A estreia da turnê será no dia 1 de abril, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.
Caetano Veloso - “MEU COCO”
"Muitas vezes sinto que já fiz canções demais. Falta
de rigor?, negligência crítica? Deve ser. Mas acontece que desde a infância amo
as canções populares inclusive por sua fácil proliferação. Quem gosta de
canções gosta de quantidade. Do rádio da meninice, passando pela TV Record e a
MTV dos começos, até o TVZ no canal Multishow de agora, encanta-me a multiplicidade
de pequenas peças musicais cantadas, mesmo se elas surgem a um tempo
redundantes e caóticas. Há nove anos que eu não lanço álbum com canções
inéditas. No final de 2019, tive um desejo intenso de gravar coisas novas e
minhas. Tudo partiu de uma batida no violão que me pareceu esboçar algo que (se
eu realizasse como sonhava) soaria original a qualquer ouvido em qualquer lugar
do mundo. "Meu Coco", a canção, nasceu disso e, trazendo sobre o
esboço rítmico uma melodia em que se história a escolha de nomes para mulheres
brasileiras, cortava uma batida de samba em células simplificadas e duras.
Minha esperança era achar os timbres certos para fazer desse riff sonhado uma
novidade concreta. E eu tinha a certeza de que a batida, seu som e sua função
só se formatariam definitivamente se dançarinos do Balé Folclórico da Bahia
criassem gestos sobre o que estava esboçado no violão. Com isso eu descobriria
o timbre e o resto. Mas chegou 2020, o coronavírus ganhou nome de Covid-19 e eu
fiquei preso no Rio, adiando a ida à Bahia para falar com os dançarinos.
Esperaria alguns meses?
Passou-se mais de ano e eu, tendo composto canções
que pareciam nascer de "Meu Coco", precisei começar a gravar no
estúdio caseiro. Chamei Lucas Nunes pra começar os trabalhos. Ele é muito
musical e também é capaz de comandar uma mesa de gravação. Começamos por
"Meu Coco", de que "Enzo Gabriel" é uma espécie de
península: seu tema (seu título) é o nome mais escolhido para registrar
recém-nascidos brasileiros nos anos 2018 e 2019. À medida que vou fazendo novas
canções, me prometo pesquisar a razão de, na minha geração e mesmo antes dela,
nomes ingleses de presidentes americanos terem sido escolhidos por gente
simples e pouco letrada, principalmente preta, para batizar seus filhos:
Jefferson, Jackson, Washington - assim como Wellington, William, Hudson - eram
os nomes preferidos dos pais negros e pobres brasileiros. Ainda não fiz nenhum
movimento nesse sentido, mas ter esse disco pronto e estar empenhado em
lançá-lo me leva a certificar-me de que farei a pesquisa, como se fosse um
sociólogo, assim como ter feito "Anjos Tronchos", canção reflexiva
que trata da onda tecnológica que nos deu laptops, smartphones e a internet, me
faz prometer-me ler mais sobre o assunto.
Cada faixa do novo álbum tem vida própria e
intensa. Se "Anjos Tronchos" tem sonoridade semelhante à de Abraçaço,
o último disco que fiz antes deste, "Sem Samba Não Dá" soa à Pretinho
da Serrinha: uma base de samba tocada por quem sabe - e a sanfona de Mestrinho,
que comenta as fusões de música sertaneja com samba tradicional. Uma discussão
sobre o (não) uso da palavra "você" pela brilhante jovem fadista
Carminho virou o fado midatlântico "Você-Você", que ela terminou
cantando comigo - e ganhou bandolim sábio de Hamilton de Holanda fazendo as
vezes de guitarra portuguesa. Há "Não Vou Deixar", com célula de base
de rap criada no piano por Lucas e letra de rejeição da opressão política
escrita em tom de conversa amorosa. "Pardo", cujo título já sugere
observação do uso das palavras na discussão de hoje da questão racial, teve
arranjo de Letieres Leite, baiano, sobre a percussão carioca de Marcelo Costa.
