Os componentes da banda lecionam canto e música para jovens e crianças da favela, com a intenção de desviá-los do narcotráfico.

"Orfeu" foi exibido num telão colocado no pátio do Ciep, que é chamado pelos moradores de "Brizolão". A área externa da escola ficou lotada para a exibição do filme e para recepcionar os artistas que participaram do elenco.

Os mais disputados eram o vocalista do grupo Cidade Negra, Toni Garrido, que interpreta Orfeu, e Caetano Veloso, diretor musical do filme.

O longa foi aplaudido pelo público, que identificou-se com os personagens. "É a realidade da favela", gritava uma espectadora para o diretor Cacá Diegues ao término da exibição. A platéia também deslumbrou-se com a possibilidade de simplesmente assistir a um filme cinematográfico.

"A gente, que é da comunidade, não tem a possibilidade de sair e pagar para ver um filme", conta a estudante e moradora de Vigário Geral, Ana Paula Barbosa, 21.

A produtora Renata Magalhães, 37, sócia da Rio Vermelho Produções, uma das empresas responsáveis pelo filme, afirma que, desde o início do projeto, havia a intenção de "exibir o filme para as pessoas que estariam retratadas na tela".
Segundo Magalhães, esse público teria se afastado das salas de cinema por causa da cultura dos shoppings e ingressos caros.

Ao final da exibição, o diretor Cacá Diegues admitiu que, apesar do sucesso de bilheteria de "Orfeu", seria "uma grande frustração se o filme não fosse assistido por esse tipo de público. Eles se reconhecem na tela, é uma grande recompensa", completa.

O projeto conta com o apoio da Prefeitura do Rio e seguirá para outras cinco favelas cariocas, ainda não definidas.

Show
Após a exibição de Orfeu, os moradores de Vigário Geral assistiram a um show com várias bandas locais, em sua maioria rappers que cantavam a vida na favela.

Caetano e Toni Garrido cantaram o "Enredo de Orfeu" com a banda Afro Reggae.

Ao término do espetáculo, Caetano voltou ao palco para cantar suas músicas mais conhecidas, como "Menino do Rio", "Leãozinho" e "Sozinho". "Quero cantar coisas que vocês possam cantar comigo", justificou-se durante o show.







1999 – ORFEU
Banda sonora original de la película de Carlos Diegues
Natasha Records CD 292.105

Producción: Caetano Veloso
Co-producción: Arto Lindsay y Jaques Morelenbaum

 1. O ENREDO DE ORFEU [HISTÓRIA DO CARNAVAL CARIOCA] (Caetano Veloso/Gabriel O Pensador) 1998 Voz: Toni Garrido, Caetano Veloso e Gabriel O Pensador - Bateria da Escola do Samba Unidos do Viradouro
 2. SOU VOCÊ (Caetano Veloso) 1998 Voz: Toni Garrido
 3. VALSA DE EURÍDICE (Vinícius de Moraes) 1974 Orquestra
 4. CANTICO À NATUREZA [PRIMAVERA] (Nelson Sargento/Jamelão) 1959 Vozes: Zezé Motta e Nelson Sargento
 5. MANHÃ DE CARNAVAL (Luis Bonfá/Antônio Maria) Voz: Toni Garrido
 6. OS CINCO BAILES DA HISTÓRIA DO RIO (Silas de Oliveira/D. Ivone Lara/Bacalhau) 1970 Voz: Caetano Veloso
 7. A FELICIDADE (Tom Jobim/Vinícius de Moraes) 1960 Voz: Maria Luiza Jobim
 8. SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ (Tom Jobim/Vinícius de Moraes) 1958 Voz: Caetano Veloso
 9. SOU VOCÊ [ASA DELTA] (Caetano Veloso) 1998 Orquestra
10. A POLÍCIA SOBE O MORRO (Caetano Veloso) 1998 Improvisação: Heitor TP/Ramiro Mussoto
11. VALSA DE EURÍDICE / LUA, LUA, LUA [SANTA LUA] (Vinícius de Moraes/Caetano Veloso) Orquestra
12. ALUCINAÇÃO (Caetano Veloso) 1998 Orquestra
13. EU E O MEU AMOR [CARMEN NO DESFILE] (Tom Jobim/Vinícius de Moraes) 1958 Orquestra
14. ORFEU LEVA EURÍDICE (Caetano Veloso) 1998 Orquestra
15. BATUQUE FINAL (Caetano Veloso) 1998 Improvisação: Ramiro Mussoto
16. MIRA MATA ORFEU (Caetano Veloso) 1998 Orquestra
17. ORFEU DORME (Caetano Veloso) 1998 Orquestra
18. SOU VOCÊ - RADIO REMIX (Caetano Veloso) 1998 (bônus track)
19. O ENREDO DE ORFEU - RADIO REMIX (Caetano Veloso) 1998 (bônus track)











São Paulo, Sexta-feira, 23 de Abril de 1999
 
Trilha do novo "Orfeu" inverte suas antecessoras

da Reportagem Local

No que diz respeito à trilha sonora, o "Orfeu" de Cacá Diegues é o reverso de seus antecessores, a peça "Orfeu da Conceição" (56), de Vinicius de Moraes, e -especialmente- o filme "Orfeu do Carnaval" (59), de Marcel Camus.
 

