martes, 22 de marzo de 2022

2022 - MEU COCO - Show


estreia da turnê será no dia 1 de abril, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.










Caetano Veloso - “MEU COCO”

 

"Muitas vezes sinto que já fiz canções demais. Falta de rigor?, negligência crítica? Deve ser. Mas acontece que desde a infância amo as canções populares inclusive por sua fácil proliferação. Quem gosta de canções gosta de quantidade. Do rádio da meninice, passando pela TV Record e a MTV dos começos, até o TVZ no canal Multishow de agora, encanta-me a multiplicidade de pequenas peças musicais cantadas, mesmo se elas surgem a um tempo redundantes e caóticas. Há nove anos que eu não lanço álbum com canções inéditas. No final de 2019, tive um desejo intenso de gravar coisas novas e minhas. Tudo partiu de uma batida no violão que me pareceu esboçar algo que (se eu realizasse como sonhava) soaria original a qualquer ouvido em qualquer lugar do mundo. "Meu Coco", a canção, nasceu disso e, trazendo sobre o esboço rítmico uma melodia em que se história a escolha de nomes para mulheres brasileiras, cortava uma batida de samba em células simplificadas e duras. Minha esperança era achar os timbres certos para fazer desse riff sonhado uma novidade concreta. E eu tinha a certeza de que a batida, seu som e sua função só se formatariam definitivamente se dançarinos do Balé Folclórico da Bahia criassem gestos sobre o que estava esboçado no violão. Com isso eu descobriria o timbre e o resto. Mas chegou 2020, o coronavírus ganhou nome de Covid-19 e eu fiquei preso no Rio, adiando a ida à Bahia para falar com os dançarinos. Esperaria alguns meses?  

Passou-se mais de ano e eu, tendo composto canções que pareciam nascer de "Meu Coco", precisei começar a gravar no estúdio caseiro. Chamei Lucas Nunes pra começar os trabalhos. Ele é muito musical e também é capaz de comandar uma mesa de gravação. Começamos por "Meu Coco", de que "Enzo Gabriel" é uma espécie de península: seu tema (seu título) é o nome mais escolhido para registrar recém-nascidos brasileiros nos anos 2018 e 2019. À medida que vou fazendo novas canções, me prometo pesquisar a razão de, na minha geração e mesmo antes dela, nomes ingleses de presidentes americanos terem sido escolhidos por gente simples e pouco letrada, principalmente preta, para batizar seus filhos: Jefferson, Jackson, Washington - assim como Wellington, William, Hudson - eram os nomes preferidos dos pais negros e pobres brasileiros. Ainda não fiz nenhum movimento nesse sentido, mas ter esse disco pronto e estar empenhado em lançá-lo me leva a certificar-me de que farei a pesquisa, como se fosse um sociólogo, assim como ter feito "Anjos Tronchos", canção reflexiva que trata da onda tecnológica que nos deu laptops, smartphones e a internet, me faz prometer-me ler mais sobre o assunto.  

Cada faixa do novo álbum tem vida própria e intensa. Se "Anjos Tronchos" tem sonoridade semelhante à de Abraçaço, o último disco que fiz antes deste, "Sem Samba Não Dá" soa à Pretinho da Serrinha: uma base de samba tocada por quem sabe - e a sanfona de Mestrinho, que comenta as fusões de música sertaneja com samba tradicional. Uma discussão sobre o (não) uso da palavra "você" pela brilhante jovem fadista Carminho virou o fado midatlântico "Você-Você", que ela terminou cantando comigo - e ganhou bandolim sábio de Hamilton de Holanda fazendo as vezes de guitarra portuguesa. Há "Não Vou Deixar", com célula de base de rap criada no piano por Lucas e letra de rejeição da opressão política escrita em tom de conversa amorosa. "Pardo", cujo título já sugere observação do uso das palavras na discussão de hoje da questão racial, teve arranjo de Letieres Leite, baiano, sobre a percussão carioca de Marcelo Costa. "Cobre", canção de amor romântico, fala da cor da pele que compete com o reflexo do sol no mar do fim de tarde do Porto da Barra. Jaques Morelenbaum, romântico incurável, veio orquestrá-la. Mas também tratou de "Ciclâmen do Líbano", com fraseado do médio-oriente salpicado de Webern. Devo Lucas a meu filho Tom: os dois fazem parte da banda Dônica; devo a atenção a novas perspectivas críticas a meu filho Zeca; devo a intensa beleza da faixa "GilGal" a meu filho Moreno: ele fez a batida de candomblé para eu pôr melodia e letra que já se esboçava mas que só ganhou forma sobre a percussão. E eu a canto com a extraordinariamente talentosa Dora Morelenbaum. 