"Cobre", canção de amor romântico, fala da cor da pele que compete
com o reflexo do sol no mar do fim de tarde do Porto da Barra. Jaques
Morelenbaum, romântico incurável, veio orquestrá-la. Mas também tratou de
"Ciclâmen do Líbano", com fraseado do médio-oriente salpicado de
Webern. Devo Lucas a meu filho Tom: os dois fazem parte da banda Dônica; devo a
atenção a novas perspectivas críticas a meu filho Zeca; devo a intensa beleza
da faixa "GilGal" a meu filho Moreno: ele fez a batida de candomblé
para eu pôr melodia e letra que já se esboçava mas que só ganhou forma sobre a
percussão. E eu a canto com a extraordinariamente talentosa Dora Morelenbaum.
Este é um disco de quantidade e intensidade.
"Autoacalanto" é retrato de meu neto que agora tem um ano de idade.
Tom, o pai dele, toca violão comigo na faixa. A nave-mãe, "Meu Coco",
guardou algo da batida imaginada, agora com percussão de Márcio Vitor. Mas o
arranjo de orquestra que a ilumina foi feito por Thiago Amud, um jovem criador
carioca cuja existência diz tudo sobre a veracidade do amor brasileiro pela
canção popular."
Caetano Veloso, 19/10/2021
Foto: Fernando Young |
01/04 - Belo Horizonte, Palácio das
Artes. (ESGOTADO)
02/04 - Belo Horizonte, Palácio das
Artes. (ESGOTADO)
03/04 - Belo Horizonte, Palácio das
Artes. (VENDAS ABERTAS)
08/04 - Porto Alegre, Auditório
Araújo Vianna. (ESGOTADO)
09/04 - Porto Alegre, Auditório
Araújo Vianna. (ESGOTADO)
10/04 - Porto, Alegre, Auditório
Araújo Vianna. (VENDAS
ABERTAS)
16/04
- Itaipava-RJ, Rock the Mountain.
23/04
- Itaipava-RJ, Rock the Mountain.
06/05 - São Paulo, Espaço das
Américas. (VENDAS ABERTAS)
07/05 - São Paulo, Espaço das
Américas.
08/05 - São Paulo, Espaço das
Américas. (VENDAS ABERTAS)
14/05 - São Paulo, Festival Nômade.
21/05 - Salvador, Teatro Castro
Alves. (VENDAS EM BREVE)
22/05 - Salvador, Teatro Castro
Alves. (VENDAS EM BREVE)
28/05 - Recife, Teatro Guararapes.
08/06 - Rio de Janeiro, Vivo Rio.
(VENDAS ABERTAS)
09/06 - Rio de Janeiro, Vivo Rio.
10/06 - Rio de Janeiro, Vivo Rio.
11/06 - Rio de Janeiro, Vivo Rio.
18/06 - Brasília, Auditório Ulysses
Guimarães.
25/06 - São Paulo, Espaço das Américas. (VENDAS ABERTAS)
09/07/2022
- Campinas, Royal Palm Hall
30/07/2022 -
Curitiba, Teatro Guaíra
31/07/2022 -
Curitiba, Teatro Guaíra
13/08/2022 - Inhotim/MG,
Festival MECA Inhotim
20/08/2022 -
Goiânia, Centro de Convenções da PUC Goiás
24/09/2022 - Vitória,
Espaço Patrick Ribeiro
07/10/2022 -
Brasília, Auditório Ulysses Guimarães
20/10/2022 -
Recife, Teatro Guararapes
21/10/2022 -
Recife, Teatro Guararapes (Reposição do show que foi adiado)
23/10/2022 -
João Pessoa, Teatro Pedra do Reino
19/11/2022 - Florianópolis,
Stage Music Park
03/12/2022 - Rio
de Janeiro, Jeunesse Arena
16/12/2022 -
Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna
17/12/2022 -
Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna
AGENDA 2023
BRASIL
02/04 - Salvador, Farol da Barra (com Gilberto Gil, Ivete Sangalo e Luedji
Luna)
BRASIL
15 e 16/04 - Ribeirão Preto, Centro de Eventos Ribeirão Shopping
BRASIL
12/05 - Juiz de Fora, Cine Theatro Central
BRASIL
13/05 - Juiz de Fora, Cine Theatro Central
BRASIL
21/05 - São Paulo, Parque Ibirapuera
CHILE
07/06 - Santiago, Teatro Municipal
ARGENTINA
09/06 - Buenos Aires, Movistar Arena
ARGENTINA
11/06 - Rosário, El Círculo
URUGUAY
14/06 - Montevidéu, Antel Arena
BRASIL
08/07 - Campinas, Royal Palm Hall
BRASIL
19/08 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna
ESPANHA
06/09 - Madri, Palacio de Congresos
PORTUGAL
09 e 10 - Lisboa, Coliseu dos Recreios
PORTUGAL
14/09 - Porto, Coliseu do Porto
PAÍSES BAIXOS 18/09 - Amsterdã,
Royal Theater Le Carré
MÓNACO