Se quando Vinicius e Tom Jobim compuseram, em 56, temas como "Se Todos Fossem Iguais a Você" (regravada agora por Caetano em pessoa) insinuavam a futura bossa nova em estágio menos que embrionário, em 59 a revolução já começara a acontecer.
Elizeth Cardoso (que deu voz cantada à Eurídice de Camus) já gravara "Canção do Amor Demais" (58) e João Gilberto já lançara a pedra crucial da bossa, o LP "Chega de Saudade" (59).
 
O próprio João se candidatou, segundo conta Ruy Castro na biografia "Chega de Saudade", a ser a voz do negro Orfeu -perdeu para Agostinho dos Santos, supostamente por ser branco demais.
Teimoso, gravou, ainda em 59, por conta própria, suas leituras de "A Felicidade", "O Nosso Amor" (ambas de Tom e Vinicius) e "Manhã de Carnaval" (de Luís Bonfá e Antonio Maria).
 
O que estava acontecendo? "Orfeu do Carnaval" se serviu da novidade da bossa, mas ainda explorada de forma intermediária, por intérpretes que, embora sensibilizados à nova ordem que nascia, vinham da velha guarda da canção.
 
O "Orfeu" de Caetano é quase inverso simétrico. Utiliza-se de orquestrações pomposas e conceitos da bossa -40 anos depois e, por isso, conservadores hoje- e de elenco de intérpretes colhidos, em geral, da nova geração de músicos.
 
Acontece que os protagonistas vocais eleitos são Toni Garrido (do Cidade Negra) e Gabriel o Pensador -a nata da juventude retrógrada da MPB-, mais a garotinha Maria Luiza Jobim, filha do pai, levada a soar como filha de Vanusa em "A Felicidade", apenas para servir à reafirmação do clã.
 
Se antes era novidade levada à moda antiga, agora o tom é de retrógrada "mocidade" mauricinha -para não descer ao nível de canto abaixo do suportável de Garrido, que destrói impiedosamente a "Manhã de Carnaval" de João e até a de Virginia Rodrigues, afilhada do mesmo Caetano.
 
Entender as razões de Caetano, agora, é de revirar os miolos. Obcecado em reafirmar pontos de vista conclusos, ele atira suas próprias crenças -em muito fundadas na excelência de João- no limbo. A trilha rola quietinha, anódina, nem parece passar pelos ouvidos. Ostenta-se a bandeira verde e rosa de insipidez e conservadorismo -tudo que antes passava longe de Caetano. É preciso muito exercício de lógica para explicar. (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


 
São Paulo, Sexta-feira, 23 de Abril de 1999

CINEMA - "ORFEU"
Filme confirma mito, diz Caetano Veloso 
JORGE MAUTNER
especial para a Folha



Jorge Mautner é cantor, compositor e escritor, autor de músicas como "Vampiro" e "Maracatu Atômico".

Caetano não queria fazer música do filme


Quando entrei no apartamento de Caetano Veloso, bem em frente à praia de Ipanema, na companhia de Nelson Jacobina, fomos saudados pelas risadas do seu lindo filho caçula, Tom, que corria pela sala.
 
Em seguida, Caetano começou a falar de Arthur Schopenhauer e seu livro "Mundo como Vontade e Representação", que ele estava lendo. Chamou-nos a atenção para o trecho em que o pensador germânico falava sobre o sexo e no qual ele definia a pederastia e o homossexualismo como doenças e a mulher como total objeto de procriação e portanto um ser inferior.
 
E, no entanto, em meio a tantas coisas preconceituosas afirmadas pelo filósofo, havia uma espantosa declaração: que a raça branca seria uma anormalidade doentia da espécie humana e que o verdadeiro homem é o de cor marrom e negra.
 
Caetano Veloso colabora com Cacá Diegues mais uma vez, como já havia feito em "Tieta", ao compor a trilha de "Orfeu", interpretado pelo músico Toni Garrido, que estréia hoje em circuito nacional. Leia trechos da entrevista.

Folha - O que você poderia falar sobre o seu disco misterioso?
Caetano Veloso -
Que disco? Não existe nenhum disco misterioso...
 
Folha - Dizem ser um disco que você gravou e não fala sobre. Talvez um disco com João Gilberto?...
Veloso -
Bem, trabalhos com João Gilberto existem. Fui a Buenos Aires e fiz três noites com ele, foi espetacular, mas nós não gravamos algo que dê para disco. Gravamos assim domesticamente para a gente mesmo ouvir. Portanto não há disco nenhum.
O que há é que eu tenho plano de produzir o próximo disco do João. Mas isso depende dele, de como as coisas andarem. Se eu fizer, terá sido o trabalho da minha vida.
 