Este é um disco de quantidade e intensidade. "Autoacalanto" é retrato de meu neto que agora tem um ano de idade. Tom, o pai dele, toca violão comigo na faixa. A nave-mãe, "Meu Coco", guardou algo da batida imaginada, agora com percussão de Márcio Vitor. Mas o arranjo de orquestra que a ilumina foi feito por Thiago Amud, um jovem criador carioca cuja existência diz tudo sobre a veracidade do amor brasileiro pela canção popular."

 

Caetano Veloso, 19/10/2021

















Foto: Fernando Young




AGENDA 2022

01/04 - Belo Horizonte, Palácio das Artes. (ESGOTADO)

02/04 - Belo Horizonte, Palácio das Artes. (ESGOTADO)

03/04 - Belo Horizonte, Palácio das Artes. (VENDAS ABERTAS)

 

08/04 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna. (ESGOTADO)

09/04 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna. (ESGOTADO)

10/04 - Porto, Alegre, Auditório Araújo Vianna. (VENDAS ABERTAS)

 

16/04 - Itaipava-RJ, Rock the Mountain.

23/04 - Itaipava-RJ, Rock the Mountain.

 

06/05 - São Paulo, Espaço das Américas. (VENDAS ABERTAS)

07/05 - São Paulo, Espaço das Américas.

08/05 - São Paulo, Espaço das Américas. (VENDAS ABERTAS)

14/05 - São Paulo, Festival Nômade.

 

21/05 - Salvador, Teatro Castro Alves. (VENDAS EM BREVE)

22/05 - Salvador, Teatro Castro Alves. (VENDAS EM BREVE)

 

28/05 - Recife, Teatro Guararapes.

 

08/06 - Rio de Janeiro, Vivo Rio. (VENDAS ABERTAS)

09/06 - Rio de Janeiro, Vivo Rio.

10/06 - Rio de Janeiro, Vivo Rio.

11/06 - Rio de Janeiro, Vivo Rio.

 

18/06 - Brasília, Auditório Ulysses Guimarães.

 

25/06 - São Paulo, Espaço das Américas. (VENDAS ABERTAS)


09/07/2022 - Campinas, Royal Palm Hall

 

30/07/2022 - Curitiba, Teatro Guaíra

31/07/2022 - Curitiba, Teatro Guaíra

 

13/08/2022 - Inhotim/MG, Festival MECA Inhotim

 

20/08/2022 - Goiânia, Centro de Convenções da PUC Goiás

 

24/09/2022 - Vitória, Espaço Patrick Ribeiro

 

07/10/2022 - Brasília, Auditório Ulysses Guimarães

 

20/10/2022 - Recife, Teatro Guararapes

21/10/2022 - Recife, Teatro Guararapes (Reposição do show que foi adiado)

 

23/10/2022 - João Pessoa, Teatro Pedra do Reino

 

19/11/2022 - Florianópolis, Stage Music Park

 

03/12/2022 - Rio de Janeiro, Jeunesse Arena

 

16/12/2022 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna

17/12/2022 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna


AGENDA 2023


BRASIL 02/04 - Salvador, Farol da Barra (com Gilberto Gil, Ivete Sangalo e Luedji Luna)

BRASIL 15 e 16/04 - Ribeirão Preto, Centro de Eventos Ribeirão Shopping

BRASIL 12/05 - Juiz de Fora, Cine Theatro Central

BRASIL 13/05 - Juiz de Fora, Cine Theatro Central

BRASIL 21/05 - São Paulo, Parque Ibirapuera

 

CHILE 07/06 - Santiago, Teatro Municipal

 

ARGENTINA 09/06 - Buenos Aires, Movistar Arena

ARGENTINA 11/06 - Rosário, El Círculo

 

URUGUAY 14/06 - Montevidéu, Antel Arena

 

BRASIL 08/07 - Campinas, Royal Palm Hall

BRASIL 19/08 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna

 

ESPANHA 06/09 - Madri, Palacio de Congresos

 

PORTUGAL 09 e 10 - Lisboa, Coliseu dos Recreios

PORTUGAL 14/09 - Porto, Coliseu do Porto

 

PAÍSES BAIXOS 18/09 - Amsterdã, Royal Theater Le Carré

 

MÓNACO 21/09 - Montecarlo, Ópera de Montecarlo

 