21/09 - Montecarlo, Ópera de Montecarlo
FRANÇA 23/09 - Paris, Phillarmonie de Paris
BELGICA 25/09 - Bruxelas, Bozar
SUÍÇA 29/09 - Genebra, Victoria Hall
NORUEGA
01/10 - Oslo, Oslo Konzerthaus
ALEMANHA
04/10 - Hamburgo, Elbphilarmonie
FRANÇA 07/10
- Toulouse, Le Halle Aux Grains
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TEXTO DE CAETANO PARA A APRESENTAÇÃO DO SHOW
Fazer show como parte da divulgação de um Lp novo é um hábito velho, do tempo dos discos físicos. O show Meu Coco, que começa turnê nacional em BH, refere-se a esse costume. Mas não é a mesma coisa. Dos que fiz ao longo da carreira, Prenda Minha foi o mais radical em não conter uma só canção do álbum Livro – e ele saiu do show Livro Vivo, que mantinha muito do repertório do disco. Acho que só Arnaldo Antunes faz shows com o mesmo setlist do disco correspondente. No show Meu Coco procuro juntar peças marcantes do álbum com obras que registrem momentos históricos do meu trabalho. Mas com o caráter de roteiro quase cinematográfico que nunca me abandona quando projeto um espetáculo. Penso na sequência de canções como quem está diante de uma moviola – ou de um aplicativo de “edição”, que é como se chama hoje a montagem. Tenho alma de cineasta, embora não tenha vocação física para a vida de um. Assim, a distribuição de canções novas e canções conhecidas não tem a mera função de agradar aos espectadores que queiram ouvir ao vivo o que aprenderam no novo álbum e aos que busquem reouvir coisas minhas já consagradas. O critério vai muito além disso. A presença de algo antigo mas quase desconhecido – como a de umas e não outras faixas do disco Meu Coco– ilumina o que quer dizer a eventual aproximação de um surrado sucesso óbvio com uma igualmente obvia canção marcante do álbum novo.
O fato de ter comigo, no estúdio de ensaio e no palco, músicos extraordinariamente dotados me deslumbra e intimida. De Lucas Nunes, um dos prodígios da Dônica e do Bala Desejo, que produziu o álbum Meu Coco comigo, a Kainã do Jeje; de Pretinho da Serrinha a Rodrigo Tavares; de Alberto Continentino a Tiaguinho (também) da Serrinha – é todo um grupo de supermúsicos. Lucas e Pretinho pré-planejaram comigo como andariam os arranjos e eu passei quase todo o tempo dos ensaios seguindo as sugestões que vinham deles. Devo confessar que me sinto deslumbrado e intimidado pela musicalidade deles.
Visualmente, o espetáculo ganhou um presente quase mágico. Hélio Eichbauer, que vinha fazendo os cenários de meus shows desde O Estrangeiro, deixou, antes de morrer repentinamente, um esboço cenográfico que, depois de me ser mostrado por Dedé, que foi minha primeira mulher e viveu casada com Hélio por décadas, foi adaptado por Luiz Henrique, que fora assistente do grande cenógrafo. A adequação das linhas de Joseph Albers aos nossos sons nos diz que Hélio está vivo ali. O show é, desse modo, uma homenagem à sua memória.
A luz que revela as muitas possibilidades dessas formas longevas da Bauhaus foi planejada, sob minha mirada, por Fernando Young e Gabriel Farinon (e é operada por este último).
O desafio de equilibrar os sons de uma exuberante percussão com nossos gestos harmônicos e melódicos (além de poéticos) é enfrentado por Vavá Furquim (que, desde um encontro casual em Nova York nos anos 1980, tem sido o responsável pelo PA de todos os meus shows) e Igor Leite, que controla os in-ears e todo o som que os que tocamos ouvimos no palco.
Chego aos 80. A forma geral do show se deve também
ao prazer da volta quase-pós-pandêmica aos palcos e a atenção à minha história
nessa arte tão amada e bem cultivada pelos brasileiros – mesmo que minhas
reservas quanto a meu talento para ela não tenham se desfeito.