Folha - Fale da trilha sonora de "Orfeu" e trace comparações entre este trabalho e o "Orfeu do Carnaval", de Marcel Camus. E também sobre o filme "Central do Brasil", porque li você dizendo que, apesar de ter gostado muito do filme, achava que nele preponderava a outra visão dos estrangeiros sobre o Brasil, isto é, a pobreza uniforme e cinematográfica.
Veloso -
Esse texto que você leu no jornal em que eu falo sobre o "Central do Brasil" foi de fato uma compilação feita pelo jornalista de uma entrevista que eu dei pra ele, numa entrevista geral, genérica, não foi um artigo. Se eu parasse para escrever um artigo sobre "Central do Brasil", seria muito diferente. Aquilo são coisas que saíram espontaneamente no meio de uma conversa que envolvia muitas outras coisas. Então você tem que fazer uma ressalva, um desconto.
 
Agora, sobre o "Orfeu do Carnaval", feito por Marcel Camus, existe um texto meu elaborado, embora não muito completo, no meu livro "Verdade Tropical". Eu conto a história desse filme na minha formação. A reação que tive na época, que foi, como a da maioria dos brasileiros, negativa, porque eu era um adolescente. As platéias brasileiras não gostaram do filme. O filme agradou aos estrangeiros, mas não aos brasileiros.
 
Agora, eu conto no livro, e aqui posso adiantar um pouco mais essa explicação, que, desde o tropicalismo, a relação interna com esse filme mudou muito. Porque um dos temas do tropicalismo justamente era tentar reproduzir ironicamente, mas procurando participar do entendimento dos motivos, a visão dos estrangeiros sobre o Brasil. Então esse filme é o paradigma da visão dos estrangeiros sobre o Brasil. Não só em si, como o resultado dele é a prova disso.
 
A reação que nós brasileiros tivemos contra esse filme na época revela a nossa brasilidade. O filme era frustrante do ponto de vista do que a gente esperava de um filme. Enquanto para os estrangeiros foi o contrário, foi a revelação do Brasil por meio do cinema. E sobretudo por causa da música.
 
Porque aquilo também era o lançamento mundial da bossa nova. Naquilo revelava-se a paisagem do Rio, num idealização de uma população homogeneamente negra, numa favela, e com tratamento musical da bossa nova.
 
O "Orfeu" é um filme novo de Cacá Diegues no estágio em que ele se encontra. O Cacá de uma certa forma terminou encarnando o cinema novo. Isso não é pouca coisa. Por causa do temperamento mais diplomático, equilibrado, razoável, cheio de bom senso dele, terminou tendo que responder sozinho por tudo que o cinema novo foi, suas conquistas e frustrações.
 
E o fato é que a geração dele começou a fazer cinema sem saber fazer cinema. É uma gente que tinha muita ambição sociológica, muito amor pelo cinema, mas eles foram se tornando fazedores de filmes na medida em que foram fazendo filmes.
 
Em "Veja Esta Canção", Cacá demonstrou também que hoje há uma geração de técnicos que fazem os filmes andarem sozinhos. Ele tem grandes filmes, mas em nenhum deles o nível de fatura era assim desenvolvido e desembaraçado como em "Veja Esta Canção". E se viu grandemente confirmado em "Tieta", que para mim é um dos grandes filmes brasileiros.
 
Eu tenho muitas razões para ser apaixonado por "Tieta", é um dos meus filmes favoritos. Para mim, "Tieta" é um grande passo; não só do Cacá como encarnação, como avatar do cinema novo, mas também um grande passo do cinema brasileiro como um todo.
 
E "Orfeu" é um filme que já foi feito depois desse passo. "Orfeu", antes de tudo, é uma confirmação do mito de Orfeu ligado ao Brasil, desta vez feita por um brasileiro. E o filme é produzido com uma competência arrasadora.
 
Então fazer a música para este filme é uma coisa que eu não queria, porque dava muita importância à questão do Orfeu e ao repertório que foi composto para a peça de Vinicius por Tom e Vinicius e para o filme do Marcel Camus por Tom, Vinicius, Luis Bonfá e Antonio Maria, que é um repertório de obras-primas. Achava que eu não deveria mexer nisto.
 
Acabei como músico contratado, porque o Cacá me pediu, me convenceu. Terminei compondo um samba enredo do qual me orgulho muito e fiquei muito contente de ter feito a canção de amor que em princípio eu tinha me negado a fazer, mas que o Cacá me convenceu a fazer, porque achei que a canção acabou confirmando aquele estilo de canção que Tom e Vinicius compuseram para a peça.




 


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