FRANÇA 23/09 - Paris, Phillarmonie de Paris

 

BELGICA 25/09 - Bruxelas, Bozar 


SUÍÇA 29/09 - Genebra, Victoria Hall

 

NORUEGA 01/10 - Oslo, Oslo Konzerthaus

 

ALEMANHA 04/10 - Hamburgo, Elbphilarmonie

 

FRANÇA 07/10 - Toulouse, Le Halle Aux Grains

 

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TEXTO DE CAETANO PARA A APRESENTAÇÃO DO SHOW

 

Fazer show como parte da divulgação de um Lp novo é um hábito velho, do tempo dos discos físicos. O show Meu Coco, que começa turnê nacional em BH, refere-se a esse costume. Mas não é a mesma coisa. Dos que fiz ao longo da carreira, Prenda Minha foi o mais radical em não conter uma só canção do álbum Livro – e ele saiu do show Livro Vivo, que mantinha muito do repertório do disco. Acho que só Arnaldo Antunes faz shows com o mesmo setlist do disco correspondente. No show Meu Coco procuro juntar peças marcantes do álbum com obras que registrem momentos históricos do meu trabalho. Mas com o caráter de roteiro quase cinematográfico que nunca me abandona quando projeto um espetáculo. Penso na sequência de canções como quem está diante de uma moviola – ou de um aplicativo de “edição”, que é como se chama hoje a montagem. Tenho alma de cineasta, embora não tenha vocação física para a vida de um. Assim, a distribuição de canções novas e canções conhecidas não tem a mera função de agradar aos espectadores que queiram ouvir ao vivo o que aprenderam no novo álbum e aos que busquem reouvir coisas minhas já consagradas. O critério vai muito além disso. A presença de algo antigo mas quase desconhecido – como a de umas e não outras faixas do disco Meu Coco– ilumina o que quer dizer a eventual aproximação de um surrado sucesso óbvio com uma igualmente obvia canção marcante do álbum novo. 

O fato de ter comigo, no estúdio de ensaio e no palco, músicos extraordinariamente dotados me deslumbra e intimida. De Lucas Nunes, um dos prodígios da Dônica e do Bala Desejo, que produziu o álbum Meu Coco comigo, a Kainã do Jeje; de Pretinho da Serrinha a Rodrigo Tavares; de Alberto Continentino a Tiaguinho (também) da Serrinha – é todo um grupo de supermúsicos. Lucas e Pretinho pré-planejaram comigo como andariam os arranjos e eu passei quase todo o tempo dos ensaios seguindo as sugestões que vinham deles. Devo confessar que me sinto deslumbrado e intimidado pela musicalidade deles. 

Visualmente, o espetáculo ganhou um presente quase mágico. Hélio Eichbauer, que vinha fazendo os cenários de meus shows desde O Estrangeiro, deixou, antes de morrer repentinamente, um esboço cenográfico que, depois de me ser mostrado por Dedé, que foi minha primeira mulher e viveu casada com Hélio por décadas, foi adaptado por Luiz Henrique, que fora assistente do grande cenógrafo. A adequação das linhas de Joseph Albers aos nossos sons nos diz que Hélio está vivo ali. O show é, desse modo, uma homenagem à sua memória. 

A luz que revela as muitas possibilidades dessas formas longevas da Bauhaus foi planejada, sob minha mirada, por Fernando Young e Gabriel Farinon (e é operada por este último). 

O desafio de equilibrar os sons de uma exuberante percussão com nossos gestos harmônicos e melódicos (além de poéticos) é enfrentado por Vavá Furquim (que, desde um encontro casual em Nova York nos anos 1980, tem sido o responsável pelo PA de todos os meus shows) e Igor Leite, que controla os in-ears e todo o som que os que tocamos ouvimos no palco. 

Chego aos 80. A forma geral do show se deve também ao prazer da volta quase-pós-pandêmica aos palcos e a atenção à minha história nessa arte tão amada e bem cultivada pelos brasileiros – mesmo que minhas reservas quanto a meu talento para ela não tenham se desfeito.