Caetano Veloso
Ficha Técnica – Turnê Meu Coco
Direção Musical: Caetano, Pretinho da Serrinha e
Lucas Nunes
Cenário: Luiz Henrique Sá (com adaptação da obra de
Hélio Eichbauer)
Design de luz: Fernando Young e Gabriel Farinon
Banda:
Pretinho da Serrinha – Percussão
Lucas Nunes – Guitarra, Violão e Teclado
Alberto Continentino- Baixo Elétrico
Rodrigo Tavares – Teclado, Glockenspiel e MPC
Kainã do Jêje – Percursão e Bateria
Thiaguinho da Serrinha – Percursão, SPDS e Bateria
Técnicos de som: Vavá Furquim e Igor Leite
Iluminação: Gabriel Farinon
Roadies: Pimpa Cruz e Gabriel Gomes
Cenotécnico: Igor Perseke
Stylist: Felipe Veloso
Produção Executiva: João Franklin
Assistente de Produção: Anabella Esteves
Comunicação: Danilo Dutra
Produzido por Paula Lavigne
Uma realização UNS Produções Artísticas Ltda 2022
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01/04/2022 - Belo Horizonte, Palácio das Artes
02/04/2022 - Belo Horizonte, Palácio das Artes
03/04/2022 - Belo Horizonte, Palácio das Artes
Caetano no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, onde estreia logo mais o show Meu Coco - Foto: JP Lima/Divulgação |
Caetano
estreia o show ‘Meu Coco’
1 de abril de 2022
“Chego aos 80. A forma geral do show se deve também ao prazer da volta quase-pós pandêmica aos palcos e a atenção à minha história nessa arte tão amada e bem cultivada pelos brasileiros – mesmo que minhas reservas quanto a meu talento para ela não tenham se desfeito”.
O trecho acima foi pinçado do texto que Caetano Veloso escreveu para a estreia brasileira do show Meu Coco, esta noite, em Belo Horizonte (MG). O cantor baiano completa 80 anos no dia 7 de agosto e já excursionou com o show Meu Coco pela Europa, mas no Brasil é a estreia.
Meu Coco, baseado no novo disco do compositor e cantor, tem sua première hoje, às 21 horas, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537), e terá mais dois shows; amanhã, também às 21 horas, e domingo, às 20 horas, no mesmo local. As duas primeiras datas estão esgotadas (o teatro tem capacidade para 1,6 mil pessoas). Os últimos ingressos para a última sessão extra do show de Caetano Veloso custam 160 reais estão disponíveis no site eventim ou na bilheteria do Teatro do Palácio das Artes.
Foto: Marcos Vieira/EM/D.A press |
Foto: Daniel Cerqueira/O TEMPO |
08/04 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna
09/04 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna
10/04 - Porto, Alegre, Auditório Araújo Vianna
11 de abril de 2022
Thais
Seganfredo
Foto: Rafael Gloria / Nonada Jornalismo |
Ver
Caetano Veloso retornar aos palcos depois da melhora da pandemia de covid-19 é
como viver um dia meio nublado no qual o sol teme em escapar das nuvens. O
cantor e compositor se apresentou no auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre,
nos dias 8, 9 e 10 de abril, dando sequência à turnê do álbum Meu Coco, que começou em
Belo Horizonte no início do mês.
Além de apresentar suas novas composições, Caetano idealizou um show “autobiográfico e histórico”, como definiu na apresentação de sexta (8/4), na qual o Nonada esteve presente. Se a pandemia nos tornou mais introspectivos e nos fez olhar para dentro, o co-criador do tropicalismo encontrou na sua trajetória momentos para iluminar – para si mesmo e para o público -, homenageando músicos com os quais trabalhou e músicas representativas de diferentes fases da sua história e, consequentemente, da história da música popular brasileira. Foi como se estivéssemos acompanhando, ao vivo e a cores, uma atualização da autobiografía Verdade Tropical.
Por
isso, talvez não existisse escolha melhor para abrir o show do que
“Avarandado”, canção bossanovista gravada por Gal Costa e, mais tarde, por João
Gilberto, confessadamente seu maior mestre e pedra basilar de seu trabalho
enquanto músico. “Meu Coco” veio em seguida, composição que sintetiza tanto o
conceito do álbum como a turnê em si, já que as faixas do novo trabalho trazem
referências à sua trajetória e a diversos nomes da música brasileira mixados
com crônicas sobre o Brasil atual, uma das especialidades de Caetano.