Caetano Veloso

 

 

Ficha Técnica – Turnê Meu Coco

 

Direção Musical: Caetano, Pretinho da Serrinha e Lucas Nunes

Cenário: Luiz Henrique Sá (com adaptação da obra de Hélio Eichbauer)

Design de luz: Fernando Young e Gabriel Farinon

 

Banda:

Pretinho da Serrinha – Percussão

Lucas Nunes – Guitarra, Violão e Teclado

Alberto Continentino- Baixo Elétrico

Rodrigo Tavares – Teclado, Glockenspiel e MPC

Kainã do Jêje – Percursão e Bateria

Thiaguinho da Serrinha – Percursão, SPDS e Bateria

 

Técnicos de som: Vavá Furquim e Igor Leite

Iluminação: Gabriel Farinon

Roadies: Pimpa Cruz e Gabriel Gomes

Cenotécnico: Igor Perseke

Stylist: Felipe Veloso

Produção Executiva: João Franklin

Assistente de Produção: Anabella Esteves

Comunicação: Danilo Dutra

 

Produzido por Paula Lavigne

Uma realização UNS Produções Artísticas Ltda 2022


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01/04/2022 - Belo Horizonte, Palácio das Artes

02/04/2022 - Belo Horizonte, Palácio das Artes 

03/04/2022 - Belo Horizonte, Palácio das Artes





Caetano no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, onde estreia logo
mais o show Meu Coco - 
Foto: JP Lima/Divulgação


Caetano estreia o show ‘Meu Coco’

1 de abril de 2022 

“Chego aos 80. A forma geral do show se deve também ao prazer da volta quase-pós pandêmica aos palcos e a atenção à minha história nessa arte tão amada e bem cultivada pelos brasileiros – mesmo que minhas reservas quanto a meu talento para ela não tenham se desfeito”. 

O trecho acima foi pinçado do texto que Caetano Veloso escreveu para a estreia brasileira do show Meu Coco, esta noite, em Belo Horizonte (MG). O cantor baiano completa 80 anos no dia 7 de agosto e já excursionou com o show Meu Coco pela Europa, mas no Brasil é a estreia. 

Meu Coco, baseado no novo disco do compositor e cantor, tem sua première hoje, às 21 horas, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537), e terá mais dois shows; amanhã, também às 21 horas, e domingo, às 20 horas, no mesmo local. As duas primeiras datas estão esgotadas (o teatro tem capacidade para 1,6 mil pessoas). Os últimos ingressos para a última sessão extra do show de Caetano Veloso custam 160 reais estão disponíveis no site eventim ou na bilheteria do Teatro do Palácio das Artes.


Foto: Marcos Vieira/EM/D.A press



Foto: Daniel Cerqueira/O TEMPO



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08/04 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna

09/04 - Porto Alegre, Auditório Araújo Vianna

10/04 - Porto, Alegre, Auditório Araújo Vianna





 Em show autobiográfico, Caetano endossa “Fora, Bolsonaro” do público

 

11 de abril de 2022

Thais Seganfredo

 

Foto: Rafael Gloria / Nonada Jornalismo



Ver Caetano Veloso retornar aos palcos depois da melhora da pandemia de covid-19 é como viver um dia meio nublado no qual o sol teme em escapar das nuvens. O cantor e compositor se apresentou no auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, nos dias 8, 9 e 10 de abril, dando sequência à turnê do álbum Meu Coco, que começou em Belo Horizonte no início do mês.

Além de apresentar suas novas composições, Caetano idealizou um show “autobiográfico e histórico”, como definiu na apresentação de sexta (8/4), na qual o Nonada esteve presente. Se a pandemia nos tornou mais introspectivos e nos fez olhar para dentro, o co-criador do tropicalismo encontrou na sua trajetória momentos para iluminar – para si mesmo e para o público -, homenageando músicos com os quais trabalhou e músicas representativas de diferentes fases da sua história e, consequentemente, da história da música popular brasileira. Foi como se estivéssemos acompanhando, ao vivo e a cores, uma atualização da autobiografía Verdade Tropical. 

Por isso, talvez não existisse escolha melhor para abrir o show do que “Avarandado”, canção bossanovista gravada por Gal Costa e, mais tarde, por João Gilberto, confessadamente seu maior mestre e pedra basilar de seu trabalho enquanto músico. “Meu Coco” veio em seguida, composição que sintetiza tanto o conceito do álbum como a turnê em si, já que as faixas do novo trabalho trazem referências à sua trajetória e a diversos nomes da música brasileira mixados com crônicas sobre o Brasil atual, uma das especialidades de Caetano.


Foto: Rafael Gloria / Nonada

Neste ano definidor para a história do Brasil, “Não vou deixar” veio como uma catarse coletiva. A música, que Caetano escreveu após a eleição de Jair Bolsonaro, é uma “recusa de submissão à opressão”, ele declarou recentemente nas duas redes sociais. Nenhuma surpresa, então, que o público tenha emendado o fim da música com um coro de “Fora, Bolsonaro”, ao que Caetano prontamente respondeu com “sem dúvida”, como já havia feito antes em Belo Horizonte.

Não deixa de ser curioso que alguns espectadores tenham tentado puxar outras vezes “Fora, Bolsonaro” em diversos momentos do show, como se esperassem que o artista fosse reagir com algum discurso político, coisa que não costuma fazer parte de seus repertórios, nem durante a ditadura militar. Caetano é político na arte, na atitude, na ousadia e no gesto, e, nesse sentido, nada mais militante do que vê-lo apresentar um novo álbum com a força poética de Meu Coco. Mesmo recém-lançado, o disco conquistou o público do Araújo Vianna, que acompanhou a banda cantando junto algumas das faixas do álbum.

Destaque para “Anjos Tronchos” logo no início do show – no ao vivo, a música ganhou peso com a guitarra e um belo jogo de luzes -, para a balada cheia de melancolia “Enzo Gabriel” (sei que a luz é sutil/mas já verás como é nasceres no Brasil) e, mais para o fim do show, para “Sem Samba Não Dá”. Séria candidata a entrar para a lista infinita de hits do artista, a música rendeu até um coro a capella do público enquanto Caetano arriscava orgulhoso uns passos de samba.


Foto: Rafael Gloria / Nonada

Em um show extremamente técnico, Caetano mostrou um apuro vocal impressionante, dos graves aos falsetes, dançou com o público, contou histórias e, com a modéstia que lhe é característica, homenageou músicos que fizeram parte de sua trajetória, como Jaques Morelenbaum, e os integrantes da banda Cê e d’A Outra Banda da Terra. 

Entre clássicos como “Sampa”, “You Don’t Know Me”, “Baby”, “Cajuína” e “Reconvexo” e “A Bossa Nova é Foda” (“uma visão histórica um pouco desabusada da bossa nova”, o público teve a oportunidade de relembrar ou de conhecer pérolas como “Muito Romântico”, canção a la Bethânia que ele fez para Roberto Carlos em 1977. Teve espaço também para “Itapuã”, que ele dedicou a Gilberto Gil em um post nas suas redes sociais no mesmo dia em que o “irmão de letra e música” se tornou imortal na Academia Brasileira de Letras. 

Outra oportunidade única veio com “Pulsar”, poema construtivista de Augusto de Campos transfigurado em som pelos músicos de Caetano em 1975, através da transposição dos versos em notas musicais. A música, aliás, veio acompanhada de uma generosa explicação de Caetano sobre a composição, o que ele fez também quando introduziu “A Outra Banda da Terra”, composta junto à banda homônima. “Hoje essa música tem um valor diferente pra mim. Na primeira estrofe, eu pronuncio o R retroflexo, ‘esforrrço’, ‘forrrça’”, explicou, puxando o R para soar caipira. 

Foi um dos poucos momentos de conversa com o público, quando ele contou, enquanto alguns espectadores riam a cada vez que ele falava “porrrta”, como ele conheceu militares gaúchos que também falavam desse jeito quando esteve preso durante a ditadura.“Fiz questão de gravar a música assim, a gente estava em São Paulo, e umas meninas que a gente adorava falavam assim. Depois vi que o R retroflexo estava presente também em outras regiões do Brasil. Não dá mais para rejeitar o R retroflexo”, completou Caetano, talvez no momento mais político do show. 

Passando em revista sua própria história, que segue agora com a força de músicas como “GilGal” e “Não vou Deixar”, Caetano nos deu a chance de vislumbrar um futuro logo ali. Não à toa, o encerramento levantou o público de vez com “Odara” e, em seguida, “Noite de Cristal”, quase que uma oração do artista por tempos menos nebulosos. Que venham muitos dias com a banda do Olodum.


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16/04 - Itaipava-RJ, Rock the Mountain

23/04 - Itaipava-RJ, Rock the Mountain


16/4/2022

16/4/2022

16/4/2022


16/4/2022


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06/05/2022 - São Paulo, Espaço das Américas



Foto: Rafael Strabelli




07/05/2022 - São Paulo, Espaço das Américas




Foto: Anderson Carvalho

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11/06/2022 - Rio de Janeiro, Vivo Rio




Bethânia assistiu ao 'Meu Coco', lindo show de seu amado irmão

 


11/6/2022 - Foto: Thereza Eugênia



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09/07/2022 - Campinas, Royal Palm Hall


9/7/2022 - Foto: Giovana Chanley





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