Foto: Rafael Gloria / Nonada |
Não deixa de ser curioso que alguns espectadores tenham tentado puxar outras vezes “Fora, Bolsonaro” em diversos momentos do show, como se esperassem que o artista fosse reagir com algum discurso político, coisa que não costuma fazer parte de seus repertórios, nem durante a ditadura militar. Caetano é político na arte, na atitude, na ousadia e no gesto, e, nesse sentido, nada mais militante do que vê-lo apresentar um novo álbum com a força poética de Meu Coco. Mesmo recém-lançado, o disco conquistou o público do Araújo Vianna, que acompanhou a banda cantando junto algumas das faixas do álbum.
Destaque para “Anjos Tronchos” logo no início do show – no ao vivo, a música ganhou peso com a guitarra e um belo jogo de luzes -, para a balada cheia de melancolia “Enzo Gabriel” (sei que a luz é sutil/mas já verás como é nasceres no Brasil) e, mais para o fim do show, para “Sem Samba Não Dá”. Séria candidata a entrar para a lista infinita de hits do artista, a música rendeu até um coro a capella do público enquanto Caetano arriscava orgulhoso uns passos de samba.
Foto: Rafael Gloria / Nonada |
Em um show extremamente técnico, Caetano mostrou um apuro vocal impressionante, dos graves aos falsetes, dançou com o público, contou histórias e, com a modéstia que lhe é característica, homenageou músicos que fizeram parte de sua trajetória, como Jaques Morelenbaum, e os integrantes da banda Cê e d’A Outra Banda da Terra.
Entre clássicos como “Sampa”, “You Don’t Know Me”, “Baby”, “Cajuína” e “Reconvexo” e “A Bossa Nova é Foda” (“uma visão histórica um pouco desabusada da bossa nova”, o público teve a oportunidade de relembrar ou de conhecer pérolas como “Muito Romântico”, canção a la Bethânia que ele fez para Roberto Carlos em 1977. Teve espaço também para “Itapuã”, que ele dedicou a Gilberto Gil em um post nas suas redes sociais no mesmo dia em que o “irmão de letra e música” se tornou imortal na Academia Brasileira de Letras.
Outra oportunidade única veio com “Pulsar”, poema construtivista de Augusto de Campos transfigurado em som pelos músicos de Caetano em 1975, através da transposição dos versos em notas musicais. A música, aliás, veio acompanhada de uma generosa explicação de Caetano sobre a composição, o que ele fez também quando introduziu “A Outra Banda da Terra”, composta junto à banda homônima. “Hoje essa música tem um valor diferente pra mim. Na primeira estrofe, eu pronuncio o R retroflexo, ‘esforrrço’, ‘forrrça’”, explicou, puxando o R para soar caipira.
Foi um dos poucos momentos de conversa com o público, quando ele contou, enquanto alguns espectadores riam a cada vez que ele falava “porrrta”, como ele conheceu militares gaúchos que também falavam desse jeito quando esteve preso durante a ditadura.“Fiz questão de gravar a música assim, a gente estava em São Paulo, e umas meninas que a gente adorava falavam assim. Depois vi que o R retroflexo estava presente também em outras regiões do Brasil. Não dá mais para rejeitar o R retroflexo”, completou Caetano, talvez no momento mais político do show.
Passando
em revista sua própria história, que segue agora com a força de músicas como
“GilGal” e “Não vou Deixar”, Caetano nos deu a chance de vislumbrar um futuro logo
ali. Não à toa, o encerramento levantou o público de vez com “Odara” e, em
seguida, “Noite de Cristal”, quase que uma oração do artista por tempos menos
nebulosos. Que venham muitos dias com a banda do Olodum.
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16/04 - Itaipava-RJ, Rock the Mountain
23/04 - Itaipava-RJ, Rock the Mountain
16/4/2022 |
16/4/2022 |
16/4/2022 |
16/4/2022 |
06/05/2022 - São Paulo, Espaço das Américas
Foto: Rafael Strabelli |
07/05/2022 - São Paulo, Espaço das Américas
Foto: Anderson Carvalho |
09/07/2022
- Campinas, Royal Palm Hall
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